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Sistemas de classificação de doentes como instrumento de gestão Os hospitais caracterizam-se por serem firmas multiproduto, ou seja, produzem

Despesa pública Despesa privada

4.6. Sistemas de classificação de doentes como instrumento de gestão Os hospitais caracterizam-se por serem firmas multiproduto, ou seja, produzem

cuidados de internamento, cuidados de ambulatório, cuidados de urgência e ainda podem produzir, serviços de alimentação, limpeza, entre outros. Isto torna particularmente difícil a identificação do que se produz e dos custos associados a cada atividade. Sendo ainda fundamental a distinção entre produto final (doente saído) e produto intermédio (exames laboratoriais, imagiologia, refeições, etc.).

O carácter multiproduto da atividade hospitalar pode ainda ser potenciado pelo diferente grau de evolução da doença presente no momento de contato como o hospital. É esta diversidade que está na origem das dificuldades associadas ao processo de definir e medir a produção de um hospital, afastando-se da homogeneidade que caracteriza outras atividades económicas.

De acordo com Thompson, Averill e Fetter (1979), o problema a resolver para atingir um controlo efetivo dos recursos e dos custos hospitalares, residia na definição precisa e manejável dos serviços prestados pelos hospitais. Estes defendiam que embora cada doente devesse ser único e tratado individualmente do ponto de vista médico, todos os doentes tratados podiam ser classificados, com base nas suas características clinicas e demográficas, em classes de doentes que consumiam recursos ao hospital de forma idêntica. Dando este passo poderiam categorizar-se os serviços prestados pelo hospital e estabelecer uma definição de produtos. Deste modo passava a ser possível relacionar o índice case mix (ICM) do hospital, os recursos utilizados e os custos incorridos. O que se pretendia era atingir um sistema com classes de doente que pudessem estar na base do sistema de revisão da utilização, de um modelo de financiamento prospetivo e de um sistema de orçamentos hospitalares. Esta unidade de

Delfim Garrido 2012 65 classificação do doente designa-se por grupo de diagnóstico homogéneo (GDH). Os GDH vieram criar uma ponte na comunicação entre os administradores, responsáveis pelo controle da despesa das instituições, e os médicos, responsáveis pela realização da despesa (Simões, 2010).

Os GDH foram implementados em Portugal no final dos anos 80 e início da década de 90, sendo a primeira vez que um sistema baseado no ICM foi utilizado na Europa para alocação de recursos financeiros destinados aos cuidados de saúde prestados em internamento. A sua introdução visava, genericamente, reduzir os custos hospitalares e aumentar a produtividade, o que seria atingido através da implementação de um sistema de informação integrado de gestão e financiamento dos hospitais. Este sistema contrariava os incentivos que então existiam para substituir os procedimentos de diagnóstico com custos elevados por procedimentos mais baratos, com associado risco de perda de qualidade dos cuidados, uma vez que eram todos pagos ao mesmo preço (Vaz et al, 2010).

Na base do sistema de financiamento por GDH encontram-se os pesos relativos, em que o peso relativo de cada GDH exprime a sua relação com qualquer outro em termos de consumo de recursos. Quanto maior é o peso relativo de um GDH mais significativo é o consumo de recursos que lhe é associado.

Desde o início do financiamento por GDH houve ajustamentos ao preço base nacional uma vez que os hospitais apresentam estruturas de custos distintas consoante a sua dimensão, complexidade da causa tratada, funções de ensino, etc. Atualmente, a natureza mista do modelo de financiamento, com uma abordagem gradual de incremento da componente calculada com base na receita histórica, constitui uma forma equilibrada de partilha do risco financeiro entre a entidade pagadora dos cuidados prestados e a entidade prestadora desses mesmos cuidados (Simões, 2010).

Com a introdução dos GDH em Portugal é então possível aos hospitais saberem antecipadamente qual o valor do orçamento que vão receber com base numa previsão de doentes a serem tratados. Na prática, quer os administradores hospitalares quer os médicos, esperam que os preços vigentes para cada GDH sejam superiores aos custos que estimam vagamente estar associados ao tratamento dos doentes individuais. Este sistema deve garantir que, caso o hospital seja eficiente, no final do ano não haverá

Delfim Garrido 2012 66 défice, mas podem existir áreas onde a prestação de cuidados seja deficitária e outras onde seja geradora de mais-valias para a instituição.

Os GDH impulsionaram um grande salto no SNS na medida em que ofereceram a possibilidade de medir, de forma eficaz, a produtividade e a eficiência dos hospitais, a partir de um conjunto de dados básicos e elementares (Vaz et al, 2010).

A nível nacional verificou-se o aumento do número de episódios de internamento de doentes do SNS cumulativamente, diminuiu a demora média e aumentou o ICM. Isto significa que estão a ser tratados doentes mais complexos em menos tempo, indiciando ganhos de eficiência associados à introdução do financiamento por GDH nos hospitais do SNS.

Os relatórios de retorno anuais realizados desde a introdução dos GDH, facilitaram a avaliação do desempenho dos hospitais de forma rotineira e dota os gestores e médicos com informação acerca das práticas nacionais e de capacidade para monitorizar desvios das suas instituições relativamente aos padrões observados. Foram desenvolvidos um conjunto de indicadores a nível nacional e de grupo para entregarem estes relatórios de retorno. Margarida Bentes, uma das principais participantes do desenho e implementação do modelo português de pagamento baseado nos GDH, afirma que a utilização destes grupos nas análises estatísticas assegura que apenas os hospitais com custos e ICM semelhantes são comparados entre si, o que aumenta a significância dos valores de referência dentro dos grupos (Vaz et al, 2010; Simões, 2010).

Estes relatórios de retorno, uma vez que possuem indicadores de desempenho e de qualidade permitem avaliar o desempenho, identificar problemas latentes de qualidade e melhorar as atividades de revisão de utilização dos hospitais.

Os hospitais têm uma base de dados local com os dados dos seus doentes agrupados em GDH e espera-se que vão atualizando esta base de dados nacional periodicamente. A modernização do sistema de informação dos hospitais e para um financiamento de acordo com a causa, foi uma aposta ganha. No entanto, é preciso continuar a trabalhar para tornar o sistema cada vez mais adaptado à realidade portuguesa, explorando as virtualidades deste sistema. A atual situação de crise económico-financeira que o país atravessa aconselha a que se adotem medidas

Delfim Garrido 2012 67 vigorosas de diminuição do desperdício e de aumento da eficiência do SNS, tendo o sistema de GDH um importante papel neste esforço tão necessário (Vaz et al, 2010).