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O setor florestal desempenhou e continua a desempenhar um papel importante e de longo prazo no desenvolvimento social, ambiental e econômico de muitos países ao redor do mundo. Estudos apontam que o potencial das florestas na redução das emissões de carbono, conservação da biodiversidade e fornecimento de água potável são valores que devem ser mantidos em perpetuidade (IUFRO, 2011).

A agrosilvicultura como ciência desenvolveu-se a partir da década de 1970, quando as principais pressuposições do papel das árvores sobre os solos tropicais foram desenvolvidas, e principalmente com a criação de instituições internacionais voltadas à pesquisa agroflorestal, como o International Council for Research in Agroforestry – ICRAF (EXGEL, 1999).

Segundo Anonymous (1982) baseia-se na silvicultura, agricultura, zootecnia, no manejo de solos e em outras disciplinas ligadas ao uso da terra. Entretanto, adota uma abordagem interdisciplinar com relação ao estudo dos sistemas de uso da terra. Implica em ter-se uma consciência das interações e retroalimentação entre homem e o ambiente, demanda de recursos e sua existência em uma determinada área, o que significa, em determinadas circunstâncias, otimizar o uso sustentável dos recursos, além de simplesmente buscar o aumento permanente da produção.

35 Neste contexto, um sistema agroflorestal é definido como um sistema agropecuário diferenciado por ter um componente arbóreo ou lenhoso, o qual tem um papel fundamental na sua estrutura e função (EXGEL, 1999). Um sistema agroflorestal é, segundo Duboes (1986) e Young (1991), um exemplo específico de práticas agroflorestais encontradas em uma localidade ou área, de acordo com sua composição biológica e arranjo, nível tecnológico de manejo e características socioeconômicas.

Os Sistemas Agroflorestais (SAF´s) são uma técnica milenar largamente utilizada em várias partes do mundo, entretanto, apenas nas últimas décadas essa prática ganhou destaque como alternativa de tecnologia para o meio rural (EMBRAPA, 2004).

Os SAFs estão representados por vários sistemas de exploração agropecuária, como a “cultivation” (agricultura itinerante), sistema de “taungya”, consórcios agroflorestais comerciais, sistemas agrosilvopastoril, agrosilvicultura, silvipastoril, quintais agroflorestais ou “homegardens”, hortos caseiros, entre outros (LUNDGREN e RAINTREE, 1982).

Os sistemas agroflorestais sempre devem ser particulares e específicos para uma determinada condição, por isso a pesquisa deverá principalmente indicar princípios que possam conduzir a essa especificidade (BENITES, 1990).

Os sistemas agroflorestais apresentam também potencial para reduzir a degradação do solo e diminuir a pressão sobre áreas de florestas, favorecendo o equilíbrio entre o solo, a água, o ar, o microclima, a paisagem, a flora e a fauna (MACDICKEN & VERGARA, 1990; MACGRATH et al., 2000). Para Baggio e Medrado (2003) as práticas agroflorestais são o conjunto de tipos de sistemas de produção que apresentam maior capacidade de comportar biodiversidade e de fixação de carbono. Entre elas, os sistemas de multiestratos são os mais complexos, perdendo em diversidade biológica apenas para as florestas naturais.

Os SAF´s possuem uma elevada biodiversidade, complexa estrutura e um grande acúmulo de biomassa (AMADOR, 2003). Viana et al. (1996) apresenta um modelo padrão de SAF´s (Figura 02) onde numa mesma área, árvores e/ou arbustos são utilizados em associação com cultivos agrícolas e/ou com animais, de maneira simultânea ou em uma sequência temporal.

36 Figura 02: Exemplo de implantação de um sistema agroflorestal. Fonte: Rede Agroecologia. Extraído de Oliveira et al. (2010).

Análises em sistemas agroflorestais com leguminosas por Queiroz et al. (2007) demonstraram aumento na produção de fitomassa e na ciclagem de nutrientes, principalmente N, P e K. Campanha et al. (2007), comparando teor de nutrientes da serrapilheira, características de fertilidade e teor de umidade dos solos em cafeeiros cultivados sob sistema agroflorestal e monocultivo, identificaram uma contribuição de 6,1 Mg ha-1 ano-1 de matéria seca de

serrapilheira em relação ao solteiro, com aporte de 4,5 Mg ha-1 ano-1.

O uso de sistemas agroflorestais como alternativa à agricultura tradicional possibilita a obtenção, em uma mesma área, de acordo com Gama (2003), de uma série de bens e serviços ambientais, além de gerar renda e trabalho por maior período de tempo, permitindo ainda o aproveitamento da mão de obra familiar em suas diversas fases de duração. Muitos destes aspectos não podem ser mensurados em uma avaliação econômica, embora, empiricamente, os agricultores os acabem incorporando em suas decisões, ao optarem por este ou aquele sistema agroflorestal (SATTLER, 2013).

Nas últimas três décadas no Brasil uma sequência de iniciativas de agroflorestas surgiram, desde consórcios simples e integração lavoura-pecuária até sistemas estratificados complexos (MICCOLIS, 2001). Em sua maioria o sistema agroflorestal tem sido executado por agricultores familiares em pequenas áreas. Porém, a sua adesão também apresenta uma série de falhas, que, para serem corrigidas, requerem maior acesso a informações sistematizadas, apoio financeiro, técnico e medidas inovadoras nas políticas públicas (REBRAF, 2005).

37 De forma geral, segundo Umrani e Jain (2010) o conhecimento sobre os Sistemas Agroflorestais, em seus aspectos ecológico-ambientais, sociais e econômicos, é limitado. Há mais perguntas do que respostas, especialmente acerca da viabilidade, a longo prazo, das populações da fauna e da flora que compõem os SAF.

No cenário da restauração e/ou uso sustentável por meio de SAF, um item merece destaque: as diferentes características e objetivos dos pequenos produtores e dos empresários rurais, que originam em distintos tipos de SAF destinados a cada grupo (MARTINS e RANIERI, 2014). O pequeno produtor tem capacidade e, em geral, o interesse de administrar produções mais diversificadas. Já o grande produtor, ou empresário rural, tem grande interesse em diminuir tanto quanto possível a mão de obra empregada na implantação e na manutenção dos sistemas (VAZ DA SILVA, 2002). Contudo, as referências e experiências existentes que mais se aproximam de efetivar com objetivos de conservação e princípios da sustentabilidade são os SAF biodiversos e complexos, que atualmente adéquam-se e são exercidos por pequenos produtores (AS-PTA; ILEIA, 2011; CALDEIRA; CHAVES, 2010; MAY; TROVATTO, 2008; SANTOS, 2010; VIVAN, 1998).

De acordo com a “Food and Agriculture Organization of the United

Nations”, existe uma série de vantagens na utilização dos sistemas agroflorestais,

entre estas, pode–se citar o favorecimento da ciclagem de nutrientes e produção de serapilheira, reduzindo a evaporação do solo e aumentando o seu teor de matéria orgânica (FAO, 1984). A ciclagem de nutrientes, refere–se como sendo a transferência contínua de nutrientes que estão presentes dentro de um sistema solo–planta (BURESH e TIAN, 1998).

Os sistemas agroflorestais como protagonista de renda e de desenvolvimento rural, surgem também como uma ferramenta para promoção da recuperação de áreas degradadas, instrumento para recomposição de áreas de reserva legal (RL), matas ciliares e outras áreas de preservação permanente (APP), principalmente desempenhando um papel importante na mudança da paisagem onde o habitat natural tem sido altamente fragmentado (VIEIRA et al., 2007). Porém, há uma escassez de informação sobre o papel que as árvores em sistemas agroflorestais podem desempenhar na conservação da variabilidade genética das espécies arbóreas nativas, principalmente no bioma Cerrado. Para

38 Arato et al. (2003) a combinação de espécies arbóreas com cultura agrícolas e a criação de animais, proporciona a melhoria nas propriedades físico-químicas dos solos degradados, bem como na atividade de microrganismos, considerando a possibilidade de um grande número de fontes de matéria orgânica.

Os pequenos agricultores familiares julgam os sistemas agroflorestais como meios de uso da terra que fornecem recursos socioeconômicos e benefícios ambientais (CASTRO et al., 2009, ROSA et al.,2009). Os SAF´s permitem que os agricultores familiares possam obter renda de diferentes espécies e produtos ao longo do ano. Apesar dessas vantagens, há uma ausência de informações com relação ao manejo dos SAF´s, à silvicultura das espécies que compõem os mesmos, ao desenho e ao arranjo desses sistemas por parte dos agricultores familiares, os quais, na maioria das vezes têm mais instrução quanto a cultivos agrícolas tradicionais (VIEIRA et al., 2007).

No entendimento de Assis (2006) a execução de sistemas agrícolas sustentáveis depende de mudanças profundas do paradigma de desenvolvimento vigente na sociedade. Segundo o autor sistemas de produção agroecológicos, agronômicos e socioeconômicos, surgem como possibilidades concretas de implementação de um processo democrático de desenvolvimento rural sustentável a partir de uma ação local, no qual os agricultores assumem definitivamente o papel principal de condução dos seus sistemas de produção.

Os sistemas agroflorestais, ao agregar diferentes sistemas produtivos, como os de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia, permitem a diversificação das atividades econômicas na propriedade, aumentando a lucratividade por unidade de área e minimizando os riscos de perdas de renda por eventos climáticos ou mesmo por condições adversas de mercado. Essas características evidenciam sua importância não só em termos de sustentabilidade agrícola, mas também nas questões relacionadas às mudanças climáticas (MBOW et al., 2014).

O atual código florestal brasileiro (Lei nº 12.651/2012) estabelece normas gerais com o fundamento central da proteção e uso sustentável das florestas e demais formas de vegetação nativa em harmonia com a promoção do crescimento econômico. De acordo com o mesmo, no que se refere às nascentes e olhos d’água perenes, só é permitida a manutenção de atividades agrossilvipastoril, de ecoturismo ou de turismo rural, quando, obrigatoriamente, ocorre a recomposição florestal de acordo com o tamanho da propriedade

39 (BRASIL, 2012). Assim, verifica-se uma oportunidade de pequenos agricultores familiares de aliar a produção de alimentos e o retorno econômico a partir de adoção de práticas agrícolas sustentáveis, como a implantação de sistemas agroflorestais.

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