• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.7 SITUAÇÕES EM QUE OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

QUE O CUIDADO DA CRIANÇA É COMPARTILHADO NO HOSPITAL

Os profissionais da equipe de enfermagem acreditam que os familiares cuidadores cuidam bem da criança no hospital, apesar das exceções.

Algumas sim, algumas cuidam muito bem. Há exceções! Agente pode observar quando crianças com encefalopatia, por exemplo, internam várias vezes e são muito bem cuidadas. São acamadas, lógico, mas são muito bem cuidadas. Mesmo com poucas condições as mães cuidam muito bem delas. (PE1)

Para que o cuidado possa ser compartilhado com os familiares é necessário que os profissionais se coloquem no seu lugar e procurem compreender o que estão passando nesse momento de internação de um filho.

Eu sempre penso assim, que a gente tem que se colocar um pouco no lugar das pessoas para tentar entender o que ela está passando. Agente sempre acha que com os outros é mais fácil. (PE8)

Referiram compartilhar o cuidado à criança durante a realização de procedimentos durante a realização de trabalhos técnicos. Negociam com os familiares a sua atuação. Uns preferem estar junto com a criança para acalmá-la, outros não gostam de ver. Em algumas situações, os membros da equipe de enfermagem solicitam auxílio dos familiares para observar a passagem da alimentação pela sonda, dar o banho, avisar a equipe que a medicação em bureta está acabando, entre outros.

Que a enfermagem e a família cuidam juntas a criança, em algumas situações. Durante os procedimentos nos ajudam muito. (PE3)

Na hora de colocar um soro, depende de cada turno. No turno da tarde a gente não tem problema que o familiar entre. Perguntamos se a mãe quer ficar, se ela se sente tranquila ou nervosa. Às vezes ela prefere ficar fora porque não quer olhar. Às vezes ela prefere estar junto. Aí a gente pede para a mãe ajudar. Pedimos para

ela segurar os pés, perna ou braço, para ela distrair a criança enquanto estamos puncionando. (PE6)

Olha eu posso te dizer que administração acho que de alimentação por sonda. Agente sempre pede para o familiar ficar observando, porque fica difícil a gente estar no quarto todo o tempo. Dependendo do volume passa em meia hora, se for um volume maior vai passar em mais tempo e não tem como eu ficar parada olhando o gotejo. Então, a gente pede: _ Ah, observa o gotejo para mim, se vai ficar muito rápido, se vai ficar lento demais, mas não mexa. Fala que a gente vem aqui e arruma. Pelo menos eu faço isso porque eu tenho muito medo de elas trocarem, acabar mexendo e trocar e acontecer algum desastre. (PE7)

Durante a punção nós preferimos que seja alguém da equipe porque precisa de certa agilidade e destreza para segurar a criança. Geralmente, o familiar não tem, pois ele fica assustado com isso. Pedimos ajuda no banho, cuidar a medicação que está passando, avisar que terminou e que está na hora de trocar. Isso é um trabalho da enfermagem que é compartilhado com o familiar. (PE6)

Nunca precisei dar banho, mas eu já vi outras colegas fazerem. Foi necessário! Eu digo que acho que tem dar um banhinho, está com cheirinho de vômito ou está com cheiro de xixi. Quem sabe tu não dás um banho. A gente trabalha à noite, mas dá para dar um banho. Elas aceitam numa boa, pois é para o bem da criança. Eu me ofereço se tiver que dar o banho eu faço. Nunca tive resistência em relação à orientação. (PE9)

Referiram que trocam informações sobre a criança com o familiar cuidador. Procuram esclarecer os familiares acerca do processo de saúde e doença da criança, de suas necessidades de cuidado, dos procedimentos que serão realizados com a criança, da patologia que a criança possui. Essas informações são transmitidas como forma de minimizar o sofrimento da família vivenciado pela hospitalização da criança.

Tanto a família quanto a criança quando chegam aqui precisam ser tratados. A mãe que está diretamente ligada ao tratamento de seu filho. Ela está diretamente ligada ao cuidado de seu filho e o cuidado repercute no processo saúde/doença. Então, a gente tem que, no momento que a criança chega, nós temos que sempre esclarecer aos familiares dessa necessidade, desse cuidado na sua totalidade. (PE2)

Já de início a gente explica o que vai fazer. Olha vou levar teu nenê lá porque tem que pegar uma veinha. Ou vou levar teu nenê porque tem que colher urina por sondagem, porque na coleta normal deu infeccioso. Por sondagem a gente vai ver se vai confirmar e elas aceitam. (PE3)

Preocupam-se em realizar orientações acerca do cuidado à criança que será necessário após a alta hospitalar sobre a alimentação nasoenteral, por gastrostomia, cuidado com a colostomia, entre outros.

Faz parte do tratamento. Muitas vezes elas saem daqui e vão para casa e o tratamento continua. Então, as pessoas têm que ser orientadas. (PE3)

No próprio cuidado em si a enfermagem já vai ensinando elas a fazerem. Por exemplo, têm crianças aqui com sonda, com gastrostomia, que vão para casa e vão continuar. Então, elas já vão dando alimentação. A gente ensina como faz a lavagem das sondas. Quando tem crianças com colostomia. A gente encaminha lá no grupo de estomizados e, depois, já continuam após a alta. (PE6)

Referiram que, principalmente, mães que tem o primeiro filho e mães adolescentes necessitam ser orientadas e auxiliadas a realizarem o cuidado com a criança.

Nessa questão de banhos que agente dá juntos, em algumas crianças recém-nascidas. Aqui recebemos crianças recém-nascidas que vêm da maternidade. A mãe que tem o primeiro filho que ainda não tem aquela noção de dar banho. A gente orienta, dá banho junto. Algumas crianças acabam indo para casa com sonda. Então, a gente orienta a mãe, ensina ela, porque a criança fica em casa e vai receber a dieta, alimentação por sonda. (PE4)

Cada vez mais adolescentes estão sendo mães. Muitas delas têm muito pouco conhecimento acerca de como tratar uma criança, de como atender, quais os primeiros cuidados que tem que ser feitos, quais são as idades para cada coisa, os períodos de desenvolvimento da criança. Elas têm muitas dúvidas, são muito ignorantes em vários aspectos. Então, a gente como profissional de saúde tem que estar habilitado para dar esse tipo de atendimento. (PE2)

Apesar de compartilharem o cuidado à criança e esforçarem-se para isso referiram a existência de conflitos e obstáculos existentes nessa relação. Estes são ocasionados, principalmente, pelo não entendimento da família acerca do que está sendo feito com a criança ou devido a sua discordância da equipe.

No procedimento, se acontece alguma coisa, muitos não entendem o que está sendo feito. Mesmo se diz que é necessário fazer punção, muitas vezes há obstáculos. (PE1)

Não. Uma das características da pediatria é que a gente não faz nenhum procedimento coma mãe ali do lado. Por quê? Porque a criança se torna difícil. Os maiorzinhos falam: -Ah, só um pouquinho, só um pouquinho e pegam a mão da mãe, quando a gente vai lá: - Não, só um pouquinho. Então, o que a gente faz? A gente tem a salinha ali no posto. Colocamos o colchãozinho e a gente pede para a

mãe ficar do lado de fora do posto. Tem um vidro ali, aí ela vai ficar olhando que ninguém vai maltratar, ninguém vai abusar. Mas a gente consegue dominar melhor a criança. Só nós. Porque também já perdes um pouco daquela estrutura senão punciona na primeira. Já começa a dizer que está judiando porque está fincando, porque está isso e a criança chora. Então, é complicado. Sondagem, essas coisas, tudinho a gente faz ali. Elas ficam olhando pelo vidro, pelo visor. (PE3)

Para que o cuidado possa ser compartilhado com os familiares é necessário que os profissionais se coloquem no seu lugar e procurem compreender o que estão passando nesse momento de internação de um filho. Torna-se importante refletir sobre as práticas de cuidado que devem ser empregadas na assistência à família, visando a minimização de tensões, ansiedades e medos, proporcionando segurança nesta interação. Para isso, é necessário que os profissionais de enfermagem trabalhem de forma empática com a família da criança. (LIMA et al.; 2010).

A questão do vínculo também é de suma relevância na interação enfermeiro-paciente família, pois a confiança mútua e a co-responsabilidade são pilares do relacionamento e de trocas. O enfermeiro apresenta-se como elemento fundamental para a formação de vínculo com a criança e com a família, elucidando seus direitos no hospital, buscando atender seus anseios e dúvidas na busca pelo compartilhamento do cuidado. (MAESTRI et al.; 2012).

O cuidar em Enfermagem não diz respeito somente ao cuidado físico, tal concepção adquire dimensões mais amplas, baseadas em princípios humanísticos. Dar apoio emocional para a família compreende estar disponível quando necessário, conversando, escutando, encorajando, dedicando-se. No diálogo vivido entre enfermeira e mães de crianças no hospital, a Enfermagem manifesta-se de várias formas, ouvindo, dando conforto, carinho e atenção, esclarecendo dúvidas, estando presente, proporcionando momentos de descontração e relaxamento, e conforto espiritual, ajudando no cuidar da criança. Interagir com a família fornecendo-lhe informações auxilia a minimizar o sofrimento vivenciado pela hospitalização da criança. (SILVA, F. A. C. et al.; 2009).

Ao ser envolvida no cuidado, a família tem o direito de conhecer o projeto terapêutico proposto para seu filho e de ser instrumentalizada acerca do processo de hospitalização, para que tenha condições de enfrentá-lo. A experiência da internação no hospital, em razão das suas características e rotinas, muitas vezes rígidas e inflexíveis, pode gerar desconforto no paciente, impessoalidade, dependência da tecnologia, isolamento social, falta de privacidade, perda de identidade e da autonomia, dentre outros, rompendo bruscamente com seu modo de

viver, incluindo suas relações e papéis. Neste caso, a identidade e a autonomia podem ser afetadas, comprometendo sua capacidade de escolher, decidir, opinar e expressar-se. (BAGGIO et al.; 2011).

A família, por meio da sua participação ativa no cuidado à criança, procura manter sua autonomia frente à equipe de saúde. Neste sentido, compartilha decisões sobre o cuidado da criança e tenta participar, conversando acerca do plano terapêutico, a fim de subsidiar suas decisões, negociando com a equipe o cuidado, tomando decisões a partir das avaliações que realiza. (DUNST; HAMBY; BROOKFIELD, 2007).

Através da sua participação no cuidado, as famílias estão conhecendo mais o cotidiano do hospital e, a partir deste conhecimento, estão desenvolvendo sua consciência crítica e sua autonomia, fortalecendo seu poder de reivindicação, tornando-se mais participativas no processo de tomada de decisões, quanto ao cuidado à criança e aptas a fazerem sugestões para sua melhoria. (LIMA et al.; 2010; XAVIER et al.; 2013).

É indiscutível que o enfermeiro está mais próximo à criança e à família e possui uma visão ampla de suas necessidades. Para a família é imprescindível que o profissional de saúde ouça suas dúvidas, valorize sua opinião e incentive sua participação em todo o processo de cuidar durante a hospitalização, minimizando possíveis conflitos surgidos na relação. (MURAKAMI; CAMPOS, 2011).

Mães adolescentes necessitam ser orientadas e auxiliadas a realizarem o cuidado com a criança. Enfrentam dificuldades para cuidar do seu filho recém-nascido. Passam por um processo de aquisição e de transição de papel iniciado na gestação, durante o qual a mulher deve desenvolver conhecimentos e habilidades para cuidar do bebê, necessitando do aprendizado para realizar de maneira competente e confiante essas tarefas. As mães adolescentes para superar seus medos e dificuldades para prestar o cuidado ao filho, buscando ajuda dos profissionais de enfermagem, podendo sentir-se auxiliadas, acolhidas, apoiadas e seguras. (MORAIS; CAMPOS, 2011).

A hospitalização da criança gera alterações na dinâmica familiar, podendo ocasionar incapacidade da família lidar com essa situação. A enfermagem ao compartilhar o cuidado à criança com a mesma apóia a família a partir do momento em que informa sobre a condição de saúde da criança, comunica-se efetivamente com os membros da equipe e família, possibilitando a construção de vínculos e de confiança mútua. Por meio dos vínculos formados com a família pode auxiliá-la na convivência diária da internação hospitalar, na compreensão e no enfrentamento da doença, estabelecendo meios para facilitar esse processo. (ARAUJO et al., 2009).

4.8 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DO CUIDADO COMPARTILHADO NA