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CAPÍTULO IV TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

4.4 Sistemas de comunicação das representações sociais

A comunicação é um fenômeno complexo constituído e constitutivo de um conjunto de interações sociais e discursivas, representando o interesse das relações sociais à medida que transforma a ordem da vida cotidiana, criando novos valores, novas formas de interação que constituem as práticas sociais e culturais. As representações sociais difundidas pela comunicação constituem-se em realidades que passam a fazer parte da opinião pública em forma de discurso da atualidade, tornando-se parte do senso-comum. As influências sociais da comunicação no processo das representações sociais servem como meio para estabelecer ligações significativas com as quais nos relacionamos e interagimos uns com os outros. Nesse sentido, a comunicação se coloca como um componente relevante na teoria das representações sociais.

As representações sociais são conjuntos de conceitos, proposições e explicações criadas na vida cotidiana e no decurso da comunicação interindividual. Contribuem exclusivamente para os processos de formação de condutas e de orientação das comunicações

sociais. A comunicação social é considerada como ‘pedra angular’ e fator preponderante para a emersão das representações sociais (Coutinho 2001, 2005; Moscovici 2010, 2012).

Na interdependência entre linguagem e representações sociais, é fundamental estabelecer a relação entre comunicação e representações sociais, pois uma condiciona a outra. Isto é, não se pode comunicar sem que se partilhem determinadas representações e estas quando compartilhadas entram na nossa herança social se tornando objeto de interesse e de comunicação. Dessa forma, diferenciou a comunicação entre três sistemas: difusão, propagação e propaganda (Moscovici, 2012).

A difusão é uma forma de comunicação, que deve ser diferenciada do sentido comum do termo: operação material de distribuição. A concepção que mais se aproxima é a de um ou vários elementos que percorrem caminhos descontínuos internos de diversas estruturas ligadas entre si e que podem ocasionar modificações ou manter a autonomia. O emissor da difusão essencialmente se esforça por um lado estabelecendo uma relação de igualdade, de equivalência entre ele e o seu público e por outro lado, consequentemente se adaptando a ela (Moscovici, 2012).

Dessa forma, esse autor descreve oito traços essenciais da difusão:

(i) a fonte de comunicação não manifesta intenções bem definidas e não possui orientação acentuada; (ii) as comunicações se propõem a influenciar algumas condutas particulares, sem insistir na relação entre comunicação e condutas; estas condutas são de natureza incidente; (iii) o emissor tende a tornar-se a expressão do receptor; (iv) os dois termos da comunicação são definidos de maneira bastante geral, e, por isso mesmo, imprecisa; (v) o receptor – o público-não constitui um grupo altamente estruturado e orientado; (vi) o objeto das comunicações é tratado de tal forma que certa distância é mantida entre o objeto e o emissor da comunicação; o não

emissora e seu público; (vii) as mensagens guardam relativa autonomia em uma mesma fonte, manifestada pela sua descontinuidade; (viii) embora não sendo uma forma de comunicação visando abertamente condutas coletivas, a difusão pode ser eficaz (p.298).

Moscovici (2012) discorre sobre a propagação, como a transmissão de mensagens estruturadas e explícitas, fundamentando-se em um quadro de referências que se revela claramente e torna-se um dos aspectos dessa forma de comunicação. Apresenta algumas características que podem ser identificadas na propagação:

(i) seu campo de atuação é relativamente restrito; (ii) se propõe a integrar um objeto social, a psicanálise, a um quando já existente; (iii) visa a aceitação por todo o grupo de uma concepção dominante em uma de suas partes; (iv) seu objetivo não é provocar uma nova conduta ou reforçar uma conduta existente; trata-se sobretudo de tornar possível uma adequação de comportamentos e normas aos quais os indivíduos aderem; em outras palavras, a comunicação tem como objetivo dotar as condutas atuais ou prováveis de uma significação que não possuíam anteriormente (p.336).

A propaganda é identificada por Moscovici (2012) como reguladora e organizadora. A função reguladora tem como objetivo eliminar o objeto do conflito e a organizadora requer a elaboração adequada do conteúdo das comunicações, a transformação de sua representação em um determinado contexto. O autor cita algumas características que merecem atenção especial:

(i) a propaganda é definida ao mesmo tempo como “manipulação” (instrumentação e como expressão do outro; (ii) as teorias atuais colocam em evidência a natureza do objeto, do problema em questão, mas nos parece indispensável se interessar também pela natureza conflitosa da relações que tornam necessárias a expressão e a

representação do objeto, (iii) ao insistir no fato de que a propaganda conduz à constituição de uma representação, fica claro que é também a organização cognitiva característica desse sistema de comunicação; essa organização específica explica grande parte dos “sintomas” e dos “procedimentos” constatado; (iv) finalmente o objetivo da propaganda - produzir uma conduta, uma ação – é geralmente admitido (p.397).

A autora Jodelet (2001) conhecida universalmente como a propagadora das Representações Sociais, detalhando os princípios de Moscovici explica que a comunicação desempenha um papel fundamental nas trocas e interações que concorrem para a criação de um universo consensual. A incidência da comunicação é analisada em relação ao nível das dimensões das representações associadas à edificação da conduta: opinião, atitude e estereótipo que, conforme a teórica, intervêm nos sistemas de comunicação midiáticos. Assim, classifica-os e conceitua-os: “A difusão é relacionada com a formação de opiniões; a propagação com a formação de atitudes e a propaganda com a dos estereótipos.” (p.30)

Rouquette (1996) contribui para o detalhamento dos conceitos de difusão, propagação e propaganda. A difusão destina-se ao controle da opinião, particularmente às questões de ordem política, depende de uma instituição de poder, aparece em contextos polêmicos onde há confrontos grupais, como exemplo a guerra e a atuação do funcionamento das democracias modernas. A propagação manifesta-se como um mecanismo para regular as atitudes e as crenças de uma população, especialmente quando a estas pessoas são apresentadas novas questões: “um exemplo eclesiástico é a tentativa da igreja católica de assimilar ou interpretar elementos da modernidade, particularmente em relação às questões econômicas e morais”. E a difusão como aquela “que minimiza as diferenças sociais e ideológicas com vistas à união de um grande número de modalidades de pensamento não especializados, a grande circulação de

Nobrega (2003) ao abordar as formas de comunicação, a difusão, a propaganda e a propagação, pontua que estas são identificadas como sistemas indutores das representações, nas quais cada sistema de comunicação é característico aos laços estabelecidos entre o emissor e o receptor, à organização das mensagens e aos comportamentos visados. Para a autora, a difusão, é distinguida pela indiferenciação dos laços entre o emissor e o receptor da mensagem. Este conhecimento é reatado ao significado de opinião, na medida em que esses dois conceitos evocam uma certa descontinuidade e contradição dos temas, resultando na instabilidade e na fluidez das posições assumidas pelos atores sujeitos à difusão.

Diferente da difusão, a propagação requer uma organização maior das mensagens, apresentando-se como um elemento com características similares à concepção de atitude. A autora antes citada esclarece que a atitude pode ser compreendida como uma organização psíquica que tem uma relação (positiva ou negativa) com o objeto: a direção da relação pode manifestar-se por meio de uma série de reações ou por um comportamento global.

Nóbrega (2003) ressalta que a propaganda como uma modalidade comunicativa diferencia-se também das outras modalidades, isto é, da difusão e da propagação. Esclarece que a propaganda constitui-se como uma forma de comunicação de um grupo cuja dinâmica encontra-se assinalada nas relações sociais conflituosas, com intuito de gerar a ação relativa à representação que se faz do objeto de conflito. Esta característica de comunicação, segundo a autora, exige a unidade e a auto-afirmação de um grupo, posicionando-o numa relação de incompatibilidade com o outro grupo.

De acordo com o que foi descrito e com o aporte teórico sobre as formas de comunicação em representações sociais, foi possível apreender como se constitui a realidade a partir da opinião que transforma o senso-comum.