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Para Baccarini (1996), as construções têm se tornado ainda mais complexas desde a Segunda Guerra Mundial, e, a cada dia, vêm se tornando mais complexas. Ainda segundo Baccarini (1996), a complexidade pode ser definida de duas formas básicas para projetos:

I - Consistindo em muitas partes inter-relacionadas variadas

Este significado é nitidamente circunscrito para que a complexidade do projeto possa ser operacionalizada em termos de: diferenciação - o número de elementos variados, por ex. tarefas, especialistas, componentes; e interdependência ou conectividade - o grau de inter-relação entre esses elementos. Curiosamente, a interpretação acima da complexidade espelha a teoria dos sistemas, na medida em que um sistema complexo é frequentemente definido em termos de diferenciação e conectividade. Como os projetos podem ser vistos como sistemas complexos, o significado acima para a complexidade do projeto parece apropriado (BACCARINI, 1996, p. 201-202).

II - Complicado, envolvido, intrincado.

Este significado de complexidade está aberto à ampla e diversificada interpretação. Por exemplo, pode ser interpretado como abrangendo qualquer coisa caracterizada por dificuldade. Wozniak operacionaliza a complexidade do projeto com base em nove 'dificuldades', tais como: criticidade do projeto, projeto visibilidade e responsabilidade; clareza da definição do escopo. Assim este significado de complexidade tem uma conotação subjetiva implicando dificuldade em compreender e lidar com um objeto. Portanto, essa interpretação da complexidade está nos olhos do observador (BACCARINI, 1996, pag. 201-202).

Tomando como norte o conceito de complexidade de Baccarini (1996), um projeto de construção pode ser um sistema, subdividido em partes que podem ser interrelacionadas. Essas partes, ao seguir determinado método de acordo com etapas, determinam, ao final do processo, que cada parte deve estar condicionada a uma interdependência, na qual, se não houver determinada parte em determinada aplicação ou substituição desta por parte semelhante, este não se concretiza.

Os sistemas podem ser caracterizados como simples, complicados e complexos. O sistema simples seria perfeitamente descritível em termos de finalidade, fronteiras, entradas, saídas e relação entre componentes ou subsistemas (LEPLAT, 1996 apud VITAL et al., 2011). Com isso, uma loja de materiais de construções poderia ser descrita como um sistema simples. Já um sistema complicado seria de natureza simples, porém integrado por um grande número de combinações, como, por exemplo, combinações internas e externas, por elevado grau de subdivisões em subsistemas e componentes. Avaliando a mesma loja de materiais de construção pela ótica dos fornecedores envolvidos, sistemas implantados e processos envolvidos de logística podem ser descritos como um sistema complicado.

Já um sistema complexo é uma organização para a qual é difícil, senão impossível, restringir sua descrição a um limitado número de parâmetros ou variáveis

características sem perder suas propriedades essenciais. A partir do momento em que existe uma empresa de engenharia, que compra nessa loja de materiais e está construindo um edifício com diversos andares, que envolve uma série de cálculos, com uma série de materiais e que, por vezes, nem podem ser encontrados na loja de materiais de construções citada, envolvendo uma série de fornecedores e, mesmo assim, não se pode ter controle das futuras patologias ou futuros retrabalhos oriundos de obra, pode-se considerar esta como um sistema complexo.

Segundo Sherratt e Ivory (2019), “as frequentes falhas na conclusão dos projetos de construção no prazo e no cronograma dão origem à noção de que o processo pode não ser tão previsível quanto parece, assim o conceito de complexidade começa a entrar em contexto.”

2.3.1 Complexidade na construção civil

Segundo Baccarini (1996), “os projetos de construção são tipicamente caracterizados pelo envolvimento de várias organizações separadas e diversificadas, como consultores e contratados, por um período de tempo limitado. Isso leva à criação de uma estrutura multiorganizacional temporária para gerenciar o projeto de construção”.

O mesmo autor afirma, ainda, que “existe um corpo de conhecimento bem estabelecido afirmando que a diferenciação e as interdependências são gerenciadas pela integração, isto é, pela coordenação, comunicação e controle. A função de gestão da integração é particularmente importante para projetos de construção, pois são tipificados por componentes fortemente diferenciados, mas em parte interdependentes”.

Terry Williams (1999) atenta para dois importantes fatores quando se trata de complexidade na construção civil, este autor afirma que praticamente todos os projetos são definidos por objetivos múltiplos, com objetivos conflitantes. O que adicionaria complexidade à estrutura do projeto, com isso, os efeitos das atividades em todas as etapas devem ser avaliados e as possíveis alterações devem considerar o equilíbrio de outras atividades. Além disso, afirma que praticamente todos os projetos têm uma multiplicidade de partes interessadas, não apenas os gerentes de projeto e a equipe do projeto, mas também o proprietário, o empreiteiro, o público, às

vezes, os órgãos públicos e assim por diante. Isso adicionará complexidade de maneira semelhante à multiplicidade de metas.

“Os megaprojetos são frequentemente afetados por resultados de desempenho insatisfatórios, como atrasos nos custos e atrasos no cronograma” (THOMAS; MENGEL, 2008), a partir disso, percebe-se que “muitos estudos mostraram que o sucesso do projeto depende da complexidade de um projeto e que os métodos tradicionais de gerenciamento de projetos não são suficientes para lidar adequadamente com essa complexidade (REMINGTON; POLLACK, 2007).

Dalcher (1993) afirma que:

A prática contemporânea de gerenciamento de projetos é caracterizada por: entrega atrasada, orçamentos excedidos, funcionalidade reduzida e qualidade questionada. À medida que a complexidade e a escala das tentativas de projetos aumentam, a capacidade de levar esses projetos a uma conclusão bem-sucedida diminui drasticamente.

Segundo Williams (1999):

É necessário aceitar o desafio da conclusão bem sucedida dos projetos de construção e ver de maneira diferente como deve-se lidar com projetos complexos. A complexidade vai aumentando à medida que os elementos do sistema aumentam, exacerbados pela simultaneidade resultante do aperto dos prazos e possíveis modificações do projeto.

Portanto, pode-se citar, baseados em Williams (1999), que o diagrama da complexidade no projeto tem a seguinte forma:

Complexidade no projeto

Incerteza estrutural Número de elementos

Interdependência dos elementos

Incerteza Incerteza nas metas Incerteza nos métodos

Figura 3 – Diagrama de complexidade

Segundo Luo et al. (2017), não existe uma classificação abrangente a respeito da complexidade do projeto. Ao se referir à complexidade do projeto, é importante indicar claramente o tipo de complexidade que está sendo discutida (BACCARINI, 1996), com isso, percebe-se que o quadro 2 abaixo, montado por Luo et al. (2017), mostra com clareza quais são os tipos de complexidade que alguns pesquisadores exploram.

Quadro 2 – Tipos de complexidade do projeto Pesquisador (ano) Tipos de complexidade do projeto

Baccarini (1996) Complexidade organizacional (a diferenciação vertical e horizontal, e o grau de interdependências operacionais e interação entre os elementos organizacionais do projeto) e complexidade tecnológica (a variedade ou diversidade de algum aspecto de uma tarefa, e interdependências entre tarefas e equipes).

Maylor (2003) Complexidade organizacional (incluindo número de membros, departamentos, organizações, regiões, nações, idiomas, fusos horários, nível de organização e estrutura de poder); complexidade tecnológica (incluindo tecnologia, sistema de inovação, incerteza de processo ou demanda); e complexidade de recursos (incluindo escala de projetos e tamanho do orçamento)

Geraldi (2008) Na verdade, complexidade (refere-se à complexidade de lidar com uma grande quantidade de informações interdependentes), complexidade da fé (refere-se à complexidade envolvida na criação de algo único ou resolver novos problemas) e complexidade de interação (interfaces entre sistemas ou locais de complexidade)

Girmscheid e Brockmann (2008)

Complexidade de tarefas (densidade de atividade em uma estrutura espacial e temporal), complexidade social (número e diversidade de atores), complexidade cultural (diversidade da mentalidade cultural humana), complexidade operativa (o grau de independência na definição de operações para alcançar certos objetivos) e cognitiva complexidade (o nível de uma pessoa ou grupo)

Remington e Pollack (2007)

Complexidade técnica (interconexão entre múltiplas opções de soluções interdependentes); complexidade estrutural (dificuldade em gerenciar e rastrear o grande número de diferentes tarefas e atividades interconectadas); complexidade direcional (ambiguidade relacionada a múltiplas interpretações potenciais de metas e objetivos); e complexidade temporal (incerteza sobre as restrições futuras, mudança esperada e possivelmente até preocupação com a existência futura do sistema)

Rekveldta et al. (2011)

Complexidade organizacional (incluindo tamanho, recursos, equipe de projeto, confiança e risco); complexidade tecnológica (incluindo metas, escopo, tarefas, experiência e risco); e complexidade ambiental (incluindo stakeholders, localização, condições de mercado e risco)

Senescu et al. (2013)

Complexidade organizacional (multiplicidade organizacional e abertura organizacional), complexidade do produto (número de componentes de construção e nível de detalhe em que os componentes do edifício são considerados pela equipe do projeto) e complexidade do processo (interdependência do processo e conexões causais do processo)

He et al. (2015) Complexidade organizacional (envolve equipe de projeto, estrutura organizacional e várias equipes); complexidade tecnológica (tipo de construção, sobreposição de projetos e obras e dependência de operação do projeto); complexidade do objetivo (vários requisitos do participante do projeto, complexidade da tarefa do projeto e recursos limitados); complexidade ambiental (a complexidade do contexto em que um projeto opera, como o ambiente natural, de mercado, político e regulatório); complexidade cultural (a diversidade da mentalidade cultural humana); e complexidade da informação (comunicação complicada entre um grande número de partes interessadas do projeto sob arranjos contratuais complicados)

Lu et al. (2016) Complexidade organizacional (número e complexidade dos membros da organização e complexidade da estrutura organizacional) e complexidade da tarefa (quantidade e complexidade da tarefa e complexidade da dependência de tarefas)

Nguyen et al. (2015)

Complexidade organizacional (condições contratuais, número de contratos / pacotes de trabalho, coordenação de partes interessadas e planejamento e programação de projetos); complexidade tecnológica (caracterizada pela variedade de tecnologias empregadas e inovação tecnológica do projeto); complexidade sociopolítica (incluindo políticas / procedimentos administrativos, número de leis e regulamentos aplicáveis, experiência local esperada das partes e influência da política); complexidade ambiental (condições climáticas locais, condições geográficas e riscos ambientais); complexidade da infra- estrutura (limpeza e liberação do local, sistemas de transporte e qualificações exigidas dos contratados); e complexidade do escopo (ambigüidade do escopo do projeto e tamanho do projeto em termos de capital)

Fonte: Autoria própria

Embora o quadro 2 tenha apresentado diferentes categorias de complexidade de projeto, verifica-se que existe um consenso geral sobre certas classificações, como

complexidade organizacional (BACCARINI, 1996; REKVELDTA et al., 2011) e complexidade tecnológica (BACCARINI, 1996; REKVELDTA et al., 2011).

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