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Setor saúde e organização de pesquisa

Um hospital pode ser definido como um sistema complexo onde pacientes, médicos, prestadores de serviços e equipamentos circulam no mesmo ambiente (NEC, 2010). Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (2015), outra definição é uma instituição de alta complexidade em que processos, equipamentos com tecnologia avançada e uma equipe médica qualificada devem atender ao público diariamente.

De acordo com o Portal Länk (2016), um hospital pode possuir 30% a 40% do consumo mensal dos seus recursos financeiros na área da cadeia de suprimentos. A deficiência na gestão hospitalar e a precariedade em procedimentos e recursos interferem diretamente na qualidade dos serviços prestados aos pacientes (ALÁSTICO; TOLEDO, 2013). Dessa forma, o desafio relacionado à sustentabilidade de um hospital é encontrar formas diferenciadas de proporcionar os materiais garantindo produtividade, segurança e qualidade (PORTAL LÄNK, 2016). No Brasil, o setor de saúde possui um desafio maior, pois há problemas estruturais, tanto no setor público, quanto na saúde suplementar (MEDICI, 2017).

Nesse contexto de desafios, uma grande ferramenta associada a superação dessas dificuldades e uma aliada na gestão hospitalar, trazendo impactos positivos na imagem institucional é a TI (ANAHP, 2015). Dentre as TIs, a RFID permite o sucesso na área de gestão da cadeia de suprimentos, pelo fato de ser uma identificação automática. Nos hospitais há ambientes com grande fluxo de pessoas e uma necessidade de um controle maior dos funcionários e dos pacientes. Assim, o uso da RFID contribui com o serviço prestado, reduzindo a carga excessiva de trabalho que influencia diretamente no atendimento e na segurança do paciente (PIVOTO; IRION, 2017).

O Brasil possui um número elevado de hospitais e leitos, totalizando 6.805 instituições em todas as categorias. Segundo o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, há excesso de hospitais no País e que o mesmo poderia funcionar com um quinto desse total. Há também uma falha na distribuição de leitos, que deve estar acessível a pessoas que realmente conseguem sobreviver com os equipamentos do hospital. Esse cenário ocorre por falta de uma gestão adequada do

sistema de saúde brasileiro (FURLAN, 2017). A Tabela 1 apresenta os hospitais do Brasil divididos de acordo com suas categorias.

Tabela 1: Hospitais do Brasil Hospitais do Brasil Municipais 21% Estaduais 8% Federais 1% Privados 70% Total 100% Fonte: CNES (2018)

Como observa-se na Tabela 1, há uma concentração de hospitais privados com relação aos hospitais municipais, estaduais e federais, esses que representam 30% do número total dos hospitais. Segundo Medici (2017), essa divergência ocorre, pois não são oferecidos serviços de saúde suficientes a sociedade por meio do sistema de saúde público. Dessa maneira, o setor privado supre essa deficiência com a oferta de planos de saúde suplementar, hospitais e clínicas particulares.

O setor da saúde tem apresentado um crescimento, que estimula o setor a investir na reforma do seu sistema, por meio de soluções financeiras e aquisição de novas tecnologias. Baseado na KPMG (2015), os investimentos estrangeiros são aceitos em hospitais e clínicas, o que antes eram limitados pela Constituição Federal. Esses investimentos são necessários, pois o crescimento do setor é uma consequência dos seguintes fatores: envelhecimento da população, acesso das pessoas aos serviços de saúde e surgimento de novos tratamentos. Contudo, apesar desses fatores estimularem o setor, eles são desafios e, algumas vezes, obstáculos ao seu crescimento a serem suplantados.

Aliado a isso, a diversidade, a variabilidade intensa dos processos e a imprevisibilidade do tempo são aspectos desafiadores no setor da saúde, especificamente na gestão de serviços. Esses aspectos tornam o conhecimento e o controle de custos e dos processos de extrema importância para a organização (ALEMÃO et al., 2015). A Tabela 2 apresenta o número de leitos existentes de acordo com as principais especialidades, demonstrando a diversificação de enfermidades (e pacientes, que são clientes do setor) e de fontes de suprimentos (insumos, equipamentos e medicamentos), que demandam um controle mais preciso nas operações hospitalares:

Tabela 2: Leitos Hospitalares no Brasil Leitos hospitalares no Brasil

Especialidades SUS Não SUS Total

Cirurgia 74.612 41.970 116.582 Clinica geral 84.686 32.450 117.136 Psiquiatria 22.304 11.580 33.884 Pediatria 40.231 11.032 51.263 Obstetrícia 40.017 13.434 53.451 Outros 70.836 49.353 120.189 TOTAL 332.686 159.819 492.505 Fonte: CNES (2018)

Com relação ao número de leitos, observa-se que apesar do país possuir um maior número de hospitais privados, ainda existem mais leitos pertencentes a categoria Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, esse número reduziu cerca de 10% nos últimos 8 anos (RAMALHO, 2018). Enquanto o número de leitos do serviço público de saúde reduz, o número de leitos da categoria privados está em ampliação, em um ano foram abertos mais de 3.000 leitos na rede de hospitais privados (FILGUEIRAS, 2018).

Com o número de leitos e especialidades, percebe-se que o ambiente no setor da saúde necessita de um perfeito funcionamento, mesmo com a complexidade de pessoas, equipamentos e procedimentos. Além de preocupações com agências regulamentadoras que fazem exigências nesse mercado (NEC, 2010). Para Alástico e Toledo (2013), para atender a uma acreditação da instituição, o comprometimento precisa vir de todos os responsáveis por procedimentos internos e da alta administração.

Assim, percebe-se a importância da melhoria contínua no ambiente hospitalar, visando processos que busquem qualidade de serviços ao paciente e à gestão do hospital (OLIVEIRA, 2017). No Brasil observa-se alguns avanços trazidos pela adoção da TI nos hospitais, como melhorias no tratamento de doenças e na própria governança hospitalar. Esses avanços levaram ao aumento do investimento nessa adoção nos hospitais brasileiros (VECTRA, 2017). Recentemente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou o financiamento no desenvolvimento de dispositivos para IoT no setor de saúde, levando em conta a importância do setor para a sociedade (SETOR SAÚDE, 2018). Os recursos são de até 2 milhões de reais por projetos pelo banco 1ª metade) e o restante por consórcios (2ª metade do

projeto), para este ano. As áreas contempladas são: doenças crônicas, promoção e prevenção, e eficiência e gestão (BNDES, 2018).

Com isso, observa-se que, apesar do cenário brasileiro em crise, os empresários estão buscando oportunidades para serem mais competitivos. A TI, mais especificamente, a RFID torna-se assim, uma diferenciação para os negócios, ganho de capacidade competitiva, redução de custos e estabilidade para superar possíveis crises futuras (PERIN, 2017). Por isso, escolheu- se um hospital que se destaca por sua excelência e pela visão inovadora que possui do investimento em tecnologia (NEC, 2010).

4.1.1 Hospital A

A pesquisa será desenvolvida em um hospital reconhecido nacional e internacionalmente inaugurado em 1971 e administrado por uma Sociedade Beneficente, com o compromisso de oferecer à população do Brasil uma referência em qualidade da prática médica.

O hospital encontra-se na região do Morumbi, zona oeste da cidade de São Paulo, cidade que possui 33.526 leitos, segundo indicadores compilados pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), o que significa quase 7% dos leitos do Brasil. Esses dados demonstram a importância da cidade de São Paulo perante o desenvolvimento do país, possuindo hospitais que buscam diferenciação tecnológica.

São mais de 13.000 funcionários, cerca de 9.415 médicos e mais de 600 leitos operacionais. Seu sistema de saúde possui oito unidades próprias, 20 unidades na rede pública municipal de São Paulo e dois hospitais do SUS. Assim, e com sua qualidade de atendimento aos pacientes, pelos equipamentos modernos e várias especialidades médicas, tornou-se uma das unidades de saúde mais conhecidas no Brasil (GNT, 2017). A Tabela 3 apresenta alguns dados do serviço de saúde da instituição:

Tabela 3: Dados do serviço do Hospital A

Hospital 2014 2015 2016 ∆ 2016/2015

Leitos operacionais 629 615 646 5,00% Salas para cirurgia 38 38 38 0,00% Pacientes-dia 194.215 193.418 185.949 -3,90% Média de tempo de permanência (em dias) 3,75 3,64 3,51 -3,60% Taxa de ocupação (%) 85,6 85,7 82,6 -3,60% Cirurgias (exceto cesárias) 39.239 46.092 50.689 10,00% Partos 4.449 4.669 4.294 -8,00%

Além disso, foi considerado pelo ranking 2016 da Revista América Economia Intelligence o melhor hospital da América Latina pela sétima vez consecutiva. O hospital alcançou pontuação máxima nos aspectos de segurança e dignidade do paciente, capacidade de atendimento, prestígio e gestão do conhecimento (AMÉRICAECONOMÍA INTELLINGENCE, 2016).

Por outro lado, é uma instituição sem fins lucrativos, com o seu objetivo voltado para qualidade e segurança do paciente e não a maximização de lucros. O outro ponto também importante, é seu compromisso social como sistema integrado de saúde, com amplas atividades na área pública. Essa parceria público-privada pode render frutos para a comunidade, inspirar outras instituições a aumentarem sua atuação em prol da saúde do Brasil.

Nesse contexto de liderança e compromisso com a excelência do serviço oferecido à saúde, em 2010, o hospital implantou um projeto de rastreabilidade utilizando a tecnologia RFID. A solução oferece controle de temperatura das geladeiras e localização de equipamentos médicos por meio da rede sem fio do hospital. Com isso, há liberação dos profissionais para ofertar um atendimento mais ágil e eficiente aos pacientes (PERIN, 2012).

4.1.2 Hospital B

A pesquisa será realizada, também, em outro centro de referência internacional em saúde, que possui como base de atuação a humanização do atendimento, o pioneirismo e a excelência. A instituição surgiu em 1921 e até hoje é mantida por uma entidade filantrópica. O hospital encontra-se no bairro da Bela Vista, em São Paulo, com uma área construída de 155mil m2. São 4.009 médicos cadastrados no corpo clínico com mais de 60 especialidades atendidas. A Tabela 4 apresenta alguns dados do serviço da saúde na instituição:

Tabela 4: Dados do serviço do Hospital B

Indicadores (Bela Vista) 2014 2015 2016

Leitos operacionais 439 451 464

Pacientes/dia críticos 52.399 60.786 58.181 Pacientes/dia não críticos 72.809 70.894 73.701 Pacientes/dia 125.208 131.680 131.882

Saídas 20.632 22.944 23.320

Internações 20.683 22.950 23.391 Taxa de ocupação operacional 85,56% 77,35% 81,04% Média de permanência (dias) 5,97 5,24 5,66

A instituição possui conquistas pioneiras: em 1971 inaugurou a primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Brasil e em 2000 participou da primeira telecirurgia guiada por robô realizada no Hemisfério Sul. Além disso, para garantir sua excelência em qualidade, adota uma série de processos de melhoria contínua, sendo uma das primeiras instituições brasileiras certificadas pelo Joint Comission International (JCI), importante órgão certificador de qualidade das organizações de saúde no mundo.

No contexto do plano de qualidade, há também projetos que visam melhorar a troca de informações e trilhar uma evolução tecnológica. Assim, a tecnologia RFID é utilizada para localizar pacientes e equipamentos no hospital. A empresa catarinense Goods that talk – Produtos que falam (Gtt) implantou sua tecnologia de auto identificação nesse hospital para monitorar os medicamentos. Os próprios armários possuem sensores de RFID para um melhor controle. Há também refrigeradores com a tecnologia que enviam ao sistema informações de temperatura e humidade, além de controlar o estoque (PERIN, 2012).

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