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A sistemática documental da Companhia de Jesus estava constantemente vinculada às necessidades de delineamento e estabelecimento da referida ordem. O primeiro documento, Os Exercícios Espirituais, com versão final em 1548, objetivava incentivar os primeiros discípulos à conversão e estabeleceram paradigmas e metas da ordem que iniciava sua caminhada religiosa sob a égide de Inácio de Loyola. O segundo documento denominado Fórmula do Instituto com versão final em 1550, já estabelecia a defesa e a propagação da fé. Segundo O´Malley a Fórmula redimensionou consideravelmente a atuação Jesuíta estabelecendo novos contornos à experiência missionária:

... a Fórmula estabeleceu que, contrariamente a outras ordens religiosas, a Companhia não obrigou seus membros a recitar ou cantar em conjunto as horas litúrgicas, como matinas, laudes ou vésperas. As circunstâncias freqüentemente forçaram os primeiros jesuítas a defenderem esse aspecto de suas vidas e o fizeram muito vigorosamente, porque viram isso como emblemático do que era distinto neles e no seu ministério. Relacionada a essa cláusula havia outra, que estipulava que eles tinham que pronunciar um voto especial a Deus que os comprometeria a percorrer qualquer lugar do mundo para realizar o ministério, quando assim ordenados pelo Papa. (O’MALLEY, 2004, p.22)

O terceiro documento são as Constituições que embora Inácio de Loyola tenha se dedicado ao aperfeiçoamento do mesmo até a sua morte, seu secretário Polanco teve uma expressiva contribuição no que diz respeito às composições textuais, sugestões e arregimentação de documentos relacionados e finalmente foi encarregado da tradução latina do referido

documento original em espanhol. Em 1552, Inácio de Loyola designou outro assistente que também contribuiu muito para documentar os anseios jesuítas, chamado Jerônimo Nadal, responsável por inúmeros relatos. (O’MALLEY, 2004, p.23)

As Constituições regulamentavam os princípios que deveriam delinear as metas almejadas pela Companhia e ainda traziam em seu bojo as pontuações inerentes a Fórmula para esclarecer os procedimentos práticos. O objetivo prioritário da Companhia de Jesus de ajuda ao próximo estava explícito na regra número 3 das Constituições:

O fim da Companhia não é somente ocupar-se, com a graça divina, da salvação e perfeição das almas próprias, mas, com esta mesma graça, esforçar-se intensamente por ajudar a salvação e perfeição das do próximo.(KOLVENBACH, 1997, p. 40)

A regra nº 338 das Constituições estabelecia os critérios vocacionais exigidos para os candidatos a membros da Instituição, estabelecendo requisitos para à admissão na Companhia de Jesus.

[153] Os que são admitidos para servir nos ministérios espirituais, tendo em conta o que tais ministério exige para ajuda das almas, deveriam ter as seguintes qualidades:

[154] Quanto á inteligência, uma doutrina sã ou a aptidão para a adquirir, e no domínio da ação, discrição, ou mostras de bom juízo, capaz de alcançá-la.

[155] Quanto à memória, capacidade de aprender, e fidelidade para reter o que aprende.

[156] Quanto à vontade, desejo de toda a virtude e de toda a perfeição espiritual, paz, constância, coragem nos empreendimentos para o divino serviço, zelo da salvação das almas; e por isso mesmo, estima do nosso Instituto, todo ele diretamente ordenado a ajudá-las e dispô-

las para obterem o seu fim último nas mãos de Deus nosso Criador e Senhor.

[157] Quanto ao exterior, é para desejar que tenham o dom da palavra, tão necessário nas relações com o próximo.

[158] Aspecto decente, que geralmente mais edifica aqueles com quem se trata.

[159] Saúde e forças, que permitam agüentar os trabalhos do nosso Instituto.

[160] Idade conveniente com relação a tudo o que acima se disse. Para admissão deve passar dos 14 anos; e para profissão dos 25. [161] Os dons externos de nobreza, riqueza, bom nome, e semelhantes, não bastam quando os outros faltam, nem são necessários quando os outros existem. (KOLVENBACH, 1997, p. 78- 79)

Além desses documentos reguladores, a Companhia de Jesus estabeleceu uma produção documental imensa, uma vez que seus membros eram orientados para se corresponderem sistematicamente entre eles e com os superiores em Roma.

Por volta de 1565, a Companhia contava com cerca de 135 membros, que eram exortados ou obrigados a manter correspondência regular com cada um dos companheiros e especialmente com os superiores em Roma. Uma grande quantidade dessas cartas foi preservada e editada em mais de 125 volumes da Monumenta Historica Societatis Iesu e em outras publicações. Somente as cartas de Santo Inácio preenchem 12 volumes no Monumenta, constituindo a correspondência mais ampla, sem exceção, das figuras do século XVI. (O’MALLEY, 2004, p.18)

Vale ressaltar, que a maioria dos documentos da época são cunhados pelos próprios jesuítas em latim, fato que os estabelece e diferença das outras ordens pela sistemática de produção textual, correspondências de cunho descritivo e didático – pedagógico. Essa prática foi oficializada em 1580 pela

inserção às Regras da Companhia de Jesus no documento Formula Scribendi que estabelecia o teor, a periodicidade e o mecanismo de envio das correspondências.

Os Provinciais das Índias devem escrever ao Prepósito geral quando se oferecer oportunidade de envio por navios; porém os Reitores e Superiores das casas e os professores dos noviços da índia devem escrever uma vez ao ano; os do Brasil e da Nova Espanha, se tiverem oportunidade, duas Vezes. (FORMULA

SCRIBENDI, [1580], p. 41)

A partir da Formula Scribendi oficializaram-se as cartas ânuas que se caracterizavam por relatos descritivos sobre os processos pedagógicos e sociais vividos nas colônias pela Companhia de Jesus. As cartas ordinárias eram mais sucintas e eventuais, portanto sem a representatividade oficial das cartas ânuas, fato que acabou por minimizar a freqüência das cartas ordinárias que não mais traduziam as expectativas do Prepósito Geral.

Outros estilos de escrita Jesuíta nos legaram fontes de pesquisa sobre a prática missionária e pedagógica são eles: relatos ou crônicas que descreviam os estabelecimentos e as práticas jesuítas; catálogos que deveriam elencar todos os estabelecimentos e relacionar os padres integrantes com dados de identificação pessoal e descrição das atividades exercidas na Companhia; biografias que difundiam a trajetória de vida dos membros mais célebres.

O principal acervo de documentação Jesuíta desde correspondências manuscritas até publicações é o Archivum Romanum Societatis IESU – ARSI .

A documentação referente ao Brasil no ARSI é o Província Brasiliensis et Maragnonensis (Bras) com os seguintes títulos (apud HOLLER, 2006, p.18) :

• Bras 1 - Epistolae Generalium (1678 -1759 )

• Bras 2 – Ordinationes PP. Generalium et Visitationez (1566 – 1603)

• Bras 3 I – Brasiliae Epistolae (1550-1660) • Bras 3 II – Brasiliae Epistolae (1661 – 1695) • Bras 4 – Brasilae Epistolae ( 1696 - 1737)

• Bras 5 – Catologi breves et triennales Provinciale Brasilae ( 1556-1660)

• Bras 6 I - Catologi breves et triennales Provinciale Brasilae (1701-1736)

• Bras 6 I I - Catologi breves et triennales Provinciale Brasilae (1737 – 1757)

• Bras 8 I – Historia Provinciae Brasiliensis ( 1574 – 1619) • Bras 8 II - Historia Provinciae Brasiliensis (1620 – 1647) • Bras 9 - Historia Provinciae Brasiliensis et Maragnonensis

(1651 – 1702)

• Bras 10 I - Historia Provinciae Brasiliensis (1700 – 1722) • Bras 10 II - Historia Provinciae Brasiliensis (1723 – 1756) • Bras 11 – Fundationes Collegii Bahiense ( 1564 – 1730) • Bras 12_ Hist. Fund. Collg. Bahiens., Pernamb., Flum.,

Ianuar. ( 1564 – 1730)

• Bras 13 - Menologio doa varoens illustres da Comoanhia de Jesu I (Jan – Jun)

• Bras 14- Menologio doa varoens illustres da Comoanhia de Jesu I I (Jul - Dez)

• Bras 15 I – Brasliae Historia (1549 – 1575) • Bras 15 II - Brasliae Historia (1576 – 1599) • Bras 25 – Epistolae Generalium (1710-1740) • Bras 26 – Epistolae Maragnonenses (1671- 1738) • Bras 27 – Catalogus Maragnonensis (1671 – 1753) • Bras 28 – Inventarium maragnonense ( 1760 – 1768)

Essa diversidade documental possibilitou o acesso às práticas musicais enquanto recurso didático da educação jesuíta. Segundo HOLLER (2006, p. 12), foram encontradas cerca de 120 ânuas, das quais 86 continham informações sobre música.