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4.2 Critérios para Cálculo das Perdas de Arrecadação de ICMS

4.2.1 Sistemática do Cálculo Direto

A Lei Complementar nº. 65/91, de 15 de abril de 1991, publicada no Diário Oficial da União no dia 16 de abril de 1991, definiu os produtos semielaborados que podiam ser tributados pelos estados e Distrito Federal, quando de sua exportação para o exterior. Destaca- se que essa definição foi feita com vistas a disciplinar quais produtos industrializados semielaborados eram tributados pelo ICMS antes da vigência da Lei Kandir, a seguir com reprodução textual:

Art. 1° É compreendido no campo de incidência do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação de serviço de transporte interestadual e intermunicipal, e de comunicação (ICMS) o produto industrializado semi-elaborado destinado ao exterior:

I - que resulte de matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral sujeita ao imposto quando exportada in natura.

II - cuja matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral não tenha sofrido qualquer processo que implique modificação da natureza química originária.

III - cujo custo da matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral represente mais de sessenta por cento do custo do correspondente produto, apurado segundo o nível tecnológico disponível no País.

Art. 2° Cabe ao Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz):

I - estabelecer as regras para a apuração do custo industrial conforme referido no artigo anterior;

II - elaborar lista dos produtos industrializados semi-elaborados segundo definidos no artigo anterior, atualizando-a sempre que necessário.

Essa conceituação de produtos semielaborados causou polêmica. Argumentava-se que muitos produtos listados como semielaborados, como era o caso dos sucos concentrados e barras de ferro, que atendiam aos incisos I, II e III, do art. 1º da LC 65/91, eram na verdade produtos acabados. Esta controvérsia ensejou questionamento judicial, pois, na óptica das empresas, os três requisitos tinham que ser obedecidos ao mesmo tempo, ao passo que os estados alegavam o contrário (KUME; PIANI, 1997).

O art. 2º da LC 65/91, no inciso II, atribuiu ao CONFAZ a competência para elaborar lista dos produtos industrializados semielaborados, salientando que o intuito desse comando legal era, na verdade, listar os semielaborados que seriam onerados pelo ICMS na saída para o exterior.

Kume e Piani (1997) afirmaram que coube ao CONFAZ, que é composto pelas secretarias de fazendas estaduais, fazer a lista dos produtos semielaborados, além de instituir convênios para isentar ou reduzir a base de cálculo do ICMS para produtos primários e semi-

elaborados com destino ao mercado exterior. Naturalmente, em virtude da composição do CONFAZ, a tendência era incluir na relação o maior número possível de semielaborados.

O Convênio ICM 07/89, de 27 de fevereiro de 1989, publicado no Diário Oficial da União no dia 28 de fevereiro de 1989, dispõe sobre a redução de base de cálculo do ICMS nas exportações, listando no seu anexo a lista de produtos semielaborados com os respectivos percentuais de redução de base de cálculo. O CONFAZ, na elaboração deste convênio, teve como intenção disciplinar o seguinte: o percentual de redução que estava grafado para cada produto classificado na NBM/SH referia-se a parte que correspondia à parcela industrializada e, dessa forma, não era tributada pelo imposto estadual porque já estava no campo da não- incidência; e a parcela percentual restante, que era a diferença em relação a cem por cento, correspondia à parte tributada pelo ICMS, pois se tratava tecnicamente da parte primária do produto.

Este princípio é o que norteia as estimativas do CONFAZ referente à estimativa das perdas dos estados com a Lei Kandir. O valor das exportações dos produtos industrializados mais a parcela industrializada contida nos produtos semielaborados compõem o valor que serve de base para calcular o Fundo IPI de Exportação – FPEX, que se refere à parcela das exportações que já eram desoneradas antes da LC 87/96. O FPEX foi estabelecido no inciso II, do art. 159 da Constituição Federal. O CONFAZ calcula o FPEX, de acordo com o que está disposto nas Leis Complementares nos 61/89 e 65/91 e no Convênio ICM 07/89.

Pellegrini (2006) assevera que o modo mais seguro para calcular as exportações que serviriam de base para calcular o ressarcimento da Lei Kandir é a utilizada pelo CONFAZ, que subtrai do valor exportado por parte de cada estado, as vendas para o exterior desoneradas de acordo com os parâmetros do FPEX. Sobre o valor das exportações desoneradas pela LC 87/96 se aplica a alíquota de 13%, que estava vigente em 1996, conforme Resolução nº 22/1989.

Kume e Piani (1997) e Avellar (2008) utilizam uma alíquota média ponderada efetiva do ICMS. Leitão, Linhares e Irffi (2009) aplicam a alíquota nominal de 13%. O valor do ICMS que deixou de ser arrecadado, para efeito do cálculo da estimativa das perdas com a Lei Kandir desta pesquisa, será estimado com base no produto da alíquota nominal de 13% sobre o valor da exportação dos produtos primários e dos produtos industrializados semielaborados, conforme detalhado na equação 1.

ICMSd = (Xpp + Xpse) . 13%, (1)

Onde ICMSd é o Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços desonerado; Xpp é a

exportação dos produtos primários; e Xpse é a exportação dos produtos semi-elaborados.

Depois da estimação da equação 1, pode-se calcular o impacto na arrecadação, mediante a aplicação da equação 2, que vai dimensionar a perda líquida do Estado do Ceará, onde se consideram as transferências de crédito concedidas aos exportadores e as transferências constitucionais repassadas pela União para compensar as UFs, de acordo com o que foi fixado pela LC 87/96.

PLICMS = TCO – ICMSd - TC, (2)

Neste caso, PLICMS é a perda líquida de ICMS do Estado do Ceará; ICMSd é o Imposto de

Circulação de Mercadoria e Serviços desonerado; TCO são as transferências constitucionais; e TCas transferências de crédito.

No tocante às perdas com os créditos de bens de ativo, esta pesquisa não estima estas perdas em virtude da limitação e da confiabilidade dos dados. Kume e Piani (1997) destacaram que realizaram estudo somente relativo à desoneração das exportações, pois consideraram que não existiam números suficientemente confiáveis para mensurar o decréscimo das receitas pelo aproveitamento do crédito dos bens de capital. Pellegrini (2006) citou a limitação de informações e a ausência de dados discriminados por Estado.

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