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Sobre a velhice

No documento 2015MargareteJaneteCerutti (páginas 37-41)

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.2 A velhice e a necessidade de cuidado

3.2.1 Sobre a velhice

Para toda pessoa, em qualquer cultura, envelhecer é um processo difícil. Não é fácil ver o corpo ir progressivamente decaindo e manter o espírito jovial. Como também não fácil ser reconhecido como velho nesta sociedade em que o belo, os aspectos físicos e a juventude são tão almejados. Beauvoir (1970) exemplifica bem esta dificuldade quando diz que o velho é sempre o outro. “é difícil se aperceber quando a velhice se instala em si mesmo” (LOUREIRO, 2000, p. 22). Talvez esse repúdio ocorra pelo fato de a velhice ter sido estereotipada ao longo dos anos como uma fase de perdas, associada a incapacidades, degeneração e proximidadeda morte. Neri fala com mais propriedade sobre o conceito de velhice, quando afirma que desde a Revolução Industrial, vem sendo associada à inutilidade ou à improdutividade (NERI, 2008).

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Ferrari, com propriedade, conceitua o processo de envelhecimento quando fala que:

A velhice não pode ser definida pela simples cronologia e sim pelas condições físicas, funcionais, psicológicas e sociais das pessoas idosas. Há diferentes idades biológicas, subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica; o que acontece é que o processo de envelhecimento é muito pessoal; ele constitui uma etapa da vida com realidade própria e diferenciada das anteriores, limitada unicamente por condições objetivas externas e subjetivas. Possui certas limitações que com o passar do tempo vão se agravando, mas tem potencialidades únicas e distintas: serenidade, experiência, maturidade e perspectiva de vida pessoal e social. Portanto, a velhice é hoje considerada uma fase de desenvolvimento humano e não mais um período de perdas e incapacidades (FERRARI, 1999, p. 198).

Todos, sejam eles mulheres e homens, chegam à velhice com biografias e papéis sociais e relacionais muito diferentes. A velhice é uma idade livre das muitas obrigações profissionais e sociais; um momento de aumento da autoestima e, portanto também, de uma maior sensação de liberdade, despojamento a partir deste ponto de vista.

Nesta perspectiva também estão incluídas as pessoas que residem em ILPI. (Instituições de Longa Permanência para Idosos).

Vários escritores e historiadores da antiguidade mencionam que nas sociedades tradicionais, o velho representava a sabedoria, paciência e transmitia valores a seus descendentes (GOLDFARB, 2001). A velhice era considerada uma grande oportunidade de aprendizado, tanto que em muitas culturas orais, os mais velhos eram as bibliotecas vivas das comunidades e por isso tinham um lugar importante na aldeia, na sociedade, nas famílias e onde eles estavam.

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No mundo antigo clássico, Aristóteles ensina que o sábio é alguém capaz de suportar todas as vicissitudes. “Platão, ao contrário de Aristóteles afirma que apenas às portas da velhice, a pessoa atinge a maturidade, a virtude, ou seja, a sabedoria. A visão de Platão é um elogio da virtude” (REIS, 2011, p.39).

Em outras comunidades e sociedades, inclusive nas comunidades indígenas, a velhice é vivenciada de maneira diversa. As pessoas mais velhas são vistas como as mais sábias e participam ativamente da vida da comunidade. No Candomblé, por exemplo, parece que a própria cultura da religião dos Orixás ajuda as pessoas a se manterem ativas até cem anos.

O velho é uma pessoa que tem diversas idades, tem mais experiências, é alguém sábio, mais anos de vida, mais doenças crônicas, mais perda e sofre mais preconceitos. No momento em que ele aprende a conviver com estas possibilidades e limitações, começará a ver a vida de forma mais simples e a curti-la, começará a participar das coisas boas, fazendo planos e sendo feliz (ZIMERMAN, 2000).

A velhice é caracterizada como um fenômeno multifacetado e heterogêneo, o qual não é explicado através de apenas uma perspectiva. O envelhecimento abrange um leque amplo da vida, podendo-se classificar a velhice em três categorias, ou seja, diversas velhices: idosos jovens (entre 65 e 74 anos); idosos (75 a 84 anos); e o muito idoso a partir dos 85 (OLIVEIRA, 2010).

Há uma crise de identidade provocada no idoso e pela sociedade, a diminuição da autoestima; a dificuldade de se adaptar a novos papéis e

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lugares; como processo de mendigar carinho, o surgimento de novos medos (de incomodar, de ser um estorvo, de sobrecarregar os familiares, medo da morte); a diminuição das faculdades mentais; os problemas a nível cognitivo, afetivo e de personalidade (OLIVEIRA, 2010).

Hoje, há um movimento, que aparentemente reverte à imagem negativa deste período de vida das pessoas e tenta demonstrar o quanto a pessoa amadurecida pode ser útil e tem energia para realizar diversas atividades.

Dentre as medidas adotadas encontramos mudanças nas terminologias para designar quem envelheceu: terceira idade, feliz idade, idade de ouro, entre outras.

No entanto, depende de cada pessoa fazer escolhas que permitam saber envelhecer de forma mais humana e viver a etapa da velhice como um momento único, especial e de recolher os frutos de toda a história vivida.

Pensamos que se pode dizer usando as palavras de uma história feminista, Beauvoir, que para uma pessoa que se sente bem em sua pele, que está satisfeita com sua condição de vida e com suas relações mantidas em seu ambiente, a idade continua sendo um fato abstrato (BEAUVOIR, 1971).3

Daí a necessidade de trabalhar esses indivíduos como foco, tanto nas

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perdas orgânicas quanto afetivas, sociais e também lhe dando auxílio no planejamento para o futuro. É importante ressaltar que, para o indivíduo, a velhice é um período de crise, de transição e, portanto, não basta a atitude de aceitá-la. É necessário que seja enfrentada sem uma postura passiva e de uma forma que esta etapa da velhice não perca seu valor (JORDÃO, 1997).

Diante das mudanças nos perfis demográficos da população mundial ao longo do último século, almeja-se que haja interesse crescente dos pesquisadores no aspecto e dimensão do cuidado que deve ser ministrado aos velhos.

O cuidado é tão importante quanto à pessoa a ser cuidada. Por isso precisamos, com certa urgência, repensar nossos paradigmas e aprofundar o tema sobre o cuidado da pessoa idosa e sua importância social.

Acreditamos em uma velhice longeva com atributos de respeito e de atos de humanidade.

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