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A Fitossociologia é uma ciência ecológica do ramo da Geobotânica que tem por objeto de estudo as fitocenoses (associações vegetais) bem como as suas relações com o meio terrestre. Constrói uma tipologia hierárquica universal em que a associação é a unidade básica do sistema taxonómico, distinguindo-se atualmente a Fitossociologia Clássica (ao nível da fitocenose) e a Fitossociologia Dinâmico-Catenal, também designada de Fitossociologia Paisagista (ao nível da série e da geossérie), ou seja, as suas unidades de estudo são o

sigmetum, o geosigmetum, o permasigmetum e o geopermasigmetum (Rivas-Martínez 2007).

Esta Ciência baseia-se no pressuposto de que é possível reconhecer unidades discretas de vegetação que se repetem num determinado espaço geográfico. Este conceito foi desenvolvido por Clements (1904, 1905) que considera as associações vegetais como entidades autónomas, discretas em que as espécies que as compõem coexistem num determinado biótopo como resultado, não apenas de comportamentos autoecológicos, mas sobretudo de interações positivas entre as mesmas (Capelo 2003). Clements (1936) considera as associações como um “superorganismo” (Westhoff & van der Maarel 1973). Este paradigma é o oposto do continuum proposto por Gleason (1917) que considera que as espécies se vão sucedendo às outras ao longo de um gradiente sem interações positivas entre elas.

Mais recentemente Austin & Smith (1989) reformulam a hipótese do continuum vegetal conciliando os modelos de comunidade vs. continuum. Assim é possível conceber a coocorrência contínua de espécies ao longo de um gradiente representáveis ou não no espaço ambiental abstrato (hiperespaço cartesiano do habitat) sem que isso implique uma continuidade geográfica (devido às descontinuidades ambientais como por exemplo a litologia) (Capelo 2003). Por outro lado, Čarni et al. (2011) sublinham que a substituição de espécies ao longo de um gradiente está dependente da interação entre espécies, reforçando os pressupostos de Clements sobre a interação positiva entre espécies.

Atualmente é largamente aceite o benefício dos modelos sintaxonómicos na sistematização das biogeocenoses com base em comunidades vegetais, as quais espelham as

diferentes condições bióticas e abióticas que lhes estão subjacentes, bem como os benefícios que daí resultam para a interpretação da paisagem vegetal, a elaboração de modelos de ordenamento do território e de modelos preditivos da dinâmica da vegetação.

Dentro da Fitossociologia distinguem-se três níveis de complexidade crescente, ou seja, três níveis de organização espacial que correspondem a três sistemas metodológicos diferentes mas complementares. Reconhecem-se três níveis de organização espacial (Géhu 1980, Rivas-Martínez 2007):

1- A fitocenose, a qual constitui o objeto de estudo da Fitossociologia Clássica em que a unidade abstrata é a associação;

2- A série de vegetação, a qual constitui o objeto de estudo da Sinfitossociologia (ou Fitossociologia Dinâmica) sendo o sigmetum ou sinassociação a unidade abstrata; 3- A geossérie, constituindo esta o objeto de estudo da Geossinfitossociologia (ou

Fitossociologia Catenal) em que o geosigmetum é a unidade abstrata.

A unidade básica em Fitossociologia Clássica é a associação, que se caracteriza pela sua especificidade florística, ecológica, biogeográfica, sucessional, histórica e antropogénica. Sendo uma associação uma combinação específica de espécies características e diferenciais (combinação característica) é portadora de uma importante informação genética, situa-se num determinado contexto ecológico, tem uma circunscrição geográfica precisa e contribui para definir um biótopo singular. Assim, a associação está correlacionada com um biótopo concreto numa etapa estruturalmente estável de uma sucessão ecológica.

As associações são agrupadas em unidades superiores, de acordo com uma ordem hierárquica crescente, em alianças, ordens e classes, cujos sufixos latinos são, respetivamente, -ion, -etalia, -etea. A designação destes sintáxones obedece a regras muito precisas expressas no “Código de Nomenclatura Fitossociológica” (Barkman et al. 1986 cit. in McIntosh 1978, Weber et al. 2000). Este sistema classificativo admite ainda subassociações, subalianças, subordens e subclasses com os sufixos -etosum, -enion, -enalia, -enea, respetivamente. Dentro das associações podem ainda reconhecer-se variantes e faciações que, não sendo categorizadas no Código de Nomenclatura Fitossociológica, são de grande utilidade na interpretação e explicação de variações florísticas locais que ocorrem nas associações.

Em 1913, Braun-Blanquet & Furrer concentraram a sua atenção no conceito de associação, em 1915 introduziram o conceito de espécies características e foi em 1918 que Braun-Blanquet acrescentou o conceito de subassociação como um desvio à associação típica representado por uma diferença florística constante. Em 1921, Braun-Blanquet sistematizou os principais conceitos, nomeadamente o conceito de espécie diferencial (Westhoff & van der Maarel 1973).

Nem todas as espécies têm o mesmo índice de fidelidade e sociabilidade nem o mesmo significado ecológico e histórico, distinguindo-se assim as espécies características, companheiras e diferenciais. Braun-Blanquet, em 1951, consolida a definição das espécies

comunidades e das espécies diferenciais como sendo aquelas que se apresentam apenas numa de duas ou mais comunidades semelhantes (clarificando assim determinadas diferenças bióticas, edáficas, microclimáticas ou genéticas). Estas últimas são muito importantes, por exemplo, na definição de subassociações. As espécies que, não sendo características de uma determinada associação (porque estão presentes simultaneamente em muitas associações), integram o seu elenco florístico, são denominadas de espécies companheiras (Braun-Blanquet 1979).

O estudo fitossociológico das comunidades vegetais é constituído por uma primeira etapa (analítica) que consiste na realização dos inventários fitossociológicos de acordo com a homogeneidade florística e ecológica (ou seja, garantindo-se que abrange uma área em que não há variação das variáveis ambientais) e utilizando o conceito de área mínima (área a partir da qual não se regista mais nenhuma espécie nova). Durante a realização do inventário registam-se as espécies observadas com um índice de abundância-dominância:

r - Indivíduos raros ou isolados

+ - Indivíduos pouco frequentes, com muito fraca cobertura 1 - Indivíduos bastante abundantes mas de fraca cobertura

2 - Indivíduos muito abundantes ou cobrindo, pelo menos, 1/20 da superfície 3 - Qualquer número de indivíduos ou cobrindo, pelo menos, 1/4 a 1/2 da superfície 4 - Qualquer número de indivíduos ou cobrindo, pelo menos, 1/2 a 3/4 da superfície 5 - Qualquer número de indivíduos ou cobrindo mais de 3/4 da superfície

Como as comunidades podem ser formadas por vários estratos, o grau de cobertura no seu total não pode ultrapassar os 100%.

A segunda fase, denominada de sintética, permite apurar quais os inventários que pertencem à mesma associação, através da comparação e ordenação dos inventários. Desta fase resultam as tabelas fitossociológica definitivas que reúnem os inventários de uma determinada associação e apresentam a combinação florística característica da mesma e respetivos graus de abundância-dominância.

A sucessão ecológica é um processo contínuo e dinâmico das comunidades em função do tempo e dos fatores biofísicos do território. A teoria subjacente a este conceito foi recentemente sintetizada por Rivas-Martínez et al. (2002a,b) e Rivas-Martínez (2007). É possível observar uma sequência de comunidades que se substituem umas às outras, a qual se denomina série de vegetação ou sigmetum. A série é assim a unidade tipológica abstrata da Sinfitossociologia e expressa o conjunto de comunidades vegetais ou estádios de vegetação que se podem desenvolver em espaços tesselares semelhantes como resultado do processo de sucessão, o que inclui a associação que representa a etapa madura, clímax ou cabeça de série e as associações iniciais ou subseriais que a representam. A designação da série de vegetação é efetuada com o nome da associação climácica substituindo o sufixo -etum pelo sufixo -eto e terminando com o termo “sigmetum”.

Distinguem-se as séries climatófilas (aquelas que se desenvolvem em solos maduros e que estão em equilíbrio com as condições climáticas que definem o andar bioclimático em que estão inseridas) e edafófilas (as quais podem ser edafoxerófilas, quando se encontram em solos erodidos ou sujeitos a grande secura, nomeadamente em topos de montanha, encostas abruptas, etc., ou edafo-higrófilas, quando se encontram em solos ou biótopos especialmente húmidos como é o caso de terraços fluviais, zonas ripícolas, etc.).

É importante ainda distinguir, das séries, as faciações de vegetação. Estas designam o conjunto de estádios ou comunidades vegetais que divergem do sigmetum habitual devido a certas particularidades edáficas ou climáticas. Constituem, assim, variações da sequência típica da série de vegetação.

As comunidades vegetais que ocupam tesselas ou mosaicos tesselares muito particulares como altas montanhas, dunas, turfeiras, margens de lagoas, em que a etapa madura corresponde a uma associação vivaz estável, geralmente pouco estratificada e que não tem comunidades seriais vivazes, constituem o permasigmetum.

Uma sucessão espacial de séries de vegetação tem a denominação de geossérie e constitui a unidade abstrata da Fitossociologia Catenal. Este é o terceiro nível de organização espacial ou de complexidade. A organização das comunidades vegetais que ocorrem ao longo de um gradiente ecológico (temperatura, humidade, altitude, etc.) denomina-se catena (Rivas-Martínez 2007).

A geossérie ou geosigmetum é a expressão catenal das séries de vegetação que se encontram em contacto e que se organizam no espaço em função de um determinado gradiente ecológico (topografia, humidade, etc.), dentro de um distrito biogeográfico concreto e numa determinada unidade geomorfológica de paisagem (vale, montanha, etc.). É assim constituída pelas séries contíguas que se dispõem ao longo de um gradiente ambiental (o qual se sobrepõe ao mesoclima), sendo possível distinguir por exemplo, geosséries edafo-higrófilas (em que o gradiente ambiental é a humidade edáfica nas proximidades das linhas de água).

O estudo das geosséries é particularmente interessante no que diz respeito à vegetação edafoxerófila e edafo-higrófila que contacta com a vegetação climatófila num determinado território biogeográfico e que contribuirá para afinar a delimitação das unidades bioclimáticas e biogeográficas atuais, contribuindo ainda a para previsão de modelos de vegetação teóricos em função, por exemplo das mudanças climáticas expectáveis. Contudo, o conceito de geossérie não se estende a microcatenas de vegetação

microgeosigmetum, ou geopermasigmetum, que ocupam áreas muito reduzidas ou estão

condicionadas por condições climáticas, topográficas ou edáficas particulares, como margens de linhas de água permanentes, lagos, fissuras de rochas, turfeiras, dunas móveis, etc. Estas comunidades são permanentes, pouco estratificadas e parece ser esse o seu equilíbrio dinâmico, por isso, não se pode aplicar o conceito de etapa madura como acontece com os

2.3 Recolha de dados

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