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Capítulo 4. Uma proposta poética como exercício das possibilidades que o Museu

4.3 Sobre a Proposta Triangular do Ensino da Arte

Ana Mae T. B. Barbosa estruturou a Proposta Triangular, em seu trabalho de Livre Docência denominado A Arte na Educação: anos 80 aos novos tempos, como professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no ano de 1990. No ano seguinte, ela publicou essa tese no livro A Imagem no Ensino da Arte, que norteou em grande medida o ensino da arte nas escolas públicas e particulares no Brasil. Ela nos trouxe as três facetas de sua ideia central sobre a aprendizagem da arte: a leitura da obra, a história da arte e a produção. Essa abordagem veio romper com a conhecida concepção do ensino

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O autor se refere aqui às quatro disciplinas básicas para o ensino e aprendizagem em artes: Produção, Crítica, História e Estética da Arte.

de arte, em especial, das artes visuais, na qual o aluno era levado a se expressar, longe da observação e fruição da obra de arte e de considerar a arte como conhecimento (BARBOSA, 2005, p. 143).

O núcleo de contextos para essa elaboração teórica foi constituído sobre três reflexões: as Escuelas al Aire Libre, do México, o Critical Studies, da Inglaterra, e o DBAE – Discipline Based Art-Education123, dos Estados Unidos. O primeiro movimento, ocorrido no México, foi um movimento modernista marcado pelo ensino que, deliberada e pragmaticamente, empunhou a ideia de arte como livre expressão e cultura, e se estabeleceu no país entre os anos de 1913 e 1933. (PILLAR, 2009, p. 101). O segundo movimento, o Critical Studies, teve início na Inglaterra, na década de 70, e manifestava uma insatisfação provocada pelo exercício da utilização da crítica de arte no ensino com enfoque no enjoyment, em vez de uma apreciação como possibilidade de leitura, análise e reconhecimento de uma obra inserida em um universo histórico, estético e mesmo técnico (RIZZI, 1999, p.40). E o terceiro, já citado anteriormente, o DBAE – Discipline Based Art-

Education, traduzido como “Arte-Educação entendida como Disciplina”, é uma abordagem

de ensino, sistematizada a partir de 1982 por uma equipe de pesquisadores patrocinados pelo Getty Center for Education in the Arts.

Segundo Barbosa (1999), as mudanças no ensino da arte na escola foram necessárias devido ao fato de aqui no Brasil o trabalho de ateliê sobrepor-se às atividades de História da Arte e Crítica. Segundo a autora:

Este fa zer é insubstituível para a aprendizage m da arte e pa ra o desenvolvimento do pensamento/linguagem presentacional, uma forma dife rente de pensamento/linguagem discursivo, que caracteriza as áreas nas quais domina o discurso verbal, e ta mbé m diferente do pensamento científico presidido pela lógica (BA RBOSA, 1999, p. 34).

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Pam Forrestel (2004, p. 43) afirma que o DBAE é a mais tradicional forma de arte-educação que ainda opera no ensino da arte nos EUA. A crítica feita pela autora é justificada pela maneira como a arte é ensinada nesses moldes, tendo a figura do professor como agente direto da prática de ensino e as disciplinas da arte operarem como eixo central das metodologias. O trabalho da pesquisadora investigou as mudanças no ensino da arte com a criação do CBAE -

Community-Based Art Education, após a década de noventa, com a necessidade emergente de aproximação do social-

reconstrutivismo com o currículo de arte. Outro argumento pela mudança provém da teoria da educação pela necessidade dos estudantes de aprender e viabilizar os membros das suas próprias comunidades como participantes ativos que colaboram para a cidadania. Para saber mais: Empowering Youth: A framework for evaluating Community Based Art

A autora completa dizendo que o pensamento presente nas artes visuais capta e processa a informação através da imagem. E alerta para a necessidade das outras atividades correlacionadas ao “fazer artístico”:

A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação das imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julga mento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. (BARBOSA, 1999, p. 34)

Explica Rizzi (1999):

A Proposta Triangular do Ensino da Arte postula que a construção do conhecimento em arte acontece quando há a intersecção da experimentação, com a codificação e com a informação. Considera como s endo seu objeto de conhecimento a pesquisa e a compreensão das questões que envolvem o modo de inter-re laciona mento entre arte e público. (RIZZI, 1999, p. 47124)

Dessa forma, foram sistematizadas as três ações básicas para o Ensino da Arte, que se articulam na Proposta Triangular do Ensino da Arte (FIG. 127), a seguir:

Figura 127 – Imagem representativa da Proposta Triangular do Ensino da Arte

124 RIZZI, M aria Christina de S. Lima baseou-se nas ideias de Ana M ae T. B. Barbosa, presentes no livro A imagem no ensino da arte, para compor essa afirmação.

Leitura da obra de arte – Corresponde à ação a ser realizada e inclui necessariamente as áreas de Crítica e Estética da Arte. Essa tarefa envolve uma participação ativa do educando, ou seja, ele não pode ser considerado um simples depositário de informação. A interpretação da obra de arte deve incluir o observador no processo de percepção da obra ou objeto a ser estudado.

Contextualização – Diz respeito à forma como a História da Arte e outras áreas do

conhecimento são incluídas no processo de desvelar o contexto da obra. Nessa etapa, a interdisciplinaridade deve ser incluída no processo de ensino/aprendizagem, proporcionando dessa maneira a operação do multiculturalismo125 ou mesmo da

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interculturalidade.

Produção – É determinada pela ação do domínio artístico, ou seja, a prática artística. Nesse

caso, pode considerar-se tanto o trabalho de ateliê como outro trabalho prático de natureza diversa como, por exemplo, uma atuação teatral ou uma apresentação musical.

É importante destacar que a ordem dessas três ações não deve, necessariamente, seguir o sentido horário visualizado na forma geométrica do triângulo, ou seja, num primeiro momento realizar a leitura da obra de arte, em segundo lugar, a contextualização, e, por último, a produção (ou fazer-artístico). A flexibilidade na hierarquização deve ser considerada, cabendo ao educador operar na ordem que atenda melhor às suas necessidades específicas, solicitadas a cada conjunto de obras ou imagens que apresente aos seus estudantes.

A ideia de proposta educativa para o Museu Casa da Xilogravura de Campos do Jordão compreende uma tentativa de inter-relacionar história, crítica e produção de arte, mesmo que esta última seja apenas um ensaio que poderá desdobrar-se no ateliê das escolas que visitam o museu.

Achamos apropriado um pequeno aprofundamento na leitura da obra, devido às possibilidades que essa etapa oferece como instrumento de leitura para os jovens, levando em conta as características desse público e oferecendo a eles alguns caminhos a seguir.

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M ulticulturalismo: refere-se à instauração e manutenção de uma atmosfera investigadora em respeito às culturas compartilhadas pelos alunos e professores, tendo a consciência de que todos nós participamos, no decorrer da vida, de mais de um grupo social. RIZZI, M aria Christina de S. L., 2004. Leitura de obras de arte: compartilhando alguns

conceitos e reflexões. In: TOZZI, Devanil. Et. Al. Educação com arte, São Paulo FDE, Diretoria de Projetos Especiais.

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Interculturalidade: significa a interação entre as diferentes culturas. RIZZI, M aria Christina de S. L., 2004. Leitura de

obras de arte: compartilhando alguns conceitos e reflexões. In: TOZZI, Devanil. Et. Al. Educação com arte, São Paulo

A criação desta proposta nos dá a oportunidade de refletir e avaliar esses conceitos dentro da pesquisa acadêmica.

4.4 Uma proposta poética para atividade educativa no Museu Casa da Xilogravura

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