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Sistema de combinação

No documento Do concurso formal de crimes (páginas 96-98)

5 DETERMINAÇÃO DA PENA NO CONCURSO FORMAL DE CRIMES:

5.4 Sistema de combinação

O sistema de combinação, por sua vez, parte da combinação de penas, tomando-se como pena mínima a maior pena mínima dentre os crimes concorrentes e como pena máxima a maior pena máxima dos crimes concorrentes, de maneira a fixar um novo marco penal punitivo dentro do qual é calculada a pena. Nas palavras de Maurach (1976, p. 457), “en los

casos en los que la ley más sueva muestra un mínimo más riguroso que la más grave, no podrá rebajarse este mínimo (...). El marco penal ‘combinado’ oscila, en estos casos, entre el mínimo de la ley más suave y el máximo de la más grave”.

À pena do crime mais grave, pelo sistema de combinação, podem ser aglutinadas também as consequências acessórias e secundárias de todos os outros crimes praticados. Admite-se, ainda, que circunstâncias agravantes presentes nos crimes de pena menos grave sejam levadas em conta para o estabelecimento da pena, quando não pertençam também à pena do tipo aplicado217.

Esse sistema, responsável pela formação de uma lex tertia para o caso concreto, é adotado expressamente pelo Código Penal alemão para o concurso formal heterogêneo de crimes (§ 52)218 e pelos códigos penais austríaco(§ 28)219 e português (art. 77)220 para os casos de concurso de crimes em geral. Afirma-se que a tomada em consideração da pena mínima mais severa dentre as concorrentes e de outros elementos das penas concorrentes assenta-se no princípio nemo auditur propriam turpitudinem allegans (ninguém pode se beneficiar da própria torpeza), uma vez que a prática de um segundo crime pelo agente poderia lhe propiciar condições de receber punição inferior do que se tivesse praticado apenas o primeiro crime221. A consideração da pena mínima de outro crime para fixação de um novo marco penal, principal aspecto do sistema de combinação, é denominada de efeito oclusivo da lei mais benigna (Sperrwirkung des milderen Gesetzes)222.

Conforme se extrai de alguns autores, o sistema de combinação, em realidade, é um sistema complementar a outros. Sanz Morán (1995, p. 219), nesse sentido, exemplifica que “se acercará a la absorción cuando el límite máximo del nuevo marco penal coincida con el

217 Welzel (1976, p. 320), Mezger (1957, p. 390-391), Wessels (1976, p. 178), Maurach (1976, p. 457), Jescheck; Weigend (2002, p. 780), Aisa (2004, p. 74-76), Sanz Morán (2012, p. 50), Peñaranda Ramos (1991, p. 55), Calderón Cerezo (1995, p. 158-159) e Sanz Morán (1995, p. 225).

218

Alemanha, 2014. 219 Áustria, 1974. 220 Portugal, 1995.

221 Sanz Morán (2012, p. 50) e Aisa (2004, p. 197). 222

Maurach (1976, p. 457), Peñaranda Ramos (1991, p. 55-57), Sanz Morán (1995, p. 237), Choclán Montalvo (1997, p. 36-37).

de la infracción más gravemente penada; a la asperación, cuando se permita rebasar dicho límite”. Na Alemanha, por exemplo, onde se adota o critério de combinação, aplica-se

juntamente a esse o sistema de absorção223.

O sistema de combinação, ademais, tem sido reconhecido pela doutrina alemã atual, sob os mesmos fundamentos, como balizador da punição também nos casos de concurso aparente de normas penais224, entendimento que, segundo alguns autores, revela uma contradição com a concepção mais adequada acerca do concurso aparente de normas225. Com efeito, se o traço característico do concurso aparente é a apreensão completa do desvalor do crime por um único preceito, o reconhecimento de qualquer efeito decorrente do preceito afastado implicaria em bis in idem material226.

A adoção do sistema de combinação para o concurso aparente de normas penais tem como consequência, na Alemanha, a equiparação entre o concurso formal de crimes e o concurso aparente, uma vez que, como constata Mir Puig (1990, p. 737), para as duas situações se escolhe o preceito mais grave que, em seguida, pode ser agravado da mesma forma pela pena dos demais. A única diferença do concurso formal de crimes frente ao concurso aparente de normas, ainda assim carente de relevância, é apontada como sendo a função de clarificação do concurso formal (Klarstellungsfunktion). Essa função, segundo a doutrina, consiste no fato de que, ao ser o agente processado por todos os tipos realizados quando existente concurso formal, resta esclarecido o âmbito de atuação criminosa, apontando-se na sentença o exato conteúdo de injusto e de culpabilidade em que se origina a pena. No concurso aparente, ao contrário, os preceitos descartados não são mencionados na sentença227.

O reconhecimento do sistema de combinação tem sido discutido fora da Alemanha, notadamente na Espanha, onde é defendido por Choclán Montalvo (1995, p. 356-357); Cuello Contreras (1979, p. 74 e ss.) e Bacigalupo. Segundo afirma Bacigalupo (1999, p. 591):

La comprobación de un concurso ideal determina que sólo deba aplicarse una pena, que debe extraerse de la amenaza penal más grave. El Código Penal (art. 77) sigue este criterio; sin embargo, deja sin respuesta el problema que se da cuando el delito tiene la pena máxima más grave y tiene, a la vez, la pena mínima menos grave que el otro delito. En este supuesto

223 Assim prevê o § 52 do Código Penal alemão (ALEMANHA, 2014). Wessels (1976, p. 178), Welzel (1976, p. 320 e Maurach (1976, p. 454-455).

224 Nesse sentido apontam Jescheck; Weigend (2002, p. 795) e Welzel (1976, p. 320). 225 Maurach (1976, p. 446). Cf. Aisa (2004, p. 201) e Cuerda Riezu (1992, p. 218). 226 Aisa (2004, p. 202-203).

227

Wessels (1976, p. 180), Maurach (1976, p. 455), Jescheck; Weigend (2002, p. 774), D’Almeida (2004, p. 101-103), Torres (2012, p. 32-33), Choclán Montalvo (1995, p. 349) e Aisa (2004, p. 199-200).

debe tenerse en cuenta que la pluralidad de lesiones no puede tener un efecto beneficiante del autor y, por lo tanto, debe asignarse al mínimo más alto una función de clausura, según la cual el autor no puede ser sancionado a una pena menos grave que la que le hubiera correspondido si hubiera violado sólo una ley (la del mínimo más alto).

Ainda assim, a doutrina não-alemã majoritária rechaça a combinação pelo fato de não haver previsão legal expressa para tanto, o que implicaria violação ao princípio da legalidade penal. Cuerda Riezu (1992, p. 219) afirma que “esta tesis es inadmisible porque infringe el

principio de legalidad y conduce a resultados que perjudican al reo. En efecto, el artículo 68 obliga – y no faculta – a calificar única y exclusivamente por el precepto que aplique mayor sanción, y no por otro”. No mesmo sentido, Torres (2012, p. 384) afirma que “la combinación por parte del juzgador de las pensa de varios delitos supone una arrogación de función que competen exclusivamente al legislador”228.

No documento Do concurso formal de crimes (páginas 96-98)