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Capítulo V. Um projeto para o Museu Escolar de Marrazes

5.3 Sistematização de conteúdos

A realização deste projeto iniciou-se, na verdade, quando se verificou a necessidade de recolher algumas memórias escolares que suportassem os objetos expostos na exposição permanente do Museu Escolar.

Apoiada na temática das memórias escolares, encontrou-se a pergunta de partida que veria a suportar todo o estudo: de que modo se podem apresentar as memórias escolares utilizando as TIC?

O Museu Escolar, dadas as suas características espaciais e de recursos humanos e financeiros, não apresenta ao longo da sua exposição permanente recursos tecnológicos que sejam atrativos para o público, pelo que se pensou em incluir um dispositivo tecnológico.

Para o desenvolvimento do projeto foi necessário averiguar o que já se encontra feito na área da memória e deparamo-nos com vários estudos e recolhas, sobretudo no Brasil. Ao visitarmos virtualmente o Centro de Memória e Acervo Histórico e o Centro de Referência em Educação135,

134 A EDIGMA, sedeada em Braga. Ver em: http://www.edigma.com/ 135 Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/mmo.php?t=001

83 em São Paulo no Brasil, deparamo-nos com testemunhos orais das memórias da escola, realizados pelo Memorial da Educação Paulista, com vista a preservar e reconstruir o passado escolar.

No site estão disponíveis 30 entrevistas em vídeo e dez entrevistas em texto que refletem a experiência escolar, desde o pré-escolar até à admissão aos liceus, que contam com o depoimento de ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários.

Esta página WEB apresenta também uma ligação direcionada à memória escolar referente a documentos e manuais escolares, assim como, material de apoio para a realização de projetos desta natureza. Por fim, remete-nos para alguns exemplos de Museus Escolares no Brasil e no mundo, surgindo aí uma referência ao Museu Escolar, em Leiria.

A recolha de memórias orais pode proporcionar a permuta de informação entre os diferentes países, com o fim de suscitar questões relativas à forma como a escola influencia a vida adulta e, principalmente, como suporte à História da Educação.

Para a especificação do projeto procedeu-se à recolha de testemunhos através de entrevistas semiestruturadas que visavam elucidar sobre as características da escola no período de 1930 a 1940, em Portugal. Com estas entrevistas pretendeu-se ter um conhecimento geral deste período da História da Educação, assim como, compreender o contexto escolar na ótica dos alunos. Este procedimento metodológico não pretende estabelecer uma relação causa-efeito, mas considera-se adequado para descrever a complexidade dos sentimentos despertados pelas memórias de escola e a sua influência na vida adulta, tendo-se verificado ao longo das entrevistas que é muito importante estabelecer uma relação com os inquiridos, para que, quando questionados, estes se sintam confortáveis ao falar de assuntos pessoais.

As entrevistas tiveram uma duração média de doze minutos. Sendo esta uma primeira abordagem exploratória, optou-se pela transcrição parcial com vista ao desenvolvimento de testes no protótipo da mesa multitoque.

Neste sentido, realizou-se apenas uma breve análise às respostas obtidas. Verificamos que a escola das pessoas mais velhas era diferente, porque as aulas decorriam na casa da professora ou em espaços alugados. Posteriormente as crianças já se dirigiam ao edifício escolar para frequentarem as aulas. Ao nível dos materiais utilizados pelos alunos pouco mudou sendo referenciados a ardósia, a caneta de aparo, o mata-borrão, o caderno de duas linhas, assim como o livro. No entanto, na sala de aula os bancos corridos deram lugar às carteiras duplas e foram introduzidas as fotografias dos representantes do Estado, assim como foram colocados nas salas de aulas os crucifixos. Na parede

84 estavam expostos os mapas e a secretária do professor, em cima da qual estavam a régua, as orelhas de burro e o livro dos sumários, passou a estar em cima de um estrado de madeira.

A maioria recordava-se dos professores e referiu a relação entre ambos, uns mais austeros e outros mais condescendentes, o que levou à referenciação dos castigos que eram aplicados, sobretudo a reguada, um dos castigos físicos mais referenciado, embora alguns salientassem que nunca sofreram de castigos físicos.

Fica patente a diferença entre o meio rural e a cidade ao nível do vestuário e do calçado. Enquanto uns alunos usavam sapatinhos para ir para a escola, outros referiram que iam descalços, tanto no verão como no inverno, porque não tinham o que calçar. O vestuário também era parco e a bata muitas vezes escondia os rasgões da roupa. Já nas cidades as meninas levavam vestidos feitos pelas mães.

Também se acentuam diferenças nas brincadeiras em que os meninos jogavam ao pião e à bola e as meninas cantavam cantigas de roda, saltavam à corda, jogavam ao lencinho, entre outras brincadeiras.

No que respeita às lembranças da escola e às melhores recordações, a possibilidade de terem ido à escola e de terem, em alguns casos, concluído o ensino obrigatório foi muito importante para a sua atividade profissional. Referenciam igualmente o modo como se vivia, sem stress, e as amizades que se faziam no tempo de escola e que duravam toda a vida.

Os depoimentos prestados revelam-nos características do modo de vida das populações. Embora não constante no roteiro de perguntas, vários entrevistados relataram-nos como era o modo de vida, o que levavam para a escola para comer, as tarefas diárias que tinham de executar para além da escola e as características da sociedade, ao nível das condições económicas e na forma de pensar.

Nestes testemunhos identificaram-se traços importantes do quotidiano dos alunos, da escola e das perceções gerais sobre a escola em Portugal no período de 1930 a 1940.

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