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Serviços, oficinas de construção e processos

No documento Bruno Miguel Martins da Costa (páginas 71-73)

De forma a simplificar, serão apresentadas nesta secção, informações relativas aos Serviços e respetivas oficinas ou naves onde o estudo foi aplicado, ou seja, como já foi referido atrás, serão analisados pormenorizadamente o SVMT, o SVCN e o SVSC.

O SVMT, Serviço de Movimentações, Transportes e Manobras Terrestres, caracteriza-se por

realizar essencialmente tarefas de movimentação de materiais para bordo e para fora dos navios. Aqui são incluídas as movimentações dentro dos navios, ao longo de todo o estaleiro (arruamentos entre armazéns, oficinas e docas), e dentro das oficinas. Além da movimentação de materiais, o SVMT, encarrega-se também do apoio à realização de manobras com equipamentos terrestes, como gruas móveis, empilhadoras apesar de também apoiar certas manobras realizadas com navios, como acontece quando é retirado um navio da água e é colocado no “plano inclinado”.

O “Plano Inclinado” é um local particular onde são reparados navios fora de água, ou seja, que permite a reparação dos cascos e de todas as zonas que costumam estar submersas quando o navio está na água. Inclinado porque como o próprio indica, trata-se de um local constituído por uma rampa equipada com motores elétricos e roldanas que puxam estruturas (carros de alagem) onde o navio assenta ainda na água. Esta é uma operação rigorosa que exige dos responsáveis da manobra muita experiência e conhecimento das marés, dos ventos, dos próprios navios e dos equipamentos utilizados. Além dos manobristas, são necessários vários operadores em torres de controlo e nos vários motores que asseguram que o navio é devidamente alinhado e colocado no “berço” que irá ser puxado para terra. O “Plano Inclinado” divide-se na realidade em três “planos inclinados” com características diferentes. Possuem entre 1 a 20 carros de alagem e admitem por carro, navios com 80 a 200 ton. À semelhança deste local, existem outro tipo de docas de reparação dos navios, a “Doca Seca” e “Doca Flutuante”. Aqui, o SVMT realiza tarefas idênticas às realizadas no “Plano Inclinado” com a diferença de que não existem motores para atracar ou desatracar navios, podendo estes fazê-lo pelos próprios meios ou através de reboques.

A “Doca Seca” caracteriza-se, como o próprio nome indica, por se localizar fora de água, mas também por ser construída abaixo do nível da água. Assim, a sua comporta é aberta deixando entrar a água quando é necessário atracar ou desatracar um navio e fechada, permitindo bombar a água para fora deixando o casco do navio assente em estruturas de madeira em terreno seco para reparações. Tem 138

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m de comprimento, 18 m de largura, 12 m de profundidade e 138 m de inclinação da linha de picadeiros com um desnível de 0,5 m (16,8m distância entre defensas à entrada da Doca).

A “Doca Flutuante” flutua na água e toda a sua estrutura periférica é constituída por tanques que são cheios com água quando é necessário afundar-se a doca para atracar ou desatracar um navio e cheios com ar quando o oposto é necessário. Suporta navios até 825 ton e tem 60 m de comprimento, 16 m de boca, 12 m de largura e 9 m de altura.

Existe ainda um cais acostável, duas pontes de atracação e um embarcadouro onde as tarefas realizadas são as mesmas mas com características diferentes das realizadas nos restantes tipos de docas.

Junto à “Doca Flutuante e ao “Cais Acostável” ergue-se um guindaste (móvel sobre carris) com 20 metros de altura que compõem um dos principais meios de auxílio à reparação, manutenção e construção das embarcações. Junto à “Doca Seca” está montado um outro guindaste com 27 m de altura.

Os principais perigos aqui presentes e que podem portanto, colocar em causa a integridade física dos trabalhadores do SVMT são principalmente as alturas a que os trabalhadores estão sujeitos. As docas e planos são locais de alturas elevadas onde a maior parte das vezes as pessoas se deslocam sem proteções (ex. arnês). Além disto destaca-se a elevada quantidade de obstáculos existentes dentro de um navio especialmente na sala das máquinas e noutros locais mais profundos que dificultam a movimentação de peças e motores de grandes dimensões para reparação em terra. A movimentação deste tipo de materiais dentro de um navio é feita, geralmente, utilizando diferenciais. Os guindastes representam um perigo acrescido pela constante movimentação de cargas suspensas sobre os trabalhadores que têm como obrigação a utilização de capacete de forma a evitar infortúnios relacionados com a queda de materiais. Por último chama-se a atenção para os perigos associados especificamente ao “Plano Inclinado” que possui veios de transmissão desprotegidos que deram e poderão voltar a dar origem a acidentes graves.

O SVCN, Serviço de Caldeiraria Naval ou comumente chamado, serviço de construção naval, é um

dos pilares da organização sendo que é aqui que são realizadas a maior parte das operações de montagem de um navio (construção propriamente dita) ou de partes reparadas. Como tal, existe uma grande quantidade de processos associados à deformação (por calandragem, quinagem, prensas, etc.), ao corte (com retificadoras, guilhotinas, etc.), à junção (por soldadura e rebitagem) e à perfuração (por punção, etc.) de chapas e estruturas de grandes dimensões em aço, alumínio e ferro. Esta oficina está equipada com uma grua que atravessa todo o complexo da caldeiraria naval e que auxilia o transporte de produtos e matérias-primas entre postos de trabalho.

Os perigos aqui iminentes estão muito relacionados com entalões ou esmagamentos em máquinas como as calandras ou as quinadeiras, com a projeção de partículas provenientes de cortes, retificações e soldaduras, com quedas de material em altura, com radiações químicas provenientes de soldaduras ou ainda ruídos e vibrações inerentes à maquinaria.

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O SVSC, Serviço de Serralharia Civil tem como função, a construção, reparação e manutenção de

componentes mais pequenos dos navios, como é o caso das portas, janelas e balaustradas. Assim, são largamente utilizados processos semelhantes aos da construção naval (soldaduras, retificações, furações com berbequins) mas utilizando ferramentas de menores dimensões, a exceção da calandragem, quinagem e prensas. Chama-se à atenção para uma tarefa exclusivamente realizada neste local que trata da manufatura de lãs de vidro para revestimento e isolamento de portas, janelas e anteparas dos navios. A esta tarefa está associado um elevado risco de libertação de partículas que pode comprometer o bom funcionamento do sistema respiratório dos trabalhadores a elas expostos. Outros Serviços como o de Carpintaria ou o de Soldadura estão por vezes interligados com os que foram falados até aqui e seriam interessantes de estudar de forma mais aprofundada, como se verificará no capítulo seguinte, mas tal não foi possível devido às limitações de tempo para a recolha e análise dos dados.

No documento Bruno Miguel Martins da Costa (páginas 71-73)