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3. ACIDENTES DE TRABALHO: VIGILÂNCIA E SAÚDE DO TRABALHADOR

3.3. Sistemas de Informações do SUS

3.3.3. Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS

As origens deste sistema remontam ao ano de 1980, quando foi apresentado o Sistema de Assistência Médico-Hospitalar da Previdência Social – SAMHPS, em que operava o sistema de tabela de procedimentos para pagamento de serviços profissionais, hospitalares, materiais e medicamentos e serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, através da Autorização de Internação Hospitalar – AIH (CARVALHO, 2009). O SIH/SUS, por seu turno, foi implantado no início da década de 1990 e manteve a AIH como instrumento utilizado para registrar os procedimentos e coletar os dados que compõem este sistema98. Do

98 Ainda segundo Carvalho (2009), o SIH/SUS não sofreu “modificações significativas em seus formulários de

entrada de dados, fluxo de documentos e processamento (...) a mudança mais expressiva, então ocorrida, foi a sua extensão aos hospitais públicos municipais, estaduais e federais; neste último caso somente aos da administração indireta, e de outros ministérios”.

ponto de vista informativo, é um pouco mais desenvolvido do que o SIA/SUS por apresentar mais informações e mais possibilidades de desagregação de dados.

Com a Portaria SAS/MS no 142, de 13 de Novembro de 1997, o Ministério da Saúde aprimora o SIH ao estabelecer códigos de preenchimento da AIH que indicam o motivo da internação, no campo “caráter da internação”, com as seguintes possibilidades: a) nas internações em que o quadro apresentado não guarda relação com causas externas99, lesões e envenenamentos por agentes físicos ou químicos; e b) nas internações motivadas por quadros compatíveis com causas externas definidas nos capítulos XIX e XX da CID-10. Neste último caso, o profissional responsável deve preencher com algum dos códigos, de acordo com cada caso: “6” quando compatível com acidente no local de trabalho ou a serviço da empresa; “7” quando compatível com acidente de trajeto entre a residência e o trabalho; “8” quando compatível com outros tipos de acidente de trânsito, não considerados acidente de trajeto entre residência e trabalho; e “9” quando compatível com outros tipos de lesões e envenenamento, por agentes físicos ou químicos. Além desta caracterização, é obrigatório o preenchimento da CID-10 nos campos “diagnóstico principal” (referente à natureza da lesão provocada pela causa externa, de acordo com o capítulo XIX da CID-10) e “diagnóstico secundário” (referente à causa externa que motivou a internação, conforme o capítulo XX da CID-10, “circunstância da lesão”). Resumindo estas informações constantes na portaria, o seguinte quadro permite uma melhor visualização do novo formato a partir de 1997:

99“Causas externas” são definidas no capítulo XX da Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão – CID-

10. Segundo o Datasus, este capítulo “possibilita a classificação de ocorrências e circunstâncias ambientais como

a causa de lesões, envenenamento e outros efeitos adversos” (consultado em http://www.datasus.gov.br/), e é

dividido nas seguintes subseções: a) acidentes, subdividido por sua vez em “acidentes de transporte” e “outras causas externas de traumatismos acidentais” (por exemplo: quedas, exposição à fumaça, fogo e chamas, excesso de esforços, etc.); b) lesões autoprovocadas intencionalmente; c) agressões; d) eventos (fatos) cuja intenção é indeterminada; d) intervenções legais e operações de guerra; e) complicações de assistência médica e cirúrgica.

Quadro 4

Alterações nos campos de preenchimento da Autorização de Internação Hospitalar (SUS) em 1997

Laudo Médico para emissão da AIH

Laudo Médico para Comunicação de Agravo Relacionado ao Trabalho

Campos Gerais

Unidade de Atendimento Nome do Paciente No do cartão do SUS

Endereço / Bairro / Município / UF Data de Nascimento

CBO / Trabalhador Sexo

Campos para o caso de acidentes e/ou doenças relacionadas ao trabalho

Vínculo com a Previdência (empregado, empregador, autônomo, desempregado, aposentado, não segurado) CNPJ da Empresa

CNAE da Empresa

Acidente de trabalho típico ou de trajeto Laudo Técnico e justificativa da

internação

--- Principais sinais e sintomas clínicos --- Condições que justificam a internação ---

Principais resultados e provas diagnósticas

Diagnóstico inicial CID (1) e CID (2)

Tipo de clínica (cirúrgica, médica ou obstétrica) Procedimento solicitado

Fonte: Elaboração própria a partir das informações do formulário da Autorização de Internação

Hospitalar, constantes na Portaria SAS/MS no 142, de 13 de Novembro de 1997.

Outro avanço importante veio com a Portaria GM/MS no 1.969, de 25 de Outubro de 2001, que instituiu os seguintes dispositivos no laudo médico para emissão de AIH: preenchimento do CID primário e do secundário para os registros de causas externas e agravos à saúde do trabalhador; preenchimento do campo “ocupação”, segundo a CBO-R100

nos casos de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho; preenchimento obrigatório do CNAE-R101 do empregador; preenchimento obrigatório do campo “vínculo com a Previdência” (se atividade autônoma, desempregado, aposentado ou não segurado); notificação obrigatória à Vigilância Epidemiológica e Sanitária por parte do responsável técnico que prestou assistência ao paciente, nos casos comprovados ou suspeitos de agravos à saúde relacionados ao trabalho.

Por fim, destacamos a Portaria SAS/MS no 718, de 28 de Setembro de 2006, que torna obrigatório o preenchimento da CID da causa de morte nas AIH sempre que for registrada alta

100 A CBO-R significa Classificação Brasileira de Ocupações Resumida que é, na realidade, a CBO com

estrutura agregada na ordem de três dígitos. Vamos discutir melhor o que isso significa no item 2.3.5.

101 Idem à nota anterior, mas, neste caso, com relação à Classificação Nacional de Atividades Econômicas

por óbito. Isto pode vir a ser um instrumento importante na identificação de causas de morte de trabalhadores e trabalhadoras, caso seja aprimorado com a identificação de outras variáveis.

O laudo para solicitação de AIH pode ser preenchido por médico, odontólogo ou enfermeiro e o modelo padronizado102. Desde que contenha as informações mínimas, ele pode ter um modelo próprio. As possibilidades de tratamento destes dados são apontadas por Neto

et al (2011): “No caso específico dos agravos relacionados ao trabalho, é possível obter o

número e os diagnósticos de internações por acidentes no local de trabalho e por acidentes de trajeto, desagregados por município ou até pela unidade da internação, por faixa etária, por sexo; e também os casos de acidentes internados que resultaram em óbito, além dos custos das internações.”.