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Situação de risco e relação da ameaça sofrida com a colaboração

3.4 REQUISITOS PARA INGRESSO E PERMANÊNCIA NO PROGRAMA

3.4.1 Situação de risco e relação da ameaça sofrida com a colaboração

De acordo com a lei de proteção em seu artigo 1º as medidas de proteção em casos de vítimas ou testemunhas que estejam coagidas ou sofrendo grave ameaça, serão prestadas pelo Estado (BRASIL, 1999). Na mesma lei o artigo 2º (BRASIL, 1999) determina que deverá ser levada em conta a gravidade da coação ou ameaça, e a dificuldade de preveni-las ou reprimi-las pelos meios convencionais, esse requisito nada mais é do que a situação de risco da pessoa ameaçada. Barros corrobora e completa dissertando que a situação de risco deve ser atual, conforme segue:

Situação de risco. A pessoa deve estar “coagida ou exposta a grave ameaça” (art. 1º, caput). Obviamente não é necessário que a coação ou ameaça já se tenha consumado, sendo bastante a existência de elementos que demonstrem a probabilidade de que tal possa vir a ocorrer. A situação de risco, entretanto, deve ser atual. (BARROS, 2006, p. 181, grifo do autor).

Os artigos 1º e 2º da lei (BRASIL, 1999) dissertam, ainda, sobre a importância das informações para a produção da prova, ou seja, o depoimento dessa pessoa tem que colaborar com o processo, tem que ser relevante. No entanto, não basta estar ameaçada e ter um depoimento relevante, essa situação de risco vivida tem que ter uma relação com a colaboração no esclarecimento do crime. Barros utiliza a expressão “Relação de causalidade”:

Relação de causalidade. A situação de risco em que se encontra a pessoa deve decorrer da colaboração por ela prestada a procedimento criminal em que figura como vítima ou testemunha (art. 1º, caput). Assim, pessoas sob ameaça ou coação motivadas por quaisquer outros fatores não comportam ingresso nos programas. (BARROS, 2006, p. 181, grifo do autor).

Nesse diapasão, Silveira (2004, p.79) traz que se a pessoa ameaçada não tiver informações que contribuam para o esclarecimento do crime, mesmo estando ameaçada não terá a proteção pretendida. O mesmo autor disserta sobre a necessidade de definir o grau de risco sofrido para que seja proferida a decisão de ingresso ou não no sistema, conforme segue:

Definir o efetivo grau de risco que está correndo o futuro protegido é, por conseguinte a primeira tarefa da Equipe Técnica e posteriormente, do Conselho Deliberativo para deferir ou indeferir o ingresso do requerente no Provita. Na entrevista inicial, ou mesmo no primeiro contato com a testemunha, a Equipe Técnica faz um relatório e, a partir deste relatório, emite um parecer técnico, documento que será analisado pelo Conselho Deliberativo, no instante em que se reunir para deliberar sobre a possibilidade ou não de aprovação de ingresso daquele pretendente. (SILVEIRA, 2004, p. 79).

Silveira completa trazendo que a questão principal a ser analisada previamente é o risco de vida que o indivíduo está correndo. Inclusive porque cabe salientar que as pessoas ameaçadas não ficam desamparadas enquanto aguardam a decisão para ingresso no programa, conforme Barros (2006, p. 180) que disserta “Em situações emergenciais, a vítima ou testemunha é colocada provisoriamente sob custódia dos órgãos policiais, enquanto é feita a triagem do caso”.

Costa (2011) traz uma questão importante, sendo que a regra para ocorrer a proteção é que seja preenchido o requisito do prévio parecer do Ministério Público analisando a existência dos fundamentos básicos para a proteção. Contudo, em casos excepcionais como o exposto acima, a manifestação do Ministério Público pode ser posterior, mas continua sendo necessária. Nessas situações deverá haver uma comunicação ao órgão ministerial, o qual, ao recebê-la, fará, desde logo, seu parecer, não necessitando para tanto, aguardar uma provocação formal do Conselho Deliberativo.

Leão e Ferreira fazem uma crítica a essa prática de colocar a vítima ou testemunha sob custódia dos órgãos policiais:

Nesse contexto, a testemunha é trasladada para local seguro, circunstância em que há uma interface com a força policial. Na maioria das vezes, esse é um momento de extrema ansiedade, regido pelo temor e praticado por policiais, que, sem capacitação para lidarem com essa realidade, muitas vezes tratam a testemunha como um criminoso encarcerado. (LEÃO; FERREIRA, 2011, p. 4).

Outro ponto importante consta no parágrafo primeiro do artigo 2º da lei, que “a proteção poderá ser dirigida ou estendida ao cônjuge ou companheiro, ascendentes, descendentes e dependentes [...]” e completa que isso só ocorrerá com pessoas que convivam habitualmente com o protegido conforme necessidade a ser analisada em cada caso concreto (BRASIL, 1999).

Pannunzio (2001, p. 175) citado por Silveira (2004, p.80) disserta que para a decisão de ingresso ou não, as Equipes Técnicas devem tentar responder a seguinte pergunta: “Qual a probabilidade de que as ações contidas nas ameaças venham a ser concretizadas por seu autor?”, Silveira (2004, p. 80-81) ensina que para responderem devem utilizar a experiência que possuem em conjunto com o treinamento recebido, além de investigarem o quão consistente é essa ameaça, as provas materiais dos fatos, vinculação direta com outras causas, se foi presenciada situação por terceiros, etc. E, completa dizendo ser necessária em conjunto uma análise do perfil do agressor, verificando se este faz parte do crime organizado, situação financeira, nível intelectual, antecedentes criminais, etc., isso com muita cautela, pois, se o agressor souber da investigação pode concretizar as ameaças feitas a vítima ou testemunha. Outro requisito importante segundo o mesmo autor é referente ao crime do qual é vítima ou testemunha, assim se manifesta:

Além desses aspectos, é fundamental um exame do crime sobre o qual a pessoa possui informações. Naturalmente, crimes de maior gravidade (homicídios, por exemplo) e/ou qualquer que são perpetrados por grupos organizados (tráficos de entorpecentes, por exemplo) trazem consigo uma dose extra de perigo às pessoas que contra eles resolvem testemunhar. Esta constatação, contudo, não pode servir para desprezar o alto grau de periculosidade que, eventualmente, outras ofensas consideradas ‘menos graves’ – vide as situações de violência doméstica, entre outras – representam às suas vítimas ou testemunhas. (PANNUNZIO 2001, p. 176 apud SILVEIRA 2004, p. 81, grifo do autor).

Além da análise do crime, deve ser observada a vulnerabilidade da pessoa interessada em ingressar no programa, nos aspectos como residir na mesma cidade ou bairro que o agressor, ou ainda se é uma pessoa pública, etc., de acordo com Silveira (2004, p.79).

Continua o autor ensinando que além dos requisitos apresentados, há necessidade de que a vítima ou testemunha esteja disposta a colaborar com o processo criminal ou investigação, ajudando a esclarecer o crime, e deve fazê-lo de forma concreta, sendo analisada a importância do depoimento dos interessados em participar do programa, conforme segue:

O conjunto probatório, com as informações a serem prestadas pelo protegido, precisa robustecer-se, a ponto de representar um ganho para a sociedade que justifique o investimento demandado na sua proteção. (SILVEIRA, 2004, p. 82).

De acordo com Costa (2011, p. 27) a colaboração deve ser efetiva, capaz de proporcionar a revelação de um delito, o deslinde da autoria ou o fortalecimento da prova anteriormente colhida. Silveira (2004, p. 83) completa que a importância da prova testemunhal deve ser avaliada adequadamente, pois, não é possível submeter alguém as regras rígidas do programa por meras informações complementares, cabendo ao promotor de justiça decidir sobre a imprescindibilidade da prova para o esclarecimento do crime. Tendo em vista que as regras do programa são rígidas, e o protegido precisa ter personalidade e conduta compatíveis, além de estar em situação de risco e colaborar com o processo:

Em síntese, pois, pode-se apontar como potenciais beneficiários do programa as pessoas que se encontrem em situação de risco decorrente da colaboração prestada a procedimento criminal em que figuram como vítima ou testemunha, que estejam no gozo de sua liberdade e cuja personalidade e conduta sejam compatíveis com as restrições de comportamento exigidas

pelo programa, ao qual desejam voluntariamente aderir. (BARROS, 2006, p. 182).

Dessa forma, a personalidade e conduta do futuro protegido, devem ser compatíveis com as restrições impostas pelo programa.