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2. A TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

2.4. Sistemática das licitações e leilões

Após perceber a necessidade de instalação de novas linhas de transmissão e realizar os primeiros estudos de viabilidade relacionados a essa implantação, a Aneel deve elaborar e publicar um edital de licitação. Em cada edital, podem existir diferentes lotes, correspondendo a instalações de transmissão, especificadas em aspectos técnicos, como tensão e extensão. Cada lote gera uma concessão de serviço específica, associada a contratos com prazo de trinta anos, conforme determinado pela lei 9.074 (Capítulo II, Seção I, Art. 4ª, Parágrafo 3º) (BRASIL, 1995b).

O edital de licitação precisa conter, entre outras especificações, o objeto, as metas e o prazo de concessão; a descrição das condições necessárias à prestação adequada do serviço; os prazos para recebimento das propostas, julgamento da licitação e assinatura do contrato; e os critérios de reajuste e revisão da tarifa, conforme determinado no Capítulo V, Art. 18º, incisos I, II, III e VIII da Lei nº 8.987 de 1995 (BRASIL, 1995a). Pela Lei nº 9.648, de março de 1998, os critérios gerais para definição de um vencedor em uma licitação podem ser menor tarifa, maior

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oferta, melhor proposta técnica (com preço fixado no edital) ou uma combinação desses critérios, dois a dois (Capítulo V, Art. 15º) (BRASIL, 1998).

Em todos os leilões de transmissão realizados de 2000 ao início de 2011, a mecânica foi similar. A concessão foi outorgada à proponente do leilão que apresentou o menor valor de tarifa de transmissão, correspondente à menor receita anual, igual ou inferior ao limite máximo estabelecido no edital, pela prestação do serviço específico licitado. Tendo fixado a tarifa pelo preço da proposta vencedora, os contratos estabeleceram mecanismos de reajuste e revisão tarifária, de modo a manter o equilíbrio econômico-financeiro da concessionária.

Em relação à receita, observaram-se diferentes regimes de revisão e reajuste da receita anual para os serviços de transmissão de energia. Os primeiros contratos de concessão dentro do novo modelo desverticalizado de transmissão de energia contemplavam uma receita corrigida anualmente pelo IGPM, além de uma revisão tarifária de quatro em quatro anos para as “receitas novas” oriundas das novas concessões conseguidas por licitação ou autorização específica. Os ativos existentes antes da desverticalização, provenientes da cisão dos segmentos, tiveram uma receita associada decretada pelo órgão regulador e foram excluídos dessa atualização, desde o segundo ciclo de revisão. Destaca-se que embora os resultados da revisão pudessem ser de aumento ou diminuição de receita, a tendência observada foi de diminuição - os ganhos da empresa acima da equação econômico-financeira eram repassados ao sistema (LAUER, 2006; HERNÁNDEZ, 2010).

Para as primeiras concessões licitadas, de 2000 a 2006, o edital previa uma receita fixa igual ao lance vencedor do leilão para os primeiros 16 anos da concessão, seguidos por uma redução de 50% na receita contratada após o 16º ano. Nesses editais, reajustes e revisões de receita ficavam acordadas em contrato, sem previsão de revisão tarifária periódica. Os editais de 2007 em diante, por outro lado, eliminaram essa redução de 50% no valor da receita mantendo, por todo o período, o valor da proposta financeira vencedora do leilão como a receita anual da concessão. Esses editais também previram revisões periódicas a cada cinco anos, no valor da receita anual, nos termos dos contratos e em conformidade com parâmetros regulatórios estabelecidos pela ANEEL.

Podiam participar do leilão empresas nacionais ou estrangeiras, isoladamente ou reunidas em consórcio, que atendessem às condições de pré-qualificação (ou de inscrição, a partir de 2008) estabelecidas no edital e que tivessem efetuado o depósito

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de garantia de proposta. Desde 2004, pela lei nº 10.848, ficou impedida a participação de concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviços públicos de distribuição de energia elétrica atuantes no Sistema Interligado Nacional (SIN), nos leilões de geração e transmissão (BRASIL, 2004). E, desde 2006, encontra-se prevista, nos editais, a possibilidade de fundos de investimento em participação também concorrerem nos leilões.

Quando a licitação permite a participação de empresas em consórcio, deve haver compromisso público para sua constituição, indicação de empresa responsável e dos percentuais de participação de cada consorciada, apresentação de documentos por empresa e impedimento de participação das empresas componentes do consórcio na mesma licitação, individualmente ou por meio de outro consórcio. Apesar de haver indicação de uma líder, nos consórcios todas as empresas têm responsabilidade solidária. E, em caso de vitória, o consórcio deve constituir Sociedade de Propósito Específico (SPE), com a mesma proporção de participação das empresas consorciadas.

Como existem exigências de ordem jurídica, técnica, econômico-financeira e de regularidade fiscal para que os proponentes dos leilões possam ser considerados vencedores, essas exigências também valem para os consórcios. No caso da habilitação técnica, que envolve a existência de profissionais capacitados para a construção, montagem, manutenção e operação de linhas de transmissão e subestações, considera-se o somatório das quantidades de profissionais de cada consorciada. Na habilitação econômica e financeira, por outro lado, são considerados os valores de cada empresa, respeitando sua proporção de participação, de forma que os quocientes de liquidez são calculados a partir dos valores de cada consorciada. Caso eles não sejam suficientes, é considerado o somatório proporcional do capital social de cada empresa, que deve atingir um valor mínimo estipulado no edital. Ainda nas exigências econômico-financeiras, é necessário que a soma ponderada do Patrimônio Líquido de cada consorciada atinja um valor mínimo.

Existem, ainda, documentos de habilitação jurídica, como a apresentação do Contrato Social e a comprovação dos poderes do(s) representante(s) legal(is) da firma ou firmas (no caso do consórcio). No aspecto fiscal, estão as certidões que comprovem a inexistência de débitos fiscais, como os relacionados à previdência social, ao FGTS e aos tributos, de forma geral.

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Antes de 2008, os agentes faziam o depósito de garantia de proposta e entregavam documentos de pré-qualificação jurídica, técnica, econômico-financeira e de regularidade fiscal e poderiam, então, ser considerados habilitados ou não a participar do leilão. Os habilitados deveriam fazer um depósito de garantia de proposta, que os tornaria aptos (porém não obrigados) a participar do leilão. Em 2008, houve um processo de inversão de fases. Desde então, os agentes passaram a entregar documentos de inscrição e posteriormente depositar a garantia de proposta para serem considerados aptos ou inaptos a participar do certame. Após realização do leilão e declaração da proposta vencedora, as proponentes vencedoras de cada lote devem entregar ao leiloeiro os documentos de habilitação. Se a vencedora não for habilitada, serão convocados os demais proponentes, em ordem sucessiva crescente do valor do lance ofertado no leilão, até que um vencedor seja habilitado. Leilões com inversões de fase proporcionam menores custos para a Administração, pois apenas os documentos da vencedora precisam ser analisados.

No último edital lançado em 2011, passou a ser obrigatório que as empresas aptas a participar do leilão entreguem o envelope de proposta, ainda que no interior do envelope seja entregue uma declaração de desistência de participação. Essa medida pretendeu aumentar a incerteza entre as empresas quanto ao número de concorrentes, embora a divulgação de grupos pré-qualificados auxilie contrariamente na redução dessa incerteza.

A agência estipula uma receita anual máxima para cada lote, com base nos custos estimados de cada empreendimento. A partir dessa estimativa, os participantes elaboram seus lances a serem entregues em envelopes lacrados, em uma primeira fase. Os envelopes com as propostas financeiras de cada proponente apenas são entregues após a conclusão do leilão referente ao lote anterior ou após o término do prazo para recebimento das propostas. Desse modo, os envelopes de proposta referentes ao lote C são recebidos após finalização do lote B, cujas propostas são recebidas apenas após a finalização do leilão do lote A, por exemplo. Cada proposta de receita anual deve ser igual ou inferior ao limite superior estabelecido no edital, caso contrário, a proponente é desclassificada e não participa do certame.

É declarada vencedora a proponente com a menor proposta entre os licitantes do lote, desde que não existam outros lances iguais ou inferiores a 1,05 vezes o menor lance. Em cada lote, se existirem proponentes com proposta igual ou inferior a 5% do menor valor, o leilão terá um repique a viva voz. Nesse caso, o menor lance

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da primeira etapa configura o novo preço de reserva (a nova receita máxima permitida). Lances sucessivos são dados entre aqueles participantes cujos lances foram iguais ou menores que o valor de corte (1,05 vezes o menor lance). Os agentes concedem lances decrescentes até que apenas uma proponente manifeste interesse na concessão. O leiloeiro pode, em cada caso, estabelecer uma diferença mínima entre os lances orais. Caso, na etapa a viva voz, as proponentes não efetuem lances, é considerada vencedora a proponente que tivesse ofertado o menor lance no envelope. Caso mais de um licitante tenha ofertado o menor lance e não haja lances a viva voz, a decisão será feita por sorteio.

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