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Silos e instalações da Fazenda Santa Luzia

ao sindicato na época de colheita, dificultando a realização de denúncias e comprovação de que a fazenda apresenta irregularidades no trato trabalhista.

Fonte: Sistema integrado Fazenda Santa Luzia (MA). Fotos da autora (2015).

“Tem atividade [na fazenda Santa Luzia] 24hs. Que nem a Agroserra. Tem colheita, plantio, gradeamento, conservação, 24hs.Aí põe a luz do maquinário. Colhe a noite. Pra colher grão, eles colhem até 19hs, 20hs da noite dependendo da umidade. Agora gradeamento, plantio – só se o solo tiver muito molhado. Se você chegar lá agora, se chegar 12hs da manhã tão gradeando terra, 2hs da manhã, gradeando terra. Se chegar pela frente, todas as luzes do campo se apagam, porque eles passam no rádio, mas se você for por traz da serra você vai ver o povo trabalhando. Quase todas as fazendas aí [na região do sul do Maranhão] funcionam em 3 turnos (Irmão, São Raimundo das Mangabeiras, Entrevista realizada em 2016).”

Com o trabalho interrupto, preparo, catação de pedras, aração, pulverização e semeadura das terras em geral podem ser realizados em quinze dias e as horas extras concentram-se no período de mudança de plantio dentro dos talhões da fazenda. Nas fazendas, a mão-de-obra não ou pouco qualificada utilizada é maranhense.

“Toda empresa do campo que trabalha com 3 turnos tira direito dos trabalhador, no meu ponto de vista. Porque a lei fala que deve ter um intervalo de 11 horas entre uma jornada e outra. Então, o trabalhador do campo, dificilmente vai ter esse intervalo de entre jornada. Porque entre transporte, alimentação e chegada no alojamento, entre tudo, ela tira

3 horas. Então a entre jornada dele é menor, é de 9hs. A outra coisa que a gente percebe e o povo não presta muita atenção é que 1 hora de trabalho no campo é reduzida. Eles até fazem essa observação, mas você não consegue ver as horas de adicional noturno no ponto. E se cada semana esse trabalhador tá em um turno, ele não vai ter esse adicional. A escala muda toda semana. Todo mês o trabalhador passa pelos 3 turnos e acaba não recebendo o adicional noturno. Além disso, a escala impede que o trabalhador estude ou se capacite. Ele tem que ficar 24hs disponível para o trabalho. Por exemplo, eu entro agora 19hs da noite. As 3hs eu tenho que sair. Ai se você quiser sair da fazenda só chega às 6hs em casa. Aí ele tem que descansar. Aqui a maioria das vezes descansa na fazenda porque o transporte é precário e a casa do trabalhador é longe. Aí almoça, descansa mais um pouquinho e já tem que entrar de novo. Ele nem saiu do seu ambiente de trabalho. Ele ficou lá mesmo no alojamento. Então isso pra mim é usurpação de direito. Mas o Ministério vem aí e acha que tudo normal (Irmão, Sâo Raimundo das Mangabeiras, Entrevista realizada em 2016).”

Nas fazendas da região de Uruçuí, também é possível encontrar relatos de extensas jornadas de trabalho: das 6hs da manhã às 3hs da manhã do dia seguinte, ou seja, um turno de trabalho de dezoito horas. Como era necessário estar na fazenda às 6hs e o transporte da fazenda até as casas dos trabalhadores pode consumir até 3hs, muitos dormem em condições precárias nas fazendas (REIS, 2010). O pagamento das horas-extras ocorre em algumas situações, entretanto, o mais comum é a compensação e folga pelo “banco de horas”. Em geral, os trabalhadores não compreendem as regras do “banco de horas” ou os cálculos que são realizados pelos gerentes das fazendas. Há reclamações de que as horas de folga computadas são menores do que as horas-extras trabalhadas e a expectativa do trabalhador de ser remunerado pelas horas-extras geralmente não ocorre.

“Uma reclamação muito grande dos trabalhadores é que eles chamam da ‘virada’. Do que chama a virada no turno de domingo. Eu não recebo hora extra na virada do turno de domingo porque no domingo seguinte eu estarei trabalhando pra alguém. Um revezamento. Eu tenho que rodar 24hs pra rodar o turno. Eu entro sábado à noite, às 19hs aí eu trabalho a noite e saio no outro dia as 19hs da noite do domingo. Sem parar. Na segunda ou entro no turno da manhã ou entro no turno da tarde. Todo mês eu tenho que fazer uma virada. É uma obrigação. O benefício é, no próximo final de semana você ficar em casa, porque tem outro trabalhador fazendo a mesma coisa que você fez”.

No oeste baiano, também é comum as horas extras serem “contabilizadas” em um banco de horas, que futuramente podem ser convertidas em folgas para visitar a família.

Um problema surgido para os trabalhadores em função desse acordo está relacionado à distância de onde muitos são originários. Nesse caso, segundo afirmação do próprio Secretário de Assalariados do STR-Barreiras, os trabalhadores gastam nas viagens de ida e volta às suas casas, seis dias, restando apenas dois (2)

para ficar com a mulher e com os filhos. Outro problema que enfrentam é o custo

dessa viagem, o qual gira em torno de 500 reais. Disto, presume-se que, em função desse custo e do salário mensal que percebem, fica inviabilizada a visita à família uma vez por mês (SOBRINHO, 2012, p.82, grifos do original).

Dentro do mundo do trabalho assalariado, há uma gama de atividades: tratoristas e trabalhadores permanentes em fazendas de soja, ou no setor de armazenamento, trabalhadores sazonais, trabalhadores informais, diaristas (como catadores de raíz), ou pequenos camponeses que arrendam suas terras para o monocultivo da soja. As funções na fazenda podem ser dividas como:

 Cozinheiras: preparo das refeições, higienização dos ambientes de cozinha e refeitório60

 Serviços gerais: limpeza do terreno, roçar, catar raiz, auxiliar nos períodos de plantio e colheita

 Operador de máquinas: operação de tratores, pulverizadoras, colheitadeiras

 Motoristas: manejam carros, caminhões e ônibus para o transporte de pessoas (principalmente), insumos e grãos (geralmente prestadora de serviços são responsáveis pelo transporte de insumos e dos grãos).

 Chefes de campo: coordenaram os trabalhadores da lavoura – serviços gerais, motoristas e operador de máquinas

 Gerente da fazenda: responsável pelo monitoramento da produção e produtividade da fazenda, pelas compras de insumos, setor financeiro, calendário agrícola, venda da produção.

60 Apesar de não ser do escopo desta tese, a questão de gênero é um tema fundamental para entender as relações

de trabalho no campo. A jornada tripla de trabalho das cozinheiras precisa encaixar-se nos turnos da fazenda e dos outros trabalhadores, fazendo com que a jornada destas mulheres cheguem a 17hs de trabalho (4hs a 21hs).

À época da realização da pesquisa de campo, grande parte das funções nas fazendas são ocupadas pela população da região: é tratorista, operador I, operador II, operador III. Funções que requerem maiores requisitos educacionais, como agrônomo, técnico em agronomia, técnico em meio ambiente, em geral ainda são ocupadas pessoas de outras regiões. Em geral, os chefes de campo e os gerentes das fazendas são “gaúchos”, sendo que somente os gerentes possuem curso superior.

Dentro das funções de menor remuneração e de operação mais direta no campo, é comum ocorrer desvios de funções. “O cara é mecânico, mas vira operador de máquina, colhedora de cana, colhedora de soja, aí depois tá dirigindo caminhão” (Irmão, São Raimundo das Mangabeiras, 2016). Em geral, o desvio de função ocorre com os trabalhadores permanentes das fazendas. De acordo com o gerente da Fazenda Santa Luzia no sul do Maranhão, a integração lavoura-pecuária permite “aproveitar” mais o trabalhdor: “por exemplo, um operador de máquinas , faço um treinamento nele e vai construir cerca eletrica ou ração animal no período da entresafra. O funcionário tem que ser multifuncional: ele tem que trabalhar na aplicação de agrotóxico e trabalhar na irrigação. Porque quando ele tá trabalhando na aplicação, tá chovendo, então não preciso muito na irrigação. Mas quando está na entressafra, já começo a plantar 100 mudas de frutífera, ele já vai fazendo irrigação por gotejamento, o funcionário tem que fazer um curso técnico, se capacitar, se especializar” (Fazenda Santa Luzia, São Raimundo das Mangabeiras, 2016, grifo meu).

Bruno, do Sindicato de Araguaína, relatou situações semelhantes no Tocantins: tratorista que possuem jornadas das 6hs até as 20hs , sem horário de almoço, acúmulo e desvio de função O trabalhador se alimenta no trator, já que “hoje os maquinários são tão sofisticados que permitem eles têm uma liberdade maior”, disse Bruno em entrevista de campo 2016,. Além da falta de horário de descanso informou que os trabalhadores seguem na lavora mesmo após recentes aplicações de agrotóxico. “E gera uma série de riscos para ele, cansaço, risco de acidente, mas eles não têm essa consciência que é prejudicial” (Bruno, Araguaina, 2016).

Foto 9 - Campanha da Bayer para as fazendas de soja do Tocantins: “a força está no