• Nenhum resultado encontrado

Um leilão é uma instituição de mercado que determina a alocação de recursos aos agentes conforme seus lances na disputa (McAFEE; McMILLAN, 1987).

27

Existem diversos possíveis mecanismos1 para realizar um leilão, com diferentes estruturas de incentivos, capazes de gerar diferentes estratégias de participação, com resultados distintos.

Sucintamente, as principais características que diferenciam um leilão do outro são: a forma de anúncio de preço, o tipo de objeto, a forma de escolha do vencedor e a forma de pagamento utilizada. É possível ter leilões em que a proposta é efetuada em um envelope (lances secretos) ou leilões em que o lance é divulgado publicamente em um sistema oral ou eletrônico. Quanto ao tipo de objeto, ele pode ser, por exemplo, uni ou multidimensional, divisível ou indivisível. Em geral, o vencedor é aquele que, em um leilão de venda, ofertou o maior lance, pagando o seu próprio lance (leilão de primeiro preço) ou o segundo maior lance válido na disputa (segundo preço).

Além dessas características, os leilões podem ser comparados pelas informações de cada participante em relação ao valor do objeto leiloado. Milgrom e Weber (1982) descreveram três modelos básicos: valores privados, valores comuns e um modelo misto de afiliação. Cada um desses modelos adota diferentes suposições de comportamento dos agentes econômicos. A partir dessas simplificações, pode-se analisar a realidade estudada e intuir a respeito de resultados teóricos esperados dos leilões, como o efeito do estabelecimento e da divulgação de um preço de reserva sobre a receita.

Se a informação sobre o valor do objeto for privada e independente das preferências dos demais participantes, tem-se a estrutura de valores privados. Nessa modelagem, os licitantes desconhecem quanto o objeto vale para seus concorrentes. E, caso conheçam, essa informação não afeta o próprio valor. Esse é, normalmente, o caso de objetos de uso próprio, em que o bem tem um valor intrínseco para o licitante, que independe de valores de mercado, como no caso de objetos de coleção.

O outro extremo ocorre quando o objeto tem o mesmo valor para todos os participantes, mesmo que cada um tenha uma estimativa diferente dele, sendo um modelo de valor comum puro (MILGROM; WEBER, 1982). Nesse caso, o valor do bem deriva de um preço de mercado, de tal forma que as valorações individuais dos licitantes convirjam para esse preço.

1

Existem diversos tipos de leilões, com suas peculiaridades teóricas e práticas. Vários trabalhos

28

Em outros casos, é possível observar uma mistura dos dois modelos, quando os participantes têm alguma preferência sobre o bem, que também tem uma parcela de valor comum a todos os concorrentes. Nesse modelo, o valor do bem para um participante depende de seu valor intrínseco, mas também está correlacionado com a sinalização dada pelos demais jogadores a respeito dos próprios valores. Com isso, se um licitante tiver altas estimativas sobre o objeto, aumenta a probabilidade de as estimativas dos concorrentes também serem elevadas. Moura, Canêdo-Pinheiro e Daitx (2012) trataram os leilões de blocos exploratórios de petróleo como tendo valores comuns com sinais privados dependentes. Quando uma reserva é considerada valiosa por algum participante, espera-se que os demais também a considerem dessa forma. Ao tratar de leilões de compra de energia, Correia, Melo e Costa (2006) destacaram atributos privados e comuns no valor da energia elétrica. Há um custo médio de geração para cada gerador e um custo de oportunidade que dependem de condições históricas de demanda e do custo marginal global. Assim, os autores destacaram que a participação no leilão depende do custo médio privado, mas as expectativas de lucro dependem do custo comum de oportunidade.

Embora os diferentes paradigmas possam implicar diferentes resultados aos leilões e, por isso, devam ser considerados nas análises, pode ser difícil distinguir cada situação empiricamente. No caso do leilão de transmissão de energia, em primeiro lugar, é razoável supor que os licitantes tenham componentes privados e comuns sobre o valor do objeto. Os contratos têm componentes de valor privado que dependem das características dos próprios licitantes, como suas estruturas de custos, e também aspectos comuns, como o comportamento futuro da agência reguladora.

Pelo fato de a Aneel divulgar, nos editais, uma receita anual máxima permitida para o contrato, que é função do orçamento realizado pela agência, já se supõe que existe ao menos uma parte do valor do contrato comum a todos os concorrentes. Ou, dito de outra forma, que os concorrentes tenham valores convergentes ao estipulado pela Aneel, pois os lances devem ser dados para garantir a maior receita possível, dentro do limite permitido, que esteja associada à probabilidade de vitória requerida.

A receita máxima permitida de cada leilão considera o banco de preços dos investimentos próprios da transmissão, que é um banco de preços dos investimentos das estatais da Eletrobrás. A regulação do segmento também considera a ideia de comparação entre empresas, aspecto em que se questiona a exatidão do banco de

29

custos, pois as empresas apresentam sistemas de gestão de eficácias diferenciadas. Nesse aspecto, é frequentemente questionada a discrepância entre o banco de preços da ANEEL, modelo de comparação, e os verdadeiros custos operacionais e de manutenção das concessionárias (HERNANDEZ, 2010). Como pode ser observado em Serrato (2008), as concessionárias de transmissão estatais e privadas diferem entre si em termos de estruturas de custos.

Assim, cada licitante faz suas próprias pesquisas, que resultam em valores diferentes dos de seus concorrentes, mas, como as expectativas de investimento e receita têm balizadores de mercado, ainda que imprecisos, os lances devem tender a um único valor. Por outro lado, particularidades específicas de cada região, a existência de possíveis sinergias entre linhas de transmissão, de interesses de atuação em determinadas regiões, o fato de algumas empresas terem capital público e outras terem capital privado, ou de qualquer outra característica da própria empresa, como ramo de atividade, pode diferenciar o valor do objeto, pelo seu valor privado, e distanciá-lo do valor comum.