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Programa de proteção a vítima e às testemunhas ameaçadas (Provita)

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Academic year: 2021

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ROSILDA OURIQUES PEREIRA

PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS (PROVITA)

Palhoça 2012

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ROSILDA OURIQUES PEREIRA

PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS (PROVITA)

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Aldo Nunes da Silva Júnior, Esp.

Palhoça 2012

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ROSILDA OURIQUES PEREIRA

PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS (PROVITA)

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 04 de junho de 2012.

_________________________________________ Professor e orientador Aldo Nunes da Silva Júnior, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Prof. Adão Daniel da Silva

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Prof. João Batista da Silva

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS (PROVITA)

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 04 de junho de 2012.

_____________________________________ ROSILDA OURIQUES PEREIRA

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Dedico este trabalho aos meus pais, por serem os alicerces da minha vida.

A minha filha por ser meu incentivo.

Aos meus irmãos por todo apoio, confiança e estímulo.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por estar sempre presente na minha vida e mostrar o caminho certo a seguir.

A minha mãe Ivonete Ouriques Pereira, dona de todo amor, dedicação e companheirismo, por ser minha base, meu porto seguro, e por contribuir com todos os esforços possíveis para ajudar sempre.

Ao meu pai Adenicio Pedro Pereira, por ser meu maior exemplo de dignidade e honestidade, um batalhador admirável, que muito me ensina com sua dedicação ao trabalho e esperança de dias melhores. Além de ser o verdadeiro herói da nossa família.

A minha filha linda Nátaly Ouriques Machado, por me fazer sentir esse amor excepcional e me alegrar com seu sorriso encantador. Por ser meu incentivo, e mostrar que vale a pena lutar incansavelmente por um futuro melhor.

Aos meus irmãos Rosimario Ouriques Pereira e Reinaldo Ouriques Pereira por todo apoio e confiança, por acreditarem no meu potencial e pelo estímulo que inclusive resultou na minha aprovação na prova da OAB.

Ao meu orientador, professor Aldo Nunes da Silva Júnior, pela atenção, dedicação e confiança.

A todos os professores do Curso de Direito, os quais fizeram parte da minha trajetória nesses anos, por todo conhecimento e atenção compartilhados.

Aos colegas de sala e faculdade por todo companheirismo, inúmeros momentos de alegria que serão sempre lembrados, e por todo apoio. Especialmente a Maria Goretti sempre atenciosa e disposta a ajudar, e a Amanda Mendes que colaborou grandemente na minha trajetória acadêmica, inclusive na elaboração deste trabalho.

Aos amigos Lenon Ludgerio e Paulo Cesar pelos momentos de amizade, companheirismo e alegria.

As amigas Mayara Corrêa Nunes e Priscylla Ingrid Schwinden por contribuírem comigo na faculdade, além de serem grandes amigas na minha vida pessoal. Por todo apoio, pelas conversas e momentos excelentes, e por serem essas pessoas maravilhosas que quero sempre ter ao lado.

A Vanessa Preuss Luz, por ser uma grande amiga e por me ajudar a concluir este trabalho.

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RESUMO

É dever do Estado garantir a segurança de vítimas e testemunhas ameaçadas em decorrência de crimes, o que é normatizado através do Programa de Proteção a Vítima e Testemunhas Ameaçadas (PROVITA), uma política pública que visa garantir a proteção a vida, a integridade física e psicológica de tais pessoas. Identificar a eficiência do citado programa é de fundamental importância, visando resguardar as pessoas envolvidas e a concretização do pleno exercício do poder judiciário. A legislação aplicável é a Lei nº 9.807/99, que regulamenta o PROVITA, regrando desde a solicitação do interessado em ingressar no programa, passando pelas restrições impostas, a estrutura e funcionamento do programa e a exclusão do protegido. Impende se destacar as ações do PROVITA na efetiva proteção das pessoas participantes do programa, dirigidas ao combate à impunidade e à criminalidade. Neste norte, há diversos problemas enfrentados pelo PROVITA, inclusive restrições orçamentárias que prejudicam a efetivação da referida política pública. Constata-se ainda, diversas barreiras na obtenção de dados para verificação da questão, principalmente em decorrência do sigilo exigido para preservação da segurança dos protegidos. Nada obstante a tais embaraços, o programa é eficiente no que se propõe a fazer; no entanto, deve ser melhorado de maneira a trazer maior sensação de segurança para a sociedade, principalmente para os envolvidos. Ações como a divulgação e conscientização da sociedade em relação ao programa, capacitação dos agentes que lidam com os protegidos, maior repasse de verbas e disponibilidade de dados concretos pelos Órgãos responsáveis são sugeridas para o aperfeiçoamento do PROVITA.

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LISTA DE SIGLAS

CCR – Centro de Apoio Operacional Criminal CP- Código Penal

CPP – Código de Processo Penal

CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 GAJOP – Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil ONG – Organização não-governamental

PROVITA – Programa de Proteção a Vítima e às Testemunhas Ameaçadas SEDH – Secretaria Especial dos Direitos Humanos

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

2 PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS... 11

2.1 VÍTIMA E TESTEMUNHA... 11

2.1.1 Da ameaça sofrida pela vítima e testemunhas... 12

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS... 14

2.3 PRINCÍPIOS... 16

2.3.1 Princípio da legalidade... 17

2.3.2 Princípio do devido processo legal... 18

2.3.3 Princípio da verdade real... 18

2.3.4 Princípio da oralidade... 19

2.3.5 Princípio da publicidade... 20

2.3.6 Princípio da dignidade da pessoa humana... 21

2.3.7 Princípio do livre convencimento do juiz... 23

2.4 IMPORTÂNCIA DA PROVA TESTEMUNHAL DO PROTEGIDO NO COMBATE A IMPUNIDADE E CRIMINALIDADE... 23

3 PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS... 28

3.1 ORIGEM E FUNÇÃO DO PROVITA... 29

3.2 LEI Nº. 9.807/99 E O SEU OBJETIVO... 31

3.3 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO... 31

3.3.1 Órgãos atuantes na proteção da vítima e testemunhas ameaçadas... 32

3.4 REQUISITOS PARA INGRESSO E PERMANÊNCIA NO PROGRAMA... 37

3.4.1 Situação de risco e relação da ameaça sofrida com a colaboração... 39

3.4.2 Personalidade e conduta de acordo com as regras do PROVITA... 43

3.4.3 Anuência ao PROVITA... 45

4 DA PROTEÇÃO APÓS O INGRESSO NO PROVITA... 48

4.1 RESTRIÇÕES IMPOSTAS À LIBERDADE DO PROTEGIDO... 53

4.1.1 Exclusão do protegido... 54

4.2 EFICIÊNCIA DO PROVITA... 57

4.2.1 Eficiência na segurança do protegido... 60

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5 CONCLUSÃO... 74 REFERÊNCIAS... 77

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1 INTRODUÇÃO

Diante da crescente quantidade de crimes difundidos nos dias atuais e a necessidade de uma efetiva persecução criminal, percebeu-se a necessidade de verificar se o Programa de Proteção a Vítima e às Testemunhas Ameaçadas (PROVITA) é de fato eficiente. Este programa visa proporcionar segurança às vítimas e testemunhas, pessoas aptas a contribuir com a elucidação do caso, o que somente ocorrerá se não tiverem receio de represálias por parte dos criminosos.

A pesquisa foi motivada diante da relevante temática e pelo desconhecimento da sociedade acerca do Programa de Proteção a Vítima e às Testemunhas Ameaçadas. Diante da desinformação, muitas pessoas que poderiam colaborar para desvendar algum crime não o fazem por medo dos criminosos, justamente por desconhecerem a existência do programa ou sua eficiência.

Justifica-se também a importância do presente estudo por acreditar que um programa desta natureza, se empregado de forma eficiente, é capaz de colaborar no alcance da justiça e no combate à impunidade e à criminalidade.

Para tanto, serão abordados os direitos fundamentais e os princípios constitucionais norteadores, demonstrando, em seguida, o papel atinente ao Estado relativamente às vítimas e testemunhas ameaçadas.

Posteriormente, será tratado especificamente sobre o Programa de Proteção a Vítima e às Testemunhas ameaçadas, com destaque a sua norma regulamentadora (Lei nº 9.807/99).

Por fim, analisar-se-á a eficiência do Programa de Proteção a Vítima e às Testemunhas Ameaçadas.

O método de abordagem utilizado será o dedutivo, partindo do geral, que é a proteção devida por parte do Estado às vítimas e testemunhas ameaçadas para, ao final, analisar a eficiência do programa inerente. A técnica utilizada é a bibliográfica, com fulcro na legislação e na doutrina.

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2 PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS

A proteção a vítima e às testemunhas é necessária na ocorrência de determinados crimes, quando a vítima sobrevive ou há alguma testemunha que possa identificar o criminoso, ou prestar algum tipo de declaração que possibilite esclarecer o crime. Geralmente essas pessoas são ameaçadas e devido as represálias sofridas por elas e seus familiares ficam em silêncio. Essas vítimas e testemunhas ameaçadas escolhem o silêncio para sobreviverem, temendo por suas vidas perante a omissão por parte do Estado.

2.1 VÍTIMA E TESTEMUNHA

Segundo Cândido Furtado Maia Neto, no ano de 1985 surgiu a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça para as Vítimas de Delitos e Abuso de Poder, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Essa Declaração definiu claramente o conceito de vítima, qual seja:

[...] “entendem-se por ‘vítimas’ as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado-membro, incluindo aos que proíbem abuso de poder”. (MAIA NETO, p. 953, apud BARROS, 2001, p. 188).

É necessário trazer conceitos tanto de vítima quanto de testemunha, pois ambas são objetos de estudo dessa monografia. Sobre o tema, esclarece Juliana Schneider da Costa:

Tem-se que, no processo penal, a apuração de fatos tipificados como crimes, em regra, decorre das declarações de pessoas que sofreram a lesão (as vítimas) e das que presenciaram ou tiveram conhecimento dos fatos (as testemunhas). (COSTA, 2008, p. 11).

De acordo com Antonio Scarance Fernandes (2002, p. 76) citado por Messias José Lourenço (2011, p. 6), “testemunha é pessoa que presta declarações a respeito de um fato de que tem conhecimento, ou, ainda, sobre aspectos ligados à determinada pessoa”.

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Conforme entendimento de Antonio Milton de Barros (2001, p. 76), a testemunha é aquela que vai a juízo declarar seus conhecimentos acerca dos fatos do litígio.

Para Fernando da Costa Tourinho Filho (2004, p. 528), “testemunhas são terceiras pessoas que comparecem perante a Autoridade para externar-lhe suas percepções sensoriais extraprocessuais: o que viu, o que ouviu etc.”.

Nesse diapasão, Vicente Greco Filho (2010, p. 222), expõe que “Testemunha é a pessoa desinteressada que presta depoimento sobre os fatos pertinentes e relevantes do processo”.

O mesmo autor ainda diferencia testemunha das demais pessoas ouvidas, como o ofendido, por exemplo, sendo que a testemunha é aquela que presta compromisso e depõe sob pena de falso testemunho, enquanto o ofendido não tem o dever de falar a verdade (GRECO FILHO, 2010, p. 22).

Porém, mesmo sem ter o compromisso de falar a verdade, pode ser imputado ao ofendido o crime de denunciação caluniosa, previsto no artigo 339 do Código Penal (BRASIL, 1940).

Dos conceitos acima expostos, tem-se que tanto a vítima quanto a testemunha podem contribuir muito para o esclarecimento dos fatos e circunstâncias dos crimes, sendo, portanto, indispensável a oitiva dessas pessoas. No entanto, quando ameaçadas, na maioria das vezes se esquivam de falar sobre os fatos dos quais tem conhecimento.

2.1.1 Da ameaça sofrida pela vítima e testemunhas

As vítimas e testemunhas ameaçadas sentiam-se acuadas, com medo das represálias sofridas por si ou pelos seus familiares, e deste modo calavam-se perante os criminosos, abstendo-se de colaborar no combate a criminalidade. Essas pessoas submetiam-se a “lei do silêncio”, por falta de um amparo por parte do Estado que tem o dever de proteger, mas que se omitia, deixando de protegê-las, permitindo que se sentissem chocadas, traumatizadas e amedrontadas. Conforme Jacqueline Nobre Farias Leão e Ruth Vasconcelos Lopes Ferreira:

A longa trajetória de vitimizações a que é submetida a testemunha é iniciada no momento em que esta presencia um crime. Na maior parte das vezes, são crimes violentos, traduzidos em imagens chocantes. Haverá,

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sempre, o trauma provocado por essa visão. (LEÃO; FERREIRA, 2011, p.3).

Porém, apesar de se sentirem amedrontadas, as testemunhas têm o dever de testemunhar. Quanto a isso, os ensinamentos de Fernando Capez:

Como regra geral, as pessoas têm o dever de testemunhar (vide arts. 342 do CP e 206 do CPP). Se, intimada, a testemunha não comparece sem justificável motivo, o art. 218 autoriza a sua condução coercitiva por determinação do juiz, a par de sujeitar-se a um processo crime por desobediência. (CAPEZ, 2008, p. 349, grifo do autor).

No mesmo sentido, têm-se os ensinamentos de Greco Filho, que inclui ainda, a obrigação do ofendido em prestar esclarecimentos sob pena de ser conduzido coercitivamente:

A testemunha ou o ofendido que, intimados, não comparecerem, serão conduzidos coercitivamente pela autoridade policial ou por oficial de justiça, imediatamente ou em nova data marcada pelo juiz, sem prejuízo das penas e pagamento de multa e das custas da diligência. Nas penas do não comparecimento também incide a testemunha que não comunicar o juiz, depois de arrolada, dentro de 1 ano, a mudança de residência. (GRECO FILHO, 2010, p. 226).

A obrigação da testemunha em prestar depoimento está no artigo 206 do CPP (BRASIL, 1941), e a do ofendido no artigo 201 do mesmo código (BRASIL, 1941).

De acordo com José Carlos G. Xavier de Aquino (1995, p.81), o direito do Estado de obrigar o indivíduo a prestar testemunho e aplicar-lhe punição caso ele não compareça em juízo, negue a verdade ou faça afirmação falsa decorre de o Estado cumprir seu papel aplicando a lei para proporcionar aos cidadãos um perfeito convívio social, e, sendo assim, em retribuição o indivíduo não deve furtar-se de comparecer em juízo esclarecendo os fatos correlatos com o processo e úteis para a solução do caso.

Sérgio Ricardo de Souza (2009, p. 208-209), fala ainda sobre a necessidade de identificação (qualificação) da testemunha que está apresentando-se a depor, mas também alerta sobre os riscos que isso pode trazer a testemunha, pois o réu ou pessoas a ele ligadas podem querer eliminar a prova, seja ceifando a vida da testemunha ou ameaçando-a, entre outros meios de coação. Ressalta-se

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também que esta insegurança está presente principalmente em crimes de natureza mais grave, como no tráfico, por exemplo, sendo que este fator dificulta cada vez mais o aparecimento de testemunhas dispostas a contribuir com o esclarecimento dos fatos.

O artigo 201 do CPP (BRASIL, 1941), que trata da obrigação do ofendido em prestar declarações, no seu parágrafo sexto, determina que o juiz em casos de necessidade, visando preservar a intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido pode determinar segredo de justiça no que se refere a dados, depoimento prestado, e outras informações, tomando medidas necessárias para evitar a exposição do ofendido aos meios de comunicação.

Damásio de Jesus (2010, p. 214), ao comentar esse artigo do CPP, complementa “De ver que a Lei n. 9.807, de 1999, que regula a proteção a testemunhas e a réus colaboradores, também se aplica as vítimas sujeitas a ameaças ou risco pessoal”.

Conforme Leão e Ferreira (2011, p.4), “De maneira geral, a testemunha se encontra em situação de risco de vida, em que é necessário tomar medidas rápidas e ágeis para proteção imediata”.

Trata-se aqui de vítimas e testemunhas que têm o dever de prestar esclarecimentos, mas que de alguma forma estão sendo coagidas, ameaçadas para que não o façam. Nesses casos, é necessário que sejam observados os direitos fundamentais e alguns princípios inerentes.

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os Direitos Fundamentais do homem são garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), que em seu preâmbulo já deixa claro seus objetivos, sendo que dentre eles estão os de instituir um Estado Democrático, visando assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, tais como, liberdade, segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade e justiça.

Norberto Bobbio (2004, p.223), disserta que “O reconhecimento e a proteção dos direitos do homem são a base das constituições democráticas [...]”, e completa mais adiante dizendo que a falta de reconhecimento e proteção aos direitos do homem fazem com que inexista democracia e condições de solução pacífica de conflitos.

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Em seu Título II, Capítulo I, a CRFB/88 (BRASIL, 1988) trata dos Direitos e Garantias Fundamentais, e no caput do seu artigo 5º garante a igualdade de todos perante a lei e a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade.

Segundo Ricardo Cunha Chimenti e outros (2010, p. 99), o direito à vida é o direito fundamental mais importante, pois, sem ele não há razão para os demais direitos. Os autores sustentam que o direito à vida é condição essencial para exercício dos demais, como a liberdade, propriedade, segurança, etc.

Os mesmos autores ainda completam dissertando sobre a abrangência do direito à vida:

O direito à vida abrange o direito de não ser morto (direito de não ser privado da vida de maneira artificial; direito de continuar vivo), o direito as condições mínimas de sobrevivência e o direito a tratamento digno por parte do Estado. (CHIMENTI, et al., 2010, p. 99).

Esses direitos à vida, de não ser morto e de tratamento digno, chamam o Estado a fornecer segurança, visando preservar a integridade física e a vida das pessoas. Chimenti e os outros autores (2010), afirmam que decorrente desse direito de tratamento digno, o Estado tem o dever de prestar uma garantia, que é a integridade física.

E, de acordo com o exposto, é possível afirmar que pelo menos a princípio, a proteção se dá no sentido de preservar a integridade física da vítima e testemunhas ameaçadas, já que são sujeitos de direitos, e devem ter assegurados por parte do Estado o direito à dignidade, à vida, à liberdade, à integridade física, entre outros. Sendo que geralmente há sério risco de eliminação de prova, principalmente testemunhal.

As vítimas e testemunhas ameaçadas sentiam-se privadas de seus direitos fundamentais que não eram respeitados, e tinham medo de se expor, pois, seus direitos a vida e a segurança estavam em risco, a vida dessas pessoas estava à mercê da vontade dos criminosos. Mariane Cristine da Silva Souza (2011) traz que a segurança prevista no artigo 5º da CRFB/88 (BRASIL, 1988) é o dever que o Estado tem de “prevenir a sociedade de algo ilícito; direito se sentirem confortáveis, tranquilos, sem medo e ameaças constantes”.

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O direito à segurança é previsto não só no artigo 5º da CRFB/88 (BRASIL, 1988) como um direito individual e fundamental, mas também no artigo 6º como um direito social, que, no entanto, não era devidamente garantido pelo Estado. Esse direito previsto no artigo 6º da CRFB/88 (BRASIL, 1988) compreende estar afastado de qualquer perigo e ter seus direitos constitucionais garantidos, conforme se verifica: “Direito à segurança: direito ao afastamento de todo e qualquer perigo e garantia de direitos individuais, sociais e coletivos.” (BRASIL, 2012).

De todo o exposto, tem-se que da obrigação de testemunhar, da violação aos direitos fundamentais e sociais previstos na CRFB/88 e dos riscos trazidos à vítima e testemunhas ameaçadas surgiu a preocupação com a proteção dessas pessoas e a necessidade de amparo por parte do Estado.

Conforme Bobbio (2004, p. 43) “o problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los”.

O mesmo autor ainda completa:

Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garantí-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados. (BOBBIO, 2004, p. 46).

Greco Filho (2010, p. 11), disserta ainda, que há direitos consagrados na CRFB/88, fazendo-se presumir a existência de direitos básicos da pessoa humana, os quais se pode dizer que pairam acima do Estado, pois este tem o dever de garantir esses direitos.

Dessa forma, era necessária alguma medida que de maneira eficiente não permitisse a violação dos direitos fundamentais, protegendo-os. De modo que as vítimas e testemunhas ameaçadas pudessem ter a convicção de que esses direitos seriam preservados.

2.3 PRINCÍPIOS

Além da violação dos Direitos Fundamentais, a falta de proteção a vítima e às testemunhas ameaçadas infringia alguns princípios. Pois, quando não se sentiam protegidas essas pessoas se escusavam de colaborar com a justiça,

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recusando-se a prestar esclarecimentos e contribuir na elucidação dos fatos, prejudicando o desenrolar do processo.

2.3.1 Princípio da legalidade

Esse princípio está exposto, no artigo 5º, II da CRFB/88 (BRASIL, 1988), o qual dispõe que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”.

Identifica-se que advém desse princípio a obrigatoriedade da vítima e das testemunhas em prestarem depoimento, pois, essa obrigação decorre da lei, conforme se verifica nos artigos 201 e 206 do CPP (BRASIL, 1941), respectivamente.

O artigo 201 do CPP (BRASIL, 1941) determina que o ofendido será questionado sobre quem possa ser o autor, as circunstâncias em que ocorreu a infração, as eventuais provas que possa indicar, também será qualificado e terá suas declarações reduzidas a termo. O mesmo artigo em seu parágrafo primeiro deixa claro que isso não é uma faculdade e sim uma obrigação do ofendido ao determinar que “Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.” (BRASIL, 1941).

No mesmo sentido, enquanto o artigo citado trata da obrigatoriedade do ofendido prestar declarações, o artigo 206 do CPP (BRASIL, 1941) trata da obrigação da testemunha em prestar depoimento, determinando que “A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor.”, e traz apenas algumas exceções em que poderá a testemunha recusar-se, que são casos em que sejam ascendente, descendente, cônjuge, afim em linha reta, filho adotivo do ofendido, etc., no entanto, mesmo essas pessoas que estão descritas como exceções, poderão ser obrigadas a prestarem depoimento “[...] quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.” (BRASIL, 1941).

A lei, inclusive, prevê a condução coercitiva da testemunha, se essa devidamente intimada deixar de comparecer. Nesse sentido, o artigo 218 do CPP (BRASIL, 1941) traz que se a testemunha não comparecer sem motivo justificado apesar de ter sido devidamente intimada “o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.”.

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Portanto, a vítima e as testemunhas possuem o dever de prestar depoimento decorrente de previsão legal, conforme princípio da legalidade.

2.3.2 Princípio do devido processo legal

Está previsto no artigo 5º, LIV da CRFB/88 (BRASIL, 1988), “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Segundo Feitoza (2009, p. 142), “O princípio do devido processo legal se irradia por todos os demais princípios processuais, pois o cumprimento dele depende da efetiva realização de todos os outros”.

Nesse princípio implicitamente estão presentes todas as garantias processuais, extraí-se que devem ser observados todos os outros princípios do processo penal para que o devido processo legal seja alcançado. Inclusive, a oitiva da vítima e das testemunhas, a busca da verdade real, o respeito à dignidade da pessoa humana, dentre todos os outros.

2.3.3 Princípio da verdade real

O princípio da verdade real é aquele que deve despertar no juiz um sentimento de inconformidade com as provas que lhe são trazidas nos autos pelas partes, o magistrado tem o dever de ir além delas, de buscar mais do que lhe é posto pelas partes e tentar se aproximar ao máximo da verdade real, chegando ao extremo da realidade.

Segundo Julio Fabrinni Mirabete (2004, p. 47), com base nesse princípio, transpõe-se os limites artificiais da verdade formal, indo além de presunções, ficções, ou possíveis omissões das partes, comumente utilizadas no processo civil.

Faz-se necessário salientar, neste ponto, a extrema importância de vítimas e testemunhas que possam aclarar os acontecimentos, eliminando possíveis presunções e ficções que possam ter surgido ao longo das investigações. A oitiva dessas pessoas pode aproximar o juiz da verdade real dos fatos.

A verdade real permite ao juiz “reconstituir” o fato de acordo com tudo que está posto nos autos, seja o que as partes lhe trouxeram, seja com o que o juiz ordenou que fosse feito, como diligências ou oitiva de testemunhas não inquiridas pelas partes, de acordo com o artigo 209 do CPP (BRASIL, 1941), por exemplo.

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Quanto a este princípio, expõe-se abaixo o pensamento de Ionilton Pereira do Vale:

O objetivo deste princípio é colher todos os elementos que assegurem a punição do verdadeiro culpado, a verdadeira forma como se deu o crime, a punição de todos os infratores do crime e a absolvição dos inocentes, não se contentando com as ficções, transações ou a verdade formal [...]. (VALE, 2009, p. 136).

De acordo com Luiz Flávio Gomes (2005, p. 24), o princípio da verdade real é a regra da liberdade de provas, admitem-se todos os meios de provas para comprovação da verdade real, com exceção das provas ilícitas e ilegítimas. Ainda, conforme o mesmo autor:

Diante de tantas exceções e restrições, melhor hoje é falar em princípio da verdade processual (que é a verdade produzida no processo e tão-somente a que nele pode ser concretizada). Isso facilmente se comprova quando, após transitada em julgado uma absolvição por falta de provas, a lei proíbe a revisão pro societate, mesmo que a prova seja superveniente e mesmo que nela esteja estampada a verdade real. (GOMES, 2005, p. 25).

Mirabete (2004, p. 47), corrobora o pensamento de Gomes exposto acima, quando disserta que o princípio da verdade real não é inteiramente vigente utilizando como exemplo, os casos de absolvição transitada em julgado, que não pode ser rescindida, mesmo quando surjam provas concludentes contra o agente.

Devido a não integralidade do princípio da verdade real e do fato de que na maioria das vezes quando um caso já foi decidido, transitado em julgado, mesmo havendo provas supervenientes não há possibilidade de reversão, é necessário que o depoimento da vítima e a oitiva da testemunha sejam realizados da maneira mais eficiente possível. Pois, ambas podem contribuir de forma veemente para o esclarecimento dos acontecimentos, evitando injustiças e tornando a verdade processual mais real possível.

2.3.4 Princípio da oralidade

Dispõe o artigo 204 do CPP (BRASIL, 1988) que o depoimento da testemunha será realizado de forma oral, não sendo permitido trazê-lo por escrito, porém, pode a testemunha consultar breves apontamentos.

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Segundo Denílson Feitoza (2009, p. 719), “O princípio da oralidade significa que os atos processuais devem ser predominantemente orais tendo em vista a celeridade do processo.”, o mesmo autor, ainda quanto às provas, destaca que a oitiva de testemunhas do mesmo modo deve ser predominantemente oral. Essa predominância pode ser melhor compreendida de acordo com os exemplos dados por Greco Filho (2010, p. 225), este autor traz as exceções onde pode-se optar pelo depoimento por escrito, como nos casos de Presidentes da República e do Senado, da Câmara de Deputados, do Supremo Tribunal, etc., sendo justificado pela dificuldade de ouvir essas autoridades em audiência. Porém, são poucas exceções, prevalecendo o princípio da oralidade.

De acordo com José Frederico Marques (1961, p.68) citado por Mirabete (2004, p. 48), um dos corolários da oralidade é a imediatidade, consistente na obrigação que o juiz tem de ficar em contato direto com as partes e as provas, captando desta forma, os elementos de convicção que utilizará no julgamento.

Desse modo, resta claro que a melhor maneira de proceder a oitiva da vítima e testemunhas é presencialmente e oralmente, situação difícil quando se trata de pessoas ameaçadas, que necessitam de uma proteção especial, para que não sejam identificadas pelo réu.

2.3.5 Princípio da publicidade

Tourinho Filho (2004, p. 20) explicita que no Direito pátrio vigora como regra o princípio da publicidade absoluta, e que esse princípio consiste no dever de ser transparente, tendo o intuito de mostrar a sociedade em geral que a justiça não é feita as escondidas, ou “entre quatro paredes”.

Esse princípio está previsto nos artigos 5º, LX, e 93, IX da CRFB/88 (Brasil, 1988). O artigo 5º, LX, da CRFB/88 (BRASIL, 1988), determina que, “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”. Nesse diapasão, tem-se o artigo 93, IX, da CRFB/88 (Brasil, 1988), que traz a regra de que todos os julgamentos serão públicos, além de fundamentadas as decisões proferidas, sob pena de ocorrer a nulidade caso isso não seja respeitado. Entretanto, o mesmo artigo determina que há exceções, podendo ser limitado o ato a presença das partes e advogados ou ainda somente aos advogados, porém, isso só ocorrerá quando for para preservar o

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direito à intimidade do interessado e desde que esse sigilo não prejudique o interesse público do direito à informação.

No mesmo sentido, o artigo 792 do CPP (BRASIL, 1941) determina que as audiências, sessões e atos processuais em regra serão públicos, porém, o parágrafo primeiro traz algumas exceções nas quais se determinará que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.

Assim, percebe-se que este princípio não é absoluto. Mas, mesmo não sendo absoluto, são restritos os momentos em que não prevalecerá esse princípio. Nos inquéritos, por exemplo, prioriza-se o procedimento secreto, contrapondo-se ao princípio da publicidade. De acordo com Vale:

Por este princípio, a lei só pode restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa dos atos processuais o exigir, ou seja, quando houver interesse público, ou a intimidade o exigir. A Emenda Constitucional 45/2004 modificou a redação do art. 93, IX, declarando ser a publicidade a regra, e o sigilo a exceção, ressalvado o direito à informação. (VALE, 2009, p. 364).

Do exposto, é perceptível que no caso de vítimas e testemunhas ameaçadas deve ser restrito o princípio da publicidade, com o objetivo de não por em risco a intimidade, a segurança e a vida dessas pessoas. Além de precaver-se para que não seja comprometido o conteúdo dos seus depoimentos.

2.3.6 Princípio da dignidade da pessoa humana

Esse princípio consta no artigo 1º, III da CRFB/88 (BRASIL, 1988), e é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.

Conforme os ensinamentos de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2006, p. 118), sobre o princípio “Ele é a razão de ser do Direito. Ele se bastaria sozinho para estruturar o sistema jurídico.”, traz ainda que esse princípio é o primeiro, e o mais importante.

Segundo Vale (2009, p. 59) “A dignidade do homem, conforme a Constituição é o princípio norteador e basilar dos direitos fundamentais, constituindo, assim, o seu fundamento”.

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Alexandre de Moraes (2005, p.129) citado por Vale (2009, p. 57-58), ensina também, que a dignidade da pessoa humana é um valor moral e espiritual próprio de cada pessoa e que traz a pretensão de respeito pelos demais. Disserta ainda, que isso é o mínimo que deve ser garantido, para que não ocorra nenhum tipo de menosprezo a estima das pessoas, e que apenas excepcionalmente podem ser feitas limitações aos direitos fundamentais. Sarlet corrobora:

A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. (SARLET, 2001, p. 60 apud BARROS, 2006, p. 129).

Nesse diapasão Feitoza (2009, p. 131), disserta que “a pessoa humana tem um valor intrínseco em razão da sua própria condição humana, e não como meio para outro fim, independente de suas qualidades culturais, econômicas, intelectuais, étnicas, familiares, profissionais, etc.”.

O mesmo autor acrescenta sobre a importância de não reduzir as pessoas a meros sujeitos processuais:

No cotidiano da persecução penal, é comum o esquecimento da condição humana dos sujeitos do direito processual, reduzindo-os a conceitos abstratos, como réu, indiciado, testemunha, ofendido, peritos, etc. Assim, frequentemente podemos observar [...] juízes destratando testemunhas em audiências, policiais tratando cruelmente supostos agentes de um fato delituoso, testemunhas acumuladas por horas a fio sem qualquer atenção as suas necessidades fisiológicas, [...] vítimas tratadas como criminosos, etc. (FEITOZA, 2009, p. 131).

Esse princípio deve ser observado e aplicado a todas as pessoas envolvidas, desde a vítima, o réu, as testemunhas, etc. No tocante ao tema, ou seja, a proteção da vítima e testemunhas ameaçadas, esse princípio abrange aspectos, tais como, ter a devida atenção dada ao seu depoimento, ser respeitada por todos os envolvidos, ter preservado seu direito à segurança, a inviolabilidade da intimidade, e que haja comunhão de esforços para que sua vida e todos os direitos inerentes sejam preservados.

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2.3.7 Princípio do livre convencimento do juiz

Esse princípio se consagra no artigo 157 do CPP (BRASIL, 1941), ele determina que o juiz “tem inteira liberdade de julgar, valorando as provas como bem quiser, sem, contudo arredar-se dos autos.”, conforme ensina Tourinho Filho (2004, p. 19). Feitoza corrobora:

Segundo esse princípio, o juiz é livre para formar seu convencimento segundo as provas dos autos e, portanto, para valorar as provas, as quais têm legal e abstratamente o mesmo valor, mas deve fundamentar, explicitando em que elementos probatórios se fundou seu convencimento (art. 155 do CPP). (FEITOZA, 2009, p. 717).

De acordo com o princípio do livre convencimento, o juiz pode julgar de forma livre, dando as provas o valor que ao seu ponto de vista elas tenham. Porém, deve o magistrado fundamentar sua decisão segundo as provas constantes nos autos, provas essas, que inicialmente tem o mesmo valor. Nesse sentido, segue o entendimento de Gomes:

Todas as provas são relativas. Não há hierarquia entre elas. O juiz deve sempre fundamentar seu convencimento. Nisso é que o princípio do livre convencimento se distingue da íntima convicção. O princípio do livre convencimento, por isso mesmo, pode ser chamado de princípio do livre convencimento motivado. (GOMES, 2005, p. 33).

Dessa maneira, nota-se que a prova testemunhal tem exatamente o mesmo valor que qualquer outra prova constante nos autos. E, sendo o juiz livre para apreciá-las e valorá-las de acordo com seu convencimento, pode o magistrado fundamentar sua decisão em prova testemunhal, eis, portanto, a extrema importância de que o testemunho ocorra, e mais, de que seja realmente baseado na realidade dos fatos, sem omissões pela testemunha porque está sendo coagida ou ameaçada.

2.4 IMPORTÂNCIA DA PROVA TESTEMUNHAL DO PROTEGIDO NO COMBATE A IMPUNIDADE E CRIMINALIDADE

Primeiramente cabe salientar que toda prova é importante. De acordo com Greco Filho (2010, p. 186) as provas têm a finalidade de convencer o juiz,

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buscando uma certeza relativa para a convicção do magistrado, já que a certeza absoluta na maioria dos casos é praticamente impossível. A vítima e as testemunhas trazem consigo informações ímpares, que muitas vezes somente elas presenciaram, sendo de extrema importância seu depoimento para elucidação do crime.

Mirabete (2004, p. 315), afirma inicialmente que o ofendido não é testemunha, porque além de estar mencionado em capítulo diverso da testemunha, não tem o dever de dizer a verdade. Porém, o mesmo autor disserta que apesar disso, é de extrema importância as declarações do ofendido, conforme segue:

Embora não seja testemunha, as declarações do ofendido constituem-se em meio de prova. Não têm elas o valor legal do depoimento de testemunhas, mas podem ser suficientes para a condenação quando não são elididas por outros elementos de convicções. (MIRABETE, 2004, p. 315, grifo do autor).

Importante salientar, que mesmo sem ter o compromisso de falar a verdade, pode ser imputado ao ofendido o crime de denunciação caluniosa, previsto no artigo 339 do Código Penal (BRASIL, 1940).

Dessa forma, quando o depoimento da vítima estiver em sintonia com os autos, pode servir de fundamento condenatório. Nesse sentido segue:

Em resumo, embora os depoimentos das vítimas em princípio sejam suspeitos, dependendo do caso concreto, estando em sintonia com outras provas dos autos merecem fé, podendo servir de suporte a um decreto condenatório. Tudo está subordinado, para se obter um veredicto justo, à formação cultural, moral, psicológica e humana do juiz que, atendendo a serenidade e a imparcialidade em seu espírito, pode encontrar o caminho certo a seguir a fim de alcançar a realização da justiça ao valorar as declarações da vítima, para concluir, sem prevenções, se merecem fé ou não. (PELLEGRINO; NORONHA, 1989, p. 115, apud MIRABETE, 2004, p. 318).

Conforme se extrai dos pensamentos expostos, cabe ao juiz valorar essa prova de acordo com tudo que esta nos autos, e conforme seu convencimento. No mesmo sentido segue o pensamento de Greco Filho:

No processo penal é importantíssimo o depoimento do ofendido, já que personagem do fato criminoso e que, se, de um lado, pode estar carregado de sentimentos contrários ao acusado, de outro, em grande número de casos é de importância decisiva para o reconhecimento da verdade e a própria convicção da existência do crime, cabendo ao juiz a cautela de distinguir as situações. (GRECO FILHO, 2010, p. 221).

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No entanto, não apenas as declarações da vítima podem servir de fundamento para a decisão do magistrado, como também as provas testemunhais, além de todas as outras. Ocorre que quando se trata de vítima e testemunhas, geralmente se tem pessoas que podem aproximar o juiz da realidade mais verdadeira dos fatos. Sobre as provas testemunhais, ensina Costa:

Sabe-se que, dentro do procedimento penal, uma das maiores fontes probatórias são as provas testemunhais, as quais permitem uma maior, melhor e mais célere elucidação do caso investigado. (COSTA, 2008, p.11).

Mirabete (2004, p. 331-333), salienta que é imprescindível a prova testemunhal na maioria das ações penais, e que o juiz deve confiar nos depoimentos que são prestados em conformidade com os outros elementos constantes nos autos. O mesmo autor ressalta, que no ordenamento brasileiro quando há apenas uma testemunha e seu depoimento esta em harmonia com os autos, faz prova bastante para a decisão do magistrado. Nesse diapasão Gustavo Senna Miranda:

Entre as provas nominadas, uma das mais importantes e utilizadas nos processos criminais é a prova testemunhal. Realmente, é inquestionável que a prova testemunhal, embora criticada por muitos, configura um dos meios de prova mais comumente produzidos na esfera criminal, não havendo como desconsiderar sua utilidade nos processos. (MIRANDA, 2012).

Tourinho (2003, p.24) vem corroborar quando disserta que “a prova testemunhal no processo penal, é de valor extraordinário, pois dificilmente, e só em hipóteses excepcionais, provam-se as infrações com outros elementos de prova”.

No entanto, Aquino citado por Greco Filho (2010, p. 222), expõe pensamentos contrários, no sentido de que o valor da prova testemunhal tem sido muito questionado ao longo dos tempos, porém, Greco Filho completa com suas palavras, que apesar disso, deve-se ter tanto cuidado com essa prova quanto com todas as outras. E conclui que deve ser assim pelo fato de que a maioria das decisões criminais baseia-se em prova testemunhal.

Para Noronha, entretanto, a prova testemunhal é a prova por excelência, conforme segue:

Lembra porém E. Magalhães Noronha que, máxime no processo penal, é o testemunho a prova por excelência, já que o crime é um fato, é um trecho

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da vida e, consequentemente é, em regra, percebido por outro. (NORONHA, 1989, p. 115 apud MIRABETE, 2004, p. 331).

José Braz da Silveira (2004) traz que o instrumento principal na apuração de crimes é a prova testemunhal, e continua dissertando que “A ‘frágil’ prova testemunhal cresce em importância no âmbito penal simplesmente porque na maioria dos casos é a única possível de ser produzida”. Sendo que o autor coloca a palavra frágil entre aspas por trazer uma nota explicativa para a mesma “Costuma-se dizer no cotidiano jurídico que a prova testemunhal é a ‘prostituta das provas’, mas no âmbito penal, muitas vezes, pode ser a ‘rainha das provas’.”

O autor Aury Lopes Junior, entende que diante das restrições técnicas do Brasil, apesar da fragilidade da prova testemunhal, esse tipo de prova é indispensável no processo penal, conforme segue:

Com as restrições técnicas que infelizmente a polícia judiciária brasileira – em regra – tem, a prova testemunhal acaba por ser o principal meio de prova do nosso processo criminal. Em que pese a imensa fragilidade e pouca credibilidade que tem (ou deveria ter), a prova testemunhal culmina por ser a base da imensa maioria das sentenças condenatórias ou absolutórias proferidas. (LOPES JÚNIOR, 2008, p. 586).

Nesse diapasão, os ensinamentos de Fernandes:

[...] testemunha é pessoa que presta declarações a respeito de um fato de que tem conhecimento, ou, ainda, sobre aspectos ligados à determinada pessoa. E arremata o autor: Por meio dela, produz-se prova relevante no processo penal, pois, na maioria das vezes, a verificação do crime e da autoria depende de depoimentos testemunhais. (FERNANDES, 2002, p. 76, apud LOURENÇO, 2011, p.6).

José Braz da Silveira (2004, p. 125), disserta ser a prova testemunhal de extrema importância no processo penal, completando ainda, que muitas vezes a testemunha é a única pessoa que pode esclarecer o crime, sendo a esperança na apuração do mesmo. Silveira (2004, 126-127) continua, afirmando que não há dúvidas quanto a imensa contribuição de um testemunho para o esclarecimento de um crime, e que inúmeros casos são resolvidos pela colaboração das testemunhas. E traz como exemplo, um caso ocorrido em Santa Catarina, conhecido como “caso dos doze apóstolos”, que se tratava de uma quadrilha formada por policiais militares de patentes diversas, que cometiam muitos crimes na Região da Grande

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Florianópolis, e foram julgados, condenados e presos. O autor completa dissertando sobre a importância das testemunhas nesse caso:

O promotor do caso, Doutor Sidney Dallabrida, até hoje continua acreditando que a apuração dos fatos e punição dos envolvidos somente foi possível graças ao depoimento de algumas testemunhas. (SILVEIRA, 2010, p. 126).

Por todo o exposto, percebe-se a grande importância e o valor que tem as declarações da vítima e depoimento das testemunhas, tanto que inúmeros casos se resolvem com fundamento nos esclarecimentos prestados por essas pessoas, que, às vezes, são as únicas que podem esclarecer os fatos e circunstâncias do crime. Silveira (2010, p. 131), traz que a proteção da prova testemunhal quando se objetiva assegurar a posterior apuração dos fatos e punição dos criminosos, é possível, utilizando-se o Programa de Proteção a Vítima e às Testemunhas Ameaçadas (PROVITA). O programa tem exatamente esse objetivo, proteger as vítimas e testemunhas ameaçadas com o intuito de que possam colaborar com a justiça, e ajudar no esclarecimento dos fatos.

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3 PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMA E ÀS TESTEMUNHAS AMEAÇADAS

O programa de proteção a vítima e às testemunhas ameaçadas (PROVITA) é um projeto pioneiro no país e visa inicialmente proteger a vida, a integridade física e psicológica das vítimas e testemunhas ameaçadas em decorrência de colaboração com a justiça, ajudando no combate a criminalidade e impunidade, sendo que essa proteção pode ser estendida aos parentes próximos. O PROVITA é serviço complementar às atribuições dos órgãos de segurança pública, que conforme o artigo 144 da CRFB/88 tem o dever de zelar pela incolumidade das pessoas (BRASIL, 1988).

Gustavo Senna Miranda disserta que a proteção de acordo com o artigo 1º da lei nº 9807/99, ocorre quando se trata de vítima ou testemunhas de crime, excluindo-se as contravenções penais, e continua:

[...] o que de certa forma é justificável em vista da própria natureza de tais infrações penais, considerada doutrinariamente um “crime anão”. [..] é possível valer-se de uma interpretação extensiva para se permitir a inclusão no âmbito de proteção também as contravenções penais, tudo a depender, por óbvio, da análise do caso específico. (MIRANDA, 2012).

O PROVITA se baseia na ideia de reinserção social das vítimas e testemunhas ameaçadas, contando com a participação da sociedade civil para formação de uma rede solidária de proteção (SILVEIRA, 2010, p. 66). Segue entendimento que corrobora e acrescenta:

[...] o Programa de Proteção à Testemunha brasileiro não tem somente o objetivo de proteger a testemunha, mas de reinserí-la socialmente. O verbo inserir, do latim inserere, significa incluir, fixar, implantar. Reinserir socialmente um sujeito significa, portanto, transferi-lo de um espaço social e incluí-lo, implantá-lo e fixá-lo em um novo espaço social. Isso pressupõe integração familiar e dela com a comunidade, participação no sistema de ensino, ocupação de um lugar na comunidade, exercício de uma atividade laboral e, no âmbito da sua subjetividade, pressupõe o sentimento de pertença a um novo espaço geográfico e simbólico. (LEÃO; FERREIRA, 2011, p. 7, grifo do autor).

Barros (2006, p.178) complementa ao dissertar que o programa deve reinserir as pessoas em situação de risco em novos espaços comunitários de maneira sigilosa e contando com a efetiva participação da sociedade civil.

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O sigilo é necessário para preservar a vida da pessoa ameaçada. Cabe ressaltar que segundo Silveira (2004, p. 108) o PROVITA ao proteger a vida das vítimas e testemunhas ameaçadas, protege também a prova essencial para esclarecimento do crime. Miranda complementa:

Assim, a importância de programas como o Provita na luta contra a impunidade é inegável, mormente quando se sabe [...] que a prova testemunhal configura uma das mais relevantes no processo criminal, não podendo ser esquecido que a apuração de crimes tem na referida prova um de seus principais instrumentos. Daí porque programas de proteção a vítimas e testemunha devem ser apoiados e estimulados, na medida em que proporciona segurança a uma pessoa que tem informações importantes para apuração de uma infração penal, para que assim possa depor sem o medo de que esteja “marcada para morrer”. (MIRANDA, 2012).

Portanto, é perceptível a importância do programa na proteção das pessoas ameaçadas dispostas a colaborarem com a justiça e para a sociedade de modo geral, pois, tem como intuito o combate a criminalidade e impunidade.

3.1 ORIGEM E FUNÇÃO DO PROVITA

Aquino disserta que antes da criação do PROVITA, às vezes, a própria autoridade policial ou o juiz davam guarida a testemunha ameaçada. Mas, esse amparo não decorria de lei, assim, sugeria-se uma proteção mais sólida e eficiente, para que a testemunha não tivesse medo das consequências de prestar depoimento e ser molestada futuramente, pois, estava diminuindo o número de pessoas dispostas a testemunhar por falta de proteção, conforme segue:

Nos dias de hoje, por falta da proteção mencionada, está diminuindo o número de pessoas que espontaneamente se predispõem a prestar esse munus publicum, posto que várias testemunhas, notadamente na Grande São Paulo e Grande Rio de Janeiro, que presenciaram ilícitos de relevante interesse público foram assassinadas pelos próprios autores do delito que viram. (AQUINO, 1995, p. 117, grifo do autor).

Devido a essa necessidade de amparo e implementação de serviços de atendimento a vítima e às testemunhas ameaçadas, surgiu em 1996 a ideia de criar um programa especial para dar proteção a vítimas e às testemunhas de crimes, sendo inclusa a ideia no Programa Nacional de Direitos Humanos. Esse programa no capítulo “Da luta contra a impunidade” tinha por meta a curto prazo “Apoiar a

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criação nos Estados de programas de proteção de vítimas e testemunhas de crimes, expostas a grave e atual perigo em virtude de colaboração ou declarações prestadas em investigação ou processo penal.” (GREGORI, 1996). Nesse norte segue o entendimento de Leão e Ferreira:

O Programa de Proteção à Testemunha Ameaçada – PROVITA – é um exemplo marcante de política pública construída segundo esse novo arranjo de participação entre atores coletivos da sociedade civil e o Estado. O PROVITA surge no Brasil num contexto marcado pela luta de movimentos sociais contra a violência e a favor da cidadania e teve sua origem no projeto elaborado e implementado por uma organização não governamental – GAJOP –, posteriormente incorporado como política pública. (LEÃO; FERREIRA, 2011, p. 3).

O Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP), do Recife realizou a primeira experiência prática de proteção a essas pessoas. E, após dois anos, em 1998, o Ministério da Justiça, colocou a ideia em prática, quando por meio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) assinou um convênio com Pernambuco, que foi pioneiro, criando o primeiro PROVITA, coordenado por organizações não-governamentais e recebendo apoio do Governo do Estado. O programa visava garantir sigilo, moradia e proteção policial as pessoas protegidas, e por ter resultados positivos, no mesmo ano foi implantado na Bahia e no Espírito Santo (SILVEIRA, 2004, p. 65).

Dessa forma, conclui-se que o PROVITA surgiu para proteger a vítima e as testemunhas ameaçadas que de alguma maneira podem colaborar com a justiça, esclarecendo os fatos e circunstâncias do crime ou dando informações sobre a autoria, mas que por vezes deixam de fazê-lo por medo das ameaças e represálias sofridas.

O PROVITA ao prestar apoio e proteção para vítima e testemunhas ameaçadas está exercendo sua função principal que é combater a violência e a impunidade, quanto a isso Silveira (2004, p. 94): “O combate à violência e à impunidade é o objetivo principal do programa de proteção, visto que a proteção oferecida visa criar condições de apurar o crime e punir o criminoso, além de proteger a vida do beneficiário”.

No entanto, a função do programa vai além do exposto, conforme apresentado no Encontro de Informação e Orientação sobre o PROVITA, realizado no Ministério Público do Estado de Santa Catarina:

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O Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas tem como objetivos romper o ciclo da impunidade; formar uma rede solidária de proteção e apoio a vítimas e testemunhas; propiciar o exercício da cidadania por parte das testemunhas e vítimas sob ameaça do crime organizado; assegurar a prova testemunhal como um instrumento de combate ao crime organizado; assegurar os direitos fundamentais das vítimas e testemunhas ameaçadas; e promover a (re) inserção social das vítimas e testemunhas ameaçadas e de seus familiares. (Santa Catarina, 2011).

Conforme explicitado acima, o PROVITA exerce várias funções, portanto, há necessidade de norma que regulamente o programa, visando gerar cada vez mais resultados positivos. Dessa forma, foi criada a Lei nº 9.807/99, para regulamentar o programa e designar procedimentos a serem adotados para concretização dessas funções.

3.2 A LEI Nº 9.807/99 E O SEU OBJETIVO

De acordo com Alexandre Avelino Pereira (2001, p. 10) citado por Silveira (2004, p. 66), foi da necessidade de normatização do PROVITA que surgiu a Lei nº 9.807/99, lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, criada em 13 de julho de 1999.

A leitura do preâmbulo da referida lei já deixa nítido o tema tratado e qual seu objetivo. O preâmbulo traz que esta lei contém normas que objetivam organizar o PROVITA, e que além da manutenção e organização do programa, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, dispõe ainda sobre a proteção do réu colaborador, o qual não é objeto dessa monografia, que se restringe a proteção da vítima e testemunhas ameaçadas (BRASIL, 1999).

3.3 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

A Lei nº 9807/99 (BRASIL, 1999), em seu primeiro capítulo versa sobre a competência da obrigação de proteger a vítima e as testemunhas ameaçadas, cujo capítulo é “Da Proteção Especial a Vítima e as Testemunhas”. Já em seu artigo 1º dispõe que a União, os Estados e o Distrito Federal são responsáveis por conceder medidas de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas que requeiram tais

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medidas em troca de colaboração com a justiça. E, que essas medidas de proteção se darão por meio de programas especiais organizados pela referida lei.

Quanto a estrutura de funcionamento, disserta Silveira (2004, p. 68), que o PROVITA dimensiona sua estrutura de funcionamento em três esferas, quais sejam: Conselho Deliberativo, Órgão Executor e Equipe Técnica.

Barros (2006, p. 179), corrobora ao trazer que o PROVITA funciona por meio de estruturas especialmente estabelecidas para esse fim, quais sejam: Conselho Deliberativo, Órgão Executor e Equipe Técnica, no entanto, o autor acrescenta a essas três a Rede Solidária de Proteção. Nesse diapasão:

No nível operacional, o programa de proteção a vítimas e testemunhas, sob coordenação nacional da SEDH, abrange conselhos em instância decisória superior, um órgão executor – em âmbito estadual ou municipal –, equipe técnica encarregada do acompanhamento jurídico e psicossocial dos beneficiários, e a rede solidária de proteção (sociedade civil), comprometida em inseri-los na sociedade (apoio, serviços e proteção). No nível estadual, diferentes secretarias (Segurança, Educação, Saúde, Trabalho e Ação Social) participam de uma coordenação interinstitucional, que por sua vez se desdobra nos municípios parceiros do programa. (IPEA, 2008, p. 10).

Sendo assim, no próximo item será abordada a estrutura do programa, e qual a contribuição de cada um dos envolvidos para o bom desempenho do PROVITA.

3.3.1 Órgãos atuantes na proteção da vítima e testemunhas ameaçadas

A instância decisória superior do PROVITA é o Conselho Deliberativo, que conforme o artigo 4º da Lei nº 9.807/99 (BRASIL, 1999), é composto por representantes do Ministério Público, do Poder Judiciário e de órgão públicos e privados que sejam relacionados com direitos humanos e segurança pública.

Assim, o Conselho Deliberativo é extremamente importante para o funcionamento do PROVITA, e de acordo com o entendimento de Silveira (2004, p. 69) é o responsável pelo sucesso do programa, conforme segue:

Conselho Deliberativo é o cerne do Provita, pois, além das suas tarefas de aprovar o ingresso ou a exclusão do beneficiário na rede de proteção, garante o equilíbrio representativo dos diversos órgãos responsáveis pela Segurança Pública, gestão da justiça, defesa dos Direitos Humanos e inclusive pela participação da sociedade nas ações do programa. Um

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Conselho Deliberativo atuante é o segredo do sucesso do Provita. (SILVEIRA, 2004, p. 69).

De acordo com o exposto, é perceptível que o Conselho Deliberativo é órgão vital para o PROVITA, que conforme o artigo 6º da lei decide sobre o ingresso e exclusão do protegido e sobre as providências necessárias para o cumprimento do programa (BRASIL, 1999).

Acrescenta Silveira (2004, p. 70) que o Conselho Deliberativo não se limita a lei federal, podendo ser complementado por leis estaduais criadas para tal finalidade, e destaca algumas previsões de atividades do Conselho constantes em lei:

[...] 3) fixar o teto da ajuda financeira mensal a ser oferecida aos beneficiários e às suas famílias, isto aos beneficiários impossibilitados de exercer função remunerada ou que não tenham outra fonte de renda; [...] 6) postular em nome do beneficiário junto aos juízes competentes, a alteração de registros públicos, visando a mudança de nome completo do beneficiário que assim necessitar; 7) manter em completo sigilo a identidade dos beneficiários, bem como a sua localização; [...] 9) manter controle rigoroso sobre o andamento de processos relacionados às testemunhas protegidas, visando agilizar a sua tramitação judicial; [...]. (SILVEIRA, 2004, p. 70).

Resta clara a abrangência do Conselho Deliberativo diante das atribuições explanadas. Salienta-se que dentre os órgãos atuantes no Conselho, merece destaque o Ministério Público que segundo Costa (2011, p. 25) pode atuar de diferentes formas na lei de proteção, seja como membro do Conselho Deliberativo do programa, como órgão executor, parte ou fiscal da lei. O Ministério Público é o responsável pela votação do ingresso ou exclusão do indivíduo ameaçado no programa, e quanto a sua atuação, conforme o Encontro de Informação e Orientação sobre o PROVITA, realizado em 16 de junho de 2011, segue:

A atuação do MPSC no programa acontece de duas formas: A primeira, com a solicitação dos Promotores de Justiça, que podem requerer a inclusão ou exclusão de pessoas no programa de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas ou, quando não forem o solicitante, se manifestar sobre o pedido. A segunda, em última instância, é através do Centro de Apoio Operacional Criminal (CCR), que detém assento junto ao Conselho Deliberativo do PROVITA, que a nível colegiado vota pelo ingresso ou exclusão do protegido do programa, convalidando ou alterando as providências necessárias ao seu cumprimento. (SANTA CATARINA, 2011).

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O artigo 3º da lei vem ao encontro trazendo que deve ser precedida de consulta ao Ministério Público toda inclusão ou exclusão de protegido ao programa, acrescenta ainda este artigo que após a consulta deve ser comunicada a autoridade policial ou ao juiz competente (BRASIL, 1999). Costa disserta que a função do Ministério Público vai além do exposto até o momento:

Integrante do Conselho Deliberativo, o Ministério Público, participa da direção do programa e da definição das políticas públicas de proteção. A instituição deve zelar pela aplicação eficaz das disposições legais, vislumbrando sempre a preservação da prova e, ainda, cuidando da defesa da vida e da dignidade da pessoa humana. Deste modo, a função ministerial vai além da satisfação de obrigações e da ocupação de espaço no combate a criminalidade, alcançando, assim, a característica de indispensável para a consecução da paz social. (COSTA, 2011, p. 26).

Do exposto é perceptível a abrangência de atuação do Ministério Público, no entanto, indispensável se faz trazer esclarecimentos sobre os outros órgãos. O artigo 4º da lei em seu parágrafo primeiro traz que a um dos órgãos com representação no Conselho Deliberativo cabe executar as atividades indispensáveis ao programa, esse órgão denomina-se Órgão Executor ou Entidade Gestora (BRASIL, 1999). Esclarece Silveira:

O chamado Órgão Executor do Provita, entidade da sociedade civil, normalmente uma organização não-governamental comprometida com as bandeiras dos Direitos Humanos, responde não só pela execução do programa, mas também pela contratação dos integrantes da equipe técnica e demais encargos inerentes à gestão do programa. O Órgão Executor necessariamente ocupará uma das cadeiras no Conselho Deliberativo. (SILVEIRA, 2004, p. 72).

De acordo com o mesmo autor, o Órgão Executor tem como requisito ser uma entidade solidificada por princípios e propósitos firmes, isso devido às grandes responsabilidades impostas por meio do convênio realizado com o Órgão Público estadual competente para a execução do programa (SILVEIRA, 2004).

Dentre as funções do Órgão Executor, Barros (2006, p. 179) destaca que é o órgão “a quem compete realizar a contratação da Equipe Técnica e proceder à articulação da Rede Solidária de Proteção”.

Silveira (2004, p. 73) corrobora, e esmiúça os direitos e deveres dos órgãos executores do programa, trazendo entre outros, que cabe a esta entidade: realizar a triagem dos casos para ingresso no programa, manter o Conselho

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Deliberativo informado da situação psicossocial dos beneficiários, fazer com que as testemunhas compareçam as audiências dos processos, guardar com total sigilo por cinco anos os documentos dos protegidos, firmar termos de compromisso com os ingressos no programa, requerer a mudança de nome dos protegidos, zelar pela segurança dos beneficiários tanto no momento em que aguardam a decisão do pedido de ingresso quanto no período de proteção, oferecer assistência jurídica e psicossocial aos beneficiários, fornecer aos ingressos condições normais de vida em sociedade, oferecer acompanhamento a distância por seis meses após desligamento do programa, entre outras atribuições. Por todas as funções resta nítida a importância de o Órgão Executor ser uma entidade de base sólida, pois, trata-se de responsabilidade sobre vidas humanas, de proteção extrema e sigilo praticamente absoluto.

Por fim, a Equipe Técnica, que segundo Silveira (2004, p. 75), é a responsável por encontrar lugar seguro para os protegidos e mantê-los a salvo de qualquer perigo, justificando assim sua importância.

Barros (2006, p. 179), corrobora e complementa os ensinamentos trazidos, conforme segue:

À Equipe Técnica, formada por profissionais especialmente contratados e capacitados para a função, cabe a efetivação da assistência social, jurídica e psicológica, necessária tanto para a análise da necessidade da proteção e da adequação dos casos ao Programa quanto para o constante acompanhamento dos beneficiários. (BARROS, 2006, p. 179).

A maneira de contratação da equipe técnica é por concurso, divulgado em órgãos da justiça, Ordem dos Advogados do Brasil, universidades, etc., ao contrário de outros concursos que devem ser amplamente divulgados. Isso se justifica devido a grande preocupação em manter os protegidos seguros, pois, o crime organizado pode estar inserido em qualquer lugar, já que conta com pessoas de elevada competência, e para evitar que seja prejudicada a proteção não é divulgado amplamente o concurso, conforme explica Silveira (2004, p. 76).

No que concerne a Rede Solidária de proteção, esta é pré-requisito para que se instale o programa nos Estados, e cabe destacar que conta com pessoas de variadas matizes, desde médicos para atender os protegidos até pessoas humildes que oferecem apoio como dama de companhia, por exemplo, de acordo com Silveira (2004, p. 76). Eduardo Panunzzio disserta:

Referências

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