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As abordagens a respeito dos sistemas de inovação têm, individualmente, ressaltado as várias vertentes e dimensões do processo inovativo, não obstante a concordância entre aquelas de que a inovação possui em sua essência, uma natureza sistêmica e territorializada. Para tanto, a partir dessas abordagens, foram desenvolvidos os conceitos de Sistema Nacional de Inovação (SNI), Sistema Regional de Inovação (SRI), Sistema Setorial de Inovação (SSI) e o Sistema Local de Inovação. Esses sistemas, conforme apontados anteriormente, são os “alicerces” necessários para o desenvolvimento econômico de países, regiões e localidades.

Esta seção pretende apresentar a importância do Sistema Regional de Inovação a partir dos estudos realizados pelos notórios teóricos do desenvolvimento regional. Nesse intento, as pesquisas sobre o desenvolvimento regional começaram a ter como eixo de suas análises as conexões realizadas entre os agentes produtivos e as instituições, pretendendo, assim, incrementar um processo inovativo de âmbito local que envolva todos os atores e suas articulações, favorecendo, portanto, à competitividade territorial. Ao encontro dessa acepção, Natário e Alexandre Neto (2006, p. 09) salientam que os sistemas regionais de inovação compreendem um estudo concernente às relações ocorridas entre os atores territoriais voltadas à concretização do processo produtivo:

O estudo dos sistemas regionais de inovação, bem como dos meios inovadores (de Aydalot, Maillat, Crevoisier e Camagni) e das learning region (de Flórida) são algumas das abordagens que procuram perspectivar a inovação nos estudos regionais (em particular no desenvolvimento e competitividade regional) e teorizar um modelo de inovação de base territorial. Nos factores explicativos mais relevantes como: interacção, conhecimento, cooperação, diferentes actores envolvidos; poucos diferem entre si, todavia cada uma delas realça distintos pontos de vista.

Os fatores regionais passaram a refletir diretamente na capacidade de inovação das organizações, o que gerou a necessidade de uma observação acurada dos efeitos da inovação no ambiente regional. É importante salientar que os níveis

das atividades inovativas são resultantes das particularidades de cada região, ratificando, assim, a necessidade de se reconhecer suas peculiaridades e elementos fundamentais para impulsionar as iniciativas de inovação e, com isso, dar suporte aos setores responsáveis pela assimilação dos processos inovativos no intuito de embasar a elaboração das políticas de inovação.

A percepção de Amaral Filho (1999) sobre o desenvolvimento regional endógeno remete a um processo interno de crescimento dinâmico da capacidade de integração de valor acerca da produção tanto quanto do potencial de assimilação de uma região, resultando, assim, no represamento do excedente econômico produzido na economia local e/ou na propensão de excedentes oriundos de regiões diversas, aumentando, por conseguinte, a oferta de emprego, dos produtos e da renda do local e da região. Nesse aspecto, é possível explanar sobre as desigualdades e anomalias regionais existentes através dos vários níveis de desenvolvimento tecnológico identificados em cada região procedentes do sistema regional de inovação.

Os conceitos de Sistema Regional de Inovação (SRI) tiveram nas concepções advindas do Sistema Nacional de Inovação (SNI), evidenciadas primeiramente por Freeman (1987), a fundamentação necessária para a sua efetivação. Assim como o SNI, os conceitos de SRI são caracterizados por perceber a inovação como um processo localizado e dinâmico originário das relações institucionais e sociais afetas às organizações privadas e as demais instituições locais. Os sistemas de inovação específicos demonstram seu aglomerado de interações entre os atores e a estrutura institucional disponível, alcançando relevância na sua execução em virtude de apresentar-se como um sistema de natureza própria. Desse modo, as regiões enquanto objeto de estudo no contexto dos processos de inovação justificam-se devido ao nível interno das reciprocidades relacionais ocorridas entre o setor privado, as organizações e suas interações com os elementos institucionais encontrados no SRI.

Nesse sentido, o Sistema Regional de Inovação (SRI) é definido por Cooke et. al (1998) como um sistema capaz de envolver as empresas e outras organizações com o fim de promover interações voltadas ao aprendizado através de uma rede de colaboração mútua regionalmente institucionalizada. Cooke (2001) destaca a importância de três fatores cruciais para a compreensão da dinâmica de um SRI: a “Aprendizagem Interativa” relativa aos processos interativos de agregação do

conhecimento que dão causa ao ativo coletivo formado a partir dos agentes do sistema; a “rede de cooperação regional” como percepção da estrutura institucional disponível na região, abrangendo normas, regras, valores, recursos humanos e materiais; o último fator diz respeito à assimilação dos processos de conhecimento gerados e propagados dentro e fora da empresa.

Na visão de Howells (1999), os Sistemas Regionais de Inovação disponibilizam espaços privilegiados adequados ao aprendizado localizado e para o compartilhamento do conhecimento tácito. As particularidades identificadas na estrutura institucional são componentes relevantes que se modificam essencialmente de acordo com cada região. Contudo, é importante enfatizar que, no nível regional, as interações informais entre os atores estratégicos da firma são frequentemente desenvolvidas e consolidadas, alicerçando, assim, as decisões relativas aos modelos de comunicação, aos fluxos de conhecimento e informação, bem como o reflexo destes sobre o sistema decisório da firma. Assim sendo, a escala regional e a amplitude urbana são relevantes para o processo de inovação.

De acordo com Radosevic (2002) apud Theis, Matted e Meneghel (2006, p.4), “os Sistemas Regionais de Inovação são construídos a partir da interação recíproca entre os determinantes nacionais através das políticas macroeconômicas, os determinantes setoriais por meio das políticas tecnológicas, microespecíficos realizados através da interação entre os atores envolvidos, e regional-específicos, referindo-se à infraestrutura regional”. Os autores supracitados destacam, ainda, a relevância do papel desempenhado pela universidade quando da interação com os diversos atores regionais do processo inovativo.

Segundo Douloureux Apud Esteves Et. Al(2013, p.06), Sistema Regional de Inovação pode ser conceituado como:

um conjunto de interações de interesses públicos e privados, de instituições formais e não formais que funcionam conforme arranjos organizacionais e de relacionamento de modo a conduzir a geração, o uso e a disseminação do conhecimento em espaços determinados”.

O autor ressalta que para reforçar as habilidades inovativas e a competitividade na região, esta reunião de atores gera resultados sistêmicos que são disseminados no sentido de estimular as empresas de uma região à criação de

modelos peculiares de capital resultantes das relações sociais, valores, normas e das interações realizadas internamente.

Schiller (2008, p.135) aponta três aspectos que expressam a relevância de um Sistema Regional de Inovação:

 a configuração da estrutura de governança regional considerando a estrutura administrativa, institucional e educacional. As diferenças de natureza, do número de agências, e outras organizações que agem como intermediários entre o Estado e o nível regional, podendo ser um dos fatores mais significantes do desenvolvimento de um sistema regional de inovação;

 O desenvolvimento da infraestrutura regional de inovação;  As diferenças da estrutura industrial e da performance da inovação.

Esta autora afirma, ainda, que um SRI deve ser compreendido como uma sinopse de um vasto sistema cujo foco concentra-se na interação dos agentes através de uma mútua troca de informação e conhecimento e aproveitando as externalidades técnicas e inovadoras inseridas na conjuntura regional ou local.

Para o Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável do Nordeste Brasileiro, elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE, organização social supervisionada pelo MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o sistema territorial de inovação é conceituado como:

o espaço de relações entre agentes com competências diversas e complementares, localizados em um dado território com contexto socioinstitucional específico, mas conectado com outros territórios em diferentes escalas, com vistas à produção, apropriação e difusão de inovações para obtenção de lucro, controle dos recursos do território e melhoria de qualidade de vida de seus habitantes, cuja governança destina papel destacado para o Estado, especialmente no caso de países e regiões em desenvolvimento (MCTI, 2014, p. 49).

Esse conceito demonstra a importância da intervenção do Estado quanto à gestão das relações construídas entre os vários atores que compõem o SRI, denominado, nesse contexto, por sistema territorial de inovação. A atuação do

Estado em países e regiões em desenvolvimento torna-se estratégica para a maturação do SRI, refletindo positivamente na qualidade de vida da sociedade local.

O conceito de sistema local de inovação elaborado por Neto (1998) no estudo coordenado por Cassiolato e Lastres envolve os arranjos dos agentes incumbidos pela inserção do avanço tecnológico no desempenho econômico de uma região ou local. Este conceito abrange tanto as relações comerciais quanto as ações do Estado na condução dessas relações. Inclui-se, ainda, outros agentes responsáveis por diversas intervenções dentro e fora do país os quais interagem solidariamente para contribuir com a implementação de inovações no mercado de bens e serviços. Nesse sentido, Lastres e Cassiolato (2005, p.277) discorrem que:

a proposta conceitual de sistema local de inovação é a que parece oferecer melhor possibilidade de compreensão do processo de inovação (...) trata-se de um referencial que permite e até mesmo exige o estudo do processo inovativo em seus diferentes e específicos níveis. Tal quadro de referência está baseado em alguns conceitos fundamentais – aprendizado, interações, competências, complementaridades, seleção, path-dependencies etc. – que enfatizam significativamente os aspectos regionais e locais. Consequentemente e conforme também destacado, neste caso se reconhece a importância dos estímulos aos diferentes processos de aprendizado e de difusão do conhecimento, assim como a necessária diversidade nas formas das políticas envolvidas.

Estes autores esclarecem, ainda, que para a criação, o fortalecimento e a oferta dos instrumentos favoráveis à disseminação do conhecimento, da aprendizagem coletiva e dos processos inovativos no âmbito local e regional, é necessária a discussão e elaboração de políticas de incentivo às aglomerações produtivas como ferramenta necessária ao desenvolvimento regional/local.