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A Sindicância Patrimonial, conforme nos mostra Cangussu-Cabral (2011), pode ser conceituada como o “procedimento investigativo de caráter sigiloso e não punitivo destinado a apurar suspeitas e indícios de enriquecimento ilícito, verificados a partir da incompatibilidade observada entre a renda e o acréscimo patrimonial dos agentes públicos”.

Diante disso, podemos assinalar que a instauração de uma sindicância patrimonial pode ser iniciada a partir do conhecimento, pela Administração Pública, da denúncia de enriquecimento ilícito do agente público, ao considerar que o servidor passa a demonstrar um padrão de vida incompatível com seus rendimentos, ostentando riqueza que não se enquadra com sua realidade financeira.

Evidencia-se ainda que este procedimento disciplinar, comporta em sua estrutura procedimentos, tais como: colher depoimentos, investigação sob sigilo, não havendo necessidade de instaurar o contraditório, já que o procedimento apenas levanta dados para uma possível instauração de processo disciplinar, ocasião em que será observado pelos integrantes da comissão os princípios da ampla defesa e do contraditório.

Os técnicos da C.G.U. que elaboraram o Manual de Processo Administrativo Disciplinar (2013, p. 74), destacam que é através da sindicância patrimonial que se dará subsídios a um PAD, e que no final o servidor investigado poderá receber a pena de demissão, além de responder por crime de improbidade administrativa, quando assinalam:

Na verdade, a sindicância patrimonial desempenha papel de relevo na apuração das infrações administrativas potencialmente causadoras de enriquecimento ilícito do agente público, na medida em que, mediante a análise da evolução patrimonial do agente, poderão ser extraídos suficientes indícios de incompatibilidade patrimonial capazes de instruir a deflagração do processo administrativo disciplinar strictu sensu – que poderá culminar na aplicação da pena prevista no Art. 132, inciso IV, da Lei

nº 8.112/90 –, e na propositura da ação de Improbidade Administrativa, nos termos da Lei nº 8.429/92.

Relevante destacarmos que a própria C.G.U. orienta critérios de procedimentos para atuar quando da necessidade de instaurar uma sindicância patrimonial, conforme consta no art. 18 da Portaria CGU, nº 335/2006, que assim estabelece:

Art. 18. Para a instrução do procedimento, a comissão efetuará as diligências necessárias à elucidação do fato, ouvirá o sindicado e as eventuais testemunhas, carreará para os autos a prova documental existente e solicitará, se necessário, o afastamento de sigilos e a realização de perícias.

Este procedimento investigativo se utiliza quando de seus trabalhos, em quantificar o quanto se incorpora no patrimônio do servidor investigado, listando quais bens e seus respectivos valores, para que se faça uma análise comparativa deste acervo com a realidade remuneratória do investigado, para que se possa chegar à conclusão se esta evolução patrimonial decorreu de maneira justa, ou não há justificativas financeiras para que o servidor detenha o patrimônio relacionado como sendo seu.

A despeito deste rito procedimental, não podemos deixar de trazer a regulamentação do art. 13 da Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), trazida através do Decreto nº 5.483/2005, cujo principal objetivo é investigar o indevido aumento do patrimônio do servidor investigado, conforme previsto em seu art. 9º e seus parágrafos, que abaixo transcrevemos:

Art. 9o A Sindicância patrimonial constituir-se-á em procedimento sigiloso e meramente investigatório, não tendo caráter punitivo.

§ 1o O procedimento de sindicância patrimonial será conduzido por comissão composta por dois ou mais servidores ou empregados efetivos de órgãos ou entidades da administração federal.

§ 2o O prazo para conclusão do procedimento de sindicância patrimonial será de trinta dias, contados da data da publicação do ato que constituir a comissão, podendo ser prorrogado, por igual período ou por período inferior, pela autoridade competente pela instauração, desde que justificada a necessidade.

§ 3o Concluídos os trabalhos da sindicância patrimonial, a comissão responsável por sua condução fará relatório sobre os fatos apurados, opinando pelo seu arquivamento ou, se for o caso, por sua conversão em processo administrativo disciplinar.

Verificamos com a redação de parte do decreto antes transcrito, que os integrantes da comissão de sindicância patrimonial, deverá utilizar todas as diligências colocadas à sua disposição, objetivando esclarecer os fatos postos à apuração, que trata de como se deu à aquisição do acervo patrimonial do investigado, avaliando a desproporcionalidade entre os vencimentos deste servidor e a relação de seu patrimônio, focando sempre na questão do qualitativo e quantitativo deste patrimônio.

Temos ainda, que para atender ao seu caráter investigativo, os integrantes da comissão poderão obter as informações necessárias para sua investigação, através de consulta Cartórios de Registros Imobiliários, Cartórios de Registros de Títulos e Documentos, Departamentos de Trânsito, Juntas Comerciais, Capitania de Portos, inclusive através de outras unidades do serviço público, requerendo também do investigado a quebra de seu sigilo fiscal e bancário.

A sindicância patrimonial desempenha papel relevante na apuração das infrações administrativas potencialmente causadoras de enriquecimento ilícito do servidor público, na medida em que, mediante a análise da evolução patrimonial do servidor, poderão ser extraídos suficientes indícios de incompatibilidade patrimonial capazes de instruir a instauração do processo administrativo disciplinar na modalidade de inquérito, que poderá ocasionar na aplicação da pena prevista no art. 132, inciso IV, da Lei nº 8.112/90 –, e na propositura da Ação de Improbidade Administrativa, nos termos da Lei nº 8.429/92, sendo o recente caso dos Auditores Fiscais da Prefeitura de São Paulo um exemplo atual da utilização desta importante ferramenta investigativa3. É importante mostrar a ilustração abaixo para visualizar este procedimento:

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Quadro 2: Sindicância Patrimonial

Sindicância Patrimonial (Lei 8.429/92, Art. 9º, VII - Improbidade Administrativa e Lei nº 5.172/66, Art. 198, § 1º, II – CTN)

Procedimento Investigativo;

 Não punitivo;

 Caráter sigiloso;

 Conduzido por 2 ou mais servidores efetivos ou empregados públicos; e

 Prazo: até 30 dias (admite prorrogação). Rito inquisitorial.

Finalidade: Apuração de atos de corrupção ou de improbidade administrativa praticados por agente público que importem em enriquecimento ilícito.

Resultado possível: Arquivamento ou Instauração de PAD. Fonte: C.G.U./2013