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5. HABILIDADES COGNITIVAS INVESTIGADAS: UMA BREVE

5.1 Sistemas Atencionais

Dentre as funções e habilidades a serem investigadas neste estudo destaca-se a

atenção, responsável pelo processamento de quantidade limitada de informações provenientes do meio externo ou produzidas no interior do corpo do sujeito (Luria,

1981). De acordo com Malloy-Diniz, Capellini, Malloy-Diniz e Leite (2008), as habilidades concernentes ao construto da atenção dizem respeito à concentração, manutenção do estado alerta e observação, inibição de estímulos distratores ou irrelevantes, esforço mental, bem como alternância entre estímulos diferenciados. De acordo com Lezak (2004), estas diversas habilidades atuam de forma conjunta ou sobrepostas, especialmente em colaboração com outras habilidades cognitivas.

Desta forma, um primeiro aspecto a ser destacado no que concerne à avaliação da atenção é a constatação de que esta função deve ser considerada como um sistema multifacetado que abrange domínios distintos e muitas vezes complementares, que podem ser conceituados a partir de sua natureza e operacionalização (Siéroff & Piquard, 2004; Nahas & Xavier, 2004).

No que se refere à sua natureza, a atenção pode ser classificada como voluntária – envolvendo a seleção ativa e deliberada do indivíduo em uma determinada atividade, diretamente ligada às motivações, interesses e expectativas – ou involuntária, suscitada a partir das características próprias dos estímulos, ou seja, ocorrendo diante de eventos repentinos no ambiente (Dalgalarrondo, 2000).

No que se refere à sua operacionalização, a atenção pode ser seletiva – relacionada à priorização e discriminação de informações, na qual o sujeito direciona voluntariamente o foco atencional para categoria específica de estímulos, em detrimento de outros considerados por ele como de menor relevância; sustentada, correspondendo à capacidade do sujeito em manter a seletividade ou foco atencional sobre estímulos específicos durante período de tempo mais prolongado, comumente conceituada como "concentração” (Muszkat, 2008); dividida, corresponde à capacidade do indivíduo em discriminar informações concomitantes, sejam estas provenientes de fontes sensoriais equivalentes ou diversas, através da distribuição dos recursos atencionais (Montiel &

Capovilla, 2007; Muszkat, 2008) e; alternada, que diz respeito à capacidade de alternar os recursos de atenção entre diferentes estímulos, de forma que possibilita o ajuste de respostas e seleção de estímulos de acordo com as diferentes demandas (Lezak, 2004; Muszkat, 2008). É válido destacar que a divisão da atenção é basicamente esquemática, uma vez que a atividade cognitiva integrada geralmente envolve mais de um subtipo atencional.

Assim como não é reconhecida como um único construto, a atenção também não pode ser compreendida como produto de uma área cerebral específica, visto que o seu funcionamento adequado demanda o funcionamento integrado e dinâmico do cérebro, realizado através de redes neurais corticais e subcorticais (Muszkat, 2008).

O desenvolvimento dos sistemas atencionais acompanha o processo de maturação das regiões e circuitos com eles envolvidos. Assim, nos primeiros meses de vida, os sistemas atencionais são caracterizados por mecanismos elementares e involuntários, assegurados pela formação reticular implicada também com os diferentes níveis de vigília e/ou alerta (Muszkat, 2008). Junto a estes mecanismos, os recém nascidos já apresentam a capacidade de inibir informações irrelevantes, bem como habituar-se a estímulos repetidos e recorrentes, habilidades que requerem a atuação do córtex límbico (Muszkat, 2008).

De acordo com Nahas e Xavier (2005), já um mês após o nascimento os bebês apresentam habilidades de manter o olhar fixo, processo resultante da ação de camadas mais complexas do córtex capazes de ativar a ação inibitória. O processo de manutenção do foco atencional apresenta aprimoramento progressivo ao longo do desenvolvimento, de modo que entre os três e os seis meses de vida, os bebês são capazes de fixar o olhar em objetos por um período bastante prolongado, especialmente quando estes apresentam grandes contrastes (Nahas & Xavier, 2005). Entretanto, de acordo com

Muszkat (2008), tais crianças têm dificuldade em retirar o foco atencional de diversos estímulos sensoriais, tais como, faces familiares, luzes ou formas coloridas, evidenciando-se a impossibilidade da regulação da atenção devido ao momento ainda prematuro desta função.

A partir do 6º mês de vida, inicia-se o desenvolvimento dos mecanismos atencionais caracteristicamente endógenos. Nesta direção, por volta dos dois anos de idade, os mecanismos atencionais adquirem maior estabilidade e o foco atencional é marcadamente direcional e seletivo, subsidiando um comportamento mais organizado (Muszkat, 2008). O complexo refinamento que caracteriza os sistemas atencionais desenvolvidos mais tardiamente, notadamente a atenção voluntária, envolvidos com o comportamento programado e a inibição de estímulos, está relacionado à atuação das áreas frontais, diretamente relacionadas à atividade do componente executivo (coordenador) da atenção, bem como aos processos de atenção dividida e a flexibilidade da atenção (Muszkat, 2008).

Muszkat (2008) ressalta que a atenção voluntária constitui-se como um mecanismo essencialmente social, de modo que a inserção da criança em contextos escolares e sociais possibilita e otimiza o desenvolvimento dos processos de seletividade, mediados e organizados a partir da linguagem.

De acordo com Montiel e Capovilla (2007) e Muszkat (2008), diversos testes e procedimentos têm sido desenvolvidos e empregados na avaliação dos sistemas atencionais. Neste âmbito, destacam-se três grandes modelos de testes que investigam os sistemas atencionais, a saber, de realização contínua, de duplicação de tarefas e de cancelamento.

Os testes de realização contínua são caracterizados pela apresentação de estímulos-alvo e distratores que, em contexto de aplicação informatizada, são

apresentados em intervalos pré-determinados. Os testes de duplicação de tarefa referem- se à realização de tarefas em que o sujeito tem como meta escolher determinados estímulos dentre um conjunto de estímulos dispostos aleatoriamente (Alberto, 2003; Montiel & Capovilla, 2007). Por fim, os testes que envolvem tarefas de cancelamento podem avaliar tanto a atenção seletiva – uma vez constituídos por tarefas que exigem a seleção e a sinalização de um estímulo-alvo, quanto a atenção sustentada e alternada – por demandarem do sujeito manutenção da atenção e persistência na execução da tarefa, bem como a alternância entre estímulos diferenciados (Montiel & Capovilla, 2007). Neste estudo especificamente, foram realizadas atividades concernentes a esta última modalidade de instrumentos e serão explicitadas a seguir quando da caracterização do instrumento.