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Oceano AtlânticoArmação

4.2 SISTEMA ANTRÓPICO 1 Histórico da Ocupação

Evidências de coletores-caçadores na região da Floresta Atlântica datam de cerca de 11 mil anos (DEAN, 1996), sendo que para MACEDO (2002) desde os primeiros tempos de Colônia e Vice Reinado as áreas costeiras foram os espaços que se mostraram mais adequados às ocupações humanas, concentrando a formação de cidades, portos e cultivos agrícolas, e servindo de ponte para a exploração e a penetração do interior brasileiro.

Este processo pode ser assim resumido:

Devido à relativa escassez de terras nas planícies litorâneas para agricultura, o litoral passou à margem dos sucessivos ciclos econômicos...Mas, com a construção das primeiras estradas para o interior, as cidades portuárias desenvolveram-se mais que outras. Quando as auto-estradas foram modernizadas e o litoral passou a ser ocupado por habitantes das cidades do interior em busca de lazer, houve uma redescoberta das antigas populações litorâneas, que passaram a sofrer problemas semelhantes aos de seus antepassados índios (ADAMS, 2000: 99).

Atualmente vivem no entorno da Floresta Atlântica aproximadamente “100 milhões de habitantes, os quais exercem enorme pressão sobre seus remanescentes, seja por seu espaço, seja por seus inúmeros recursos” (SIMÕES e LINO, 2002, p. 13).

Dados históricos relatam como primeiros ocupantes da costa catarinense, os grupos tupi-guaranis, mais conhecidos como índios Carijós, cujas pesquisas arqueológicas apontam índios na região há pelo menos 1.500 anos (FARIAS, 2000). Os produtos alimentícios e artefatos produzidos eram provenientes das atividades de caça, de pesca e de coleta, realizadas no mar, nas praias, nos mangues e nas florestas. O espaço ocupado pela floresta atlântica servia também de substrato para plantios, como a mandioca e o milho.

DEAN (1996) revela um dado surpreendente, de que durante os pelo menos 1000 anos de ocupação Tupi cada área particular da Floresta Atlântica ocupada por uma aldeia teria sido queimada pelo menos 19 vezes.

ACAPRENA (op cit) descreve a Morraria mencionando seu relevo acidentado que propicia a ocorrência de pequenos vales profundos onde ocorrem brejos de encosta que antecedem cursos d’água, perenes ou intermitentes.

A situação da hidrologia local pode ser verificada nos mapas de declividade, de hipsometria e de solos (Mapas 01, 02 e 03), podendo ser observado a quantidade de cursos d’água existentes na área, sendo que a condição de perenidade está relacionada com a presença de vegetação35 e com o tamanho da bacia de captação. Em campo se pode observar que as vertentes localizadas na face leste apresentam maior número de córregos perenes, salvo as de bacia muito pequena.

Dos cursos d’água existentes na área, são destacados dois córregos: um, de maior vazão, pelo seu potencial também recreativo, e outro pelo seu valor ecológico. O primeiro corresponde a um curso que tem as águas drenadas da bacia de captação do Morro da Galheta, seguindo em relevo acidentado, de fundo rochoso, formando cachoeiras, sendo uma delas de mais de três metros. Suas margens são constituídas de floresta alterada, e é formado por dois tributários, um intermitente e outro perene, desembocando na Praia do Lucas. O potencial recreativo se dá devido às cachoeiras existentes e ao fato de suas águas límpidas desembocarem na praia, onde foi implantada uma “bica”.

O segundo curso se refere às águas que são drenadas de uma vertente constituída de floresta secundária, de relevo medianamente acidentado, de fundo rochoso, mas de pouca vazão. A sua importância se justifica pelo deságüe na Praia do Poá, com foz canalizada, mas formando na planície um ambiente constituído de Formação Pioneira com Influência Fluvio-Lacustre (várzea).

Outros dois cursos d’água na área servem de manancial de abastecimento, um para a residência na Praia do Monge, e outro para a comunidade que ocupa o loteamento Praia Vermelha.

acordo com MONIZ (op cit), mas o caráter epidistrófico e álico limitam-no no tocante a fertilidade, devido à reduzida presença de bases trocáveis (CTC < 50%) e saturação por alumínio.

TABELA 01: ÁREA E PERCENTUAL DE OCUPAÇÃO DAS UNIDADES DE SOLOS MAPEADAS NA MORRARIA DA PRAIA VERMELHA

Unidades Área (ha) Proporção (%)

PVa1 - Podzólico 122,87 16

PVa2 - Podzólico 29,59 04

PVa3 - Podszólico 15,55 02

Ca1 - Cambissolo Moderado 43,46 5,5

Ca2 - Cambissolo Húmico 44,29 06

Lid1 - Litólico Distrófico 39,25 05

Lie2 - Litólico Eutrófico 199,04 26

Od1 - Orgânico 04,09 0,5

GHa - Glei Húmico 31,04 04

AQd - Areia Quartzosa 16,80 02 SM - Solos de Mangue 0,63 0.08 Área Antropizada 52,54 07 Afloramento de Rocha 43,71 06 PVa1 + Ca1 74,50 10 PVa2 + Ca1 + Ld1 27,80 3,6 Ca2 + Ld1 6,62 0,9 Água 0,19 0,02 Caixa de Empréstimo 11,56 1,5 Total 763,56 100 4.1.5 Hidrologia

A rede de drenagem é integrante da bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açu e das sub-bacias dos rios Piçarras, Guaporuma, Gravatá e Iriri e de outros cursos d’água menores, assim como de canais artificiais.

O rio Itajaí-açu é o principal rio próximo ao município de Penha, sendo o maior da vertente atlântica no Estado de Santa Catarina. A grande quantidade de efluentes existentes diminui a balneabilidade das praias que estão ao norte de sua foz, pois resíduos são levados pelas correntes marítimas até estes locais (ACAPRENA, 1994).

O rio Gravatá divide os municípios de Navegantes e Penha, e é o maior curso d’água próximo à área de estudo, tendo como maior tributário o rio Guaporuma. A ocupação antrópica e a existência de indústrias pesqueiras lançam resíduos nesses rios, poluindo suas águas (formando o estuário que limita a Morraria).

suave ondulado. e) GLEI HÚMICO

Ocorre na área em porções restritas, devido às condições que levam á sua gênese. Assim, desenvolve-se em regiões de relevo plano onde o nível do lençol freático subjacente situa-se muito próximo a superfície.

GHa – GLEI HÚMICO Tb Epidistrófico Álico textura média fase floresta ombrófila densa relevo plano.

f) AREIAS QUARTZOSAS

São solos minerais pouco desenvolvidos, excessivamente drenados, sendo encontrados na planície próxima ao mar.

AQd – AREIA QUARTZOSA Distrófica A Moderado fase formação pioneira com influência marinha (restinga) relevo plano.

g) SOLOS INDISCRIMINADOS DE MANGUE

São solos minerais predominantemente halomórficos, alagados, sendo localizado no limite da área na desembocadura do rio Gravatá ao mar.

SM – SOLOS INDISCRIMINADOS DE MANGUE textura argilosa fase formação pioneira de influência flúvio-marinha (manguezal) relevo plano.

Ainda, no mapeamento podem ser observadas: A – Áreas com acentuada influência antrópica; AF – Afloramento de rocha, Água e Caixa de Empréstimo.

Na Tabela 1 são relacionadas as informações de proporção entre as unidades de solos encontradas na área de estudo.

É verificada uma acentuada predominância de solo Litólico Eutrófico (26%), tendo como característica o fato de ser pouco desenvolvido evolutivamente, mas com presença de bases trocáveis (CTC > 50%), que possibilitam relativa fertilidade (MONIZ, 1972), mas, no caso, pouco disponibilizada em função da declividade da área.

Outra classe que contribui com expressividade na área se refere ao Podzólico Vermelho Amarelo Epidistrófico Álico (16%), cuja característica principal se refere à forte intemperização que lhe permite profundidade e argila de atividade alta, de

b) CAMBISSOLO

Estes solos encontram-se distribuídos principalmente na encosta oriental da área, na maioria dos casos associados a solos litólicos, em regiões onde o relevo declivoso permite seu rejuvenescimento, sendo identificados:

Ca1 – CAMBISSOLO Ta Epidistrófico Álico A Moderado textura média fase floresta

ombrófila densa relevo forte ondulado a montanhoso substrato siltito.

Ca2 – CAMBISSOLO Tb Epidistrófico Álico A Húmico textura argilosa fase floresta

ombrófila densa relevo forte ondulado a montanhoso substrato siltito.

Pva1 + Ca1 – ASSOCIAÇÃO PODZÓLICO VERMELHO AMARELO Ta Abrúptico

Epidistrófico Álico A Proeminente textura média/argilosa fase floresta ombrófila densa relevo forte ondulado e CAMBISSOLO Ta Epidistrófico Álico A Moderado textura média fase floresta ombrófila densa relevo forte ondulado a montanhoso substrato siltito.

c) SOLOS LITÓLICOS

Estes solos distribuem-se com maior freqüência nas encostas orientais da área e ao lado dos Cambissolos. Ambos, somados aos Afloramentos Rochosos caracterizam os terrenos de maior declive nas encostas voltadas para o leste.

Ld1 – SOLO LITOLICO Tb Distrófico A Proeminente textura média fase floresta

ombrófila densa relevo montanhoso a escarpado.

Le2 – SOLO LITÓLICO Tb Eutrófico A Moderadotextura argilosa fase floresta

ombrófila densa relevo montanhoso a escarpado.

Ca2 + Lid1 – ASSOCIAÇÃO CAMBISSOLO Tb Epidistrófico Álico A Húmico textura

argilosa fase floresta ombrófila densa relevo forte ondulado a montanhoso substrato siltito e SOLO LITÓLICO Tb Distrófico A Proeminente textura média fase floresta ombrófila densa relevo montanhoso a escarpado.

d) SOLOS ORGÂNICOS

Estes solos são pouco evoluídos, resultantes de depósitos de matéria orgânica em decomposição nos locais de drenagem deficiente mal drenado

FIGURA 14: PEDOLOGIA DA MORRARIA DA PRAIA VERMELHA

FONTE: ADAPTADO DE ACAPRENA (1994)

ARMAÇÃO

GRAVATÁ OCEANO ATLÁNTICO

sinais de erosão, atualmente encontrando-se abandonadas, em sucessão natural. Parte da área encontra-se em processo de expansão urbana, sendo também utilizada como caixa de empréstimo de material, sem medidas de recuperação.

Especificamente para a área de estudo, ACAPRENA (1994) realizou um levantamento de solos com características de semi-detalhe, aprofundando conhecimentos sobre as classes dominantes, cuja delimitação das Unidades de Mapeamento é apresentada no Mapa Pedológico (Figura 14). A descrição das classes de solos acompanha a legenda de identificação do mapeamento, tendo como base as informações resumidas desse levantamento, sendo:

a) PODZÓLICO VERMELHO AMARELO

Os solos pertencentes a esta classe são representados por unidades que apresentam gradiente textural nítido entre os horizontes A e B, encontrando-se distribuídos em toda a área, sendo verificada uma grande mancha de PVa1 na parte

ocidental, sendo mapeados:

PVa1 – PODZÓLICO VERMELHO AMARELO Ta Abrúptico Epidistrófico Álico A

Proeminente textura média/argilosa fase floresta ombrófila densa relevo forte ondulado.

PVa2 – PODZÓLICO VERMELHO AMARELO Tb Abrúptico Epidistrófico Álico A

Proeminente textura média/argilosa fase floresta ombrófila densa relevo ondulado a forte ondulado.

PVa3 – PODZÓLICO VERMELHO AMARELO Tb Abrúptico Epidistrófico Álico A

Moderado textura média/argilosa fase floresta ombrófila densa relevo ondulado a forte ondulado.

Pva2 + Ca1 + LId1 – ASSOCIAÇÃO PODZÓLICO VERMELHO AMARELO Tb

Abrúptico Epidistrófico Álico A Proeminente textura média/argilosa fase floresta ombrófila densa relevo ondulado a forte ondulado e CAMBISSOLO Ta Epidistrófico Álico A Moderado textura média fase floresta ombrófila densa relevo forte ondulado a montanhoso substrato siltito e SOLO LITÓLICO Tb Distrófico A Proeminente textura média fase floresta ombrófila densa relevo montanhoso a escarpado.

4.1.4 Pedologia

Segundo levantamento da EMBRAPA (1996), no município ocorre os seguintes tipos de solos e associações34:

a) Cambissolo álico, A moderado, textura argilosa, relevo montanhoso, associado com Litólicos distrófico, A moderado, textura argilosa, relevo montanhoso e escarpado, substrato migmatito;

b) Podzólico Vermelho-Amarelo álico e distrófico Tb, A moderado, textura média-argilosa, relevo ondulado e forte ondulado;

c) Podzólico Vermelho-Amarelo álico Tb, A moderado, textura média cascalhenta-argilosa cascalhenta, relevo ondulado, associado com Cambissolo álico Tb, A moderado, textura argilosa- cascalhenta, relevo forte ondulado;

d) Cambissolo Gleico eutrófico, A moderado, textura média, relevo principalmente plano, associado com Gley Pouco Húmico eutrófico, textura média, relevo plano;

e) Gley Pouco Húmico distrófico Ta e Tb, textura média, relevo plano, associado com Cambissolo Gleico distrófico Ta e Tb, textura argilosa, relevo principalmente plano, associado com Gley Húmico distrófico Ta e Tb, textura média, relevo plano;

f) Gley Húmico eutrófico Ta, textura argilosa, relevo plano;

g) Areias Quartzosas Marinhas álicas, A moderado e proeminente, relevo principalmente plano, associado com Podzol Hidromórfico álico, A moderado e proeminente, textura arenosa, relevo plano.

De maneira geral, pode-se constatar que a utilização das unidades existentes é limitada, sendo que nas áreas montanhosas, além dos níveis de fertilidade natural muito baixos, o relevo acidentado é um fator limitante, enquanto nas áreas planas, a baixa fertilidade é aliada a má drenagem (SILVA, 1997). Desta forma no município as atividades agrícolas, pastoris e silviculturais são secundárias, não significativas para o setor econômico. Ainda, cabe ressaltar que parte das áreas utilizadas mostra

34 Este trabalho utiliza a nomenclatura conforme o usual na data da bibliografia (EMBRAPA, 1996) e o

FIGURA 13: DECLIVIDADE DA MORRARIA DA PRAIA VERMELHA FONTE: A AUTORA Praia do Caminho Ponta da Estrela Costão do São Roque Ponta do Farol Praia do São Miguel Moro da Galheta ou Gravatá

Morro da Armação ou do Pires

Praia do Monge Pedra da Velha Rabo da Baleia Praia da Horta Laje Grande Praia da Galhetinha Ponta da Galhetinha Ponta Negra Galheta Ponta do

Gravata Ponta da Escada do Inferno

Praia do Poá Praia do Lucas Ponta do Varido GRAVATÁ ARMAÇÃO OCEANO ATLÂNTICO

Para o mapa de hipsometria (Figura 12) foram utilizadas classes altimétricas com intervalos de 5 metros, sendo que de acordo com ACAPRENA (1994), o ponto culminante da área de estudo corresponde ao Morro da Galheta ou do Gravatá, também conhecido como Escada do Inferno, com 276,8 m de altura, localizado no centro da região sul da área. O segundo ponto mais alto se refere ao Morro do Pires ou da Armação, possuindo 222,8 m e localizado no centro da região norte (Figura 13).

Apesar de não existirem pontos muito altos, o predomínio de relevo ondulado e forte ondulado remete a susceptibilidade natural da área frente aos movimentos gravitacionais de massa e processos erosivos, sendo que para ACAPRENA (1994) a Morraria da Praia Vermelha apresenta fatores predisponentes aos fenômenos de instabilidade condicionados à grande declividade das encostas e às características geológico-geotécnicas do terreno.

Geomorfologicamente, a área de estudo forma um complexo costeiro, também chamado de promontório, onde estão distribuídas várias enseadas e costões formando locais peculiares, sendo: Norte - Praia do Poá e Ponta do Varrido; Nordeste – Ponta do Farol, Costão do São Roque e Ponta da Estrela; Leste – Praia do Monge, Pedra da Velha, Praia do Caminho, Rabo da Baleia, Praia do Lucas, Laje Grande, Praia da Horta; Sudeste - Ponta da Galhetinha; Sul – Ponta Negra, Galheta, Ponta da Escada do Inferno, Praia de São Miguel e Ponta do Gravatá (Figura 13).

Esta complexidade topográfica e diversidade de ambientes tornam a área valiosa em termos de qualidade visual paisagística (PIRES, 1993), aliada à naturalidade que somente se mantém pela própria situação geomorfológica que dificulta a possibilidade de abertura de estradas de acesso às diversas enseadas.

FIGURA 12: HIPSOMETRIA DA MORRARIA DA PRAIA VERMELHA

FONTE: A AUTORA

Oceano Atlântico