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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Perfil socioeconômico e cultural das famílias estudadas no

4.1.2 Sexo

Ser maioria mulheres não corresponde apenas às entrevistadas. Verificou-se, durante as entrevistas e observações, que os homens ainda são minoria na atividade artesanal, entretanto, os companheiros e os filhos vêm paulatinamente aumentando sua participação. A seqüência da produção do bordado corresponde à criação, risco do desenho, bordado (à mão ou à máquina), separação das peças, lavagem, engomagem, passadoria e apara de pontas de linha; e, nessa seqüência, a participação da mão-de-obra masculina só não foi encontrada no processo de criação.

A Figura 6 demonstra algumas fases da produção do bordado: o risco sendo passado para o tecido, o tecido já riscado e em seguida sendo bordado, a feitura do acabamento da borda (cordão), recortando a peça, lavando, estendendo para secar e passando a peça.

O bordado é uma atividade historicamente feminina, mas que, aos poucos, a participação masculina vem se tornando crescente. Nos gráficos a seguir percebe-se a presença do homem na atividade artesanal. Das pessoas entrevistadas, apenas quatro foram homens, sendo dois chefes de família e dois rapazes jovens solteiros, correspondendo a apenas dez por cento das entrevistadas (Figura 7). Verificou-se in loco homens bordando, lavando ou fazendo outras atividades pertinentes ao bordado. Na população pesquisada, encontramos 54,8% mulheres e 45,2% homens, resultado não muito diferenciado do apresentado no Censo Anual de 2003 realizado pelos Agentes de Saúde Municipal, onde informa que Itapajé possui 41.093 habitantes distribuídos na Zona Urbana 27.459 (66,8%) e Zona Rural 13.634 (33,2%), sendo 20.561 mulheres (50,03%) e 20.532 homens (49,96%).

90%

10%

FEMININO MASCULINO

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO DAS BORDADEIRAS SEGUNDO O GÊNERO FONTE: Dados da Pesquisa

Na sub seção Renda será verificada a participação que as famílias têm nas atividades agropecuárias, e se de fato está ocorrendo uma redefinição das ocupações tradicionais.

Com base nos dados coletados, verificou-se que 62% das 166 pessoas que compõem as famílias estudadas desenvolvem alguma etapa na confecção das peças artesanais com bordado. Desse percentual, 70% são mulheres e 30%, homens, conforme a Figura 8.

19% 38%

44%

MULHER HOMEM PESSOAS NÃO ENVOLVIDAS

FIGURA 8 – PARTICIPAÇÃO DOS MEMBROS DAS FAMÍLIAS NA ATIVIDADE DO BORDADO, POR SEXO

FONTE: Dados da Pesquisa

Além da atividade artesanal as mulheres são as principais responsáveis por aquelas ditas domésticas e que culturalmente são desempenhadas pela mulher, seja ela mãe ou filha. Conforme os dados coletados, observados na TABELA 4, as entrevistadas se dividem entre o bordado e tarefas como cozinhar, lavar/passar, cuidar da casa, das crianças e demais familiares além de, no período invernoso, ajudar na agricultura. Algumas delas bordam de dez a quatorze horas por dia mas esse fato não as impede de, paralelamente, desenvolver outras atividades.

Adicionalmente às tarefas descritas anteriormente algumas entrevistadas são professoras, zeladoras e estudantes. Percebe-se, ainda, que a maior concentração das entrevistadas (45%) borda em média oito horas por dia sem deixar de realizar outros afazeres o que representa uma sobrecarga. Nesse aspecto, Bruschini (1990), fala sobre compreender a condição feminina entre o produtivo e o reprodutivo. Como, no cotidiano, a mulher acumula e concilia estas duas funções: “mesmo quando não tem ocupação remunerada, a mulher trabalha e muito, pois consome grande parte do seu tempo na produção de valores de uso e/ou na prestação de serviços, na unidade doméstica. Além disso, ao assumir outros compromissos como o trabalho fora do lar, continuam encarregadas do desempenho das primeiras, o que as leva a estender o tempo dedicado ao trabalho e a ficar sobrecarregadas com uma ‘dupla jornada’” (BRUSCHINI, 1990, p. 42).

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DE HORAS/DIA TRABALHADAS PELAS ENTREVISTADAS

Bordado

Outras Atividades

Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%)

Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%)

0 horas

– – 5 12,5

Até 4 horas 7 17,5 12 30 Até 6 horas 7 17,5 4 10 Até 8 horas 18 45 3 7,5 Até 10 horas 3 7,5 1 2,5 Até 12 horas 3 7,5 1 2,5 Até 14 horas 2 5 2 5

TOTA

L

40 100 40 100

FONTE: Dados da Pesquisa

... Rocas, fusos, teares, jogos de bilros, assim como agulheiros e máquinas de costura, referenciam fragmentos dessa dimensão obscurecida da dimensão humana à qual encontra-se atrelada a memória construída em torno das mulheres. São nossas velhas conhecidas as imagens literárias e pictóricas de figuras femininas debruçadas sobre chumaços de algodão, na lida de preparar meadas e fios, dividindo o olhar ao mesmo tempo entre a roca e as crianças a seu redor. (OLIVEIRA, 1999, p.193).

De acordo com as observações realizadas, existe grande diferença entre a dedicação feminina e a masculina às tarefas domésticas sendo que em apenas duas famílias (5%) há participação intensiva dos homens nestas tarefas. Em outras quatro (10%) os homens “ajudam”, pois não as consideram como sua obrigação, e, quando a mãe tem dedicação maior ao bordado, essas tarefas são transferidas para as filhas.

Convém ressaltar que nesses lares ocorrem simultaneamente relações afetivas e de trabalho, que se entrelaçam e têm geralmente no centro, a dona de casa, a encarregada do conforto, saúde e bem-estar de todos os membros de seu domicílio.

É o labor de corpos e mãos que garante a continuidade do processo vital e a sobrevivência da espécie. Incessante e diário, o labor manifesta-se na preparação dos alimentos, na manutenção da limpeza dos cômodos, utensílios e roupas, na reprodução e no cuidado metódico dos filhos, no acompanhamento sem fim dos ciclos naturais do metabolismo dos membros da família e no repetitivo vai-e-vem dos dedos que costuram, bordam e remendam ou então produzem o fio e o transformam em rendas e tecidos para criar vestimentas. (OLIVEIRA, 1999, p.195).

A citação de Oliveira é uma alusão à sociedade do século XVII onde o papel feminino ‘natural’ podia ser prolongado por ofícios compatíveis como de costureira ou de modista, assim como as profissões ligadas à alimentação. A realidade observada no município de Itapajé – que não é único –, reflete ainda a cultura da sociedade brasileira de séculos passados, da família patriarcal, quando o trabalho feminino mais representativo era a costura que tinha nítida identificação com a feminilidade mas, ao homem, eram associados o controle financeiro, o trabalho produtivo, as ciências e a escrita em geral. Considerando as mudanças e alterações históricas da sociedade ainda perdura nas famílias resquícios dessa cultura nos hábitos e costumes.

Para Oliveira (1999), mesmo com todos os movimentos feministas e avanços no comportamento da mulher existe arraigadamente a perduração da tradição machista e a repetição de antigos hábitos. Em diferentes sociedades essa realidade é encontrada e sem perspectivas de grandes melhorias.