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Sistem as Cerebrais Lo cais e sua A nálise Funcio nal

No documento LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia (páginas 102-106)

M o strei acim a que os p ro cesso s m entais hum ano s são sistem as fu ncio ­ nais co m p lexo s que requerem o funcio nam ento co m b inad o d e áreas in­ d iv id uais d o céreb ro . A o m esm o tem p o , m o strei q ue a fim de analisar a sua o rg aniz ação cereb ral é essencial d eterm inar a co ntrib u ição dada p o r cad a área d o céreb ro para esse sistem a fu ncio nal co m p lexo e estab elecer que fato res de ativ id ad e m ental são da resp o nsabilid ad e d este ou d aquele sistem a cereb ral. Finalm ente, d iscuti as p rincip ais fo ntes de no sso co nheci­ m ento so bre a base cereb ral da ativ id ad e m ental, e m o strei q ue, d essas três fo ntes, a sab er, a anato m ia co m p arativ a do céreb ro , m éto d o s d e esti­ m ulação e m éto d o s d e lesão de áreas ind iv id uais, é esta últim a que é ev id entem ente a m ais im p o rtante no que co ncerne à análise d a o rg anização fu ncio nal d o céreb ro hum ano .

Essas co nsid eraçõ es nos lev am ao estu do clín ic o de lesõ es cerebrais

locais e à análise d e m odific aç ões qu e surgem em p roc essos m en tais hu­

m an os em c asos de lesões locais de áreas in div idu ais do c ér e br o co m o as p rincip ais m aneiras d e o b ter as resp o stas às no ssas ind ag açõ es, e tam bém d e d esco b rir a co ntrib u ição d ada po r um a área cereb ral p articu lar para a o rg aniz ação d a ativ id ad e m ental hum ana. Entretanto , a d esp eito da im p o rtância d esse m éto d o , não se d eve im ag inar que ele fo rnece um a v ia d ireta e sim p les para a so lu ção d e nosso s p ro blem as. C o m o vim o s acim a, um a lesão cereb ral lo cal não lev a à “ p erd a” d ireta d e um a co nd ição m ental p articu lar, co m o sustentavam o s ad ep to s d o “ lo caliz acio nism o estrei­ to ” . Um fo co p ato ló g ico que surge co m o resultad o de um ferim ento , de hem o rrag ia, o u de um tum o r, p erturba o funcio nam ento no rm al d c uma d ad a área cereb ral, abo le as co nd içõ es necessárias ao funcio nam ento no r­ m al d o sistem a funcio nal p articu lar, e, assitn, leva à reorg an iz ação do

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funcio nam ento d as partes intactas d o céreb ro , de fo rm a que a fu nção p erturbad a pod e ser d esem p enhad a d e m aneiras no v as.

Esses fato s b ásico s, bem co nhecid o s p o r to d o c lín ico , to rnam extre­ m am ente d ifícil tirar co nclu sõ es, a p artir d o s sinto m as o bserv ad o s em lesõ es cereb rais lo cais, a resp eito d o p ap el d a área afetad a na o rg anização no rm al da fo rm a p erturbad a d e ativ id ad e.

H á o utro fato r q ue aum enta a d ificuld ad e d e u tiliz ar lesõ es cereb rais lo cais a fim d e analisar a co ntrib u ição d ad a p o r cad a área cereb ral p ara a o rg anização de p ro cesso s m entais.

N a p rática, nenhum a lesão cereb ral lo cal é tão p recisam ente d em ar­ cad a que d estrua so m ente um grupo estreitam ente lo caliz ad o de célu las nerv o sas. Po r o utro lad o , um fo co p ato ló g ico no céreb ro apenas m uito raram ente destrói todos os elem en tos n erv osos d entro d aquela zo na. V ia de regra alguns elem ento s são co m p letam ente d estruíd o s enquanto q ue o u tro s co ntinuam a funcio nar, em bo ra eles fu ncio nem so b co nd içõ es p ato ­ lo g icam ente m o d ificad as, send o às vezes d ep rim id o s o u inibid o s pelo p ro ­ cesso p ato ló g ico e às vezes estim ulad o s o u excitad o s p o r ele. Esses fato s naturalm ente causam v ariação su bstancial no s sinto m as resultantes de lesõ es cerebrais lo cais, d e fo rm a q ue um m esm o fo co do p o nto d e v ista to p o g ráfico po de acarretar sinto m as d e natu rez a co m p letam ente d iferente.

N o v am ente, d eve-se lem brar que um a lesão cereb ral lo cal nunca é de

c aráter estreitam en te loc aliz ado. V ia d e reg ra to d o fo co p ato ló g ico é circund ad o po r um a “ zo na p erifo cal” p ato lo g icam ente alterad a, na qual o tecid o nerv o so tem que fu ncio nar so b co nd içõ es m o d ificad as p o r alteraçõ es na hem o d inâm ica e no fluxo de flu id o cereb ro sp inal (lev and o a isquem ia em alguns caso s e a ed em a em o u tro s). Essas alteraçõ es v ariam d e caso p ara caso e de fase p ara fase, d e m o d o que o estud o da din âm ica da d o ença co m eça a assum ir esp ecial im p o rtância (Sm ino rv , 1946; 1948).

Finalm ente, q ualq uer fo co p ato ló g ico , v ia de reg ra, d á o rigem a efeit o s

reflex o s ex ten sos, d escrito s na p arte inicial d este século po r M o nako w (1910; 1914) co m o m anifestaçõ es d e “ d iásq u ise” e su bseqüentem ente in­ v estig ad o s po r fisio lo g istas. Essas inv estig açõ es rev elaram fenô m eno s in­ teressantes, tais co m o o ap arecim ento d e “ fo co s de excitação em esp elho ” (M o rrcll, 1967), c o s referid o s fenô m eno s d em o nstraram a v asta extensão de esp raiam ento d a influ ência d e um fo co ap arentem ente estreitam ente lo caliz ad o .

To d as essas características aum entam co nsid erav elm ente a d ificuld ad e de extrair, a p artir d o estud o de lesõ es cereb rais lo cais, co nclu sõ es so bre o p ap el d a área afetad a na estrutura d e um d ad o p ro cesso p sico ló g ico . Entretanto , npcsnr de todns cssns lim itaçõ es, n invcstiRnçíío do efeito d c lesõ es cerebrais lo cais so bre a d inâm ica de p ro cesso s p sico ló g ico s perm anece

SIST EM A S C ER EBR A IS L O CA IS E SU A A N Ä L ISE F U N CIO N A L / 83

send o não ap enas um m éto d o p o ssív el, m as, na v erd ad e, o m éto d o p rin­ cip al p ara se estud ar a o rg anização cereb ral da ativ id ad e m ental.

Se d escrev erm o s, em um núm ero su ficientem ente grand e d e caso s, as alteraçõ es em p ro cesso s m entais hum ano s que surgem em caso s d e le­ sõ es cereb rais lo cais, q ualificarm o s cuid ad o sam ente os fato s d esco berto s, d isting uirm o s o s fato res básico s q ue lev am ao seu ap arecim ento , e se, então , co m p ararm o s to d as as alteraçõ es q ue surgem nesses caso s co m o s pro ­ cesso s q ue p erm anecem intacto s (o u , em o utras p alav ras, se analisarm o s não ap enas sinto m as, m as, sim , sínd ro m es co m p letas asso ciad as à lesão ), po d erem o s co nseg uir pro gresso s su b stanciais no sentid o tanto da id enti­ ficação d o s asp ecto s de uma ativ id ad e m ental esp ecífica que estão d ireta­ m ente v inculad o s a um a área esp ecífica d o céreb ro , co m o d a d eterm inação d a co ntrib u ição d ad a po r aq uela área d o céreb ro p ara a co nstru ção de p ro cesso s m entais hum ano s.

Este m éto d o , o m éto d o básico da no v a d iscip lina cien tífica da neu-

ropsic o lo g ia, é aq uele que u tiliz arei d urante to d a a segund a p arte deste liv ro . D arei p referência à análise d as fu nçõ es do hem isfério d o m inante (esq u erd o ), que são m ais bem co nhecid as, em bo ra p red o m inância ine­ quív o ca do hem isfério esquerd o so bre o d ireito não seja enco ntrad a em to d o s o s caso s; d e aco rd o co m Su b irana ( 1 9 6 9 ) , v erifica-se em ap enas 6 3 ,1 % d o s caso s.

Estud arem o s sucessiv am ente as alteraçõ es em p ro cesso s m entais que surgem em lesõ es das d ivisõ es o cip ital (v isu al), tem p o ral (au d itiv a), pa- ríeto -têm p o ro -o cip ital, p ré-m o to ra e fro ntal d o céreb ro , d escrev end o as alteraçõ es em p auta da fo rm a m ais co m p leta p o ssív el e co m p letand o a no ssa d escrição co m um a análise d as alteraçõ es pro d uzid as p o r lesõ es da reg ião lím b ica (p artes m ed iais do có rtex) e d as estruturas cereb rais pro ­ fund as (estruturas do tro nco cereb ral); finalm ente, co nsid erarem o s inú­ m ero s p ro blem as não reso lv id o s, entre o s quais se inclu i a questão aind a inad eq uad am ente estud ad a d as fu nçõ es d o hem isfério cereb ral não -d o m i- nante (d ireito ). Este é o p lano b ásico d esta segund a p arte d o liv ro .

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No documento LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia (páginas 102-106)

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