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O slogan da escola e sua relação com o “sucesso escolar” e o papel dos

4 PERCURSOS DISCURSIVOS DO “SUCESSO ESCOLAR” E SUAS FORMAS

4.3 O slogan da escola e sua relação com o “sucesso escolar” e o papel dos

O ponto de partida para a “escola ser o que é hoje”, isto é, atrair para si um grande número de matrículas e resultados crescentes nas avaliações, revela-se nas seguintes palavras da coordenadora Cecília:

Nós costumamos dizer que nosso o nosso divisor de águas foi o ano de 2015, nós tivemos a oportunidade de fazer uma formação oferecida pelo MEC né? (...). E aí nós fizemos, eram encontros semanais que nós debatíamos vários temas, e aquilo, isso começou em 2014, essa formação; e aquilo serviu para nós remexemos naqueles conceitos que nós tínhamos sobre escola, e nos incomodarmos com aqueles resultados que os nossos alunos estavam tendo. A gente tem que fazer alguma coisa. Então nosso ano de 2015 foi todo, final de 2014, final de 2015, foi todo para remexer nisso tudo. (Fortaleza, entrevista, CECÍLIA, 2019).

As mudanças feitas a partir de então seguiram a seguinte reflexão da coordenadora:

Foi quando a gente fez algumas mudanças na forma de avaliar. Foi quando a gente começou a repensar o nosso projeto político pedagógico. Foi quando nós repensamos a forma como nós distribuímos as aulas, né? Nós mexemos também no nosso plano anual e estamos mexendo nele até hoje. Todo ano a gente tem alguma coisa para modificar no nosso plano anual e isso é feito no coletivo também. O professor ele não é, ele não faz o seu plano anual sozinho. Ele faz o plano anual junto com os colegas e a coordenação, o que que é bom, o que que é melhor, o que conseguimos, isso aqui foi importante ensinar para o aluno, isso aqui nós conseguimos ensinar o aluno, como é que a gente leva esse ano? Tudo isso é pensado constantemente, bimestre a bimestre, certo? Então é uma forma de ver a escola mesmo, da forma dinâmica como ela é. De que todos os alunos são diferente. De que todo ano é uma clientela diferente, e que todo ano a gente tem que fazer diferente. (Fortaleza, entrevista, Cecília, 2019)

Observam-se mudanças então na forma de avaliar, na organização e apresentação das aulas, em como é visualizado o público da escola. Certamente são fatores que interfere na qualidade do ensino e o que sem dúvida atrai um público específico, ou seja, aquele que reconhece esses códigos de organização, que na realidade se configura como um público diferenciado ou seja privilegiado.

É possível demarcar temporalmente o discurso do sucesso escolar e sua agenda na escola. É interessante perceber que foi no primeiro PLAMETAS (plano de diretores), no qual o diretor Leandro, colocou no plano anual de professores melhorar a autoestima da comunidade escolar. Ele decidiu colocar no muro da escola e na farda dos meninos o lema Escola de Sucesso. No início, “muitos ironizam. Alunos na época atribuíam qualquer problema da escola com o

slogan “Escola de Sucesso”, pontuou Leandro.

Quando ironizado sobre o lema da escola, o diretor advertiu que se ele, como diretor, não acreditasse na escola dele, quem iria fazê-lo? “Não naquele momento que a escola era de sucesso, mas que nós, todos juntos, uma equipe boa, compromissada, teríamos condição de fazer ser uma escola de sucesso como ela hoje é e que vai ser mais a cada ano” acrescentou ele.

Foi então quando surgiu a ideia de “comprar” esse slogan de uma escola de sucesso. Ninguém tinha tido até aquele momento essa ideia disse-me o diretor. Junta-se, portanto, o momento do campo até o momento da consagração do campo (Bourdieu, 1996), ao momento do conhecimento do campo acadêmico, uma aposta no que poderia oferecer rentabilidade dentro de um campo educacional a médio e longo prazo.

A um só tempo colocar o slogan no muro e na farda dos estudantes, além da dimensão do muro é uma maneira para fazer referência ao conjunto das outras escolas, uma forma de anunciar uma entrada no mercado que é o campo educacional. Para isso, as avaliações internas e os fatores externos precisam coincidir, dentro da escola, trabalhando a autoestima dos alunos e oferecendo as condições de possibilidade para sua realização.

Existia um certo “deboche” com relação ao slogan da escola de sucesso, segundo me informaram os entrevistados. Diziam alguns estudantes: “olha o que acontece na escola de sucesso”. Essa frase era dita num período um pouco depois do diretor Leandro ter cunhado este termo que, segundo ele, retirou de revistas relacionadas à temática da educação, as quais caracterizavam o que era e o que não era uma escola de sucesso.

Por exemplo, este deboche dava-se quando ocorria problemas de indisciplina, quando a escola ainda não teria “alcançado o patamar que tem hoje”, disse a coordenadora. Mas na insistência do diretor de manter o slogan, “As pessoas começaram a acreditar que poderiam fazer realmente o sucesso, né? E que o sucesso era o dia a dia, era o caminhar legal, fazer bem feito né, se propor a fazer um pouco mais aquilo que estava fazendo”, disse a coordenadora Cecília.

A respeito deste “sucesso”, a coordenadora explicou: “Faz parte das pessoas estarem aqui, querer fazer parte deste sucesso. O slogan ajuda a caminhar, atrai. As pessoas acreditam nele, vão em busca dele. Hoje ele é a cara da escola”. Neste sentido, o slogan da escola atrai as pessoas que compartilham ou acreditam no discurso do “sucesso escolar” e, por isso, reproduzem ou internalizam as disposições discursivas que levam à prática de construção do sucesso, como é o caso das avaliações, sem nem mesmo conseguirem fazer uma autocrítica

das disposições ou condições que leva um estudante a ter êxito nos estudos.

Os entrevistados apontam que nem tudo é assertivo na escola, mas o pertencimento e o efeito de crença do “sucesso da escolar” nos seus adeptos são frutos do slogan, que produz ou cria uma responsabilidade para com a conduta dos professores e dos demais atores, como se expressou a coordenadora : “Agora tudo aqui é sucesso? Não e nem é fácil, né?. A gente trabalha muito e a gente não tem, não acredita que tudo que a gente faça seja sucesso, né?, mas a gente sabe que o slogan tem um peso para cada um de nós. A gente, tem uma responsabilidade”.

Para os entrevistados de modo geral, os estudantes da escola Meritum “são alunos de sucesso”, disse-me o diretor Leandro, e a coordenadora Cecília acrescentou: “aquele aluno comprometido com a aprendizagem dele, que tira o melhor dos professores dele” seria o estudante que preencheria esse perfil. Os estudantes que dispõem deste perfil seriam os que se moveriam a buscar o estabelecimento e permanecer nele, acredita a coordenadora.

Na compreensão dos entrevistados, o ensino da escola é diferenciado, segundo a formulação discursiva que os próprios estudantes fazem da mesma. Fazer “acreditar no sucesso para a vida, hoje os alunos têm o desejo de entrar na universidade pública, de uma forma geral. A escola dá condições para que os alunos cheguem às universidades, para aqueles que têm esse desejo”, concluiu.

Então, alunos comprometidos com a sua aprendizagem seriam os alunos de sucesso. Eles, enquanto escola, teriam “as condições de um bom ensino, e o resultado disso é o aluno que chega ao final do terceiro ano com uma vaga garantida” na universidade, salientou a entrevistada Cecília.

A coordenadora mencionou que um aluno que não é de sucesso seria “aquele que não sonha”. Ela destacou: “a gente trabalha tanto com esta perspectiva e os alunos quando chegam aqui também acreditam nessa perspectiva”. Em 2009, só tinha um aluno querendo ser remanejado para a escola, segundo me informou a entrevistada Cecília. Hoje, ao contrário de 2009, (2019) tem cerca de 400 alunos querendo ir para a escola, isto é, ser remanejado da prefeitura ao final da nona série. Neste sentido, “os alunos que não querem fazer parte do sonho não buscam a escola”, afirmou ela. Todo “aluno que busca caminhar, busca chegar em algum lugar está realizando seu sonho, seja na escola Meritum ou em outra escola”. Em contrapartida, “um aluno que desiste no meio do caminho” não seria um aluno de sucesso. Esses então seriam os critérios para definir o que é e o que não é um aluno de sucesso, ou seja, o esforço individual laborioso sem levar em conta as condições sociais de realização desse sucessor escolar obtido ou não por cada um desses estudantes.

tem diminuído isso sucessivamente”. Especificamente não há casos no estabelecimento de alunos que desistem dos seus sonhos, acredita ela. Isto porque “as vezes alguns têm de interromper, por conta de gravidez ou depressão, mas são apenas as circunstâncias ”, concluiu ela. Como mostram os dados no capítulo 1, acerca das motivações do abandono, apenas quatro estudantes configuraram abandono à escola no ano de 2018, por motivos de depressão ou ansiedade.

O Reconhecimento da SEDUC acerca do trabalho pedagógico e o crescimento da escola é um ponto que o diretor Leandro fez questão de ressaltar. É possível pensar que esse reconhecimento resulta nas condições de possibilidade para que demandas feitas pela escola sejam atendidas sem maiores problemas ou demoras. Essa espécie de capital social (BOURDIEU; PASSERON, 1964) a coloca numa posição de distinção com relação às outras escolas. Talvez, por isso, tenha sido possível a ampliação num curto período de tempo de 14 para 20 salas de aula, conforme me contou o diretor. Ou ainda uma super procura por vagas neste estabelecimento: “hoje não tem espaço para todo mundo; se não vier da prefeitura, não consegue uma vaga, não é fácil conseguir uma vaga aqui”, apontou ele.

Uma outra dimensão do referido sucesso escolar, corresponderia ao trabalho pedagógico dos professores, “ele (sucesso da escola) é parte da engrenagem de sucesso no qual 90% dos professores são magníficos e põe a rodar esta engrenagem” disse o diretor.

4.4 Divisão pedagógica do trabalho docente e o conhecimento prévio de quem é o público