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2.5 L EGISLAÇÕES BRASILEIRAS REFERENTES À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

2.5.3 Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

responsável por deliberar sobre a política nacional para a infância e juventude do país, os Conselhos Estaduais (CONEDCA) em cada unidade da federação e do Distrito Federal e os conselhos municipais (CMDCA)

11“ Órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo

cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”, definidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Título V, Cap. I, art. 131 da Lei 8.069/90 – Coletânea de Leis: 2017, p. 80). “Composto por cinco pessoas da comunidade e “eleitas pela população local para um mandato de 04 anos, permitida uma recondução, mediante novo processo de escolha” (Lei N 12.696/2012 - Coletânea de Leis: 2017, p. 81).

Semelhante ao ECA, o SINASE também foi uma construção coletiva que reuniu diversos atores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), sob a coordenação do CONANDA, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH/ SPDCA) em parceria especial com a Associação Brasileira dos Magistrados e Promotores da Infância e Juventude (ABMP), Defensores Públicos da Infância e da Juventude o Fórum Nacional de Organizações Governamentais de Atendimento à Criança e ao/à Adolescente (FONACRIAD) e outras entidades da sociedade civil organizada. O motivo gerador dessa articulação entre governo e sociedade civil em torno da criação desse Sistema foi a necessidade de incluir adolescentes envolvidos/as na prática do ato infracional às demais políticas públicas e sociais.

Nesse sentido, o SINASE é uma política pública que nasce a partir da percepção de que era preciso garantir um atendimento diferenciado aos/as adolescentes envolvidos/as no ato infracional, combinando responsabilização com garantia de direitos. A reflexão feita na época era de que muito embora, o ECA apresentasse “significativas mudanças e conquistas em relação ao conteúdo, ao método e à gestão”, essas ainda estavam somente “no plano jurídico e político-conceitual, não chegando efetivamente aos seus destinatários” (SINASE: 2006, p. 15).

As discussões possibilitaram a criação e implantação de dois documentos importantes e fundamentais para uma política pública de atendimento a adolescentes envolvidos/as no ato infracional.

O ponto de partida foi a aprovação da Resolução n. 119, de 11/12/2006, do CONANDA, sendo a primeira regulamentação de um sistema direcionado à execução das medidas socioeducativas no país ou conforme consta no documento escrito, “um guia na implementação das medidas socioeducativas”.

A parte introdutória do documento do SINASE ressalta que:

A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Defende, ainda, a ideia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturada, principalmente, em bases éticas e pedagógicas (SINASE: 2006, p. 16).

O segundo ponto foi a aprovação da Lei N 12.594, de 18/01/2012, que “institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e regulamenta a

execução das medidas destinadas a adolescentes envolvidos/as na prática de ato infracional” (ECA Digital: p. 139; 2019).

O parágrafo primeiro do art. 1º da referida Lei define SINASE como:

O conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei” (ECA digital, 2019, p. 139).

Observa-se, então, que é um sistema organizado para promover a articulação entre todas as políticas públicas, cujas ações devem ser executadas de modo intersetorial para atendimento aos interesses de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. E para permitir uma visualização melhor de como deve ocorrer essa intersetorialidade, foi elaborada a Figura 1 (SINASE: 2006, p. 23), que mostra o SINASE integrado ao Sistema de Garantia de Direitos representado pelos principais sistemas de políticas públicas.

Fonte: SINASE (CONANDA, 2006, p.23)

A Figura 1 acima demonstra à sociedade e aos responsáveis pela execução das medidas socioeducativas que os/as adolescentes em cumprimento dessas medidas, dependendo da sentença, têm limitações para exercer e/ou acessar certos direitos, mas não estão excluídos de outros. Ramos (2007.p. 37) afirma que o

princípio que norteia o SINASE “é a integração da política socioeducativa com os demais sistemas” ou com as demais políticas públicas e sociais desses sistemas, além de outros programas e serviços que forem necessários para melhor atender o/a adolescente que esteja em cumprimento das medidas socioeducativas, conforme demonstrado na Figura 1.

Documento do CONANDA sobre o SINASE ressalta ser este uma “política pública destinada à inclusão do/a adolescente em conflito com a lei que se correlaciona e demanda iniciativas dos diferentes campos das políticas públicas e sociais (SINASE: 2006, p. 23).

Nesse sentido, a Figura 1 mostra, claramente, aquilo que já foi dito anteriormente - o SINASE é uma política que mantém:

“interfaces com diferentes sistemas e políticas e exige atuação diferenciada que coadune responsabilização (com a necessária limitação de direitos determinada por lei e aplicada por sentença) e satisfação de direitos” .

Observa-se que o art. 2º da Lei reitera o que é citado no referido documento:

O Sinase será coordenado pela União e integrado pelos sistemas estaduais, distrital e municipais responsáveis pela implementação dos seus respectivos programas de atendimento a adolescente ao qual seja aplicada medida socioeducativa, com liberdade de organização e funcionamento, respeitados os termos desta Lei. (ECA digital, 2019, p. 139).

Importante é ressaltar que a Lei não extinguiu a Resolução do CONANDA que institui o SINASE, tendo em vista que são documentos distintos e com relevância diferenciada para o atendimento de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.

A Lei disciplina sobre as ações do Sistema Socioeducativo, para evitar o caráter discricionário dos atores envolvidos na aplicação das medidas socioeducativas, e podemos citar de um lado: Os órgãos de Segurança Pública (polícias civil e militar); Ministério Público, Defensoria Pública e o Poder Judiciário. E do outro, os executores das medidas, representados pelos órgãos do Poder Executivo - Fundações, Secretarias de Estado e Unidades de Internação.

O documento denominado SINASE aprovado pelo CONANDA, portanto, é a Política Pública de atendimento aos/às adolescentes envolvidos no ato infracional, nele estão contemplados o Sistema Socioeducativo de Atendimento, a gestão dos programas, a definição dos parâmetros da gestão pedagógica no atendimento socioeducativo e organização dos programas pedagógicos, os parâmetros arquitetônicos para os programas socioeducativos, o financiamento e as formas de monitoramento e avaliação dos programas.

A pesquisa realizada, cujos resultados estão apresentados e analisados no Capítulo V desta Tese, teve como foco analisar a medida socioeducativa de internação em Porto Velho/RO, utilizando como parâmetro o SINASE.

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