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CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA

IV.2 Sinopse da Análise Petrográfica

Os minerais portadores de ETR são, em regra, explorados como sub-produtos de minérios polimetálicos. Como tal, previamente a uma análise petrográfica individual dos três subconjuntos principais (ferro-carbonatitos, cálcio-carbonatitos e fenitos), incidindo sobre os minerais portadores

de ETR, proceder-se-á a uma síntese das características texturais e mineralógicas das fases minerais não portadoras de ETR (silicatos, óxidos e hidróxidos de ferro), que, por conseguinte, podem representar minérios de valor económico (e.g. espinelas ferríferas); estas associações minerais encontram-se bem documentadas no trabalho de Santos (2010).

Em traços gerais, os carbonatitos (ferro-carbonatitos e cálcio-carbonatitos) e fenitos observados revelam textura e natureza composicional relativamente heterogénea que se deve à sobreposição de transformações desencadeadas por processos tardi-magmáticos e metassomáticos, subsequentemente perturbadas pela meteorização química (Beleque et al., 2009; Santos, 2010)

Para os ferro-carbonatitos destaca-se a presença abundante de espinelas ferríferas (magnetite s.l.) de origem magmática, muitas vezes constituindo bolsadas de granularidade grosseira (Estampa I.A), que preservam efeitos de oxidação intensa, geralmente materializada pelo desenvolvimento de orlas maghemíticas-hematíticas, muitas vezes substituídas por (hidr)óxidos de ferro (goethite, Estampa I.B). Processos metassomáticos, intensificados pela meteorização química, são responsáveis pelo desenvolvimento dos agregados de (hidr)óxidos de ferro e ainda hidróxido de Mn (romanechite, Estampa I.G), os quais ocorrem também no seio de fracturas que frequentemente desenvolvem redes anastomosadas. Nestas rochas, a matriz de granularidade fina a média é constituída essencialmente por agregados finos de quartzo ± carbonato, essencialmente dolomite/anquerite (Estampa ID) e, por vezes calcite, nas faixas de transição com os cálcio-

carbonatitos (Estampa I.E). Regista-se a presença pontual de teniolite (Estampa I.F), (Beleque et al., 2009; Santos, 2010).

Nos cálcio-carbonatitos a matriz, de proporção relativamente elevada, é predominantemente

calcítica (granularidade grosseira — Estampas I.M e II.B), sendo por vezes anquerítica (Estampa I.L) e quartzosa (granularidade heterogénea — Estampa I.H). Efeitos de alteração tardia são evidenciados por piroxenas (granularidade fina) e clorites (granularidade grosseira — Estampa II.B), parcialmente substituídas por quartzo e calcite, respectivamente. A piroxena é uma fase acessória importante ocorrendo sob a forma de disseminações matriciais sub-euédricas e agregados com hábitos aciculares (Estampa I.J), botrioidais e dendríticos; surge por vezes no seio de precipitados hidrotermais que selam veios tardios, de morfologia xenomórfica e granularidade fina; no exemplar BL-P 54 foi possível identificar piroxena do tipo aegirina-augite (Estampa II.C). Grãos euédricos de apatite desenvolvem-se tardiamente na matriz e grãos de barite parecem ser parcialmente substituídos por quartzo e/ou carbonatos (Estampa II.A). Estes minerais ocorrem

30  Minerais de ETR no Complexo Carbonatítico de Bailundo (Mungo, Angola)  

também associados aos veios tardios, geralmente polifásicos em agregados finos xenomórficos (e.g. BL-P 30 e BL-P 39 – barite; BL-P 8 – apatite). Apesar de comuns, as espinelas magnetíticas, ao contrário do que acontece nos ferro-carbonatitos, não desenvolvem disseminações relevantes. (Hidr)óxidos de Fe surgem associados a estádios tardios da deposição mineral ao longo de veios (filonetes) e fracturas (Beleque et al., 2009; Santos, 2010).

Em todos os complexos carbonatíticos, a presença de uma auréola de metassomatismo em torno dos mesmos é comum, resultado da transformação da rocha encaixante sujeita à interacção com fluidos residuais do processo de cristalização do carbonatito. As rochas metassomáticas são designadas fenitos e o processo fenitização, termo proposto por Brögger. Os produtos gerais da fenitização em encaixantes graníticos (como é o caso do CCB) parecem ser a diminuição gradual, ou perda total, do quartzo e o aparecimento de associações potássico-sódicas como piroxenas (aegirina), anfíbolas sódicas (e.g. arfvedsonite), nefelina, flogopite, feldspatos alcalinos, e carbonatos. Os fenitos podem ser ricos em sódio ou potássio, produzindo albite ± anfíbola sódica ± aegirina, ou feldspato alcalino, respectivamente (Le Bas, 1989; Matos Alves, 1967; Winter, 2001).

Para os fenitos do CCB, os efeitos heterogéneos do metassomatismo polifásico, concorrem para o desenvolvimento de associações minerais potássico-sódicas ricas em feldspato potássico (microclina — Estampa II.D), albite (Estampa II.E), piroxenas do tipo aegirina-augite (Estampas II.F. e G) e pontualmente anfíbola sódica? (Estampa II.E), localmente subsaturadas (denunciado pela possível presença de feldspatóides). Estas associações minerais constituem, por vezes, o preenchimento de veios e são localmente acompanhadas por óxidos de titânio, anátase ou broockite (Estampas II.H e I). (Hidr)óxidos de Fe preenchendo redes anastomosadas são muito abundantes, materializados pela paragénese hematite + goethite ± lepidocrocite (Estampa II.J), traduzindo meteorização química intensa. Relíquias de espinelas magnetíticas são raras observando-se processos de oxidação intensa materializada pelo desenvolvimento de orlas hematíticas (Estampa II.L). Regista-se a presença de barite em veio (Estampa III.A) e pontualmente zeólitos no preenchimento de cavidades (Estampa II.M). As rochas feníticas apresentam granularidade média a grosseira e evidenciam características imputáveis a processos de carbonatação e silicificação intensa, resultando matriz calcítica (Estampa III.C) ou quartzosa (Estampa III.B), respectivamente. A silicificação intensa é um aspecto interessante visto a fenitização ser um processo normalmente caracterizado pelo decréscimo de sílica; trata-se de quartzo microcristalino, muitas vezes preenchendo veios e filonetes tardios em conjunto com outras fases silicatadas (e.g. piroxenas). Neste contexto, afigura-se plausível interpretar o incremento não expectável em sílica como resultado de eventos tardios de silicificação (após o essencial do metassomatismo alcalino que caracteriza a fenitização) (Beleque et al., 2009; Santos, 2010).

ESTAMPA I

B Gt + Hem A Hem 0µm 10 Mgt E Hem Qtz Cal 200µm D Óx Mn Pcl + carb Cer G Px H

Estampa I. Ferro-carbonatitos: A – bolsadas de magnetite (Mgt) com desenvolvimento de orlas maghemíticas- hematíticas (Hem); B – Goethite (Gt) + Hematite (Hem); C – agregados finos de quartzo (Qtz) matricial; D – agregados finos de dolomite (Dol) matricial; E – cristais de calcite quartzo matricial; F – cristal de teniolite (Tnl); G – desenvolvimento de agregados de (hidr)óxidos de Mn (romanechite); grãos de cerianite (Cer) de dimensão muito reduzida disseminados na matriz e pirocloro (Pcl). Cálcio-carbonatitos: H – matriz de quartzo com piroxenas (Px) tardias de granularidade fina; I e J – disseminações matriciais sub-euédricas e agregados aciculares, botrioidais e dentríticos de piroxena (luz transmitida, polaróides paralelos); L – matriz anquerítica (Anq); agregados finos de apatite (Ap); M – matriz calcítica (Cal); filonete com quartzo e possível barite (Brt).

A – luz reflectida, polaróides paralelos; B – luz reflectida, polaróides cruzados; C, D, E, F, G, L e M – luz transmitida, polaróides cruzados; H, I e J – luz transmitida, polaróides paralelos.

ESTAMPA II

Estampa II. Cálcio-carbonatitos: A – cristais de apatite (Ap) e barite (Brt); B – grãos grosseiros sub-euédricos de clorite (Clt) tardia; C – cristais de piroxena do tipo aegirina-augite (Ae-Au); Fenitos NW: D – associações minerais potássico- sódicas ricas em feldspato potássico, microclina (Mcl); E – feldspato sódico, albite (Ab) e possível cristal de anfíbola (Anf); F e G– agregados prismáticos grosseiros, sub-euédricos a euédricos, de piroxenas do tipo aegirina-augite (Ae- Au); H – óxido de titânio identificado como possível broockite (Brk); I - óxido de titânio identificado como possível anátase (Ant); J – agregados e redes anastomosadas de (hidr)óxidos de Fe materializados pela paragénese hematite (Hem) + goetite (Gt) ± lepidocrocite (Lep); L – relíquias de espinelas magnetíticas (Mgt) sujeitas a processos de oxidação levando ao desenvolvimento de orlas hematíticas (Hem); Fenitos NE: M - cristais de zeólito no preenchimento de uma cavidade (Ze).

A, D e M – luz transmitida, polaróides cruzados; B, C, E, F, G, H, I e J – luz transmitida, polaróides paralelos; L – luz reflectida, polaróides paralelos.

As fases acessórias potenciais portadoras em ETR são diversas e comuns nos exemplares dos ferro-carbonatitos e cálcio-carbonatitos, e menos comuns nos exemplares dos fenitos. As descrições petrográficas serão apresentadas, de seguida, em subcapítulos individuais segundo as três litologias constituintes do CCB.