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Seu trabalho ds pesquisa e valorização do aspecto regional

No documento Revista do IHGRN 1959 (páginas 70-73)

R. NONATO

“A QUESTÃO DE GROSSOS”, hoje quase es­ quecida, a certa época, abalou a opinião do Es­ tado e alcançou repercussão no âmbito nacio­ nal.

Deve-se sua solução pacífica ao trabalho admi­ rável de Tavares de Lira e de Vicente Lemos, que foram, na verdade, os bandeirantes na pen­ dência da fixação dos limites entre o Rio Gran­ de do Norte e o Ceará.

Na fase de demanda judiciária, foi advogado do Estado o Conselheiro Ruy Barbosa.

Nessa justa homenagem que, agora, o govêrno do Estado presta à memória do Ministro Tava­ res de Lira, com a publicação do presente nú­ mero da Revista do Instituto Histórico e Geográ­ fico, não é possível esquecer os nomes de quan­ tos foram seus mais dedicados colaboradores, no serviço de pesquisa e do levantamento docu­ mentário pelos velhos arquivos dos cartórios e Livros de Tombo das igrejas, especialmente, de Moçoró e Apodí, e entre os quais se destacam Francisco Fausto de Souza e Joaquim Manuel

Coriolano de Oliveira.

A publicação dêste registro sôbre Francisco Fausto é uma tentativa de valorização do seu trabalho de homem de letras e pesquisador de méritos indiscutíveis nos limitados campos da Província.

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A época, a e n tã o m o d esta e p eq u en in a * * Vila de Areia B ranca era o refúgio d a existência a v en tu ro sa d aquele e x tra ­ o rd in ário e esq u isito hom em que levava os dias, n a pesquisa de velhos alfarrabios, n a co n su lta de livros, revolvendo docu­ m en to s do passado.

F rancisco F au sto de Souza, q u e n a afirm ação de V in g t-u m Rosado, foi o p rim eiro m oçoroense a se dedicar ao es­ tu d o da crônica iocal, ali se e n clau s u ra ­ ra, v o lu n tá ria e d efin itiv am en te, p ara realização de um grande tra b a lh o de in ­ vestigação de arq u iv o s e registros h istó ­ ricos, cujos resultados a in d a hoje cons­ titu e m o m ais seguro roteiro das tr a d i­ ções c dos anais" de Moçoró.

O lugar, em si, n o im p erativ o de su a posição geográfica e c o n flu ên cia h u m an a, n ão apresentava ao tem po, grandes p a n o ­ ram as p ara visão e im presslonism o de u m estudioso com o foi ésse p rovinciano de larg a projeção nas le tra s n o rte rio- grandenses.

B loqueado pelo m a r em larg a faixa, a m aio r extensão em povoam ento e ra ju s ­ ta m e n te a que se alargava pela depressão do terre n o baldio ou pelos claros dos p la­ nos arenosos, onde se a fu n d av a o casa­ rio baixo de ru a s assim étricas e bêcos tortu o so s.

Disperso assim , nos lim ites dêsse con­ j u n to de u rb an ism o sem lin h a s d e fin i­ das, o sen tid o h o rizo n tal das co nstruções avançava pelos recan to s de chão escuro, n u m a ourela de plan ície en x u ta, que as águas b an h av am , às vezes, cm horas de m aré alta .

A m eio do rio, a so litária flo resta da

m astreação dos botes e embarcações" de m aior calado dava a id éia de m u ltid õ es de braços ab erto s que se erg u iam p ara o céu, recurvados ao peso d a lona das velas pandas, que o v en to teim av a em a ço itar p a ra o o u tro lado d a terra , e s­

q uecida, como se fôsse u m a prom essa de repouso e de segurança, que n o m ar era tá o escassos e d u v id o so s...

* * *

A reia B ran ca de F rancisco F au sto de Souza, no dia de Ano Bom de 1926.

A casa do h isto riad o r p rovinciano postava-se n a R u a da F ren te, deitan d o p a ra o rio, nas proxim idades d a ig reja de Nossa S enhora dos N avegantes, a p a ­ droeira.

E, d u ra n te aquèles" dias longos e n ­ q u a n to esperava, no perido de u m a se­ m a n a pelo Poconé, que foi, por fim su b s­ titu íd o n a viagem , pelo Campos Sales, o navio ex-alcm ão, q u e o B rasil in co r­ p o rara a su a tonelagem f lu tu a n te depois da g u e rra de 1914-1918, a espectativa, ali n ã o era o u tra . A casa de Chico F au sto era o p o n to o brigatório de co n cen tração dos conservadores, das pessoas im p o r­ ta n te s e a u to rid ad es do velho lugarejo, em o u tro s tem pos, ab alad o pelas tro p c- lias do Alteres M oreira de C arvalho.

A m ais sensacional das n o ticias, foi al! levada, n u m a daquelas" m an h ã s, pelo Advogado R aim u n d o R u b ira, q u e v o lta ­ va d a ru a c dizia: a fôrça do R io G ra n ­ de do N orte dera co m b ate aos revoltosos, às p o rtas de T erezina, n o P iau í, c fize­ ra p risioneiro u m a das d estacad as fig u ­ ras dos rebeldes, o T en e n te J u a re z T á- vora.

l)e ord in ário , porém , o ru m o d a co n ­ versa de Francisco F au sto pen d ia sem pre p a ra o cam po da h k tó ria , a q uem d e­ dicava grande p a rte de su a ex istên cia n u m a fa in a deligente, que o fu tu ro lhe louvaria com Ju sto s encôm ios.

Aquele hom em era u m a im pressio­ n a n te e eclética revelaçáo do poder do tale n to , que «hegara a ser c u ltu ra por fórça de sua prodigiosa capacidade, a p li­ cada em m eio de reduzidas possibilida­ des de coníSiltas, m as que, m esm o assim , lhe dera en sejo para um tra b a lh o a le n ­ tado, firm ad o n as m elhores fontes, d o ­ c u m e n tárias e nos dom ínios ind iscu tív eis da tradic&o oral.

J á agora, ex am in an d o à luz da rea­ lidade de a rg u m e n to s novos, que se es­ ten d em pelos cam pos vastos* da Sociolo­ gia, a sua obra, os seus trab a lh o s sóbre geneologia e trôncos de povoadores da R ibeira do Rio Moçoró, o q u a n to escre­ veu tó b rc figuras curiosas, como êsse tre p id a n te e Irreq u ieto P adre F rancisco Longino G uilh erm e de Melo, e seus in i­ migos flgadais — os B u trarg o s — e aq u e­ la m ag n ífica condensação de a co n teci­ m entos, q u e deixou em seu livro MO- ÇORú NO SÉCULO XIX , além de n u m e ­ rosas o u tr a r m onografias, tu d o cabe ser a p o n ta d o sem restrições, aos q u e se vol­ tam aos tem as d a pesquisa h istó rica como c ap ítu lo s se n ão com o cam in h o s d e fin i­ tivos, p a ra apreclaçáo dos fatos1 de m aior relêvo, q u e se e n co n tram fixados n a hls- tAria política-so elal d a co m u n id ad e m o- çoroense.

* * *

Em re ca n to prAxtmo de Moçoró, nas te rra s do S itio P in to s nasceu Francisco

F au sto de Souza, em d a ta de 19 de m aio de 1861.

Na vida pú b lica de sua cidade e de Areia B ranca p ercorreu a escala in te g ral do fu n cio n alism o e da eletividade.

De simples? delegado de polícia che­ gou a P refeito do M unicípio, p a ra n ão fa la r n a viagem q u e em preendeu ao ex­ trem o s e p ten trlão brasileiro, onde n o lo n ­ gín q u o Am azonas ocupou Im p o rta n tes cargos, com o o de S ecretário do Supe­ rio r T rib u n a l de J u s tiç a daq u ele E sta ­ do.

De re tó rn o ao Rio G ran d e do N orte foi eleito D eputado ao Congresso Cons­ titu in te , em 1898, e ao triê n io legislativo de 1898-1900.

Nas d iferen tes posiçAes que a p o líti­ ca o colocou ao lado do governo ou nos largos períodos de ostracism o, sem pre soube se m a n te r com dig n id ad e e a lti­ vez.

Era sócio co rresp o n d en te do I n s titu ­ to H istórico e G eográfico do Rio G ran d e do N orte.

Seu nom e foi, recen tem en te, escolhi­ do p a ra p a tro n o de u m a das novas ca­ deiras da Academ ia N orte R iograndense de Letras.

* * *

E stá, ai certam e n te , n a vida sim ples desse grande hom em , um d aqueles elo­ q u e n te s a te stad o s d a h istó ria, q u a n d o afirm a q u e:

" a glória é a ú n ica coisa n a vida q u e não é ilu são ou v aidade” .

Mas, n in g u ém se Ilu d a: n em todos conseguirão, facilm en te, alc an ç a r os d e­ grau s dessa consagração re n a n la n a .

No documento Revista do IHGRN 1959 (páginas 70-73)

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