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5. A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E

5.3. Alterações na Política Ambiental Brasileira no

5.3.2. Soberania Nacional e a CNUMAD 92

O "Projeto de Reconstrução Nacional" não fez menção à soberania na questão econônica, distinguindo-se, assim, das políticas adotadas por governos anteriores.

Entretanto, o Governo Collor mantém o envolvimento das Forças Armadas no Projeto Calha Norte, na defesa do ecossitema amazônico e na constituição de um grupo de trabalho para o zoneamento da Amazônia.

O "Projeto Calha Norte: Desenvolvimento e Segurança ao Norte das Calhas dos Rios Amazonas e Solimões", foi lançado em 1985 e submetido ao Conselho de Segurança Nacional. O objetivo era, em quatro anos, priorizar recursos e esforços de vários ministérios e órgãos públicos para "vivificar" 14% do território nacional.

Nos documentos relativos ao Calha Norte, a estratégia aparece assim, descrita: o conflito leste/oeste poderá projetar-se sobre a região das Guianas, no Norte da América do Sul e aproveitar-se dos conflitos regionais e das terras indígenas para desestabilizar as fronteiras nacionais. Portanto, segundo essa visão não se deveriam demarcar terras indígenas na fronteira, como garantia da integridade do território brasileiro. O "Estado Yanomami" era, então grave ameaça a ser combatida.

A democratização política no Brasil, conjugada com a total ausência de luta armada por parte da esquerda, no plano interno, além do fim da Guerra Fria, da existência de um inimigo externo personificado e da anulação das desconfianças entre Brasil e Argentina no contexto Sul-Americano, neutralizaram todas as hipóteses de guerra ou de ameaças internas que alimentaram as concepções e opções estratégicas do Exército brasileiro.

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5.3.2. Soberania Nacional e a CNUMAD - 92

O "Projeto de Reconstrução Nacional" não fez menção à soberania na questão econônica, distinguindo-se, assim, das políticas adotadas por governos anteriores.

Entretanto, o Governo Collor mantém o envolvimento das Forças Armadas no Projeto Calha Norte, na defesa do ecossitema amazônico e na constituição de um grupo de trabalho para o zoneamento da Amazônia.

O "Projeto Calha Norte: Desenvolvimento e Segurança ao Norte das Calhas dos Rios Amazonas e Solimões", foi lançado em 1985 e submetido ao Conselho de Segurança Nacional. O objetivo era, em quatro anos, priorizar recursos e esforços de vários ministérios e órgãos públicos para "vivificar" 14% do território nacional.

Nos documentos relativos ao Calha Norte, a estratégia aparece assim, descrita: o conflito leste/oeste poderá projetar-se sobre a região das Guianas, no Norte da América do Sul e aproveitar-se dos conflitos regionais e das terras indígenas para desestabilizar as fronteiras nacionais. Portanto, segundo essa visão não se deveriam demarcar terras indígenas na fronteira, como garantia da integridade do território brasileiro. O "Estado Yanomami" era, então grave ameaça a ser combatida.

A democratização política no Brasil, conjugada com a total ausência de luta armada por parte da esquerda, no plano interno, além do fim da Guerra Fria, da existência de um inimigo externo personificado e da anulação das desconfianças entre Brasil e Argentina no contexto Sul-Americano, neutralizaram todas as hipóteses de guerra ou de ameaças internas que alimentaram as concepções e opções estratégicas do Exército brasileiro.

A hipótese de que as Forças Armadas tenham elegido a Amazônia como a nova prioridade e frente de projeção para buscar uma nova legitimidade, torna-se, ainda hoje, cada vez mais evidente.

Ela é reforçada na medida em que o Exército procura uma constante emergência nas questões amazônicas, polemizando com a causa indígena, os missionários, os ecologistas e os movimentos sociais da região.

O receio de que a Amazônia venha a ser "ocupada por forças internacionais em nome da ecologia e que o Brasil venha a perder a soberania sobre a região", (*104) foi divulgado em outubro de 1991 pelo Estado Maior do Exército e pelo Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos.

"A proposta de terminar com as Forças Armadas nos países em desenvolvimento, em prol de gastos com a educação e saúde de autoria de Robert MacNamara, é interpretada como uma das formas de concretização do acesso internacional à Amazônia; defender as forças armadas passa a ser, segundo tal corrente, defender a soberania nacional. Da mesma forma, as redes ambientalistas internacionais são vistas como braços das oligarquias financeiras anglo- americanas, com suas propostas de conversão da dívida externa por projetos de preservação ambiental".(*105)

(*104) Folha de São Paulo, 01.06.92, Caderno Especial,p.3.

(*105) HERCULANO, Selene Carvalho. "Do desenvolvimento (in) suportável à sociedade feliz" in

CjOLDENBERG, Miriam (org.). EM o&iaXiêJl£ja^JPplíÜ£ paniçipaçãQ SQçial. interesses em j.Q£Q e luta de idéias no mimmAL0í(Le£.oJÓ£Íi.C.O. Rio de Janeiro: Revan, 1992, p. 36.

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Assim, a CNUMAD - 92, foi interpretada como um engodo, uma fraude, um "forrobodó ecológico", instigada e viabilizada pelos países ricos contra a soberania nacional brasileira. (*106)

Em artigo no jornal Folha de São Paulo, Gerardo Mello Mourão, membro da Academia Brasileira de Filosofia, argumenta que "a tentativa de ocupação da Amazônia volta a ser explícita. Os países ricos, que, nunca salvaram a vida de ninguém, querem salvar a vida dos jurunas, dos ianomamis e dos índios em geral. Querem salvar a floresta amazônica, que seria o pulmão da humanidade e a defesa do planeta contra os buracos da camada de ozônio. (...) Resta a esperança de que, assim como já o fizeram os líderes da região amazônica - os governadores Gilberto Mestrinho e Jader Barbalho e o ministro Jarbas Passarinho - , o governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, que é um político muito atento às mutretas internacionais, e o próprio Presidente da República tomem uma consciência agressiva do problema, e entreguem a supervisão do congresso ecológico a pessoas do ramo, capazes de defender o interesse nacional: os quadros do Itamaraty e do Estado Maior das Forças Armadas".(*107)

(* 106) Ver: CARRASCO, L. "Depoimento à CPI sobre a internacionalização da Amazônia". Brasília, 20.08.91 e o artigo do mesmo autor: "Amazônia Tutelada". Jornal do Comércio, 19.04.91 Também nesse sentido a reportagem "A Guerra dos Babacas", publicada na Revista Veja em

11.09.91, p.76-77.

Com relação ao papel das Forças Armadas num regime democrático, é interessante ressaltar o artigo de Sérgio Porto da Luz, Oficial da Marinha, conferencista especial da Escola Superior de Guerra e especialista em política e estratégia brasileiras.

Entende ele que "(...) a questão salarial dos militares é corolário e decorrente da questão básica maior, de saber-se, pela voz e pelos instrumentos de que dispõe a sociedade civil, para que servem as novas Forças Armadas.(...) Quando a nação compreender que precisa de suas Forças Armadas para enfrentar o futuro (leia-se ECO - 92), para manejar material fabricado no Brasil, que seja como um canivete afiado apenas, mas com credibilidade e poder dissuasório como o submarino de propulsão nuclear será no mar, como a guerrilha será na floresta amazônica, como o controle do espectro eletromagnético será na defesa áerea, aí o Brasil estará menos mal (...)". (*108)

O capitão de-mar-e-guerra da reserva, Sérgio Porto da Luz, estrategista da ESG, é um pioneiro da tese de fortalecimento militar da região amazônica. No livro "Estrutura para o Poder Nacional no Ano 2001", Luz critica o conceito, amplamente difundido, de que a Amazônia é uma espécie de pulmão do mundo.

Segundo noticia a Revista Isto É: "Para ele, é preciso demonstrar à comunidade internacional a vontade firme do Brasil de impedir que a Amazônia seja impunemente arranhada". (*109)

(*108) LUZ, Sérgio Porto da. "O lucro dos baixos soidos". Folha de São Paulo, 24.07.91, p. 3 (*109) CfflMAROVITCH, Mario. "A floresta verde- oliva". Revista Isto É, 13.04.94, p. 41.

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Segundo a mesma revista, "opinião semelhante tem o general Antenor Santa Cruz Abreu, que chefiou o Comando Militar da Amazônia durante três anos. Ele afirma que o Brasil jamais deve se curvar à tese espúria da chamada soberania relativa".(*l 10)

Entende Selene Herculano que "os pruridos anti-ambientalistas desses militares são interpretados pelos ambientalistas oponentes como sendo resultado de uma crise de identidade e de funções, pois, agora que não têm mais o comunismo como arqui-inimigo, precisam construir outro a fim de justificar sua permanência e seu gastos". (*111)

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