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Identificamos um enquadramanto em plano médio, com o enfoque também próximo ao da perspectiva do real (plano normal da lente). Os sujeitos são enquadrados no centro da imagem, em primeiro plano e, no plano de fundo, vemos a torcida. As linhas curvas formadas pelosjogadores em salto em contraste com a linha em diagonal formada pelo corpo do jogador de pé, bloqueando os demais, intensificam a ideia de ação e movimento em cena. O formato da moldura da imagem chama a atenção, pois este é um dos raros casos em que, no corpus, a imagem não está dimensionada em forma retangular, e sim oval.

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Em todas as legendas, reproduzimos, na transcrição, o texto tal qual aparece nos jornais, mantendo, inclusive, suas características ortográficas, sintáticas e de formatação.

SIGNOS VERBAIS:

Tal qual o caso anterior, embora se reconheça um marco temporal que poderia encaminhar uma visada narrativa (“depois de batido um escanteio”), acreditamos que prepondera, na sequência, a orientação descritiva, pois não se mantém um efeito de passagem e mudança de estados no tempo, apenas a justaposição de diferentes ações. Daí os procedimentos de denominação (nomes próprios) e de localização no tempo e no espaço. Percebe-se, ainda, a preocupação em identificar e situar/localizar os sujeitos flagrados na imagem (“a esquerda”/ “a direita”), pois, embora fossem facilmente reconhecíveis pelo público da época, já que eram jogadores de seleção, o recorte na imagem não permite a visualização frontal dos atletas. Tal qual em 1958 G1, a descrição se fundamenta em itens lexicais mais objetivos, sem viés avaliativo. Há delocução.

TEXTO VERBOVISUAL:

Há predomínio da visada descritiva.

OBSERVAÇÕES:

Ao final da legenda, a mesma informação do caso anterior quanto ao tipo e à origem da imagem: “(Radiofoto AP – Exclusiva para O GLOBO)”.

1958 G3

LEGENDA:

O ponteiro esquerdo Zagalo, numero 7 as costas, salva a meta brasileira, quando o placar ainda era de 1x1, vendo-se Gilmar inteiramente batido. Foi um dos lances mais dramáticos da partida (Radiofoto UPI – O Globo)

SIGNOS ICÔNICOS:

Jogadores aparentemente de dois times diferentes; o campo de futebol; um goleiro; pequena parte da trave e a torcida na aquibancada do estádio.

SIGNOS GRÁFICOS:

Os jogadores são enquadrados ao centro, em plano médio e numa angulação normal. Em primeiro plano e na área que se aproxima do centro ótico da imagem, vemos a bola ao alto e o jogador numa orientação de quem vai cabecear. As linhas inclinadas constituídas pelos jogadores sugerem a ideia de movimento, em que um grupo vem ao encontro do lance em que Zagalo cabeceia e impede o gol adversário. Isso confere dinamismo à imagem e funciona como uma espécie de descrição visual do lance.

SIGNOS VERBAIS:

Semelhante à legenda 1958 G1, verifica-se uma configuração descritiva. Há procedimentos de denominação (nomes próprios) e qualificação. Chama a atenção a

descrição empreendida no trecho final, que parte do uso de um adjetivo de alto teor subjetivo, de caráter axiológico, segundo Kerbrat-Orecchioni (1997). Trata-se de “dramático” em “Foi um dos lances mais dramáticos da partida”. O “mais” funciona como um quantificador que intensifica a dimensão avaliativa do adjetivo e faz com que possíveis efeitos patêmicos sejam desencadeados.

Interessante, quanto a isso, recuperar a associação feita por Charaudeau entre o léxico e itens linguísticos, de forma geral, e a patemização (2010; cf. p.54-55 desta pesquisa). O adjetivo em questão não teria a mesma dimensão patêmica se não o considerássemos nesta situação de comunicação específica, que remete a um jogo de Copa do Mundo e a um lance decisivo da partida: o fato de Zagalo ter impedido o gol adversário, quando o goleiro brasileiro, que, por pressuposição licenciada pela foto em associação à legenda, deduzimos ser Gilmar, já estava “inteiramente batido”.

Notamos, também, na expressão citada, o uso do advérbio intensificador “inteiramente” (QUIRK, 1985), que amplifica o sentido do adjetivo “batido”, cuja conotação também é subjetiva, embora não axiológica. Compare-se, por exemplo, a diferença entre usar algo como “[...] vendo-se Gilmar inteiramente neutralizado” e “[...] vendo-se Gilmar inteiramente batido”, escolha presente na legenda, o que corrobora a explicação de Antunes (2012), quanto ao sentido de língua e de discurso.

Outro contraste entre o uso de “batido” no próprio corpus evidencia, ainda mais, a expressividade do termo aqui. Confronte-se o uso que está em foco ao que aparece em “Depois de batido um escanteio [...]”, na legenda de 1958 G2. Isso nos remete ao valor social que as palavras assumem, em seu uso discursivo e historicamente regulado (CHARAUDEAU, 1994).

Além disso, ao mesmo tempo, a tentativa de recriar o mundo pela descrição permanece bem marcada pela inclusão de referências ao número da camisa do jogador, transparecendo a crença de que o que se vê corresponde mesmo ao real.

No plano da organização enunciativa, ocorre delocução.

TEXTO VERBOVISUAL:

OBSERVAÇÕES:

Vemos o crédito e o tipo da imagem especificado no final da legenda: “Radiofoto UPI – O Globo”, ou seja, trata-se de uma imagem transmitida pela United Press International.

1958 G4

LEGENDA:

Vava, o grande centro-avante brasileiro, fés o “goal” do empate, que foi o primeiro da série de cinco, a serie da vitória.

SIGNOS ICÔNICOS:

O rosto de um homem que sorri e veste uma camisa de tom escuro sobreposta a outra mais clara, com colarinho.

SIGNOS GRÁFICOS:

Há o enquadramento, em grande plano, como em um close, do rosto do jogador. Como o ângulo é normal, mas não frontal, percebe-se uma linha imaginária que parte do rosto enfocado de forma a quase formar um perfil, voltado para o lado direito, o que sugere a ideia de que o homem projeta o olhar e sorri em direção ao longe, ao futuro. À semelhança de 1958 G2, a imagem também vem em um formato oval. Aqui, pelo fato de se enfocar o rosto do jogador, o formato em que a foto foi impressa a assemelha a uma fotografia de álbum de retratos antigo.

SIGNOS VERBAIS:

Na legenda, parece predominar uma perspectiva descritiva, pois não se destaca uma sucessão temporal, e sim uma série de expressões qualificadoras, ora do jogador nomeado, ora do gol por ele marcado. A descrição se pauta pelo qualificador subjetivo não axiológico “grande”, em “grande centro-avante brasileiro”, e a própria expressão “de uma série de 4”, que sugere, implicitamente, a competência da seleção brasileira ao sair de um empate para conquistar uma expressiva vitória.

Quando à organização enunciativa, vemos outro caso de delocução. Vale ressaltar, porém, que sob a superfície aparentemente mais neutra do enunciado, a perspectiva favorável à atuação da seleção brasileira repousa em conteúdos pressupostos e subentendidos pelo conjunto do texto, sobretudo, pelos dados numéricos, o que acaba por não comprometer a pretensa objetividade do jornal. Em outras palavras, como dissemos, pressupõe-se que o Brasil perdia de 1 X 0 quando Vava fez o gol de empate. Da indicação de que houve outros três gols infere-se que a seleção foi capaz de reverter o placar com um expressivo resultado final (5X1 possivelmente).

TEXTO VERBOVISUAL:

Vemos o modo de organização descritivo.

LEGENDA:

Jubilosos com a sensacional vitória, os campeões mundiais de 1958 fazem a tradicional volta olimpica, carregando a bandeira da Suécia. A frente, Gilmar, Zagalo, Garrincha, Nilton Santos e Zito Maia este quase encoberto Orlando (Radiofoto U.P.I. – Exclusivo para O GLOBO)

SIGNOS ICÔNICOS:

O campo de futebol e a torcida na arquibancada; a trave; um grupo de jogadores do mesmo time; grande bandeira listrada.

SIGNOS GRÁFICOS:

A inclinação do corpo dos jogadores sugere que estão em movimento, correndo pelo campo. O grupo de jogadores está em primeiro plano, mas como não ocupam todo o espaço da foto e são enfocados da direita para a esquerda da imagem, temos a impressão de que já percorreram parte do campo e continuam a correr, o que simula a impressão da passagem do tempo.

SIGNOS VERBAIS:

Na superfície linguística, verificamos a predominância de elementos descritivos com a presença de elementos de nomeação e localização no tempo e no espaço. Quanto à qualificação, vemos o uso de “jubilosos”, “sensacional vitória” e “tradicional volta olímpica”.

O primeiro termo parece estar em desuso hoje em dia, mas se associa ao substantivo “júbilo”, e, numa possível escala de comparação, parece mais enfático e até mais pomposo que “alegres”, já que um dos contextos em que “júbilo” e expressões derivadas costumam aparecer é o bíblico, por exemplo. Na visão de base enunciativa, o termo se relaciona a um adjetivo subjetivo axiológico, uma vez que implica a noção de que alguém possa estar mais ou menos “jubiloso” segundo o conceito que se tem de “júbilo”.

Em “sensacional vitória”, expressão em que se dá a anteposição do adjetivo ao substantivo, identificamos um grau máximo de subjetividade, com o emprego de um adjetivo afetivo, segundo Kerbrat-Orecchioni (1997), o que antecede, na legenda, o emprego de outro adjetivo avaliativo não axiológico em “tradicional volta olímpica”.

A acumulação desses termos subjetivos avaliativos concorre para investir os signos verbais em foco de um efeito patemizante, considerando, por exemplo, que o público-alvo do jornal se constitui de brasileiros e, por extensão, de torcedores da seleção de futebol. Ainda assim, na superfície textual, verifica-se uma organização delocutiva.

TEXTO VERBOVISUAL:

Dada a tendência mais narrrativa na imagem, mas o caráter eminentemente descritivo da legenda, tendemos a classificar o caso como um texto descritivo, que se volta para o destaque de uma cena em movimento (a decrição de uma ação).

OBSERVAÇÕES:

O crédito e o tipo da imagem são especificados no final da legenda: “Radiofoto UPI – O Globo”.

O Globo: Edição de 1962

1962 G1

LEGENDA:

MAURO E A TAÇA – Desta vez coube a Mauro empunhar a “Taça Jules Rimet” logo após a conquista do Campeonato Mundial de Futebol. O que Belini fizera na Suécia, Mauro fez no Chile. E acima aparece o grande momento para o futebol brasileiro.

Enquanto o capitão do selecionado brasileiro levanta a Taça do Mundo, as duas equipes formadas em fila, dirigentes da FIFA e de entidades presentes ao campeonato, e o grande e amigo público chileno aplaudem o feito de nossos patrícios.

SIGNOS ICÔNICOS:

Área ao fundo que não pode ser bem identificada e que presumimos ser aquela em que está a torcida na arquibancada; um grupo de pessoas em um alinhamento próximo ao de um semicírculo, no qual se veem jogadores e juízes de futebol, por exemplo; um jogador que levanta a taça sobre a cabeça; um pódio; fotógrafos; um policial ou agente de segurança.

SIGNOS GRÁFICOS:

Em primeiro plano, destaca-se a figura do policial, apenas de rosto em perfil. Em plano secundário, a imagem, em perfil, do corpo inteiro do jogador no gesto célebre de erguer a taça. A linha longilínea sugere seu caráter estático, como o de uma estátua ao redor da qual os outros estão. No plano de fundo, há uma grande mancha cinza, que, a julgar pelo ângulo da imagem, parece ser a torcida. A formação em semicírculo, com pessoas em pé, num plano anterior ao do grupo de torcedores confere um efeito de amálgama entre os dois conjuntos, associando-os a uma única massa: a de admiradores da cena do jogador empunhando a taça.

SIGNOS VERBAIS:

Verifica-se um misto de narração e descrição, mas a julgar pelas expressões que predominam da metade para o final do texto, a descrição se sobressai. Apesar de se iniciar com uma perspectiva narrativa (“Desta vez coube...”/” O que Belini fizera na Suécia, Mauro fez no Chile”), a sequência que a ela se encadeia reflete um recorte e a apresentação de diferentes atitudes relacionadas à torcida presente, às entidades da FIFA e às duas equipes que disputaram o jogo.

Os adjetivos “grande” e “amigo” em “o grande momento para o futebol brasileiro” e “amigo público chileno”, respectivamente, indicam, mais uma vez, o uso de adjetivos subjetivos axiológicos. A estrutura mista e também mais extensa da legenda a aproxima bastante do estilo de uma notícia. Uma vez mais, a organização enunciativa se apoia na delocução.

TEXTO VERBOVISUAL:

A conjunção da imagem e da legenda reforça a predominância da organização descritiva do discurso.

OBSERVAÇÕES:

Para informações sobre os créditos da fotografia, conferir nota no quadro de análise de 1962 G2.

1962 G2

LEGENDA:

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