• Nenhum resultado encontrado

Fonte: Elaborado pela autora, com base na Obra “O Capital, Volume III”, de Karl Marx, 1983.

Observou-se, até aqui, que a produção de mercadorias e a venda destas no mercado visando à obtenção de lucros pelos proprietários dos meios de produção e do capital são os principais fatores que impulsionam a existência do sistema capitalista. No entanto, existem mecanismos dentro desse modo de produção que fazem com que o seu funcionamento por vezes seja ameaçado em decorrência de sua própria dinâmica.

Marx, em sua obra, discute sobre a Lei da queda tendencial da taxa de lucro como um dos elementos que perturbam a regulação da economia de mercado. Segundo ele, no momento em que a economia capitalista se desenvolve, os capitalistas voltam-se mais para a busca de novos recursos tecnológicos, pertencentes ao capital constante, do que para o investimento na força de trabalho, produtora da riqueza.

[...] mostrou-se como lei do modo de produção capitalista que, com o seu desenvolvimento, ocorre um decréscimo relativo do capital

definição

preço de

mercado

concorrência,

oferta,

procura

capital

adiantado,

mais valia/

lucro

necessidade

social

variável em relação ao capital constante e, com isso, em relação ao capital global posto em movimento [...] (MARX, 1983, p.163-164).

A ideia exposta pelo autor se confirma na cena contemporânea na medida em que a automação conseguiu diversos espaços nas indústrias que historicamente foram ocupados por pessoas. Com a expulsão da força de trabalho, em decorrência da automação, outro problema é desencadeado: a redução do consumo de bens e produtos que por sua vez leva à estagnação, às crises. Isso acontece porque a classe trabalhadora somente consegue obter produtos por meio da venda de sua força de trabalho, mas, estando essa massa de trabalhadores desempregada, o consumo também é reduzido no mercado.

Por outro lado, com a redução dos postos de trabalho, há, ao mesmo tempo, uma elevação da exploração dos trabalhadores em atividade, empregados. “O grau de exploração do trabalho, a apropriação de mais-trabalho e de mais-valia, é elevado a saber por meio do prolongamento da jornada de trabalho e intensificação do trabalho” (Id, Ibid., p.177).

Atualmente, essa situação caracteriza a figura do trabalhador polivalente24. Ou seja, a demanda que é cobrada a um único trabalhador pelo capitalista é a de que ele execute o trabalho para o qual foi designado mais o trabalho equivalente a de outro trabalhador. Assim, a taxa de mais-valia, para o capitalista, é elevada na medida em que ele se apropria de mais-trabalho não pago, no entanto, sua massa de mais-valia é reduzida pelo fato de um trabalhador não fornecer a mesma quantidade de mais-trabalho que dois trabalhadores forneceriam.

É importante, no entanto, que se volte para a discussão sobre a taxa de lucro. Por quê? “A taxa de lucro é o aguilhão da produção capitalista, sua queda retarda a formação de novos capitais autônomos e, assim, aparece como ameaça para o desenvolvimento do processo de produção capitalista” (Id, Ibid., p.183).

As características acima expostas referem-se, predominantemente, aos aspectos que formam a dinâmica do capital industrial, dentro da economia de mercado ou capitalista. Portanto, os aspectos discutidos nas páginas anteriores referem-se ao processo produtivo, à classe trabalhadora inserida na produção de

24

O mundo do trabalho atual tem recusado os trabalhadores, herdeiros da “cultura fordista”, fortemente especializados, que são substituídos pelo trabalhador “polivalente e multifuncional” da era Toyotista (ANTUNES; ALVES, 2004, p.339).

mercadorias, aos capitalistas industriais e, portanto, ao capital industrial. No entanto, Marx também reservou em sua obra um tratamento teórico ao capital comercial e à sua fração de capitalistas e trabalhadores assalariados. No que se referem a estes, o autor analisou questões do tipo: como se dá a relação entre a mais valia e a taxa de lucro no capital comercial? E os trabalhadores? Participam do processo de criação de valor? De que maneira?

Sabe-se que a taxa de lucro mantém estreita relação com as oscilações ocorridas na mais-valia produzida, mas, não somente. Por quê? Apenas recapitulando: o lucro é obtido tomando como base os gastos com capital variável, capital constante e a mais-valia produzida, que no imaginário do capitalista provém, em sua maioria, de economias feitas no capital constante e variável. É como se ambos criassem valor excedente. Os capitalistas, portanto, consideram o Capital global adiantado para a produção e sobre esse valor acrescem um percentual que denominam taxa de lucro. Pois bem, esta situação ocorre com relação ao capital industrial, mas, de onde vem o lucro para o capitalista comercial?

O capital industrial é aquele que produz a riqueza e a vende ao capitalista comercial que, por sua vez, disponibiliza as mercadorias no mercado para o consumo em massa. Tendo-se o conhecimento de que o valor atribuído à determinada mercadoria é gerado no processo de produção, supõe-se, com base na Teoria Crítica de Marx, que somente nesta esfera é produzida a mais-valia. De fato, a produção de riqueza se dá no processo produtivo conforme já analisado em páginas anteriores, no entanto, essa mais-valia gerada é rateada entre o capitalista industrial e o comercial. De que maneira?

Primeiro é necessário que se identifique o que é capital comercial e as formas por meio das quais ele se divide, para que, em seguida, se possa ter uma ideia de como o lucro é produzido neste setor.

Considere-se a situação hipotética a seguir: um empresário, capitalista comercial, dono de uma loja que vende bicicletas encomenda determinada quantidade delas a uma indústria especializada em fabricação de bicicletas. O dono da indústria, no momento em que vende x bicicletas ao capitalista comercial acaba de realizar a transformação de sua mercadoria em capital. No entanto, a mercadoria, por ele vendida, ainda não concluiu o seu ciclo porque ainda ficará disponível no

mercado, na loja de bicicletas, aguardando ser vendida para os consumidores. Isso significa dizer que essa mercadoria continua sendo capital-mercadoria já que sua venda final ainda não se concretizou. Ressalte-se que, quanto mais tempo essa mercadoria permanecer no comércio, mais lentamente a reprodução do capital acontecerá. Isto acontecerá porque as empresas comerciais somente fazem novas compras no setor industrial quando as mercadorias que possuem são vendidas aos consumidores.

Tomando como base o exemplo dado acima, tem-se que a mercadoria produzida pelos trabalhadores, na esfera industrial, já portadora da mais-valia, transformou-se, com a venda ao capitalista comercial, em dinheiro incrementado. Da mesma forma, o dinheiro pertencente ao capitalista comercial transformou-se em mercadoria no momento em que ele a compra para revenda no mercado.

Marx distingue o capital industrial do comercial principalmente pelo fato deste assumir uma função que difere da do capital industrial, e dele se autonomiza, qual seja: a de comprar e vender mercadorias destinadas ao consumo, pelas pessoas, no mercado. Enquanto que o capital industrial tem a função propriamente de criar mais valor por meio do processo de produção de mercadorias, ou seja, de transformar matérias primas em mercadoria, dotada, portanto, de valor de uso, de valor de troca e de mais-valia (que a atribui a valorização).

Documentos relacionados