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SOBRE A PREDOMINÂNCIA DOS CURSOS DE QUALIFICAÇÃO/FIC:

4 PRONATEC COMO PROCEDIMENTO DE IN/EXCLUSÃO DA

4.3 SOBRE A PREDOMINÂNCIA DOS CURSOS DE QUALIFICAÇÃO/FIC:

No bojo da problematização que fazemos sobre a perspectiva da inclusão social presente do Pronatec, atrelada às políticas sociais de renda mínima, é que problematizamos também a preponderância dos cursos de qualificação/FIC em detrimento de outras modalidades educacionais. Como já apontamos, a forma neoliberal de organizar as políticas sociais, calcadas na renda mínima, está articulada à concepção utilitarista de conceber os direitos da população, que os condiciona aos interesses do mercado, à oferta apenas de um mínimo para manutenção do jogo econômico. Na concepção utilitarista de direito público, um dos pilares do neoliberalismo, não há a perspectiva de direitos naturais e universais “do homem” que devem ser garantidos pelo Estado. Ao contrário, os direitos (se é que se podem chamar assim) concedidos pelo Estado neoliberal restringem-se àqueles que são úteis ao fortalecimento do mercado. Assim ocorre também com o direito à educação.

A predominância dos cursos de qualificação/FIC e, no caso dos cursos técnicos, da forma concomitante ou subsequente no Pronatec, é uma das principais críticas empreendidas por pesquisadores como Lima (2012a, 2012b), Machado e Garcia (2012), Frigotto (2013), Ribeiro (2014), Santos e Rodrigues (2012), pelos movimentos sociais da EP e da EJA, pois vão na contramão do fortalecimento da elevação da escolarização da classe trabalhadora e das concepções de ensino integrado, de formação humana integral – bandeiras que vêm sendo pautadas nas lutas desse campo há muitas décadas e que havia dado alguns passos importantes com o retorno da integração entre educação básica e educação profissional, promovida pelo Decreto 5.154/04 e pela criação do Proeja, como sinalizamos anteriormente.

Embora nos documentos oficiais o Pronatec se afirme como ferramenta para melhoria do Ensino Médio e elevação da escolaridade das/os trabalhadoras/es brasileiras/os, suas ações não caminham nessa direção. Vemos (com o histórico dos programas apresentado no terceiro capítulo e com os dados que apresentamos no início deste capítulo) que, ao invés de se constituírem como “mais uma” possibilidade de oferta para atender demandas específicas de

qualificação, esses cursos de qualificação/FIC, desvinculados da escolaridade, são “o” principal – e, muitas vezes, único – modo de oferecer educação para a classe trabalhadora, em especial adulta. Conforme Frigotto:

A educação escolar básica (fundamental e média), pública, laica, universal, unitária e tecnológica, nunca se colocou como necessidade e sim como algo a conter para a classe dominante brasileira. Mais que isso, nunca se colocou, de fato, até mesmo uma escolaridade e formação técnico-profissional para a maioria dos trabalhadores, a fim de prepará-los para o trabalho complexo que é o que agrega valor e efetiva competição intercapitalista (2007, p. 1135, 1136).

A respeito da qualidade que a formação profissional pode alcançar diante da configuração dos cursos de qualificação oferecidos pelos programas governamentais, trazemos a fala de um estudante, que atualmente cursa o Proeja. Ele faz uma análise quanto ao curso de qualificação/FIC que realizou pelo Pronatec Bolsa-Formação no Ifes:

A única coisa, o ponto negativo que eu achei no Pronatec foi só o quesito da carga horária do curso. É pouco, eu achei muito pouco pra você chegar com isso no mercado, não tem tanta... Não tem tanto respaldo, entendeu?[...] Pro mercado não tem... Pra você poder pegar mais ali, se engajar mais naquele,... Naquela profissão, entendeu? Aquilo ali... na verdade você faz o que? Você domina em certas coisas, mas a maioria... Grande parte do que você vai fazendo, você não vai saber na hora, entendeu? Você vai precisar de um auxilio, de uma coisa a mais... de uma pessoa mais experiente pra ta te passando. Porque você não vai ter aquele domínio completo da profissão, entendeu? Só esse que eu achei um ponto, um ponto negativo. [...] Porque na verdade ali... Pelo que eu vi, com certeza, saindo do Pronatec, se eu fosse trabalhar na área, eu ia ser um auxiliar de de de... mecânica, entendeu? E só. Eu não ia ser um mecânico, ta entendendo? [...] Sai, sai como auxiliar, auxiliar... É isso aí que me deixou... Deixou um pouco pra mim... Deixou um pouquinho a desejar. Foi isso ai, entendeu?(Entrevista18).

O tempo da formação, e as possibilidades de desenvolvimento dos conteúdos técnicos dentro desse tempo, se colocaram em questão na fala do estudante e muito fortemente durante os meses em que acompanhamos uma turma de Pronatec. Ainda que a abordagem dos cursos seja reduzida ao básico (ou ao mínimo), o tempo se faz insuficiente mesmo para o que se propõe. No curso em que acompanhamos, que possuía o viés prático de manutenção de equipamentos específicos, em vários momentos as/os estudantes sinalizavam ao professor que não se sentiam seguros, que não estavam dominando determinado procedimento e que gostariam de voltar para praticar mais, pois o tempo trabalhado não havia sido suficiente para compreendê-lo e dominá-lo, sendo abordado apenas superficialmente.

O professor também fazia tal ponderação, tentando administrar o tempo de forma a retomar os procedimentos mais essenciais, em que se percebiam as maiores dificuldades. Dentro da

ementa que já é mínima, qual o mais mínimo ainda? O mais elementar com o qual se gastará mais tempo? Elegem-se prioridades. A abordagem prática exige que procedimentos sejam repetidos diversas vezes e não há tempo para isso, nem para todas/os as/os estudantes. Alguns acabam centralizando mais que outros a atenção do professor e o uso dos equipamentos. E por vezes percebe-se que entre tentar gastar o mesmo tempo com todas/os estudantes igualmente, ou o tempo que seria necessário com cada um, para que todas/os alcancem os objetivos, concentra-se mais tempo e atenção naqueles que apresentam mais desenvoltura, na expectativa de que, diante da insuficiência de tempo, pelos alguns saiam do curso com mais domínio das técnicas.

Com isso, reforçam-se estigmas sobre as capacidades e ritmos dos sujeitos. Essas questões são pertinentes a todo e qualquer processo de ensino aprendizagem escolar, porém diante da escassez do tempo desse perfil de curso, elas ganham uma proporção ainda maior. Mesmo extrapolando a carga horária mínima prevista de 160h, como apresentaremos no próximo capítulo, na Tabela 5, faz-se conveniente questionar se os cursos de qualificação do Pronatec Bolsa-Formação alcançam satisfatoriamente o objetivo de preparação básica para o desempenho da ocupação para qual se propõe formar.

Frigotto (2007) questiona que da maneira como são organizados, de forma curta e pragmática, os cursos de qualificação/FIC oferecidos à classe trabalhadora não podem ser considerados como efetivação do direito à educação. Devido à carga horária reduzida, à ausência de integração com a educação básica e ao fato de não oferecerem bases científico-tecnológicas de um campo do saber mais amplo, mas limitarem-se ao ensino operacional de uma técnica específica que pode ficar obsoleta rapidamente, tais cursos acabam por não preparar satisfatoriamente as/os trabalhadoras/es “nem para as exigências profissionais, nem para o exercício autônomo da cidadania” (FRIGOTTO, 2007, p. 1140). Corroborando com o autor, Castioni (2013) aponta que esse tipo de curso não contribui efetivamente para a construção de um itinerário formativo de jovens e adultas/os trabalhadoras/es que melhorem sua escolaridade de base – pouco contribuindo, assim, na melhoria de sua inserção ou reinserção no mercado de trabalho.

Mas é em busca de melhorias nas condições de vida, em busca de ter alguma profissão reconhecida e melhor remunerada, que as/os trabalhadoras/es buscam a qualificação, como

um estudante nos diz em relação ao motivo pelo qual buscou fazer o curso do Pronatec no Ifes:

[...] tive oportunidade de fazer cabeleireiro, esse industrial, moto a diesel, vários, mas aí eu falava com outras pessoas, que o horário pra mim não dava. Até que teve esse que eu vi que dava pra mim, eu interessei também por informação de outras pessoas também que já tinham me falado que era um setor que tinha a crescer, eu me interessei [...] E também porque eu não tinha uma profissão, porque profissão você tem que ter registrado, se trabalha às vezes, tem gente que ganha dinheiro, mundo e fundo, mas não tem registro que ele é profissional, trabalha biscate mesmo. E eu quero ter alguma profissão diferente na carteira. [...] Eu já trabalhei de várias coisas, mas assim, eles falam que tem auxiliar lá, mas às vezes você faz até serviço de profissional, mas auxiliar, você é auxiliar pro resto da vida, você faz até serviço de profissional, mas se não tiver constado que você é profissional... (Entrevista 8 - J50).

O estudante nos fala de uma busca, uma aposta, um desejo de que com a realização do curso possa melhorar sua condição profissional imediata. O que ele nos apresenta com relação à sua trajetória – trabalhar em vários tipos de funções como auxiliar e, mesmo tendo o domínio sobre o processo de trabalho, não ser reconhecido como profissional e remunerado como tal – coloca em questão a própria realidade do mercado de trabalho na qual estas/es trabalhadoras/es estão inseridas/os ocupando funções precarizadas, desvalorizadas e mal remuneradas.

A relação entre a educação profissional (na qual se destaca mais especificamente o predomínio da qualificação) e o mercado de trabalho é discutida por Kuenzer (1999), quando afirma que as exigências do mercado na realidade que vivenciamos, de acumulação flexível e reestruturação produtiva, operaram mudanças nas exigências do perfil do/a trabalhador/a que diferem do perfil do modelo anterior, de base fordista-taylorista, pautado no mecanicismo, repetição, disciplina e obediência. Agora o/a “trabalhador/a de novo tipo” precisa ter capacidade de comunicação por meio de diversas linguagens, inclusive semiótica e língua estrangeira, autonomia intelectual e conhecimento científico para resolução de problemas práticos, buscando aperfeiçoamento contínuo, posicionamento ético e moral para enfrentamento de novas situações, comprometimento, crítica e criatividade no trabalho.

A autora afirma que “estas novas determinações mudariam radicalmente o eixo da formação de trabalhadores, caso ela fosse assegurada para todos, o que na realidade não ocorre”. O que ocorre é que são escassas as oportunidades de emprego no mercado que absorvem

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Essa conversa foi realizada com um grupo de 5 estudantes, sinalizaremos uma letra após a numeração para destacar a fala de diferentes estudantes.

profissionais com esse tipo de formação: “na verdade, cria-se uma nova casta de profissionais qualificados, a par de um grande contingente de trabalhadores precariamente educados, embora ainda incluídos, porquanto responsáveis por trabalhos também crescentemente precarizados” (KUENZER, 1999, p. 129; 130).

Desde o início dos anos 2000, segundo Kuenzer (2006), a relação entre qualificação e mercado ocorre na perspectiva do que ela chama de “dimensão subordinada das políticas de inclusão”, que produz em relação ao mercado uma exclusão includente e, em relação à educação, uma inclusão excludente. A autora nos aponta:

Do ponto de vista do mercado, ocorre um processo de exclusão da força de trabalho dos postos reestruturados, para incluí-la de forma precarizada em outros pontos da cadeia produtiva. Já do ponto de vista da educação, estabelece-se um movimento contrário, dialeticamente integrado ao primeiro: por força das políticas públicas “professadas” na direção da democratização, aumenta a inclusão em todos os pontos da cadeia, mas precarizam-se os processos educativos, que resultam em mera oportunidade de certificação, os quais não asseguram nem inclusão, nem permanência. Em resumo, do lado do mercado, um processo de exclusão includente, que tem garantido diferenciais de competitividade para os setores reestruturados por meio da combinação entre integração produtiva, investimento em tecnologia intensiva de capital e de gestão e consumo precarizado da força de trabalho. Do lado do sistema educacional e de educação profissional, um processo de inclusão que, dada a sua desqualificação, é excludente (KUENZER, 2006, p. 880).

Assim, vivemos em tempos de baixas taxas de desemprego mas, como a economia do país não incorporou níveis elevados de desenvolvimento tecnológico, a maioria das vagas se concentra em setores como construção civil e de prestação de serviços. Dessa forma, a maioria das/os trabalhadoras/es não ocupa postos que exigem preparo para lidar com alto padrão de tecnologia e melhor remunerados, mas sim funções de trabalho simples, com condições precarizadas e baixa remuneração. Para essa maioria, então, se oferece uma educação profissional pontual sem relação com a escolarização.

Esse movimento é acompanhado de ampliação de vagas na educação que temos assistido no país, mas à maioria da população não se ofertam vagas em cursos universitários ou técnicos e sim os cursos de qualificação/FIC. Com isso, fragiliza-se ou nega-se o acesso à educação integral às/aos estudantes e trabalhadoras/es.

Na esteira dessa lógica é que podemos entender porque, embora a proposição legal do Pronatec cite os cursos integrados de nível médio e fundamental como possibilidade de oferta, não há nenhuma exigência ou indução que garanta essa articulação da formação profissional à

elevação da escolaridade dos jovens e adultas/os trabalhadoras/es, ponto que o diferencia substancialmente do Proeja. Esse aspecto é crucial porque, na medida em que não há exigência sequer de um mínimo de cursos por instituição participante que integre a qualificação profissional ao ensino fundamental ou médio, como mostram os dados, o que ocorre é a proliferação de cursos de qualificação/FIC que se destinam a qualificar as/os estudantes para funções extremamente específicas, sem proporcionar o acesso aos saberes presentes das disciplinas de formação geral e sem elevar a escolaridade dessa população. A crítica a essa realidade que se encarna no cotidiano de trabalho é feita por um docente entrevistado:

Porque a queixa continua sendo a da qualificação... A queixa do empresário continua sendo de que precisa de um profissional mais qualificado... Na coordenadoria [...] a gente faz muita palestra com empresas... [...] sobre equipamentos, que muitas vezes o professor que ta lá não conhece muito porque é um equipamento novo, e a empresa manda o cara de lá para apresentar o equipamento. Só que antes de apresentar o equipamento eles apresentam a empresa [...] e aí nessa apresentação, as queixas são sempre as mesmas: “Olha, o grande problema de recursos humanos lá da nossa empresa é que a gente não tem pessoas capacitadas, qualificada para assumir os postos”... E eu sempre faço uma pergunta incisiva: qualificado em que sentido? O que é um trabalhador qualificado, o que é um trabalhador capacitado? E aí ela fala... “não... que entende os processos, que entende os procedimentos... que consegue trabalhar de forma organizada... que consegue entender um manual, tal”... Mas isso não é muito mais um problema de educação básica? De saber as operações fundamentais, saber ler bem, saber discutir, saber apresentar uma ideia, saber criticar uma ideia? É muito mais uma questão de educação básica... Então, eu observo que esse investimento em área técnica... é... Talvez se fosse investido assim em formação fundamental, em educação básica melhor, talvez oferecesse um resultado mais interessante... Porque se ensinarmos o indivíduo a ler bem, a calcular e a viver na sociedade... Acho que a gente já dá uma base pra ele... Porque tecnologia muda a cada 3 meses; a cada 6 meses entra um equipamento novo... Os professores que davam aula de torno, hoje dão aula num equipamento que é comando numérico... Então, muitos deles ficam ensinando números que o aluno vai chegar na empresa e ele não vai encontrar nem aquela máquina, ele vai encontrar um computador no qual ele vai digitar, vai montar o desenho e a máquina vai cuidar daquilo... Então eu acho que a gente fica ensinando a tecnologia quando na realidade a gente tinha que ensinar o aluno/estudante a ler o mundo, a ler a tecnologia, a ler a ciência... E a se virar... Olhar pra„quele problema e falar: “como é que eu entendo esse negócio aqui? Como é que eu leio isso? O que consigo fazer?” Acho que a gente fracassa muito nisso... Ensina a operar a máquina e aí, quando muda a máquina a gente tem que dar outro curso... (Entrevista 20).

As questões trazidas pelo docente problematizam a perspectiva do treinamento dissociada e em detrimento da educação básica, até mesmo quando se trata de formação para o mercado. Questiona-se o tecnicismo presente mesmo nas outras modalidades de cursos da escola. E, em se tratando da oferta dos cursos de qualificação/FIC, tais perspectivas predominam. Entre o perfil de trabalhador/a que é exigido para determinadas funções do mercado e a formação que

é ofertada para jovens e adultas/os trabalhadoras/es, existe um descompasso que sobrepuja a de outros públicos que podem ter acesso a outra formação escolar.

Os programas governamentais de qualificação profissional de jovens e adultas/os trabalhadoras/es são um estímulo para as instituições de ensino, inclusive as federais, abdicarem ou enfraquecerem a oferta de cursos integrados, de nível fundamental e médio – que são mais longos, envolvem maior quantidade de profissionais e demandam um trabalho de construção de princípios pedagógicos, estratégias curriculares e didáticas, para oferecer cursos de curta duração, sem vínculo com a educação básica. Entra-se na lógica privatizante da “maior eficiência com o menor gasto possível” (MACHADO; GARCIA, 2013, p. 58). Eficiência aqui tomada, exclusivamente, como quantidade de pessoas formadas.

A educação básica, incluindo o Ensino Médio tornou-se direito de todos e é pré-requisito básico para o acesso a instâncias como a universidade, cargos públicos51 e determinados empregos. No entanto, como temos discutido, ao mesmo tempo em que se permite a existência de direitos no nível da formalidade, efetivamente se nega ou se impossibilita o acesso a esses direitos à maioria da população, que permanece em situação de baixa escolaridade, em condições de trabalho e renda extremamente precárias ou desempregadas.

A qualificação profissional é, então, usada como ferramenta pragmática de preparação para o modelo de produção instalado em nosso país, de capitalismo periférico, preparando superficial e insatisfatoriamente uma grande quantidade de trabalhadoras/es para postos precarizados de trabalho ou para o desemprego. Atualiza-se o discurso da teoria do capital humano, atribuindo à qualificação profissional o poder de tornar as/os trabalhadoras/es capazes de serem empreendedoras/es e inventar novas formas para sobreviver à situação de não-emprego, – o que as/os trabalhadoras/es, na verdade, sempre fizeram, com ou sem qualificação.

Falamos até aqui sobre a educação em sua polêmica função de preparação para o mercado e queremos discutir mais uma faceta do Pronatec que se alinha a essa lógica de formação tecnicista e pragmática e de fragilização do acesso à educação básica. Além dos cursos técnicos serem oferta minoritária dentro do programa, eles adotam a forma da concomitância e não da integração. Na esteira dos tensionamentos entre governo e os movimentos sociais em

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Com o fortalecimento da lógica da terceirização, cada vez menos se abrem concursos públicos de nível fundamental.

relação ao Pronatec, em agosto de 2013, o II Colóquio Nacional “A Produção do Conhecimento em Educação Profissional” (realizado em Natal envolvendo a comunidade acadêmica no campo da educação profissional) aprovou uma Carta52 direcionada ao Ministro da Educação à época, Aluízio Mercadante, repudiando vários aspectos do Pronatec e solicitando a revisão do conteúdo da lei. Tal carta foi também referendada pela 36ª Reunião Anual da ANPEd, em outubro de 2013.

Uma das críticas contidas na carta diz respeito à demanda de cursos técnicos para estudantes de Ensino Médio das redes estaduais estar sendo canalizada para a Bolsa-Formação, realizada pelo Sistema S e rede privada na forma concomitante, como caminho “mais fácil” de oferecer formação profissional a essas/es jovens, acarretando no enfraquecimento do Programa Brasil Profissionalizado, que visa a oferta de cursos integrados nas redes públicas estaduais. Esta, embora também seja uma das ações incorporadas ao Pronatec, encontra-se enfraquecida, haja vista que, como mostramos na figura 2, não teve suas metas alcançadas nos dois últimos anos.

Para efetivar os cursos integrados nas redes públicas estaduais, é necessária, entre outras coisas, a contratação de professoras/es de educação profissional e a estruturação física da rede. No entanto, os estados têm preferido encaminhar suas/seus estudantes para serem atendidas/os pela Bolsa-Formação no Sistema S e rede privada do que implementar tais adequações. Assim, “o Estado delega às entidades patronais a formação dos estudantes das redes públicas de ensino – e financia o processo – concedendo-lhes o direito sobre a concepção de formação a ser materializada” (ENEJA, 2013). A oferta dos cursos técnicos na forma concomitante fortalece a iniciativa privada, já que é nelas que se concentram tais cursos, enquanto a perspectiva da integração é deixada de lado e a rede pública segue padecendo a ausência de estrutura física e quadro docente suficiente para atender sua atual demanda, quanto mais para expandir e complexificar a oferta com cursos técnicos integrados.

Ressaltamos ainda, junto com Machado e Garcia (2013), a viabilidade de jovens e adultas/os