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Além dos tratores, o uso de colheitadeiras é quase que exclusivo da produção de soja, como aponta o mapa 03 acima. Em todas as municipalidades que

produzem soja existem 64723, o que corresponde a 80% dos equipamentos do estado. Trata-se de um equipamento característico do agronegócio, uma vez que o seu custo de aquisição e manutenção é elevado e, portanto, incompatível com outras formas de produção que não estejam na esfera do agronegócio e, dessa maneira, do circuito espacial de produção da soja.

É um meio de produção cujo uso é localizado, característico da municipalidade de Balsas que, sozinha, possui mais de 1/3 (285 unidades) do total do estado, correspondendo a 35,22% do total das colheitadeiras do estado e daquelas localizadas no seu entorno, uma vez que esta é a cidade do agronegócio maranhense, especificamente da soja.

Foto 01. Colheita de soja no Município de Balsas/MA. Fonte: BOTELHO, 2007.

Como ilustra a Foto 01 (colheitadeira) e 02 (trator de 182 cv e plantadeira de 15 linhas na página seguinte), as máquinas e equipamentos usados na produção de soja correspondem aos mais modernos equipamentos usados no agronegócio. São instrumentos técnicos com alta precisão e desempenho, capazes de aumentar significativamente a produção, reduzindo custos com a força de trabalho, tanto no

23 A exemplo dos demais, os números do último Censo revelam ainda uma determinada inexatidão,

uma vez que muitos estabelecimentos que produzem soja, não informaram ou omitiram a quantidade de colheitadeiras existentes, fato que revela falhas na coleta de dados, fazendo com que muitas municipalidades não conste na lista das que possuem este tipo de meio de produção, uma vez que, em algumas municipalidades só existem colheitadeiras na produção de soja. É o caso, por exemplo, das municipalidades da Região de Chapadinha. De acordo com dados do Censo, existem colheitadeiras somente em Anapurus/MA e Brejo/MA. Por outro lado, nas demais municipalidades também existem este equipamento como fora constatado em pesquisa in locu.

plantio como na colheita, como também nas outras etapas da produção. Tais instrumentos possibilitam uma nova modalidade de método de cultivo usado na produção agrícola, a agricultura de precisão, que é a combinação pura entre técnica, ciência e informação, característica do atual período técnico.

Tal método alia a precisão da técnica obtida com os instrumentos à informação coletada pelos técnicos sobre as condições de fertilidade do solo e o padrão genético adequado das sementes para cada tipo de solo, associados aos padrões científicos que certificam o local de melhor adequabilidade das sementes. Essa é a nova tendência da agricultura moderna, principalmente do agronegócio que busca o máximo de racionalização da produção.

É por isso que o circuito espacial de produção de soja está inserido no meio técnico-científico-informacional. Aliás, tal circuito tende a criar no campo um meio técnico-científico, adaptando algumas cidades às suas demandas, como é o caso de Balsas no Sul do Maranhão e Chapadinha no Nordeste maranhense.

Foto 02. Trator de 182 cv e Plantadeira 15 linhas. Plantação de soja na Fazenda Cajueiro no Município de Balsas/MA.

Fonte: BOTELHO, 2009.

Além da modernização dos meios de produção, fato que garante margens de lucro ainda mais significativas, há uma tendência da terceirização de todo processo produtivo, tanto na aquisição dos meios de produção, quanto da força de trabalho empregada na produção.

Os instrumentos técnicos, o pessoal ocupado e o número de estabelecimentos são indicadores que ajudam a entender este processo, tendo em vista que, com a inserção das máquinas nos processos de produção no campo, uma parcela considerável de trabalhadores fica desempregada, primeiramente pela expropriação que o agronegócio causa, depois pela falta de qualificação e, principalmente, porque este processo causa a demissão dos trabalhadores num fenômeno de substituição do trabalho manual pelo trabalho mecânico. É importante ressaltar-se que o processo de redução da força de trabalho e a intensificação da mecanização é uma tendência da agricultura moderna intensiva.

No entanto, de acordo com dados do IBGE (1995-2005), a quantidade de trabalhadores com carteira assinada na microrregião de Balsas aumentou substancialmente. Em 1995 esse total era de 232, enquanto que em 2005 sobe para 2.515. Em todo o Maranhão havia 256 máquinas em 1995 e, em 2006 esse índice sobe para 3.017. Somente na Microrregião de Balsas a quantidade de trabalhadores com carteira assinada, na agricultura da soja e cereais, corresponde ao total de 81% do total do Maranhão. Os 19% restantes estão localizados na região de Chapadinha e em outros setores. Trata-se de uma atividade cujo grau de emprego da força de trabalho é baixo, mas por outro lado, quando há empregabilidade, as fazendas o fazem seguindo os padrões mínimos da legislação trabalhista24.

Desse modo, onde há sinais de modernização da agricultura, mais especificamente com a soja, a quantidade dessa modalidade de trabalho com carteira assinada na agricultura é superior às áreas que ainda não passaram por este fenômeno, por conta do financiamento e recursos que a agricultura mecanizada é capaz de captar, mas também devido à necessidade de operacionalização dos instrumentos técnicos e máquinas que existem nas fazendas. Essa é a concepção da agricultura capitalista mecanizada: aumento considerável da composição orgânica do capital, que se dá na relação direta da redução da força de trabalho e

24 Apesar do trabalho com carteira assinada nos estabelecimentos produtores de soja, percebeu-se

em pesquisa in locu que a jornada é elevada e as condições de trabalho não condizem com a realidade das 44 horas semanais como assim determina a Organização Internacional do trabalho, OIT. Além disso, o lugar acolhe o agronegócio enquanto atividade promotora de desenvolvimento e renda, por meio do discurso desenvolvimentista e progressista. São as ações promovidas por um discurso que está na ordem da psicoesfera, propalada pela dinâmica dos grandes objetos e sistemas técnicos criados pelo agronegócio.

aumento máximo do capital constante e, conseqüentemente, no aumento da mais valia25.

Em números relativos, a força de trabalho com carteira assinada empregada na soja é elevada se comparada à realidade maranhense, onde existem poucos postos de trabalho com carteira assinada. Em termo absoluto, a quantidade de emprego com carteira assinada na agricultura é baixa se considerado o excedente de força de trabalho existente no estado desempregada no campo.

Por outro lado, se a quantidade de emprego com carteira assinada na agricultura é mais elevada nas regiões produtoras de soja, o mesmo não se pode afirmar da quantidade da força de trabalho empregada nessa atividade, cujo nível de empregabilidade é baixo, uma vez que o adensamento da mecanização caminha num ritmo mais acelerado, proporcional à dispersão do campo.

De acordo com o mapa 04, a maior parte do pessoal ocupado não se encontra nas municipalidades produtoras de soja, fato que evidencia, de imediato, que essa atividade não é grande produtora de emprego, mas produz, visando o máximo de acúmulo de capital para as grandes empresas cujas sedes estão totalmente distantes dos locais de produção da soja.

De acordo com dados do último Censo Agropecuário (2006) e com o mapa 05, na Região de Balsas existem 16.058 trabalhadores ocupados no setor agrícola, sem laço de parentesco com o produtor, correspondendo a 8,35% dos trabalhadores agrícolas em todo o estado. Na região de Chapadinha, a quantidade de agricultores é de 10.065, correspondendo a um total de 5,23%. As duas regiões somadas totalizam 26.123 trabalhadores sem laço de parentesco, de modo que corresponde a 13,59% do total do estado.

25 Esta, de acordo com Marx, é a lei objetiva da reprodução capitalista. Não há produção ou

reprodução ampliada do capital que não passe por este mecanismo de produção. Trata-se de uma relação estabelecida entre os meios de produção, a força de trabalho e a mais valia.

Mapa 04 – Pessoal ocupado na agricultura no Maranhão em 2006.