• Nenhum resultado encontrado

Com base no entendimento de Leite (2001), Ferreira (2008, pp. 177) entende que a implantação do crédito agrícola na agricultura brasileira se deu praticamente em dois períodos. O primeiro vai de 1965 a 1985 e caracteriza-se pela relativa facilidade de acesso ao crédito e financiamento público. O segundo vai de 1986 a 1997 e se caracteriza pela restrição do capital público.

No entanto, opta-se pela periodização realizada por Zilbersztajn e Almeida (2008, p. 271), quando afirmam que a evolução do crédito no Brasil se dá em três fases. A primeira, que vai de 1965 a 1985, caracteriza-se pela intensa intervenção e controle do Estado no financiamento do crédito rural, modernização da agricultura e desenvolvimento das indústrias de insumos. Nesta, apesar da alocação equitativa, o acesso ao crédito se restringiu aos grandes proprietários. A segunda vai de 1986 a 1998 e caracterizou-se pela redução gradual do controle estatal. A

44 Tal organograma demonstra que o Sistema Nacional de Crédito Rural foi elaborado pelo. Banco do

Brasil, extraído de. BANCO DO BRASIL. Evolução do agronegócio. Revista de Política Agrícola. Ano XIII - Nº 4 - Out./Nov./Dez. 2004, pp. 10-17. Disponível em: <http://www.agronegocios- e.com.br/agr/down/artigos/Pol_Agr_4_Artigo_02.pdf>. Acesso em 07 de Ago. 2009.

terceira fase seria a que caracterizada pela política neoliberal do Governo de Fernando Henrique Cardoso e a conseqüente restrição do acesso ao capital público e aumento da concessão do capital privado no financiamento da produção agrícola.

Foto 07. Agência do Banco do Brasil da cidade de Balsas/MA. Fonte: BOTELHO, 2009.

Foto 08. Agência do Banco do Bradesco da cidade de Balsas/MA. Fonte: BOTELHO, 2009.

Desse modo, há uma efetiva participação das instituições financeiras públicas, que atuam no financiamento da agricultura no Maranhão, principalmente do Banco do Brasil, e privadas, particularmente do Bradesco, como ilustram as fotos 07 e 08. Por outro lado, o volume de financiamento do agronegócio maranhense tem

sido considerável se comparado às demais regiões do país. Além destas, estão presentes na municipalidade de Balsas as agências da Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia, já em Chapadinha, tem-se o Banco do Brasil, Bradesco e Banco do Nordeste. De acordo com Ferreira (2008, p. 182), 70% da produção de soja no Maranhão é financiada pela Bunge e Cargill. Além destas, a Multigrain, Seagro (São Paulo) e mais recentemente a ABC (Minas Gerais) são responsáveis pelo financiamento da soja. Esta última tem intensificado sua participação no circuito espacial de produção da soja, principalmente a partir do ano de 2008, quando instalou a unidade de processamento de grãos em Porto Franco/MA.

Como demonstra o mapa 27, a quantidade das grandes instituições financeiras no Maranhão é discreta. Por outro lado, na municipalidade de Balsas, embora haja somente 05 (cinco) agências bancárias e 03 (três) na municipalidade de Chapadinha, o total de financiamento da agricultura é bastante considerável. O número reduzido de agências não traduz a realidade da concentração do investimento na agricultura, uma vez que este é feito pelas grandes multinacionais, responsáveis pela injeção de capital na produção de soja.

Mapa 27. Total de agências financeiras existentes no Maranhão em 2006. Fonte: IBGE, 2006.

Como demonstra o mapa 28, a quantidade de estabelecimentos que receberam financiamentos no Maranhão não está localizada em torno da produção de soja, uma vez que são poucos os estabelecimentos que a produzem.

Mapa 28. Total de estabelecimentos que receberam financiamentos no Maranhão em 2006.

Fonte: IBGE, 2006.

O financiamento da soja é feito pelas empresas multinacionais (Cargill e Bunge) e nacionais (ABC, Seagro) do ramo de alimento. Com o financiamento, as grandes empresas garantem uma margem considerável de lucro, tendo em vista que não precisam gastar com mão-de-obra e nem com outras despesas, deixando assim, que os produtores façam toda produção, cabendo a elas somente a parte da

comercialização na Ásia, onde a produção é consideravelmente mais barata do que na Europa e América, devido à grande quantidade de força de trabalho existente.

Desse modo, o circuito espacial de produção da soja também poderia ser denominado circuito espacial de produção das grandes empresas, que usam um território de forma seletiva. As multinacionais que financiam a produção de soja, ou seja, que compram a produção antes mesmo de ela existir, acabam extraindo a maior fatia da mais valia, uma vez que só atuam na reprodução do seu capital sem plantar uma semente sequer.

O financiamento da soja é uma modalidade habilmente usada pelas empresas, tendo como pressuposto a racionalidade capitalista de produção: garantia máxima de extração de mais valia. Representa, portanto, uma forma de terceirização da produção pelas empresas que não querem ter gastos com insumos, defensivos, máquinas, equipamentos, mão-de-obra etc., e muito menos mediar a luta entre capital e trabalho45.

Com relação à terceirização da produção, existe uma grande quantidade de empresas especializadas que fornecem força de trabalho para as fazendas. Quem perde com isso são os trabalhadores, uma vez que do total de salário que recebem, uma parte é extraída pelas empresas que prestam serviços. Vale destacar uma flexibilização das relações trabalhistas, que eximem as empresas (grandes multinacionais) a pagarem os impostos e encargos trabalhistas com a contratação de trabalhadores46.

Como ilustra o mapa 29, a maior parte dos investimentos da agricultura no Maranhão é um privilégio exclusivo da produção de soja, por mais que na região de Chapadinha os índices ainda não sejam relevantes como em Balsas.

Onde há a maior produção lá está o capital financeiro, que se traduz por meio dos investimentos feitos pelo agronegócio. O agronegócio é uma forma de produção que requer uma quantidade considerável de investimentos que atuam no sentido da reprodução ampliada do capital e, portanto, da concentração de renda e da pobreza no Maranhão.

45 A mediação entre capital e trabalho é feita pelo produtor rural, que nada mais é do que um

“funcionário” terceirizado das tradings, para que estas fujam do corpo a corpo com a sua natureza contraditória: o trabalhador rural assalariado.

46 E a fase da economia caracterizada pela denominada reestruturação produtiva, tendo como base a

flexibilização das relações trabalhistas, a desregulamentação, característicos do período técnico- científico-informacional e da mundialização do capital, como afirma Harvey.

Mapa 29. Valor do financiamento da agricultura no Maranhão por município em 2006. Fonte: IBGE, 2006.

De acordo com dados do mapa 29 e do último Censo Agropecuário (2006-7), do total de financiamento obtido pelos estabelecimentos, R$ 267.246.000,00 estão concentrados nas municipalidades que produzem soja, o que representa 67,08% do total do estado. Somente os estabelecimentos da municipalidade de Balsas obtiveram R$ 180.513.000,00, o que representa 45,30% do total de financiamento obtido por todo estado do Maranhão (R$ 398.397.000). Embora não seja significativo, se comparado ao conjunto do território nacional, a

municipalidade de Balsas é a 7ª47 municipalidade com o maior financiamento da agricultura no país. Enquanto no conjunto de unidades da federação onde o financiamento da produção agrícola é mais elevado e distribuído, no Maranhão há uma concentração do financiamento da agricultura em torno de Balsas, especificamente em torno do agronegócio. De um lado, tem-se a concentração da produção, e do financiamento, de outro, da concentração de renda, uma vez que esta é apropriada pelos produtores e com maior intensidade pelas tradings.

Do total do financiamento feito por apenas 34 estabelecimentos da municipalidade de Balsas, R$ 147.077.000,00 (81,47%) é financiado por empresas integradoras, provavelmente pela Bunge, Cargill e em menor quantidade pela ABC, atualmente pela Algar agro, tradings do ramo de alimentos. Isso demonstra o poder de financiamento da agricultura que as grandes tradings possuem no Brasil em Geral e no Maranhão em especial. Desse modo, como afirma Paulino (2008):

[...] a agricultura brasileira historicamente tem sido beneficiada por políticas de crédito com juros altamente subsidiados. A título de exemplo, lembramos que o crédito rural para a agricultura empresarial na safra de 2007/2008 conta com um caixa de R $ 58 bilhões e uma diminuição da taxa de juros em dois pontos percentuais, agora fixada em 6,75% ao ano [...] em janeiro de 2008 a taxa selic, taxa básica de juros que balizava as operações financeiras, foi reduzida para 11,5% ao ano (PAULINO, 2008, p. 230).

Por outro lado, de acordo com (DINO, 2008), o volume de crédito colocado à disposição da agricultura familiar, em 2008, pelo Governo Federal ao Estado do Maranhão, é da ordem de R$ 400 milhões de reais. Tal crédito será disponibilizado pelos Bancos da Amazônia (Basa), Banco do Brasil (BB) e Banco do Nordeste (BN) nas diversas linhas de crédito que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) oferece atualmente para custeio, investimento e comercialização. O crédito será disponibilizado às pessoas que ganham até 4 mil reais. Como atestam os dados, percebem-se as contradições da produção agrícola brasileira. Enquanto apenas uma municipalidade e poucas empresas concentram o financiamento da agricultura, uma grande maioria da população é simplesmente furtada do direito ao crédito. Desse modo, como atestam

47

De acordo com o Censo 2006-7, Chapadão do Sul/MS (R$ 1.027.738.000,00), Querência/MT (R$ 571.450.000,00), Lençóis Paulista/SP (R$ 899.013.000,00), Aracruz/ES (R$ 255.215.000,00), Pitangueiras/SP (R$ 237.388.000,00) e São Desidério/BA (R$ 235.042.000,00) são as municipalidades que obtiveram, pelos estabelecimentos agropecuários, o maior valor de financiamento do país.

os dados do fluxograma 03, o financiamento ocupa, dentro dos círculos de cooperação, uma posição de extrema importância, uma vez que este é um dos grandes diferenciais da produção global.

Fluxograma 03. Círculos de cooperação da soja