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ESQUEMA 6: Planejamento da versão final produzido por um aluno (Autoria própria)

2 A CONCEPÇÃO DE FALA E ESCRITA E A PERSPECTIVA PARA O

2.1 Fala e Escrita: perspectivas de estudo

2.1.4 Sequências textuais

Conforme Adam (2011, p. 205), as sequências textuais

[...] são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições. A macropro- posição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro do todo organizado da sequência. [...]

As sequências, de acordo com o autor, são estruturas cujas partes estão liga- das de forma a constituir um todo e possuem formas próprias de organização, rela- cionando-se dependente e independentemente no conjunto do texto. As sequências propostas por Adam são: narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal.

A sequência narrativa é caracterizada pela apresentação de “fatos” reais ou imaginários, sendo esses fatos ações – em que se nota a presença de um agente

que causa ou busca impedir uma mudança – ou eventos – circunstâncias que cau- sam a mudança sem, necessariamente, haver a presença de um agente ou em que o agente não age de forma proposital. Apresentam diferentes formas em sua cons- trução, e podem conter um grau baixo de narrativização em narrativas que remetem a uma simples enumeração de ações ou um grau mais alto de narrativização em que se percebem todas as fases do processo do narrar. Geralmente, a sequência narra- tiva se desenvolve agrupando-se as macroproposições em parágrafos distintos na sequência mais desenvolvida. No entanto, pode-se agrupá-las através da pontuação ou do uso de conectores na menos desenvolvida.

A estrutura narrativa, segundo Adam, a partir da organização de Todorov e Larivaille, é constituída de cinco momentos:

Limites do processo

Núcleo do processo

Situação inicial Nó Re-ação ou Desenlace Situação (Orientação) (Desencadeador) Avaliação (Resolução) Final Pn 1 Pn2 Pn3 Pn4 Pn5 Esquema 1: Sequência narrativa

Fonte: Adam (2011, p. 226).

Essa forma prototípica da sequência narrativa pode ser ampliada, segundo Adam, em determinados gêneros, a exemplo das fábulas, em que há o acréscimo da Avaliação Final (PnΩ) sob a forma de moralidade. Contudo, a sequência (PnΩ) pode se restringir a um mero fechamento em outros gêneros. Além disso, em uma narrati- va encaixada em outra ou em um texto teatral, inscreve-se outra sequência narrati- va, a Entrada-prefácio ou Resumo (Pn0).

A respeito das cinco macroproposições típicas da narrativa, a Situação Inicial e a Situação Final, tratam-se dos limites do processo do narrar, segundo Adam, pois está implicada entre uma e outra a questão da mudança nos acontecimentos. Essa mudança é causada e solucionada dentro do núcleo do processo: nó, re-ação e de- senlace. O Nó (Desencadeador) diz respeito a um evento que provoca a perturba-

ção, a Re-ação ou Avaliação está associada ao curso dos acontecimentos com o propósito de solucionar o nó, e o Desenlace volta-se para a resolução do nó desen- cadeador, com o objetivo de recompor o equilíbrio na narrativa, o que nem sempre é possível, dadas as circunstâncias negativas que podem surgir a partir do curso das ações como, por exemplo, a morte do protagonista, provocando um final trágico à narrativa.

A sequência descritiva, de acordo com Adam, apresenta uma caracterização mínima entre as demais sequências por ser relacionada a subcategorias (descrição de pessoas, lugares, objetos) e marcada pela ausência de uma ordem sequencial no texto, tendo, assim, um papel mais sutil de aparecimento no texto.

Adam sugere as seguintes operações no processo descritivo:

Operações de tematização

• Pré-tematização (ou ancoragem): diz respeito à denominação ime- diata do objeto do discurso.

• Pós-tematização (ou ancoragem diferida): trata-se da nomeação tardia do objeto, em que essa somente aparece no curso ou no final do período descritivo.

• Retematização (ou reformulação): face à primeira nomeação do ob- jeto, dá-se uma nova nomeação em um processo de reenquadra- mento e fechamento do período descritivo.

Operações de aspectualização

• Fragmentação (ou partição): o objeto é descrito a partir da escolha de uma de suas partes que se considere relevante para o propósito descritivo.

• Qualificação (ou atribuição de qualidade): apresenta as característi- cas do objeto como um todo ou da parte selecionada.

Operações de relação

• Relação de contiguidade: apresenta a situação temporal (histórica ou individual) ou espacial (proximidade do objeto com outros capa- zes de se tornar o núcleo de um procedimento descritivo).

• Relação de analogia: descreve-se o todo ou uma parte desse com- parando a outros objetos.

Operações de expansão por subtematização

A descrição é estendida pelo acréscimo ou pela combinação de qualquer uma das operações.

Adam apresenta o seguinte exemplo de como esse processo ocorre: Tematização: Hotéis Meridien Caribe (Pré-tematização)

Aspectualização: Azul, branco, frescor (Qualificação) • Subtematização 1

Aspectualização: Azul (Qualificação) Relação: como o mar (Analogia)

• Subtematização 2

Aspectualização: às vezes, verde (Qualificação) ou turquesa (Qualificação) ou malva (Qualificação)

Relação: de acordo com a hora (Relação Temporal) • Subtematização 1 (3)

Aspectualização: Branco (Qualificação) Relação: como a areia (Analogia)

ou o sol (Analogia) • Subtematização 2(4)

Relação: Ao meio-dia (Relação temporal) • Subtematização 1(5)

Aspectualização: Azul, branco, frescor (Qualificação) Relação: como os refrescos (Analogia)

• Subtematização 2(6)

Relação: à beira da piscina (Relação espacial)

A sequência argumentativa ocorre na justificativa ou refutação de uma tese na qual o autor apresenta seus conhecimentos acerca da ideia defendida, baseando-se em argumentos que sustentam essa tese, dialogando com outros à proporção que

negocia com um contra-argumentador (plateia) real ou potencial, objetivando alterar um conhecimento que permita a produção de uma nova tese na conclusão (cf. Adam).

A forma prototípica apresentada por Adam é:

Tese Dados Conclusão Anterior + Fatos ________ Portanto, provavelmente (Nova) tese

Sustentação A menos que Restrição Esquema 2: Sequência argumentativa

Fonte: Adam (2011, p. 234).

Adam explica que esse esquema não constitui uma ordem obrigatória, já que a nova tese pode ser apresentada no começo da sequência e retomada no final, por meio de uma conclusão, e a tese anterior, bem como a sustentação, podem vir sub- tendidas na sequência.

A sequência explicativa é constituída por uma estrutura que envolve uma descrição introdutória da problematização (esquematização inicial), a questão a ser explicada, a explicação dessa questão e por um fechamento em que se chega a um consenso que se espera ter obtido no processo de explicação.

A estrutura dessa sequência, conforme sugere Adam, é a seguinte:

P. explicativa 0 Esquematização inicial Sequência Por que p? P. explicativa 1 Problema (questão) Explicativa Porque p P. explicativa 2 Explicação (resposta) P. explicativa 3 Ratificação – avaliação Esquema 3: Sequência explicativa

Fonte: Adam (2011, p. 234).

A estrutura canônica dessa sequência envolve um por que interrogativo para situar o problema e um porque responsivo em relação às questões apresentadas sobre o problema. Entretanto, alguns elementos dessa estrutura podem ocorrer de

forma subtendida, sobretudo em frases curtas. Segundo Adam, a sequência explica- tiva tem o papel de partilhar um conhecimento, uma crença em que os falantes acreditam e, nesse compartilhamento, “convencer a fazer agir” os interlocutores (cf. ADAM, 2011, p. 243).

A sequência dialogal é caracterizada por sequências fáticas – de abertura e fechamento – e por sequências transacionais – formadas por pares de intervenções em que temos a troca de turnos, ou seja, há uma mudança entre os interlocutores marcada pela mudança de parágrafo e pelo uso da pontuação (aspas, travessão).

Adam explica que a dialogal deve ser considerada na prática discursiva, pois em uma prática oral, essa se sobrepõe às demais, mas em se tratando de situações de escrita, as cinco sequências encaixam-se de modo mais nítido.

Além dessas sequências apresentadas por Adam, mencionamos outra recor- rente no ensino de língua portuguesa. Koch e Elias (2011) denominam essa se- quência de injuntiva, que se refere a ações prescritivas sobre comportamentos ou ações de ordem sequencial, tal como os manuais de instrução, em que há verbos no imperativo, infinitivo ou futuro de presente.

As sequências textuais não se encontram unas no texto, mas sim alternadas na organização do gênero. De acordo com Adam, podem se combinar de modo su- cessivo, alternado ou encaixando-se umas às outras. Apesar disso, há, nos gêneros, a fixação de uma sequência predominante, que pode se dá, segundo o autor, pela sequência responsável por abrir e fechar o corpo de texto, pela maior quantidade de uma mesma sequência, ou pela sequência que pode resumir o texto.

Ainda com respeito a esse assunto, as sequências textuais são de grande re- levância para a constituição dos planos de textos, segundo Adam (2011). Para o au- tor, “o reconhecimento do texto como um todo passa pela percepção de um plano de texto, com suas partes constituídas, ou não, por sequências identificáveis” (ADAM, 2011, p. 256). Desse modo, o plano de texto corresponde a uma organização textual através de estruturas que permitem ler, identificar e produzir um gênero a partir da identificação dessas na forma de organização dos gêneros.

Sobre essas estruturas, Adam esclarece que, nas circunstâncias em que a estruturação de um texto não se dá por meio de sequências prototípicas completas, o fator principal de junção composicional é o plano de texto, fixo ou ocasional. O plano de texto fixo refere-se à organização do texto em sua forma canônica, o que pode ser constatado no plano de texto da dissertação, como aponta o autor, em que

há as estruturas introdução, tese, antítese, síntese e conclusão, e possibilita ao fa- lante reconhecer, entre outros, o gênero através da identificação de suas partes constitutivas. Já o plano de texto ocasional é resultado de um trabalho de reconstru- ção da estrutura de um texto a partir de partes ou segmentos. Como ilustração des- se tipo de plano, Adam sugere um poema em forma de fábula, cujas estruturas re- metem às sequências narrativas.

Essas reflexões sobre gênero textual dos autores supracitados nos levam a compreender os gêneros como objetos singulares das atividades de comunicação. E, assim sendo, torna-se necessário atentar para a sua estrutura composicional, seus aspectos linguísticos e os conteúdos que os constituem, para realizar a escolha de um que atenda a determinados propósitos comunicativos.

Neste estudo, nossa escolha se dá pelo gênero lenda, estudado a partir da re- lação do contínuo de fala e escrita dos gêneros proposta por Marcuschi, em que o gênero é concebido em seu avanço dentro desse contínuo, estando, em um primeiro momento, próximo à fala, por se tratar de um texto contado e recontado por falantes que mantêm uma relação pessoal próxima, e, no transcorrer de nossas atividades de intervenção, avançam rumo à escrita, visto que o texto terá uma publicidade além das relações pessoais, tornar-se-á de esfera pública, sofrendo, com isso, alterações no seu processo de produção, de modo a atender a esse domínio ficcional público de escrita.

Nesse sentido, faz-se necessário entender o gênero lenda e suas circunstân- cias de produção e o que nos leva a propor a sua produção através do contínuo de fala e escrita.