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8. METODOLOGIAS APLICADAS

8.1 Sobre a abordagem exploratória: elementos de análise

Para Gil (2000), as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema estudado, com vistas a torná- lo mais explícito. Nesta pesquisa, esta etapa objetivou a construção de uma base de dados referente à delimitação do campo de pesquisa, e optou-se, neste sentido, por dividi- la em duas partes: uma é referente ao campo teórico, e outra referente ao campo empírico. A etapa teórica objetivou apresentar uma delimitação dos principais conceitos trabalhados no sentido de contextualizar teoricamente a pesquisa apresentada, tendo como referência um aprofundamento epistemológico do cooperativismo. Trabalhou-se também no sentido da construção de uma delimitação das duas categorias de análise centrais da pesquisa, os conceitos de “capital social cooperativista” e “eficiência cooperativista”. Para este fim, trabalhamos com técnicas conjugadas: pesquisa bibliográfica, eletrônica e de periódicos, bem como de artigos, dissertações e teses que tratam dos temas relacionados. Na etapa exploratória de campo empírico, é apresentada uma pesquisa descritivo-explicativa como forma de delimitar o campo empírico trabalhado descrevendo os elementos de análise e ao mesmo tempo tentando decifrar seus significados de forma explicativa no contexto dos objetivos da pesquisa. Esta etapa visa a demonstrar a influência da organização da cooperativa de crédito Sicredi Pioneira no desenvolvimento de uma cultura cooperativista na comunidade local, ou, em outras palavras, o estímulo a um capital cultural voltado ao cooperativismo, bem como a incidência de indicadores de resultado de gestão que reconheçam estas ações como elementos constitutivos dos objetivos de uma “eficiência cooperativista”. Segundo Gil (1996), a abordagem descritivo-explicativa tem como objetivo demonstrar criticamente as características de determinada população, grupo de estudo ou fenômeno, bem como suas representações, com base em vários elementos de análise que o pesquisador avalia como relevantes para a construção analítica. Segundo o autor, a delimitação de um grupo de estudo tem por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população ou grupo visando a identificar a existência de associações entre variáveis – tendo como referência desta análise técnica a pesquisa qualitativa. No contexto desta pesquisa, a etapa explicativa teve como objetivo central demonstrar os fatores que determinaram ou contribuíram para a ocorrência dos processos desenvolvidos, suas razões, motivações e consequências.

Na etapa descritivo-explicativa, foi incorporado um conjunto de procedimentos metodológicos no sentido de refinar os dados de análise da pesquisa e delimitar contextualmente a cooperativa estudada. Neste sentido, trabalhamos com elementos de análise tanto qualitativos quanto quantitativos, tendo como técnicas: análise bibliográfica documental; pesquisa eletrônica; e construção de enquadramento de grupos de entrevista, análise de patrimônio cultural, símbolos e monumentos municipais e acervo fotográfico; também foi utilizada a composição do diário de campo como forma de compor o processo de análise das impressões registradas pelo pesquisador, tanto como observador como participante de muitas das ações descritas na pesquisa. Consideramos que o conjunto das informações selecionadas nesta etapa contribuiu para uma visão ampliada das motivações e consequências das ações sociais do objeto central do estudo de caso – no caso, a cooperativa de crédito Sicredi Pioneira. Nesta etapa da tese, explicamos brevemente a composição das estratégias e das abordagens utilizadas para compor o recorte analítico do objeto de estudo.

A abordagem sócio- histórica representou no contexto dos objetivos, nesta pesquisa, uma abordagem estratégica de análise qualitativa para a composição do campo empírico. A abordagem sócio- histórica possibilita análises de um sentido de trajetória e de significações sociais. No âmbito desta pesquisa, a análise de trajetória do nosso objeto de estudo, a cooperativa de crédito Sicredi Pioneira, contribuiu no sentido de interpretar as motivações de algumas ações e as consequências destas no âmbito das ações junto à comunidade local e constituição de significações sociais. Como estratégia de resgate e análise de trajetória histórica, atuamos em conjunto com outras organizações da região que trabalham no resgate e na manutenção do patrimônio do cooperativismo, por meio de acervo documental e fotográfico e de relatos escritos dessas trajetórias: a Fundação Padre Amstad e a Casa Cooperativa de Nova Petrópolis. Também nesta etapa, trabalhamos com análise da pesquisa empírica, relacionando o patrimônio cultural local específico às representações da cultura cooperativista, tais como: a) monumento do cooperativismo denominado de “força cooperativa”, b) o monumento do Padre Amstad, c) acervo fotográfico, d) símbolos da cidade. Freitas (2002, p. 33) considera esta abordagem como estratégica no sentido de que possibilita um panorama mais abrangente da análise social e, neste sentido, menos reducionista ou idealista.

A perspectiva sócio-histórica, tendo o materialis mo histórico-dialético co mo pano de fundo, expressa em seus métodos e arcabouço conceitual as marcas de sua filiação dialét ica. Analisando a produção de autores sócio -históricos como Vygotsky, Bakhtin e Luria, percebo como a sua abordagem teórica pode fundamentar o trabalho de pesquisa em sua forma qualitativa, imprimindo-lhe algumas características próprias. A perspectiva sócio - histórica baseia-se na tentativa de superar os reducionismos das concepções emp iristas e idealistas. Isso fica evidente no que Vygotsky (1896 -1934) assinala como a “crise da psicologia” de seu tempo, que se debate entre modelos que privilegiam ora a mente e os aspectos internos do indivíduo, ora o comportamento externo. Procura desse modo construir o que chama de u ma nova psicologia que deve refletir o indivíduo em sua totalidade, articulando dialeticamente os aspectos externos com os internos, considerando a relação do sujeito com a sociedade à qual pertence. Assim, sua preocupação é encontrar métodos de estudar o homem co mo unidade de corpo e ment e, ser biológico e ser social, membro da espécie humana e participante do processo histórico. Percebe os sujeitos como históricos, datados, concretos, marcados por uma cultura como criadores de ideias e consciência que, ao produzirem e reproduzirem a realidade social, são ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela.

Com base na abordagem sócio- histórica, reconhecemos o patrimônio cultural como elemento de análise relevante como delimitação do campo por representar uma expressão da construção de processos de significação local, o que possibilitou evidenciar elementos analíticos para o pesquisador dentro dos objetivos da pesquisa. Destacamos a importância, para os objetivos desta pesquisa, do reconhecimento dos monumentos relacionados ao cooperativismo co mo um dos elementos de análise da pesquisa empírica de campo, por representar um processo de significação da comunidade local. Neste sentido, Canclini (2008, p. 290-302) considera:

Co mpreender a colocação de um monu mento urbano como signo ou símbolo é fundamental para estabelecer suas relações com o social e com a percepção do monumento co mo imagem. Se u m monu mento é visto como u m símbolo pelo observador, considerando-se a maneira co mo a sociedade o interpreta e qual a forma que ele assume no imaginário coletivo, pois é a imagem que ele assume para os habitantes da cidade que expressa e define sua importância para o social. Se visto como signo, compreendemos como o monumento se coloca para u m observador como ide ia da representação de alguma coisa. A forma como u m monumento público se apropria de um determinado espaço e o ressignifica é, por vezes, fundamental para o entendimento de um espaço. Estes trabalhos determinam o espaço e a arquitetura circundante, torna ndo-se marcos, verdadeiros pontos de confluência do tecido urbano, como “nós” no panorama geral oferecido pela agitada vida de u ma cidade.

Com base nas considerações do autor, podemos reconhecer que a análise das representações dos monumentos públicos demonstra uma construção coletiva e pública de entendimento cívico territorial, expressa em uma representação estética, assim expressando fragmentos analíticos de representações coletivas de significação. Em um sentido contextual histórico, tem um sentido intencional de trajetória intergeracional,

visto que “o monumento ficará para as gerações futuras reconhecerem as representações das gerações do presente, estas novas gerações podem manter estas representações ou rejeitar” (CANCLINI, 2008, p. 210). Por outra abordagem, podemos considerar que os monumentos representam um capital cultural e comunitário que compõe a trajetória de uma comunidade, podendo assim representar fatores identitários coletivos e, neste sentido, representando elementos constitutivos de capital social específico de determinada comunidade. No contexto da pesquisa, estes monumentos representam evidências de um envolvimento da cooperativa com a comunidade, relacionado a investimentos e capital cultural local.

O uso de indicadores de resultado contribuiu na composição de elementos de análise das prioridades da gestão da cooperativa. Neste sentido, trabalhamos com dois indicadores principais: o Balanço Social Anual e o Anuário de Sustentabilidade. Estes indicadores visam a identificar as representações e demonstrativos dos “sentidos de resultados” de sustentabilidade e crescimento relacionados à gestão cooperativa. Neste sentido, não trabalharemos com os resultados expressos nestes indicadores na gestão da cooperativa, visto que o objetivo desta delimitação se restringe às representações de “resultado” previstas pela gestão da cooperativa (SICREDI, 2016). Não é nossa intenção discutir a efetividade ou eficácia destes indicadores, pois nesta pesquisa trabalhamos com o sentido de resultado previsto, eficiência, e não com o de análise de resultado alcançado, eficácia. Na delimitação temporal, nos detemos nos demonstrativos dos anos de 2015 e 2016 por se tratarem do período de uso do Anuário de Sustentabilidade. Avaliamos que o uso desses indicadores, como parte de pesquisas empíricas, poderá fornecer elementos de análise que contribuam para respostas – tanto às hipóteses com aos objetivos desta pesquisa. Como aprofundamento da análise das ações descritas nestes documentos, nos limitaremos às ações descritas como Casa Cooperativa e cooperativas escolares, por serem reconhecidas, nesta pesquisa, como as principais ações de estímulos a uma cultura cooperativista local e construção de capital social cooperativista. Sendo assim, estas duas ações representam os elementos centrais de análise, estando presentes tanto nos indicadores de resultado da cooperativa como na análise sócio- histórica e nas entrevistas posteriores.

Sobre as significações geradas junto à comunidade envolvida nas ações sociais cooperativas, avaliamos que a delimitação destas significações junto dos atores envolvidos nestas ações contribui no sentido de evidenciar as motivações e consequências das ações da cooperativa estudada, no estímulo a uma cultura

cooperativa local. Como forma de categorizar este grupo, iremos delimitá- lo com “comunidade cooperativa local”, por representar um grupo de estudo com características comuns. Para os objetivos desta etapa, trabalhamos com o uso de entrevistas semiestruturadas a fim de identificar as significações das representações deste grupo delimitado. Destacamos que o uso de entrevistas representa uma estratégia complementar às etapas anteriores como forma de agregar informações e análise do campo empírico. Esta etapa teve como base interpretativa o procedimento de análise de conteúdo, o que possibilitou a produção de dados e a sua sistematização a partir da coleta de fragmentos significativos tanto das entrevistas como do seu contexto. As informações empíricas desta etapa contribuíram na composição de dois momentos interpretativos interligados – dos referenciais teóricos anteriormente desenvolvidos e das duas categorias de análise descritas anteriormente: as ações de “fonte de capital social” e a análise das “consequências destas ações ou rebatimento”. A construção das análises decorrentes destes dois momentos referenciam as bases analíticas para as considerações finais.