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Sobre a composição do valor das mercadorias

Fonte: Elaborado pela autora, com base na Obra “O Capital, Volume III”, de Karl Marx, 1983.

No entanto, esses fatores relacionam-se com os fenômenos da oferta, procura e concorrência e tanto influenciam seus movimentos quanto são influenciados por eles. Como isso ocorre? Há que se entender, inicialmente, que a Lei do Valor, que determina o valor das mercadorias em razão do tempo necessário à sua produção, considera-as em seus diversos setores seja individualmente seja coletivamente; enquanto que os fenômenos da concorrência, da oferta e da procura centram-se em explicar as oscilações dos preços em geral, ou seja, coletivamente, relegando ao segundo plano os seus valores individuais em favor de um genérico preço de mercado22. “Os diferentes valores individuais devem estar equalizados em

um valor social, o valor de mercado” (MARX, 1983, p.140). Assim, os preços das mercadorias passam a ser influenciados por um primeiro elemento que pressiona

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“preço é a forma relativa do valor de uma mercadoria quando o equivalente é o dinheiro” (CARCANHOLO, 2011, p.65). Preço de custo (Cap constante + Cap variável) mais-valia

valor das

mercadorias

mercadorias iguais, mas, que muitas vezes são produzidas de uma maneira diferente (com um tempo maior ou menor de trabalho necessário) a um equivalente de preços. Trata-se da concorrência.

O que a concorrência realiza, primeiramente, dentro de uma esfera é estabelecer um valor de mercado igual e um preço de mercado igual a partir dos diversos valores individuais das mercadorias. [...] para que o preço de mercado de mercadorias idênticas, mas que são produzidas cada uma em condições individuais diversas, corresponda ao valor de mercado e não se desvie dele, nem por acréscimo nem por decréscimo, é mister que a pressão que os diferentes vendedores exercem uns sobre os outros seja suficientemente forte para lançar no mercado a massa de mercadorias que a necessidade social requer, isto é, a quantidade pela qual a sociedade é capaz de pagar o valor de mercado (Id, Ibid., p.140).

Para ilustrar melhor essa situação, atente-se ao seguinte exemplo: tem-se que determinado capitalista A, produtor de milho em larga escala, detentor de terra fértil, meios de trabalho avançados tecnologicamente e força de trabalho qualificada, produz X toneladas de milho, em y de tempo e as vende por w de preço, considerando o valor despendido para a produção: força de trabalho e capital constante e o lucro. Por outro lado um capitalista B, também produtor de milho, pagando aluguel da propriedade onde semeia o produto (ressaltando-se a baixa qualidade da terra), utilizando material rústico e pessoal pouco capacitado, produz uma quantidade de milho X, em 2y de tempo e as vende por 2 w de preço no mercado, considerando, também, o preço de custo adiantado para a produção + o lucro. Nessa situação hipotética, pergunta-se: quais os preços serão mais atrativos ao mercado? O do grande produtor ou o do pequeno capitalista? Certamente os consumidores recorrerão ao primeiro empreendedor devido ao relativamente baixo preço dos produtos e à qualidade dos mesmos.

Essa demanda fará com que o segundo capitalista baixe seus preços e termine por ter uma queda em sua taxa de lucro já que, se quiser permanecer no mercado, mesmo em condições de produção diferente do primeiro, terá que reduzir o preço de mercado de seus produtos o que implica na redução, também, do lucro. Por conseguinte, isso ocasionará um decréscimo em investimento de capital que poderá levar à falência o seu empreendimento. Da mesma forma que a concorrência provoca uma oposição entre os capitalistas de maior capital e investimento tecnológico em relação aos capitalistas individuais, geralmente portadores de

pequeno capital23 e de baixo investimento tecnológico; também provoca um

momento no qual a classe capitalista se protege contra os efeitos da oscilação da taxa de lucro, trata-se da equalização da taxa geral de lucro, no âmbito da produção capitalista coletiva.

Os aspectos discutidos acima demonstram a contradição entre o interesse de capitalistas individuais, que tentam a todo custo maximizar suas taxas de lucro, e os interesses de uma classe capitalista que tem na divisão dos lucros e prejuízos sua base de enfrentamento às instabilidades inerentes ao modo de produção capitalista. Por isso,

[...] enquanto vai tudo bem, a concorrência, como se verificou na equalização da taxa geral de lucro, age como irmandade prática da classe capitalista, de forma que esta se reparte coletivamente na proporção da grandeza do que cada um empenhou o despojo coletivo. Quando já não se trata de repartição do lucro, mas, do prejuízo, cada um procura diminuir tanto quanto possível seu quantum do mesmo e empurrá-lo ao outro (MARX, 1983, p.191).

Já os fenômenos da oferta e da demanda relacionam-se à questão da necessidade social de determinados produtos e ao preço cobrado no mercado. Ou seja, referem-se à disponibilidade das pessoas adquirirem certos bens aos preços exigidos pelo mercado e à utilidade dessas mercadorias.

Ocorre que essa necessidade social define-se pela relação de classes sociais, ou seja, pela posição que cada um ocupa no mercado como detentor dos meios de produção ou como trabalhador assalariado. Enquanto o empresário gasta seu lucro com investimentos na ampliação da produção e no consumo próprio (sem que tenha trabalhado para isso), o trabalhador gasta sua renda no mercado, predominantemente, para atender às suas necessidades de sobrevivência. Dessa forma a relação patrão/empregado; classe capitalista/classe trabalhadora permanece, já que o trabalhador continua vendendo sua força de trabalho ao capitalista e consumindo as mercadorias, que ele mesmo produz, no mercado, mas, que não lhe pertence a não ser por meio da troca dinheiro/ mercadoria ou serviço.

Dessa forma, pode-se afirmar que os seguintes fatores contribuem para a formação e oscilação dos preços de mercado sobre o valor das mercadorias:

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“Na concorrência [...] tão logo o equipamento novo e mais custoso tenha sido introduzido genericamente, capitais menores passam a ser excluídos no futuro dessa atividade” (MARX, 1983, p.197).

concorrência, oferta, procura, necessidade social, capital adiantado, mais valia / lucro. As lutas políticas e as políticas sociais talvez interfiram nos mecanismos de oscilação e definição dos preços, no entanto, tal abordagem requer uma análise mais densa, que foge aos objetivos deste trabalho. Ilustrativamente, tem-se que:

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