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Sistema de Acompanhamento de Crianças (SAC)

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS RECOLHIDOS

1.2. Sistema de Acompanhamento de Crianças (SAC)

O Sistema de Acompanhamento de Crianças (SAC) foi inspirado na abordagem experiencial em educação de vários autores, nomeadamente nos trabalhos de Laevers & Van Sanden (1997) e de Laevers, Vandenbussche, Kog e Depondt (1997). Assim, e segundo Portugal (2012), o SAC foi desenvolvido e criado no Departamento de Educação da Universidade de Aveiro, tendo em vista a conceção de “um instrumento para apoio à prática pedagógica, facilitando a relação entre as pr áticas de observação, avaliação e edificação curricular, procurando assegurar uma avaliação “autêntica” e dinâmica” (p. 599). O SAC pode ser definido como um instrumento que permite ao educador observar e avaliar as crianças, a sua atitude para com elas, bem como avaliar o espaço e materiais disponibilizados. Permite igualmente reconhecer as interações entre as crianças e entre as crianças e o educador e perceber de que modo o educador as ajuda a manifestar as suas emoções e os seus sentimentos.

Neste sentido, o SAC foi organizado e construído na base do pressuposto de que a avaliação é processual e que não são apenas as práticas que desenvolvem capacidades e competências nas crianças que são importantes, mas também o bem - estar da criança no contexto, ou seja, a sua qualidade de vida (Portugal & Laevers, 2010).

Um dos objetivos do SAC prende-se com o facto de “responder bem” a todas as crianças e a cada uma individualmente, sendo que, para isso, é necessário que o educador conheça bem as crianças, a história de vida de cada uma e o contexto em que esta vive. Resumindo, é crucial que o educador tenha conhecimento tanto sobre a cultura e subcultura da comunidade como da da família em que cada criança está inserida, promovendo e aceitando a diversidade (Portugal, 2012).

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Podemos afirmar que o SAC é instrumento que permite avaliar o bem-estar emocional e a implicação das crianças, fatores influenciadores do desenvolvimento e da aprendizagem das mesmas (Portugal & Laevers, 2010). Percebe-se, assim, que tanto o bem-estar emocional como a implicação das crianças devem ser vistos, pelos educadores, como pontos de referência para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem individual. Para que a avaliação destes dois pontos de referência seja o mais rigorosa possível, Laevers desenvolveu níveis, tanto para um como para o outro fator, sendo que estes se encontram no SAC (Portugal, 2012). Para uma melhor decisão entre os níveis de avaliação de bem-estar e de implicação das crianças, são enumerados por Portugal & Laevers (2010) indicadores de bem-estar emocional e de implicação, a abordar seguidamente.

1.2.1. O bem-estar

O bem-estar emocional, como já foi referido, influencia o desenvolvimento das crianças, sendo definido por Laevers et al. (1997, 2005b, citado por Portugal & Laevers, 2010) como “um estado particular de sentimentos que pode ser reconhecido pela satisfação e prazer, enquanto a pessoa está relaxada e expressa serenidade interior, sente a sua energia e vitalidade e está acessível e aberta ao que a rodeia. [em que] a pessoa tem um autoconceito positivo e está bem consigo própria.” (p. 20). Assim, e segundo Laevers et al. (2005, citado por Portugal 2012), o gau de bem-estar é o grande revelador da qualidade do ambiente educativo, ou seja, de quanto o ambiente, vivido e experienciado pela criança no jardim-de-infância, potencia que a mesma se sinta em casa, a deixe à vontade para ser ela própria e satisfaça as suas necessidades emocionais, nomeadamente, a confiança, a segurança, o afeto, a atenção, o reconhecimento, a afirmação e o sentido de competência.

Os indicadores de bem-estar emocional da criança definidos por Portugal e Laevers (2010) são:

 Abertura e recetividade – A criança encontra-se disponível para novas propostas, novas atividades, novos desafios, demonstrando-se

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consequentemente disponível para interagir, participar e explorar. Este é um indicador que permite avaliar a autoestima da criança;

 Flexibilidade – A criança demonstra facilidade em contornar obstáculos que possam surgir, a mudança, os imprevistos e as situações-problema não a assustam e não a deixam, sem reação. A criança demonstra uma capacidade de adaptação às diversas situações;

 Autoconfiança e autoestima – A criança confia em si e nas suas capacidades. Quando surgem novos temas, novos desafios, a criança participa ativamente, não se deixando incapacitar pela possibilidade de errar e de insucesso. A criança lida e reage bem ao insucesso;

 Assertividade – A criança tem as suas ideias e as suas vontades, não cedendo com facilidade às ideias e vontades dos outros. É uma criança que não se deixa influenciar com facilidade e que, caso algo que não seja do seu agrado aconteça, demonstra-se capaz de contestar;

 Vitalidade – A criança não apresenta uma postura passiva, pelo contrário, é visível pela sua expressão facial e postura a sua vontade de participar e de ser e estar ativa;

 Tranquilidade – A criança está ativa, ou seja, demonstra vitalidade, mas de forma serena, sem momentos de tensão. A criança encontra-se relaxada;  Alegria – A criança demonstra estar satisfeita com a atividade que está a

realizar, nota-se que existe prazer naquela atividade. Alguns sinais são por exemplo expressões verbais, olhos a brilhar, sorriso e o cantar;

 Ligação consigo próprio – A criança conhece-se a si mesma, sabe o que necessita, o que deseja, o que sente e, por isso, apresenta um bom relacionamento consigo e com o mundo que a rodeia.

Além do bem-estar emocional, como já foi referido, existe outro fator ou ponto de referência que deve ser tido em conta pelo educador, que é a implicação das crianças nas atividades (Portugal & Laevers, 2010).

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1.2.2. A implicação

A implicação é vista por Laevers (1994b citado por Portugal & Laevers, 2010) como “uma qualidade da atividade humana que pode ser reconhecida pela concentração e persistência, caracterizando-se por motivação, interesse e fascínio, abertura a estímulos, satisfação e um intenso fluxo de energia” (p. 25). Além destes indicadores, importa que a criança seja detentora de uma vontade de explorar, de conhecer, de aprender.

Estes indicadores devem ser observados quando a criança realiza uma atividade e torna-se importante esclarecer desde já que, se uma criança apresenta baixos níveis de implicação em determinada atividade, isso não quer dizer que a criança seja incapaz de se implicar, de estar concentrada, interessada e motivada, revela sim que a atividade não vai ao encontro dos seus interesses e desejos. Neste sentido, Portugal & Laevers (2010) afirmam que a avaliação do nível de implicação em que a criança se encontra durante a atividade que realiza é um indício para o educador sobre a sua prática, sobre a oferta educativa e a qualidade da mesma. Assim, a implicação, como já referimos, além de ser vista como um indicador de qualidade do contexto educativo em que as crianças estão inseridas, funciona também como um indicador do que o educador pode e deve melhorar na sua ação, levando-o assim a pensar sobre a sua atitude na dinâmica de grupo e no ambiente da sala (ibidem).

É muito importante que as crianças se encontrem bem emocionalmente no contexto educativo mas não é menos importante que se sintam motivadas e implicadas na dinâmica da sala. Isto porque, segundo Sá (2007), em princípio, quanto mais elevado for o grau de implicação da criança numa determinada atividade, ma ior será a sua aprendizagem nessa mesma atividade.

À semelhança do que acontece com o bem-estar emocional da criança, e segundo Portugal & Laevers (2010), também existem indicadores de implicação, sendo eles:

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Concentração – A criança encontra-se focada na atividade que realiza. Não é com facilidade que muda o seu foco de atenção, ou seja, só estímulos muito intensos é que são capazes de o provocar;

Energia – A criança está completamente entregue à atividade. O seu entusiasmo é visível, por exemplo, através das suas expressões verbais (cantar) e corporais (pressão sobre o objeto, transpirar);

Complexidade e criatividade – A criança dedica-se a tarefas mais desafiadores e não apenas às que já sabe que consegue realizar. Gosta de desafios e de situação complexas. Quando lhe é pedida uma atividade executa sempre algo mais do que o previsto, ou seja, não se fica pelo esperado;

Expressão facial e postura – A criança apresenta sinais corporais e faciais como o sorriso, o brilho nos olhos, um olhar enérgico e ativo, uma postura direita, entusiasmada e aberta para o mundo;

Persistência – A criança não desiste de realizar a sua atividade independentemente dos estímulos que possam existir à sua volta, evidenciando concentração;

Precisão – A criança está interessada em fazer o trabalho e, sobretudo, em fazê-lo bem, sendo cuidadosa com o seu trabalho;

Tempo de reação – A criança que se encontre implicada está atenta à sugestão de novas atividades, respondendo com rapidez ao que lhe é proposto;

Expressão verbal – A criança tece comentários e descrições sobre a atividade que realiza ou acabou de realizar com um tom entusiasmado (“podemos repetir?”, “gostei muito deste jogo”…);

Satisfação – A criança revela contentamento pela atividade ou pelo trabalho que realizou, tendo orgulho no mesmo, apreciando e gostando de o mostrar.

Após esta breve explicitação dos conceitos e dos indicadores do bem-estar emocional e da implicação das crianças, torna-se necessário explicitar o porquê de acharmos importante esta abordagem neste relatório. Assim, esta abordagem surgiu do nosso pressuposto de que, se as crianças que encontravam emocionalmente

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satisfeitas e implicadas nas atividades propostas e as realizavam, estavam a aprender e a fazer as suas próprias descobertas.

De seguida, são apresentadas as categorias e subcategorias de análise dos dados recolhidos aquando das sessões do projeto “A ilha das letras”.

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