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O sistema nervoso autônomo (SNA) difere do sistema nervoso somático, já que este controla a musculatura esquelética, enquanto o primeiro controla a musculatura cardíaca, a musculatura lisa e as glândulas exócrinas (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Em razão dos reflexos viscerais não sofrerem controle voluntário e nem serem conscientes – com poucas exceções, o SNA é também conhecido por sistema motor involuntário, em contraste com o sistema motor voluntário somático (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Regiões encefálicas como a amígdala e as áreas associativas límbicas do córtex cerebral trabalham através do hipotálamo para controlar o SNA. Assim, o hipotálamo coordena a resposta comportamental para assegurar a homeostase corporal agindo sobre o SNA, sobre o sistema endócrino e sobre o sistema nervoso somático (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

O SNA é composto pelo sistema nervoso simpático (SNS) e pelo sistema nervoso parassimpático (SNP). O sistema nervoso entérico, responsável pelos reflexos digestivos (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002), também é considerado como parte do SNA, já que possui a capacidade de funcionar autonomamente, além de se comunicar com o Sistema Nervoso Central (SNC) pelas vias simpática e parassimpática (ROQUE et al, 2013).

O SNA controla várias funções orgânicas através de complexas vias simpáticas e parassimpáticas, que desenvolvem atividades regulatórias opostas e que, à exceção da divisão craniana parassimpática, transmitem seus impulsos nervosos pela medula (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007).

Foi o fisiologista americano Walter B. Cannon, em seu livro “A Sabedoria do Corpo”, de 1932, que propôs pela primeira vez que os sistemas simpático e parassimpático possuem funções opostas. Cannon descrevia o sistema parassimpático como o responsável pelo repouso e digestão, mantendo a frequência cardíaca, o metabolismo e a respiração em condições normais, enquanto o sistema simpático se ocuparia das respostas às situações de emergência, preparando o organismo para a luta ou fuga, como nos casos de mudanças súbitas no ambiente externo ou interno, seja por estresse emocional, ameaça ao organismo, prática esportiva, mudanças na temperatura ambiente ou perda de sangue (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Sabe-se hoje que as relações entre o SNS e o SNP não são nem tão simples nem tão independentes como proposto por Cannon. Ambos os sistemas são tonicamente ativos e trabalham em conjunto um com o outro e também com o sistema somático para regular a maioria dos comportamentos, sejam eles em condições normais ou emergenciais. É o balanço entre os

dois sistemas que mantém a estabilidade do meio interno frente às mudanças a que o organismo é exposto. Em razão da situação, a frequência dos estímulos nervosos enviados pelo SNS e pelo SNP pode aumentar ou diminuir, estimulando ou inibindo a ação do órgão ou tecido efetor (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

As vias do SNA incluem receptores sensoriais, vias aferentes, centro de integração do SNC, vias eferentes e órgãos efetores (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007).

Diferentemente do sistema motor somático, cujos neurônios motores são parte do SNC, estando localizados na medula e no tronco espinhal e projetando-se diretamente para a musculatura esquelética, os neurônios motores do SNA estão localizados fora da medula espinhal, nos gânglios autonômicos (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Assim, a transmissão dos impulsos autonômicos medulares é realizada por dois neurônios, o pré-ganglionar, cujo corpo celular encontra-se junto ao sistema nervoso central (SNC) e que passa pela raiz ventral medular chegando aos gânglios do SNA, onde se liga ao neurônio pós-ganglionar que, por sua vez, comunica-se com os órgãos ou tecidos efetores (ROQUE et al, 2013). Os corpos celulares dos neurônios pós-ganglionares localizam-se nos gânglios autonômicos (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007), os quais se situam próximos à medula no sistema simpático e próximos aos órgãos efetores no sistema parassimpático (ROQUE et al, 2013).

As vísceras são inervadas pelas duas divisões do SNA, simpática e parassimpática, no entanto, alguns vasos sanguíneos e glândulas sudoríparas possuem apenas um dos tipos de inervação (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007).

O SNP possui corpos celulares pré-ganglionares que partem dos núcleos viscerais cerebrais e da porção sacral da medula espinhal – do segundo ao quarto segmento medular sacral, ao que comumente se chama de divisão crânio-sacral do SNA (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007). Os axônios dessas células são longos, porque os gânglios parassimpáticos estão localizados próximo ou mesmo inseridos nos órgão viscerais alvo (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Dessa forma, as fibras cranianas pré-ganglionares do SNP são transportadas pelos II, VII, IX e X pares de nervos cranianos e inervam estruturas da cabeça, pescoço e vísceras torácicas e abdominais. Dos segmentos sacrais partem as fibras pré-ganglionares que inervam o cólon descendente e os órgãos pélvicos (ROQUE et al, 2013). A medula espinhal tem o

importante papel de levar os impulsos nervosos eferentes do encéfalo para a região medular sacral. A maior parte das fibras pré-ganglionares parassimpáticas fazem sinapse no gânglio mesentérico inferior, mas algumas continuam pelo nervo hipogástrico para atingir diretamente o plexo vesical, na parede da bexiga (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007).

As fibras pré-ganglionares do SNS partem da medula espinhal e se juntam às raízes nervosas ventrais de T1 até L2. Por essa razão, o SNS é comumente conhecido por divisão tóraco-lombar do SNA (GARSTANG; MILLER-SMITH, 2007). Os axônios desses neurônios inicialmente seguem junto aos neurônios somáticos no nervo espinhal. Segundo Kandel, Shwartz e Jessell (2002, p. 963) “eles então se separam dos axônios somáticos e projetam-se (em pequenos feixes chamados ramos mielinizados brancos) para os gânglios das cadeias simpáticas que se localizam ao longo da medula espinhal, de cada lado dela”.

Os axônios dos neurônios pré-ganglionares simpáticos são curtos e emergem da medula espinhal no nível em que seus corpos celulares estão localizados, mas, percorrendo as cadeias simpáticas localizadas ao longo da medula, inervam gânglios simpáticos localizados mais cranialmente ou mais caudalmente, onde fazem sinapse com os neurônios simpáticos pós- ganglionares, que possuem longos axônios. Uma única fibra pré-ganglionar simpática pode estabelecer sinapse com várias fibras pós-ganglionares em diversos gânglios. Isso permite uma atividade coordenada de neurônios simpáticos em vários níveis medulares diferentes (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Na região cervical todos os neurônios fazem sinapse nos gânglios cervicais superior, médio e estrelado (fusão do gânglio cervical inferior com o primeiro gânglio torácico). Há onze gânglios na região torácica, quatro na região lombar, quatro sacrais e um coccígeo (ROQUE et al, 2013).

Como se pode observar na figura 4, o SNS inerva tecidos por todo o corpo, já a distribuição da inervação parassimpática é mais restrita. Além disso, existe uma maior divergência entre os neurônios pré e pós-ganglionares no SNS do que no SNP. Enquanto no SNP há uma razão de 1:3 fibras pré-ganglionares para fibras pós-ganglionares, refletindo numa atividade restrita e pontual junto aos órgãos efetores (ROQUE et al, 2013), no SNS essa razão é de cerca de 1:10 a 1:20, o que, como já foi dito, permite uma atividade coordenada de neurônios simpáticos (KANDEL; SHWARTZ; JESSELL, 2002).

Figura 4 – Representação do Sistema Nervoso Autônomo. Fonte: NETTER (2000).

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