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A construção da profissionalidade encontra-se associada à procura por uma identidade profissional, que é encarada como um processo social e humano, vista como “um espaço de construção de maneiras de estar na profissão” (Nóvoa, citado por Silva & Pereira, 2011, p.550). Esta identidade é caracterizada pelo cruzamento de muitas ideias, princípios e

54 filosofias, correspondendo a uma construção inter e intrapessoal, ou seja, não é um processo solitário, este “desenvolve-se em contextos, em interações, com trocas, aprendizagens e relações diversas da pessoa com e nos seus vários espaços da vida profissional, comunitário e familiar” (Sarmento, 2009, p.48). Pode-se então afirmar que a identidade profissional é desenvolvida e reformulada ao longos dos anos, através das experiências pessoais e profissionais, sendo algo que “se constrói a caminhar”.

Para que haja construção da profissionalidade, é crucial que o/a educador/a de infância baseie a sua formação e a sua intervenção educativa na reflexão “sobre as suas práticas, apoiando-se na experiência, na investigação e em outros recursos importantes para a avaliação do seu desenvolvimento profissional, nomeadamente no seu próprio projeto de formação” (Decreto-Lei n.º 240/2001). Aliás, Perrenoud (2002) corrobora esta ideia ao mencionar que um educador de infância é um “inventor, um pesquisador, um improvisador, um aventureiro que percorre caminhos nunca antes trilhados e que pode se perder caso não se reflita de modo intenso sobre o que faz e caso não aprenda rapidamente com a experiência” (p.13).

Partindo destes pressupostos, a ação reflexiva, que deve ser contínua, sistemática e permanente, é, assim, um instrumento de desenvolvimento e evolução profissional de cada educador/a, na medida em que “fornece oportunidades para voltar atrás e rever acontecimentos e práticas” (Oliveira & Serrazina, s.d., p. 1). Esta reflexão é fundamental, uma vez que afeta diretamente a qualidade das práticas e dos princípios pedagógicas, que o/a educado/a defende (Mendes, 2005). Desta forma, e como “a formação inicial tem de preparar o futuro professor para refletir sobre a sua prática, para criar modelos e para exercer a sua capacidade de observação, análise, metacognição e metacomunicação” (Lafortune, Mongeau & Pallascio, citados por Perrenoud, 2002, p.17), tornou-se fundamental que, ao longo do meu percurso de formação e crescimento profissional, recorresse a reflexões diárias e semanais e a auto-avaliações semanais. Estes instrumentos permitindo-me reformular estratégias pedagógicas antes e durante a minha prática e de planear atividades e recorrer, muitas vezes, ao planeamento emergente, escutando e dando valor às sugestões das crianças, por forma a ir ao encontro das necessidades e interesses demonstrados pelo grupo. Refletir assume-se, assim, como um verbo indissociável da construção de um saber profissional alicerçado e fundamentado na prática, sendo como um catalisador de melhores práticas. Pode-se então afirmar que o alicerce de toda esta caminhada está na prática pedagógica com base na ação-reflexão-ação (Mendes, 2005), que corresponde à reflexão durante a prática e depois do acontecimento, por forma a que o profissional se conscientize

55 do conhecimento tácito, procure crenças erróneas e reformule o seu pensamento. Já a reflexão sobre a reflexão na ação permite ao profissional progredir no seu desenvolvimento e construir a sua forma pessoal de conhecer, tratando-se de um olhar retrospetivo para a ação (Oliveira & Serrazina, s.d.).

Neste sentido, importa abordar a minha intervenção educativa como um espaço de (trans)formação, (re)construção, crescimento e desenvolvimento da identidade profissional (Vieira, 2011). A intervenção adquire sentido, na medida em que se recorre a uma avaliação formativa e formadora das crianças e dos contextos, surgindo, consequentemente, a necessidade de associar a pedagogia de formação com a prática profissional. A PPS assume, assim, especial pertinência por ser exemplificativa dessa importância da prática para a construção da profissionalidade. É na prática profissional que se entra em contacto com um determinado contexto educativo, com práticas específicas, em que o teorizar da vivência profissional fundamenta a prática que permitirá a construção e edificação de teorias práticas e a construção da minha identidade profissional. Este processo, tal como refere Vieira (2011), permite compreender a complexidade das situações educativas e tomar decisões concetual e moralmente ajustadas aos interesses de todos os que nelas participam. Através de uma prática reflexiva, o/a educador/a pode analisar as múltiplas opções para cada situação e reforçar a sua autonomia face ao pensamento dominante de uma dada realidade. Assim, esta constante reflexão sobre a prática torna os profissionais mais responsáveis, melhores e mais conscientes. Até porque, tal como Oliveira e Serrazina (2002) defendem, desenvolver-se como profissional significa “prestar atenção a todos os aspectos da prática” (p. 11), sendo vantajoso trabalhar em equipa, juntamente com a equipa de trabalho, as famílias e as crianças, pois refletir na e sobre a ação conduz a uma aprendizagem limitada se for feita de forma isolada pelo/a educador/a. Assim, através da colaboração com e entre profissionais partilham-se ideias e saberes, fundamentais para a aquisição de novas competências e (re)constrói-se uma identidade profissional.

O meu percurso de PPS revelou ser crucial para a construção da minha identidade profissional. Através da PPSI, apercebi-me da importância da criação de espaços interiores e exteriores do contexto e de tempos potenciadores de brincadeiras para o desenvolvimento da criança e da afetividade. Também permitiu valorizar um dos princípios orientadores da abordagem High Scope, a aprendizagem ativa, que envolve a ação direta sobre e com os objetos e a oportunidade de escolha, por parte da criança, que permite à criança adquirir aprendizagens sobre o mundo que a rodeia. Permitiu, também valorizar a existência de um clima de confiança, apoio e encorajamento, por parte do adulto, às intenções das crianças.

56 Através da minha experiência profissional, tive, ainda, uma maior perceção da importância do estabelecimento de relações positivas com as famílias que influenciam o bem-estar e o desenvolvimento da criança. Desta forma, o/a educador/a deve respeitá-las e utilizar estratégias, de forma a integrá-las no crescimento e desenvolvimento do/ seu/sua educando/a, existindo, assim, maior qualidade educativa.

A PPSII, para além de permitir valorizar ainda mais os aspetos mencionados, consistiu num grande desafio pessoal e profissional, tendo sido o meu maior desafio ao longo de toda a formação, algo que já precisava há bastante tempo. Digo isto, porque acredito que para haver aprendizagens é necessário que o/a educador/a saia muitas vezes da sua zona de conforto. Esta ideia é defendida por Vasconcelos (2009), um “bom processo formativo é aquele que cria dificuldades e conflitos cognitivos não apenas nas crianças, mas, e também, nos adultos” (p.37). Durante a prática, apercebi-me da importância da observação, enquanto instrumento fundamental da prática que permite conhecer a criança, conhecer o grupo e geri- lo, da existência de um espaço rico em materiais não estruturados e estruturados que vão ao encontro dos interesses das crianças, potenciador da autonomia, do planeamento emergente e da planificação e avaliação com as crianças, que permitiu valorizar ainda mais o papel do adulto enquanto mediador do processo educativo, que deve escutar e levar a sério as opiniões das crianças. Permitiu-me, também, entrar em contacto direto com a Metodologia de Trabalho de Projeto e com a documentação pedagógica, que me permitiu refletir sobre “o que é documentar?”, “para quem e para quê documentar?”, levando-se a valorizar a sua importância enquanto instrumento de monitorização do desenvolvimento dos percursos projetuais e de envolvimento com a família e a criança, que torna visível a cultura da infância (Malavasi & Zoccatelli, 2013). Para além disso, através desta PPS, valorizei ainda mais a Educação Emocional e a Educação em contacto com a Natureza, bem como a importância do contacto da criança com o risco e da existência de ambientes seguros que permitam a exploração e o autoconhecimento da criança.

Em suma, a meu ver, a construção da profissionalidade ocorre e ocorreu através de uma reflexão sistemática, contínua e permanente, através do contacto e da colaboração entre agentes educativos, isto é, de com aqueles que têm capacidade de agir, participar e intervir nos contextos educativos. Contudo, esta construção da profisisonalidade ainda se encontra no início, sendo que considero importante que o/a educador/a se encontre em constante aprendizagem e (auto)formação para responder de forma consciente e refletida às diversas necessidades e interesses das crianças e das exigências da própria sociedade. Tal como Simões (2004) afirma “o educador em permanente formação ao longo da vida é o sujeito ativo

57 da sua própria aprendizagem” (p.8). Assim, o meu percurso profissional ainda agora começou. Considero, ainda, que a construção da identidade profissional ocorre se existir vocação, paixão e determinação, na medida em que se trata de uma profissão exigente e rigorosa, em que se trabalha diretamente com crianças, “durante um espaço de tempo muito importante para as suas vidas” (Katz, 2006, p. 21). Um educador, tal como Alarcão (1995) defende, é uma pessoa “que escolhe ser educador e se preparou para o ser, preparação que continuadamente renova para cada vez mais o ser” (p.13).