• Nenhum resultado encontrado

Unidade de ação nos crimes omissivos

No documento Do concurso formal de crimes (páginas 68-71)

3 PRESSUPOSTOS DO CONCURSO FORMAL PRÓPRIO E IMPRÓPRIO

3.1 Unidade de ação

3.1.10 Unidade de ação nos crimes omissivos

Embora o termo “ação” seja utilizado nos textos sobre concurso de crimes quase sempre em sentido amplo, isto é, como conglobante da ação positiva e da ação negativa (omissão), a definição da unidade de conduta nos crimes omissivos encara peculiariedades que demandam alguns apontamentos próprios.

Em termos gerais, para definir a unidade de conduta nos crimes omissivos - em outras palavras, a unidade de omissão -, tem-se aplicado um raciocínio análogo ao da identidade total ou parcial das ações executivas típicas, partindo-se da hipotética identidade da ação omitida que dá lugar às figuras omissivas concorrentes. Conforme define Nino (1982, p. 305):

Lo que sí supone es que, en el caso de la omisión de acciones positivas, el agente no realiza los movimientos corporales que materializarían la descripcion relevante de la acción omitida.

Esta caracterización del concepto de omisión propia sugire bastante claramente cuál es el criterio adecuado para individualizar omisiones: si la materialización de diversas descripciones de acción se haría mediante los mismos movimientos corporales, la no satisfacción de tales descripciones por falta de realización de esos movimientos conduce, cuando se dan las restantes condiciones, a una única omisión, aunque la omisión en cuestión pueda ser descrita de diversas formas, recurriendo a las descripciones bajo las cuales la acción era habitual u obligatoria. Así, si alguien no cumple con su obligación de hacer el servicio militar no presentándose al cuartel el día en que debía hacerlo, no incurre en dos omisiones – la de no hacer el servicio militar y la de no presentarse al cuartel ese días -, sino en una sola omisión, puesto que la misma actividad física materializaría las dos descripciones de la conducta exigida.

Nos crimes omissivos impróprios, entende-se haver unidade de omissão quando os diversos resultados materiais poderiam ter sido impedidos pelo garante mediante a realização de uma mesma ação, como no exemplo de Wessels (1976, p. 174) de um trem que atropela um grupo de trabalhadores situados conjuntamente sobre os trilhos porque o funcionário responsável em dar o sinal de advertência assim não o fez.

Se após a produção de um dos resultados fosse possível ao agente evitar outro, considera-se existir uma nova conduta omissiva148. Conforme afirmam Jescheck e Weigend (2002, p. 769),

En los delitos de omisión hay que proceder con los mismos principios. Si, contrariamente a su deber de garante, el autor omite evitar varios resultados típicos (delito de omisión impropia) entonces hay que aceptar una omisión si por medio de una sola acción habría podido evitar todos aquéllos. En cambio, concurren varias omisiones si tras el acaecimiento de uno de los resultados hubiera sido todavia posible el impedimento de otros.

Sobre a pluralidade de omissões decorrente da possibilidade de evitação sucessiva dos resultados também evitáveis por meio de uma única ação, Nino (1982, p. 306-307) assevera que:

Supongamos ahora que alguien hubiera podido materializar varias descripciones de acciones exigidas tanto mediante los mismos movimientos corporales como en virtud de secuencias diferentes de tales movimientos: ¿ incurre él en una sola o en varias omisiones? (...) Claro está que cuando

148

Jescheck; Weigend (2002, p. 769), Fiandaca; Musco (1989, p. 489-490), Aisa (2006, p. 113-114), Wessels (1976, p. 174), Zaffaroni (1999, p. 538), Torres (2012, p. 58-59) e Nino (1982, p. 305).

hasta cierto momento hubo esa posibilidad, pero luego ya no la hay, puesto que se precluyó la oportunidad de realizar una de las acciones mientras subsiste alguna oportunidad para realizar la otra (...), entonces la omisión – y el consentimiento – se desdobla: cuando el individuo dejó pasar la oportunidad que era la última para la realización de una de las acciones pero no de la otra, omitió sólo la primera acción y consintió las consecuencias de tal omisión; sólo cuando deja pasar la última oportunidad para realizar la segunda acción incurrre en una segunda omisión y presta un nuevo consentimiento a asumir consecuencias penales. Es decir que la posibilidad de satisfacer varias descripciones de acción mediante los mismos movimientos corporales que es relevante para determinar la unidad de la omisión, es la que se da en la última oportunidad de acción.

No mesmo sentido, nos crimes omissivos próprios haverá unidade de omissão se os diversos mandatos de ação só pudessem ter sido cumpridos simultaneamente. Havendo possibilidade de cumprimento sucessivo, existirão tantas omissões quanto oportunidades perdidas para cumprimento dos mandatos (TAGLE, 2001, p. 265)149.

A possibilidade de existência de concurso formal entre crimes omissivos é negada por Vives Antón (1981, p. 19 e ss. apud AISA, 2006, p. 114). Para esse autor, a omissão não se baseia no ato positivo omitido, mas na frustração da situação de espera oriunda da situação de perigo, pelo que haverá tantos fatos omissivos quanto deveres de agir. No mesmo sentido, González Cussac (1996, p. 441 apud TORRES, 2012, p. 338) afirma que, se a omissão é idealizada normativamente, existirão tantas omissões quanto mandatos de ação descumpridos.

O concurso formal entre um crime omissivo e outro comissivo, por outro lado, tem sido rechaçado por grande parte da doutrina, sob o entendimento de que condutas omissivas e comissivas podem até possuir identidade temporal, mas não se sobrepõem150. Alguns, todavia, excepcionam esse entendimento afirmando a possibilidade de concorrência formal quando um dos crimes praticados possui natureza permanente e o outro crime é realizado para a manutenção desse estado antijurídico151.

Por fim, existe posicionamento na doutrina no sentido de poder haver concorrência entre delitos omissivos e comissivos mesmo sem a intervenção de um dos delitos permanente. Nessa linha, Jakobs (1983, p. 1104 apud TORRES, 2012, p. 59) afirma que

el que infringe un mandato no sólo al mismo tiempo que una prohibición, sino que en lugar de cumplir el deber no observa una prohibición, comete y omite en unidad de acción, porque en su comportamiento se pone de manifiesto una doble incorrección jurídica: el comportamiento tiene la

149 No mesmo sentido Jescheck; Weigend (2002, p. 769), Fiandaca; Musco (1989, p. 489-490), Wessels (1976, p. 174), Zaffaroni (1999, p. 538), Aisa (2006, p. 113-114 e Torres (2012, p. 337-341).

150

Nesse sentido Torres (2012, p. 337-341).

imagen de una infracción de un mandato y al mismo tiempo no presenta la del cumplimiento de un deber.

Jakobs (1983, p. 911 apud AISA, 2004, p. 115) exemplifica, citando a hipótese de um médico, que, por culpa própria, ao invés de realizar em um determinado paciente uma cirurgia para curar fortes dores, realiza-a em uma pessoa distinta, sã, lesionando, em unidade de conduta, o paciente enfermo e a pessoa sã. Segundo ele, seria possível se falar em unidade de conduta, ainda, no caso de um casal de pais embriagados que dirigem até sua casa, em lugar de providenciar assistência médica para o filho gravemente doente152.

Zaffaroni adota o mesmo entendimento de Jakobs, aduzindo haver concurso formal de crimes quando alguém, ao se deparar com uma pessoa em situação de perigo, não apenas não a socorre como também furta-lhe a carteira.

No documento Do concurso formal de crimes (páginas 68-71)