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O Sistema e o Mundo da Vida na teoria de Jürgen Habermas (1987, 2002, 2012)

Filósofo e sociólogo, membro da Escola de Frankfurt, Habermas nasceu em 1929 na Alemanha. Entre outros, dedicou-se aos estudos do agir comunicativo, da política e da democracia; seus estudos também tratam dos fundamentos da teoria social e na epistemologia. É, atualmente, um dos principais intelectuais vivos.

Inspirado pela sociologia de Weber (2004, 2009), Habermas (1987a, 1987b; 2002, 2012), integrante das teorias críticas, faz duras críticas ao modelo de organização da sociedade moderna industrial. Jürgen Habermas (1987, 2002, 2012) criou a Teoria da Ação Comunicativa. Esta teoria é composta de mais três teorias formuladas pelo próprio autor: Teoria do Agir Comunicativo, Consciência Moral e Agir Comunicativo, Discurso Filosófico da Modernidade e Pensamento Pós-Metafísico. As ideias principais da teoria são os paradigmas da comunicação, da intersubjetividade, da Ação Comunicativa, contraposta à ação estratégica e ao poder hierarquizado.

Jürgen Habermas (1987; 2012) apresenta diferentes tipos de ação: ação teleológica, ação normativa, ação dramatúrgica e ação comunicativa. Na ação teleológica, as pessoas escolhem os meios para obter determinado objetivo ou meta – é a finalidade que determina a ação. A ação normativa é quando as pessoas agem conforme as leis e regras sociais. O foco é atender às expectativas recíprocas conforme o ajuste de conduta às normas e às leis determinadas. Já a ação dramatúrgica é quando assumimos ou dramatizamos determinados comportamentos ou papéis para obtermos mais respeito e admiração no grupo social. A ação comunicativa é feita pela mediação da linguagem. E é estabelecida pela cooperação e solidariedade entre os grupos e pessoas.

Na ação teleológica, na ação normativa e na ação dramatúrgica, as intervenções nas violências são realizadas por uma mediação de um especialista (mediador externo) que prescreve formas de melhor conduzir, em função de propósitos compartilhados. Ou por ações autoritárias da gestão escolar (disciplinador) que criam normas que devem ser seguidas, sem consulta aos alunos ou responsáveis para validação ou avaliação das ações. Isso acaba incentivando o agressor e culpabilizando a vítima.

A Teoria da Ação Comunicativa de Habermas (l987) se fundamenta na formulação de que as pessoas, nas interações sociais, são capazes de linguagem e ação para a obtenção racional de objetivos. A linguagem é o elemento essencial para articular as intenções

intersubjetivas dos sujeitos nas relações, pois na ação comunicativa (visa à produção de coesão e consenso) a linguagem não tem somente a função de estabelecer a compreensão (entendimento linguístico), também tem “o papel de coordenar as atividades teleológicas (denominado por Habermas (1987) para explicitar um tipo de ação em que os sujeitos escolhem os meios para obter um determinado fim) dos diversos sujeitos de ação, bem como o papel dos meios em que se dá a ‘socialização’ desses sujeitos de ação” (HABERMAS, 1987, p.12).

Para Jürgen Habermas (1987), o conceito de centralidade no sujeito se esgotou e somente o paradigma da intersubjetividade oferece uma noção de estrutura racional, que é a essência da ação comunicativa. Por intersubjetividade Habermas (1987) a compreende como sendo uma condição ontológica da sociedade humana, produzida e reproduzida por seus membros, logo, a ação comunicativa é uma ação intersubjetiva que discursivamente expressa algo sobre objetos, efetivando o diálogo, o consenso e o entendimento entre os participantes.

Ele faz uma análise da sociedade e dos sujeitos, colocando-os em dois sistemas: o sistema (esferas de organização social da sociedade, regras ou lógicas impostas pelas instituições sociais) que coloniza o mundo da vida (contexto cotidiano compartilhado em que estabelecemos a comunicação para chegarmos ao entendimento). O mundo da vida é o conjunto de experiências humanas, que formam um saber comum, e por isso, é possível extrair princípios que nortearam as pretensões de validade. O sistema em Habermas (1987) compreende as relações com as instituições e as esferas governamentais e sociais, tais como grupos financeiros, organização familiar, instituições religiosas e a própria escola. O sistema está relacionado ao âmbito da ação estratégica.

No contexto do mundo há três diferentes esferas que coexistem: o mundo objetivo, o mundo social e o mundo subjetivo. A coexistência destes três modos de mundos é o que ele denomina mundo da vida. O primeiro se relaciona com a existência de todas as coisas materiais que são comuns a todas as pessoas da sociedade. O segundo refere-se a um conjunto de normas, regras e valores compartilhados, aceitos e legitimados pelos sujeitos. O terceiro inclui todas as vivências, sensações e experiências individuais. Assim, o mundo da vida é

por assim dizer, o lugar transcendental onde falante e ouvinte saem ao encontro um do outro, onde podem colocar reciprocamente a pretensão de que suas emissões concordem com o mundo (com o mundo objetivo, com o mundo subjetivo e com o mundo social); e onde podem criticar e exibir os fundamentos dessas pretensões de validade, resolver seus desentendimentos e chegar a um acordo (HABERMAS, 1987, p.179).

A questão-chave dos dois mundos é a comunicação para a compreensão das relações entre indivíduos e sociedade. É no mundo da vida que a racionalidade comunicativa se movimenta, pois promove o diálogo e as integrações entre as pessoas.

Jürgen Habermas (1987) analisou dois tipos de racionalidade: a racionalidade instrumental e a racionalidade comunicativa. A racionalidade instrumental é baseada no paradigma de que é necessário o uso de diferentes estratégias ou meios-fios para se chegar ao objetivo pretendido, não “nos permite refletir se as normas vigentes são justas, verdadeiras e se estão de acordo com necessidades globais. Ela reduz a discussão sobre os valores éticos e políticos à discussão de problemas técnicos” (GABASSA, 2009, p.31).

A racionalidade comunicativa é uma relação intersubjetiva que se estabelece entre sujeitos que são capazes de linguagem e ação na busca de entendimento e de acordo sobre determinado problema pedagógico ou questão social, estando em situação de igualdade de condições. Para Araújo (2010, p. 16), a razão comunicativa “não coisifica o mundo, não aliena, não é utópica, por isso mesmo é a única que dá plenas condições para a emancipação”. Isto é, a razão comunicativa ocorre por meio de pretensões de validade e não por pretensões de poder: a primeira se baseia em um tipo de fala em que o sujeito apresenta suas pretensões de validade sobre determinado tema, considerando a escolha da melhor argumentação teórica ou prática, para um acordo e/ou entendimento que represente o conjunto ou o coletivo de pessoas. A segunda se baseia na hierarquização do poder, por meio de deliberações autoritárias e individuais. A razão comunicativa é exercida num modelo de democracia deliberativa, defendido por Jürgen Habermas (2002).

Na próxima subseção, vamos aprofundar o nosso entendimento sobre a violência e as formas mais efetivas de superá-las com base nas contribuições de Jürgen Habermas (1987, 2002, 20012) e Amartya Sen (2010).

2.6 A superação da violência pela democracia deliberativa em Jürgen Habermas (1987a,