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Sexualidade: breve olhar histórico

4 NARRATIVAS DE PROSTITUTAS DO CENTRO DE FORTALEZA

4.3 Sexualidade: breve olhar histórico

A sexualidade é um fato antecedente ao aparecimento do homem, porém podemos perceber seu estudo ou enfoque apenas há centenas de anos. Não somente considerado um ato físico, de natureza constante, a sexualidade adquiriu definição característica bastante complexa, hoje funcionando como uma estrutura social e cultural em si mesma localizada dentro de um princípio de poder, quanto à adequação social, às regras estabelecidas pela sociedade.

No livro História da sexualidade: o uso dos prazeres, Foucault retrata a história da sexualidade como experiência, sendo essa vista como uma ligação, numa cultura entre campos de conhecimento, tipos de normatividade e configurações de subjetividade. Foucault (1990) retorna à Antiguidade, observando os exercícios existentes acerca do sexo na Grécia Antiga. Ele não admite a forma pela qual a sexualidade é reprimida pelo sistema, pois, para

ele, a sociedade capitalista relaciona prazer e poder. Ele ressalta que os indivíduos se reconhecem como sujeitos sexuais, pensando o desejo e o sujeito que o deseja.

[...] mas analisar as práticas pelas quais os indivíduos foram levados a prestar a atenção a eles próprios, a se decifrar, a se reconhecer e se confessar como sujeitos de desejo, estabelecendo de si para consigo um acerta relação que lhes permite descobrir, no desejo, a verdade de seu ser, seja ele natural ou decaído. (FOUCAULT, 1990, p. 11).

Foucault (1990) analisa os homens como sujeitos sexuais produtores da sua própria história, que buscam descobrir, no desejo, a verdade de si mesmos. Para Foucault (1990), assimilar a sexualidade em sua complexidade presume enxergá-la também como um produto das carregadas relações de poder entre homens e mulheres, pais e filhos, educadores e alunos. O que se pode notar é que sucessivamente somos importunados por um ambiente sexual que se revela nos mecanismos de manutenção da sociedade.

É interessante que, desde o período Paleolítico, também conhecido como período da pedra lascada, no qual os homens passaram a ter controle sobre o fogo, podem-se encontrar as primeiras manifestações artísticas que cogitam a consagração dos povos antigos à condição sagrada do corpo feminino e masculino, ou melhor, ao encontro sexual capaz de originar vidas. Essas pinturas revelavam desenhos da vagina, do seio e do útero da mulher, da mesma forma era possível notar, através de desenhos, o pênis ereto do homem.

Já no período da ascensão burguesa, a nudez, que foi encoberta na época medieval, passou a ser descoberta. A fala sobre o sexo começou a ser controlada e também se observou um cuidado acerca dessas informações nos livros. Com o uso do termo “sexualidade”, o mercado ganhou mais força; o capitalismo, mais uma vez, propaga-se. Todas as propagandas passaram a falar de sexo, expondo vários produtos para o uso do prazer sexual. É importante ressaltar que ocorreu uma intensa liberdade sexual, ganhando-se mais espaços, os quais puderam também ser conquistados pelas mulheres e pelos homossexuais.

Quando se estuda a sexualidade brasileira, temos que destacar o valor patriarcal que marcou profundamente as relações de gênero. Mesmo que se encontrem poucos vestígios, atualmente nas famílias brasileiras a definição de sexualidade ainda costuma influenciar na sociedade, dependendo da cultura – das regras – que essa sociedade carrega.

Com a tão aguardada libertação sexual, ou seja, com a modificação do comportamento humano perante a sexualidade na atual sociedade, essa libertação sexual encontra-se mascarada pelos discursos sobre sexo e atos sexuais que estimulam o consumismo, a pornografia e principalmente a relação objetal de maneira superficial com a própria sexualidade e a alheia. O sexo converteu-se em mercadoria. Não se pode esquecer que

a questão da sexualidade proporciona uma certa ambiguidade, pois, por mais que hoje se fale tanto de sexo, a desinformação e a falta de intimidade com o assunto ainda persistem.

É notório que a questão da história da sexualidade é marcada por vários progressos e retrocessos. Pode-se notar que, na presente sociedade, está menos regulada pela hierarquia e pelas interações de dominação presentes em qualquer espécie de relação entre pais e filhos ou entre homens e mulheres. Ao tratar-se da questão feminina, entretanto, é importante lembrar que se tem um termo paradoxal, ou seja, um discurso aparentemente verdadeiro ou uma situação que contradiz a intuição incomum, mesmo quando se nota a conquista das mulheres, sua independência, a questão sexual ainda está ligada a um ato de honra ou desonra.

4.4 Vivências e aprendizagens mergulhadas no ambiente do prazer

O Centro de Fortaleza é marcado por uma intensa movimentação do setor comerciário. Pessoas de muitas diversidades são responsáveis pelo fluxo humano nesse território. Trabalhadores e consumidores fazem parte dessa massa de população. Não é ao Centro especificamente que quero me referir, mas sim a um dos locais mais visitados para a coleta de dados desta pesquisa: “Gata Garota”. Reporto-me ao Centro da cidade não só por causa da localização desse prostíbulo, mas também pelo fato de a maioria dos clientes desse cabaré ser constituído por pessoas que realizam suas jornadas no Centro da capital cearense.

Ao adentrar no ambiente acima citado, conceituado como “território do prazer”, notei que o citado salão constituía-se de imensos cartazes de dançarinas em trajes menores. Nesse mesmo espaço, pude visualizar um bar situado à esquerda atrelado ao caixa e, sobre o bar, o comando de som. Havia muitas cadeiras e mesas no espaço, no qual existia também um pequeno palco ao centro. O camarim das dançarinas profissionais do sexo situava-se ao lado do palco, um compartimento minúsculo onde elas se preparavam, vestindo seus trajes insinuantes, seja uma roupa inventada pelas próprias garotas ou uma fantasia comprada por elas mesmas. No final do corredor, uma luz vermelha buscava chamar a atenção dos clientes com a grafia do termo “motel”, lugar reservado para as demais loucuras e para as diferentes formas de prazer. Ao lado, havia dois banheiros, um masculino e um feminino. Para Suquet (2008), o bailarino sempre controla o centro de gravidade de seu movimento, daí a impressão de um domínio. Nas palavras de Nietzsche (1998, p. 101):

[...] somente a partir do espírito da música é que compreendemos a alegria pelo aniquilamento do indivíduo. Pois só nos exemplos individuais de tal aniquilamento é que fica claro para nós o eterno fenômeno da arte dionisíaca, a qual leva à expressão a