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Sistema Viário, Centralidades e Adensamentos

SUMÁRIO

NDVI 114 4.3 Análise da Morfologia Urbana

5. O campo térmico urbano de Brasília – DF: Ilhas de Calor em Brasília – DF

3.6. Sistema Viário, Centralidades e Adensamentos

No contexto do desenvolvimento urbano e da qualidade ambiental urbana, existe uma importante conexão entre o desempenho do sistema viário (Figura 37), as centralidades e os adensamentos.

Sistema Viário

O traçado modernista de Brasília, cujo sistema viário caracteriza-se pela hierarquia de vias, desde os grandes eixos no sentido Leste - Oeste e Norte - Sul, com maiores capacidades de fluxo de veículos, às vias locais internas das Superquadras. Este sistema viário tem peculiaridades dificilmente comparáveis às outras cidades tradicionais brasileiras. Contudo, é perceptível o intenso fluxo de veículos nestes dois sentidos da cidade, os quais dão acesso às densas áreas ocupadas do entorno. A nordeste temos as regiões administrativas de Sobradinho e Planaltina e a sudoeste temos Águas Claras, Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. A elevada densidade de ocupação destas regiões e o fluxo da população tem importante influência no processo de formação das ilhas de calor.

91 Figura 37 - Eixos de Vias de Brasília – DF

Fonte: Geoportal da Secretaria de Gestão do Território e Habitação do Governo de Brasília – SEGETH – sem página. Disponível em:

http://www.geoportal.segeth.df.gov.br/mapa/?extent=158185.6432,8233132.1800,242852.4792,8274460.1793&layers=Evolu%C3%A7%C3%A3o%20Urbana#. Acesso em 13 de março de 2018.

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Devido a grande concentração de empregos em Brasília (Plano Piloto) e das grandes distâncias entre esta e as Regiões Administrativas, o transporte de veículos é o principal meio de acesso a empregos, pois mais de 90% da população vive longe deles (RIBEIRO, 2005).

A facilidade de acesso aos centros urbanos pode definir os processos de ocupação. No caso de Brasília, o acesso ao Plano Piloto fez com que as áreas do entorno fossem densamente ocupadas. Esta circulação diária da população, para ir e vir ao trabalho, escola e em busca de atendimentos e serviços, denomina-se “movimento pendular”. Tal movimento está cada dia mais congestionado e colocando em risco vários aspectos da qualidade ambiental urbana.

A questão da mobilidade urbana vem na sequência, com a implantação do metrô, e recentemente do BRT (Bus Rapid Transport) facilitando o acesso às regiões Sul e Sudoeste do entorno (Figura 38). O trânsito torna- se uma questão de prioridade em Brasília, sendo que as emissões provocadas por este também influenciam no processo de formação das ilhas de calor. Embora o transporte coletivo tenha sofrido melhoras, ainda não substitui o deslocamento individual dos automóveis, o qual está cada dia mais numeroso.

93 Figura 38 - Rede de Integração do Transporte Público no Distrito Federal

Fonte: Secretaria de Mobilidade do DF, sem página. Fonte: http://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2016/05/24/capital-tera-277-km-de-rede-integrada-de-transporte-publico/. Acesso em 21 de março de 2017 às 9:015 h.

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É possível demonstrar como a configuração da malha viária é um aspecto definidor dos fluxos de movimento, independente da existência ou não de atratores (HILLIER e HANSON, 1984). No caso de Brasília, além da malha favorecer os fluxos, existem vários atratores. Trata-se da capital nacional e, portanto, de forte caráter administrativo, e por isso mesmo com áreas extremamente valorizadas. Tornou-se uma cidade onde a população circula para trabalhar, estudar, fazer negócios, participar de eventos. Contudo, apenas uma pequena parcela desta população reside efetivamente.

Em áreas centrais, tais como: as áreas comerciais das Superquadras, os Setores Comerciais Sul e Norte, o Centro de algumas Regiões Administrativas, como Taguatinga, Gama, ou Águas Claras, a poluição do ar é elevada. A concentração de pessoas e circulação de veículos aumentam a poluição e a temperatura do ar.

Centralidades

Segundo Medeiros (2014, citação em aula), "a localização em áreas centrais de comércios e serviços, estabelece grande possibilidade de sucesso em virtude do aproveitamento dos fluxos correlatos". Brasília é central, contudo, o alto custo para habitá-la fez com que outros diversos subcentros se consolidassem. Trata-se das Regiões administrativas, mencionadas anteriormente, e das cidades do Estado de Goiás, tais como Valparaíso ao sul e Planaltina ao nordeste. Ainda segundo Medeiros (2014, citação em aula): "numa escala ampliada, o sucesso de muitas cidades dependeu de sua localização ante as teias conectando cidades, vilas e povoados".

O Plano Piloto de Brasília, por causa de seu status de patrimônio mundial, tem poucas possibilidades de crescimento de habitações, resultando em extensa amplificação das cidades satélites, tanto por incrementos em densidades quanto por extensão sobre áreas rurais. Isso gera problemas socioambientais muito sérios (RIBEIRO e HOLANDA, 2005).

Na Figura 39 é possível identificar a Zona Urbana do Conjunto Tombado e as demais áreas do Zoneamento do Distrito Federal.

95 Figura 39 - Zoneamento de Brasília - DF

Fonte: Geoportal da Secretaria de Gestão do Território e Habitação do Governo de Brasília – SEGETH – sem página. Disponível em:

http://www.geoportal.segeth.df.gov.br/mapa/?extent=158185.6432,8233132.1800,242852.4792,8274460.1793&layers=Evolu%C3%A7%C3%A3o%20Urbana#. Acesso em 13 de março de 2018.

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Fazendo uma conexão entre o tema centralidades e Adensamentos, Jatobá (2017) afirma que devido à criação das cidades-satélites (atuais Regiões Administrativas) antes da consolidação da área central do DF, por volta dos anos 90, quando a malha urbana ainda era mais dispersa, a morfologia original de Brasília de padrão polinucleado estava mais evidenciada. Assim, com exceção do Cruzeiro, as Regiões Administrativas no entorno próximo do Plano Piloto apresentavam densidades mais baixas, estando as densidades mais elevadas nas Regiões Administrativas mais distantes e as áreas intersticiais entre elas estavam ainda pouco ocupadas.

Adensamentos

Questões como o desenvolvimento polinucleado do Distrito Federal e o tombamento do Plano Piloto de Brasília, cuja legislação que regulamenta as ocupações (PPCUB e LUOS) não permite adensamentos, impulsionam o chamado "espraiamento", isto é, a ocupação de áreas após grandes vazios urbanos. Na Figura 40 temos um exemplo de centro adensado (Região Administrativa - RA) distante do Plano Piloto. Enquanto algumas Regiões Administrativas do entorno tornam-se adensadas e com temperaturas elevadas (Ilhas de Calor), o Plano Piloto comporta-se como uma Ilha de Excelência, onde as temperaturas são

privilegiadas, em certos locais, principalmente pela intensa presença de vegetação. Segundo Acioly e Davidson (1998):

“O Plano Piloto é conhecido pela sua peculiar estrutura espacial, baseada nas superquadras e unidades de vizinhança. (...) A quantidade de áreas verdes no Plano Piloto é marcante e ajuda a criar um ambiente urbano agradável, mas as possibilidades de contatos sociais são reduzidas devido às distâncias, à segregação de funções e ao planejamento urbano centrado exclusivamente no uso do automóvel particular”(ACIOLY e DAVIDSON, 1998, p. 39).

Segundo Ribeiro e Holanda (2005) no Distrito Federal, as demandas por moradia são muito grandes. Não é atendido por políticas públicas e resulta em ocupação ilegal de terras até então não utilizadas. Isto é verdade para os estratos sociais das classes baixa e média, sendo que os últimos frequentemente escolhem alternativas de condomínios fechados que cobrem hoje uma grande parte do DF. As novas áreas colocam o equilíbrio ambiental em grave perigo, devido ao desmatamento inadequado, impermeabilização do solo e uso indevido de recursos hídricos subterrâneos.

Somando-se a isto, conforme o que foi exposto anteriormente, o fluxo de veículos (individuais e coletivos), durante o dia em determinados locais do DF, tornam-se indutores da formação de ilhas de calor.

97 Figura 40 – Comparação entre as densidades e as populações do Plano Piloto e da RA

Ceilândia

Fonte: Jatobá, 2017, p. 12.

Na Tabela 10 é possível observar que as maiores densidades não mais concentram-se distantes do Plano Piloto, como há anos atrás:

“Após o ano 2000, a ocupação progressiva dos espaços entre os núcleos urbanos resulta na expansão horizontalizada da malha urbana e simultaneamente um maior adensamento dos núcleos consolidados, com reflexo em densidades mais elevadas também nas áreas mais próximas ao centro. Assim, explica-se a coexistência de RAs com densidades mais elevadas como Candangolândia (137,38 hab./ha), Sudoeste/Octogonal (104,77 hab./ha), Varjão (142,27 hab./ha) e Estrutural (109,73 hab./ha), e RAs com densidades mais baixas, como Lago Sul (6,66 hab./ha) e Lago Norte (9,99 hab./ha), todas localizadas em raio de até 11 km do Plano Piloto” (JATOBÁ, 2017, p.

16).

Tabela 10 – Densidade Urbana x Distância do Centro (CBD) – 2015

Fonte: Jatobá, 2017, p. 16.

Jatobá (2017) afirma que devido ao adensamento urbano das regiões intersticais entre o Plano Piloto e as cidades satélites (Regiões Administrativas), o padrão de densidade de Brasília aproxima-se mais ao de uma cidade tradicional, na qual a morfologia urbana resulta mais das forças de mercado do que do planejamento mais rígido do uso do solo. Entretanto, o padrão de densidades mais elevadas nas cidades afastadas

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mais de 25 km do centro (Tabela 11) ainda permanece em Ceilândia (129,94 hab./ha), São Sebastião (112,75 hab./ha), Recanto das Emas (117,88 hab./ha) e Samambaia (103,31 hab./ha). A linha de tendência do Gráfico (Figura 41), aponta um padrão de crescimento das densidades com a distância, confirmando o gradiente invertido da densidade apontado no estudo de Bertaud (2010), porém com a ocorrência de maior adensamento de alguns núcleos urbanos mais próximos ao centro, a contrariam parcialmente (Figuras 42 e 43).

Figura 41 – Densidade Urbana x Distância do Centro (CBD) – 2015

99 Figura 42 - Densidades Urbanas no Distrito Federal em 2015

100 Tabela 11 – Densidade Urbana por Região Administrativa do Distrito Federal (hab./há) – Ranking – 2015

101 Figura 43 - Densidades por Zona no Distrito Federal em 2015

Fonte: Geoportal da Secretaria de Gestão do Território e Habitação do Governo de Brasília – SEGETH – sem página. Disponível em:

http://www.geoportal.segeth.df.gov.br/mapa/?extent=158185.6432,8233132.1800,242852.4792,8274460.1793&layers=Evolu%C3%A7%C3%A3o%20Urbana#. Acesso em 13 de março de 2018

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As densidades urbanas relacionam-se diretamente com a tendência a formação de ilhas de calor urbanas (LOMBARDO, 1985; OKE, 1987; SANTAMOURIS, 2006; RIBEIRO, 2005; VIANNA e ROMERO, 2015). Santamouris (2006) estabeleceu a relação entre a população de cidades Norte Americanas, cidades da Europa e cidades de outros continentes, com suas respectivas temperaturas máximas de ilhas de calor. O autor obteve forte e positiva correlação (Figura 44).

Figura 44 – Gráfico da relação entre a intensidade máxima da ilha de calor e a população da América do Norte, Europa e cidades sul americanas

Fonte: Santamouris, 2006, p. 99.

Assim, para efeito desta tese, estabelecemos a correlação entre os dados de densidades de Brasília – DF, divulgados por Jatobá (2017), e as temperaturas máximas obtidas na pesquisa (a serem exposta nos próximos capítulos). Observamos que para os dados do DF existe

correlação, moderada e ascendente, entre temperaturas e densidades urbanas (Tabela 12 e Figura 45).

Tabela 12 – Relação entre a densidade urbana das áreas analisadas no DF e as temperaturas máximas de agosto

Áreas Densidade (hab./ha) Máxima agosto/2016 SQN 206 20,64 28,49 SQS 203 20,64 28,85 S. Sudoeste 104,77 31,14 Águas Claras 71,53 30,32 Itapoã 81,93 28,74 Sobradinho I 41,73 28,35 Sobradinho II 58,94 30,43 S. Taquari (Lago Norte) 9,99 29,28 R 0,647564119

Figura 45 – Gráfico da relação entre a densidade urbana das áreas analisadas no DF e as temperaturas máximas de agosto

y = 0,02x + 28,423 R² = 0,4193 28 28,5 29 29,5 30 30,5 31 31,5 0 20 40 60 80 100 120 Temperaturas x Densidades do DF

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Embora o resultado da correlação estatística entre densidades e temperaturas seja positivo, é preciso reafirmar que a análise das densidades urbanas não é objetiva. Observamos que o padrão polinucleado da morfologia urbana original do DF impulsionou os adensamentos. Mas o que antes era esperado, quanto ao maior adensamento de áreas mais distantes do centro em detrimento às mais próximas, já não é uma verdade absoluta.

Existem algumas variáveis que poderiam ser observadas para compreender o fenômeno dos adensamentos das áreas no DF. Entre elas as questões de ordem da sociologia, do capital cultural, das origens das pessoas, dos hábitos e costumes, da melhor adaptação em determinados lugares, as questões dos “guetos urbanos”. Além das questões de ordem da economia, com a ascensão da classe média, as facilidades de acesso à habitação. Contudo, isto extrapolaria o escopo do presente trabalho. O que mais uma vez demonstra a complexidade do fenômeno urbano.

3.7. Considerações finais do Capítulo

As características naturais, históricas e principalmente morfológicas, fazem de Brasília – DF – um terreno fértil para a análise do campo térmico urbano, abrindo um leque de comparações entre esta e outras cidades planejadas ou não.

O traçado das cidades modernas tem por característica o privilégio da circulação de automóveis em detrimento ao pedestre, e em Brasília isto é observado. Contudo, em ordem de importância, o sistema viário do DF é sem dúvida o grande facilitador do crescimento das áreas urbanas. A facilidade do fluxo de veículos nos grandes eixos incentiva o movimento pendular da população entre as RAs e o PP. Os congestionamentos já são motivos de preocupação. Tanto a poluição, quanto do aquecimento das áreas urbana é preocupante. A intensa atividade antrópica facilitada pelo sistema viário, o faz indutor da formação das ICU.

Quanto às centralidades, a morfologia polinucleada do DF configura diversas áreas aquecidas dispersas no território, cujos adensamentos não estão mais diretamente relacionados com as distâncias ao centro do Plano Piloto. Existem áreas mais aquecidas / densas tanto em um raio de 11 km, quanto em um raio de 20 km.

Concluímos que os três aspectos: sistema viário, centralidades e adensamentos, estão diretamente relacionados e influenciam fortemente as questões ambientais urbanas. Mas, por si só estes três aspectos não fecham as demandas da compreensão do fenômeno urbano. Seria necessário entrar na questão sócio-econômica-espacial, o que sugerimos para trabalhos futuros. A próxima etapa da tese irá tratar dos procedimentos metodológicos e ferramentais para o desenvolvimento das análises.

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PARTE II

105 4. Procedimentos metodológicos e ferramentais para o estudo de

Ilhas de Calor

Dada a complexidade do campo térmico urbano, existem diversos procedimentos metodológicos de monitoramento e análise na literatura. Alguns abordam o fenômeno ilhas de calor como um todo, considerando todas as variáveis influenciadoras, outros abordam as variáveis isoladamente. No presente trabalho abordaremos cinco destes procedimentos, sendo que apenas três (*) serão amplamente aplicados à Brasília – DF, cidade objeto de estudo. São os cinco métodos:

• O Sistema de Classificação das Zonas Climáticas Locais;

• A Classificação Supervisionada* dos Materiais de Superfícies Urbanas;

• O Índice de Vegetação da Diferença Normalizada – NDVI; • A Análise da Morfologia* Urbana; e

• O Uso de Imagens Termais* de Sensoriamento Remoto.

Ao final, as correlações estatísticas também são expostas como método de verificação da relação exitente entre os materiais de superfícies, a morfologia urbana e as temperaturas de superfícies.