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O Sistema Nacional de Informações Criminais – SINIC – caracteriza por ser um sistema que reúne um conjunto de dados e registros criminais produzidos no âmbito da Polícia Federal, das Polícias Civil e dos órgãos do Poder Judiciário. O Sistema é orientado para individualização de pessoas, atributo que o difere de outros sistemas criminais. No Capítulo 4, o Sistema Nacional de Informações Criminais – SINIC será abordado de forma mais ampla e contextualizada.

3.5 Considerações do capítulo

O capítulo apresentou um breve relato acerca do tema sobre sistemas de informações criminais. Trouxe à luz sua importância e as dificuldades de acessibilidade aos dados e registros criminais produzidos pelos entes federados que ainda se apresentam de forma ineficiente e com grande resistência por parte das instituições.

No capítulo também se discorreu sobre a Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização – INFOSEG e sobre o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisional e sobre Drogas – SINESP, modelos desenvolvidos no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP, visando a integração e centralização de dados criminais.

Quanto ao Sistema Nacional de Informações Criminais – SINIC, o mesmo será tratado com mais abrangência no Capítulo 4.

4 SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES CRIMINAIS - SINIC

O Sistema Nacional de Informações Criminais- SINIC nasceu com a inauguração, em Brasília-DF, do Instituto Nacional de Identificação - INI, órgão da Diretoria Executiva da Polícia Federal, com a finalidade de coordenar e interligar os serviços de identificação civil e criminal no país, por meio da Lei nº 4.483, de 16 de dezembro de 1964. O artigo 200 do Decreto nº 56.510, de 28 de junho de 1965, que regulamentou o funcionamento do Departamento Federal de Segurança Pública, destacava, dentre outras competências, a de centralização dos prontuários criminais do país e a emissão de antecedentes individuais, quando feitos pelas autoridades competentes policiais, judiciárias e militares (INI, 2018).

O ato normativo de 1965 delineou a estruturação do segmento da identificação e seus reflexos podem ser observados nas atuais competências do Instituto, descritas na instrução normativa nº. 013/2005-DG/DPF, de 15 de junho de 2005, a qual também destaca a centralização da biometria das impressões digitais de pessoas civilmente identificadas, de estrangeiros sujeitos a registro no Brasil, bem como de pessoas indiciadas em inquéritos policiais ou acusadas em processos criminais no território nacional, resultantes de convênios/acordos de cooperação. Observa-se que a relação de parceria e integração com os órgãos de segurança pública dos estados e do judiciário, prevista na década de 60, caracteriza- se como uma premissa fundamental para o funcionamento do SINIC (INI, 2018).

Seu macroprocesso é caracterizado por relações intra e interinstitucionais, com unidades e órgãos de segurança pública que produzem dados e registros criminais. As trocas de dados, em regra, são definidas nos objetos dos termos de cooperação técnica e visam assegurar uma melhor produção compartilhada de informações para o processo de decisão que ocorre nas diversas fases da persecução criminal, para o desenvolvimento de políticas de segurança pública e para atividades de investigação policial. A Figura 5 apresenta um cenário de envolvimento direto de órgãos policiais estaduais, do Ministério Público e dos órgãos de justiça, que em regra possuem permissões e condições específicas para acesso e operação no SINIC.

Ressalta-se que, até meados do ano de 2004, a inserção de dados no SINIC era praticamente realizada pela própria Polícia Federal, que recebia os documentos fisicamente para proceder à inserção dos dados, alteração, e exclusão de pessoas e registros criminais. Todavia, com o aumento da demanda e do crime, tornou-se inviável a realização do trabalho, gerando um enorme passivo de documentos sem inclusão. Inicia-se então a fase de descentralização,

repassando aos órgãos parceiros a necessidade de integração sistêmica e a responsabilização pela inserção dos dados e registros criminais gerados no âmbito de suas jurisdições e competências institucionais.

Figura 5 - Macroprocesso Gestão das Informações Criminais - SINIC

Fonte: O Autor, adaptado de SINIC (2019).

Ainda que não se tenha encontrado registros oficiais sobre o assunto, a informatização do SINIC remete-se à década de 80. O mesmo foi desenvolvido em plataforma mainframe, NATURAL/ADABAS, e está em pleno funcionamento. Sua arquitetura é voltada para privilegiar a identificação de pessoas e seus vínculos com passagens criminais. Até o ano de 2018 anotou-se aproximadamente 3.800.000 de pessoas cadastradas e 5.850.000 de registros, os quais se constituem por dados de crimes cometidos e sobre o andamento do processo no Poder Judiciário.

O SINIC está completamente integrado ao Sistema de Identificação Automatizado por Impressões Digitais – AFIS, que foi adquirido em 2004 pela Polícia Federal, e isto tem permitido a certificação da unicidade da pessoa, o que evita a ocorrência de duplicatas, ou seja, inserção repetida de uma mesma pessoa com nomes e/ou dados qualificadores diferentes (INI, 2018).

Contudo, é importante destacar que a Constituição de 1998 lavrou em seu inciso LVIII, do artigo 5º, que o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei (CF, 1998). A par da controvérsia sobre o tema, a questão toma outro sentido, uma vez que não há integração entre os sistemas de identificação civil, portanto, as condições para certificação da identificação civil tornam-se mais complicadas e demoradas para o processo. Assim, quando o indivíduo se identifica com documentos previstos no artigo

2º da Lei nº 12.037/2009, as impressões decadactilares (impressões digitais dos 10 dedos) não são coletadas e, portanto, para o registro desta pessoa não há índice de referência e integração com o sistema AFIS, logo se ampliam as condições favoráveis para ocorrência de duplicatas. Para constatarmos como essa questão merece atenção, basta lembrarmos que a atual lei de identificação civil (Lei nº 7.116/1983) não proíbe que as pessoas requeiram documentos de identidade em todas as unidades da federação, podendo, inclusive, portar diversas carteiras de identidade com números e dados diferentes (BRASIL, 1983).