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3. KIBS NO BRASIL: COMPOSIÇÃO E DINÂMICA RECENTES, NÍVEL

3.6. SERVIÇOS, KIBS E COMÉRCIO EXTERIOR

Nos últimos anos o país passou por uma fase positiva não apenas nos índices de crescimento e controle de inflação. Um outro dado macroeconômico também chamou a atenção, ao reverter uma tendência de deterioração. Falamos do saldo das transações correntes do país.

Historicamente deficitárias, nossas contas externas fecharam no “azul” entre 2003 e 2007. A balança comercial seguiu a mesma tendência. Na verdade, a melhora na troca de bens com o exterior iniciou-se um pouco antes que a melhora nas transações correntes. Após déficits entre 1995 e 2000, a balança comercial brasileira passou a contar com superávits crescente a partir de 200132

.

O mesmo, entretanto, não pode ser dito para a conta “Serviços”, ao menos não para todo o grupo que a compõe. Nos cômputos do Banco Central do Brasil (BCB), a conta de Serviços jamais obteve superávit – o início da série é o ano de 1947.

Em 2007, o saldo da conta Serviços foi negativo em US$ 13 bilhões, o pior resultado da história, 30% maior que o déficit de US$ 10,6 bilhões de 199733. Aluguel de equipamentos (-US$ 5,8 bilhões), transportes (-US$ 4,2 bilhões), viagens internacionais (-US$ 3,3 bilhões), computação e informação (-US$ 2,1 bilhões) e royalties e licenças (- US$ 1,9 bilhão) foram os que mais contribuíram para o saldo negativo.

Na outra ponta, os chamados serviços empresariais, profissionais e técnicos proporcionaram superávit de US$ 6,2 bilhões. Um terço desse valor é resultado do superávit da rubrica “serviços de arquitetura, engenharia e outros técnicos”.

A Tabela 14 traz o saldo líquido de entrada e saída de recursos com a prestação de serviços que podem ser considerados proxys de KIBS. Pode-se notar uma forte deterioração da Conta Serviços entre 2003 e 2007. Em paralelo, as proxys dos KIBS apresentam dinâmica heterogênea.

As rubricas “serviços de computação e informação” e “serviços de audiovisual” dobraram seus déficits no período, contribuindo, juntas, com quase 20% do déficit total da Conta Serviços. A rubrica “serviços de comunicação”, por seu turno, apresenta superávit, mas, sendo resultado de uma corrente de comércio de apenas US$ 372 milhões, colabora pouco para o resultado da Conta Serviços.

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Esse movimento começou a se arrefecer ainda em 2007 e continua na presente data.

A baixa representatividade também é encontrada nos “serviços de publicidade” (US$ 320 milhões de corrente comercial) e “serviços de implantação e instalação de projetos técnico-econômicos” (US$ 79 milhões).

De fato, na rubrica “serviços empresariais, profissionais e técnicos” destacam-se os “serviços de arquitetura, engenharia e outros técnicos”. A corrente de comércio desse grupo foi de US$ 7,3 bilhões em 2007 (em 2003 havia sido de apenas US$ 3,0 bilhões), fortemente positiva para o lado brasileiro.

Assim, os serviços de arquitetura e engenharia foram responsáveis, sozinhos, por 36% do superávit na rubrica de serviços técnicos ou por diminuir o déficit da Conta Serviços em 17%. Discriminação 2003 2007 % em 2007¹ % em 2007² Serviços -4.931 -13.053 100,0% - Computação e informação -1.034 -2.112 16,2% - Comunicações 84 180 -1,4% -

Empresariais, profiissionais e técnicos 2.158 6.230 -47,7% 100,0%

3.1. Publicidade 45 83 -0,6% 1,3%

3.2. Arquitetura e engenharia 853 2.267 -17,4% 36,4% 3.3. Serviços implantação/instalação de

projeto técnico-econômico 0 70 -0,5% 1,1% 3.4. Audiovisual -221 -439 3,4% -7,1%

TABELA 14 - BRASIL: KIBS NO BALANÇO DE PAGAMENTOS, 2003/2007, EM US$ MILHÕES

Fonte: Banco Central do Brasil, Série Balanço de Pagamentos, 2009. ¹ Participação no total da rubrica "Serviços".

² Participação no total da rubrica "Serviços empresariais, profissionais e técnicos.

Como se pode observar no Gráfico a seguir, tanto a corrente de comércio dos serviços de arquitetura e engenharia cresce a um ritmo forte – superior a 20% ao ano – como o saldo líquido torna-se crescentemente positivo.

Analisando a série histórica, os anos de 1977 e 1995/1996 sobressaem-se como aqueles em que houve um salto quantitativo considerável e duradouro da corrente

comercial desses serviços. O ano de 1967 foi aquele com o primeiro registro de importação de serviços de arquitetura e engenharia e 1970 o primeiro ano em que ocorreu exportação desses serviços.

-3.000 -2.000 -1.000 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 U S $ M ilh õe s 2003 2004 2005 2006 2007

GRÁFICO 30 - BRASIL: SALDO DO COMÉRCIO EXTERNO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA DE PROJETOS E ARQUITETURA,

2003/2007

Saldo Receita Despesa

Como já salientado, a proxy de KIBS com o pior saldo da Conta Serviços são os serviços de computação e informação. O Gráfico 31 indica, para o período 2003/2007, saldos negativos volumosos, que crescem a uma taxa pouco inferior a 20%.

Os primeiros registros de compras externas desse gênero ocorreram no ano de 1953, enquanto as vendas apenas dois anos mais tarde. De forma ininterrupta, esse comércio data de 1959. O início da expansão sustentada das compras desses serviços, entretanto, se deu a partir de 1992 e se fortaleceram a partir da segunda metade da década de 1990.

GRÁFICO 31 - BRASIL: SALDO DO COMÉRCIO EXTERNO DE SERVIÇOS DE COMPUTAÇÃO E INFORMAÇÃO, 2003/2007

-2500 -2000 -1500 -1000 -500 0 500 2003 2004 2005 2006 2007 U S $ M ilh õe s

Não existem registros de que esse grupo tenha usufruído superávit em algum ano desde o início da série. Mas também cabe constatar que a década de 1990 foi devidamente cruel com as exportações de serviços de computação e informação. Em 2003, por exemplo, as vendas brasileiras equivaliam a apenas 2/3 das vendas de 1995.

A partir de 2003, as vendas externas crescem a taxas colossais34

, mas ainda assim promovem, no agregado, um valor absoluto irrisório: enquanto as vendas rondam US$ 161 milhões, as compras de serviços de computação e informação alcançam US$ 2,3 bilhões.

GRÁFICO 32 - BRASIL: SALDO DO COMÉRCIO EXTERNO DE SERVIÇOS SELECIONADOS, 2003/2007 -1.903 -2.112 853 975 1.665 1.800 2.267 -1.034 -1.626 -1.228 -3.000 -2.000 -1.000 0 1.000 2.000 3.000 2003 2004 2005 2006 2007 U S $ M ilh õ es

Computação e informação Arquitetura e engenharia

As semelhanças entre os serviços de arquitetura e engenharia e os de computação e informação são uma curiosa fatalidade. Ambas as correntes de comércio têm se expandido aproximadamente 20% ao ano, durante os últimos 5 anos, fechando 2007 com pouco mais de US$ 2 bilhões em saldo.

Os dois serviços podem ser considerados a definição maior e mais abrangente do retrato do novo paradigma tecnoeconômico: são baseados em conhecimento, fazem largo uso da informação, buscam inovações, possuem foco nas necessidades do cliente, são capazes de revolucionar processos e produtos. Entretanto, um aponta um resultado positivo e o outro um negativo nas transações correntes do país.

34 Exceto em 2006. O crescimento das receitas e despesas com os serviços de computação e informação foi de,

respectivamente, 84% e 21% em 2004, 64% e 34% em 2005, 16% e 17% em 2006 e 59% e 13% em 2007 (BCB, 2009).

Vale lembrar, por fim, que o comércio global de serviços está estimado entre US$ 1,6 trilhão e US$ 2,1 trilhões, por ano, no início dessa década. Ainda que volumoso, nunca foi um setor considerado prioritário pelo governo brasileiro nas rodadas internacionais sobre o comércio exterior, que sempre priorizou a liberalização agrícola (MOREIRA, ALVES e KUBOTA, 2006).

A partir de modelos probabilísticos, Moreira, Alves e Kubota (2006) identificaram as principais variáveis microeconômicas que impactam na exportação de serviços. Entre aquelas de maior impacto sobre a exportação encontram-se o número de anos de estudo e a remuneração média dos funcionários das firmas. De acordo com os autores:

(...) O aumento de 1% no tempo de estudo médio dos funcionários aumenta em 0,68% a vantagem na exportação de serviços, enquanto para a exportação de mercadorias o efeito marginal é de 0,02%. O aumento de 1% na remuneração média dos funcionários aumenta em 0,21% a vantagem na exportação de serviços, enquanto para a exportação de mercadorias o efeito marginal é de 0,01%”. (MOREIRA, ALVES e KUBOTA, 2006, p. 252).

Elevada capacitação e remuneração salarial acima da média foram hipóteses, comprovadas ao longo desse capítulo, sobre os KIBS. Espera-se, assim, ter apresentado uma aproximação fiel dos KIBS brasileiros.

Assim, algumas das principais características das dimensões listadas no capítulo 1 foram comprovadas: atividades dinâmicas (embora com taxas inferiores às demais atividades), firmas não necessariamente grandes (pelo contrário), elevada qualificação e capacitação de mão-de-obra, elevada produtividade, produtos que exigem elevada interação e resultam em aprendizagem.

A composição do setor mostra diferentes padrões, a depender da variável utilizada. No que diz respeito ao número de empresas e pessoal ocupado, os serviços técnico- profissionais e as atividades de informação sobressaem, somando, juntas, participações que oscilam entre 72% (do número de empresas) e 80% (do pessoal ocupado) de

representatividade nos KIBS. Dentro do 1º grupo, a maior participação fica com os serviços de arquitetura e engenharia.

Por fim, a análise por produto dos serviços de informação e de engenharia e arquitetura, ao aproximar a abordagem do processo, atesta que essas atividades fazem largo uso da informação, buscam inovações, possuem foco nas necessidades do cliente, são capazes de revolucionar processos e produtos.

Infelizmente, por uma impossibilidade estatística, não foi possível descrever os KIBS no Estado do Espírito Santo. A fim de contribuir para preencher parcialmente essa lacuna, o quarto capítulo buscará compreender um pouco mais a dinâmica de possíveis KIBS em território capixaba, concentrando seus esforços nas atividades de informação e nos serviços de engenharia e arquitetura, pelos motivos já expostos.

CAPÍTULO 4 - EMPRESAS DE ENGENHARIA DE PROJETOS E TECNOLOGIA DA