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1.2 ESTUDO EXPLORATÓRIO

1.2.6 Sobre os alunos

No dia 2 de julho, adotamos uma abordagem diferente com relação ao percurso que tínhamos entre a nossa casa e a escola das nossas sondagens, com o interesse de observar as manifestações dos jovens nas situações extraescolares.

O trajeto realizado levou 40 minutos de caminhada, observamos o trânsito de muitos grupos que se formavam conforme a escola ia ficando próxima. Os comportamentos eram diversos: conversavam, ouviam músicas nos fones, trocavam mensagens pelo celular, simplesmente despreocupados com o momento posterior na escola. Variados gostos e estilos eram demarcados através do cabelo, utilização de brincos, piercings, ou mesmo pelo vestuário, que além do uniforme escolar tinha também diferentes bolsas, tênis e moletons. Já na frente do colégio visualizamos jovens que chegavam apressados devido ao horário estipulado para poder entrar, outros que preferiam ficar para fora conversando com os colegas e utilizando o celular.

Além dos jovens que chegavam a pé a escola, também encontramos outros meios de acesso. Não havíamos imaginado encontrar como meio de locomoção o skate, essa situação ocorreu 4 vezes no curto período em que ficamos a frente da escola. Além do skate, também verificamos que os jovens utilizavam a bicicleta, outros chegavam de ônibus e muitos acompanhados pelos pais utilizavam o automóvel.

Os portões da instituição eram fechados as 7h30, mesmo horário em que as aulas começavam, para entrar posteriormente os jovens precisavam passar pela coordenação pedagógica e diretoria para as devidas orientações. No dia 3 de julho chegamos na escola 20 minutos antes das aulas começarem, já haviam muitos jovens pelas dependências do colégio. Os espaços interiores da escola se tornam ambientes de socialização em razão de interesses em comum, foi possível encontrar grupos falando sobre músicas e tocando violão, conversando sobre jogos eletrônicos como também jogando em aplicativos de celular e tabuleiros. As quadras, refeitório e pátios passam a ser ocupados com diferentes finalidades seja para uma

simples ação de rever os amigos ou para o livre exercício dos elementos da vida na juventude conforme interesses específicos.

Ainda no dia 3 de julho, no ambiente do refeitório, anteriormente ao início das aulas havia um grupo de alunos do 1° D reunidos para a montagem de um trabalho de História, o tema em questão eram as pinturas rupestres, o que chamou a atenção foram as buscas por dados em vídeos do Youtube, e os relatos de participantes que conheciam as imagens existentes em Piraí do Sul na região conhecida como Escarpa Devoniana.

Já no espaço da sala de aula, os jovens resistiam a organização de seus lugares conforme o ensalamento estabelecido e constantemente trocavam de posições para ficarem mais próximos a seus amigos ou procurando as carteiras próximas as vidraças das salas com o interesse de visualizar o que ocorria nos pátios do colégio. No dia 18 de junho, na turma do 2°C presenciamos uma situação intrigante, um jovem que na última carteira da fila das vidraças conversava tranquilamente com um aluno que estava no pátio mesmo com a professora presente na sala de aula. A indisciplina nesta situação está manifestadamente ligada a falta de interesse despertada pelo conteúdo discutido na aula.

Entre o mês de março e novembro de 2018, nas seis turmas que frequentamos, o que mais se verificou na sala de aula foi a dependência dos alunos em relação ao celular e a dificuldade de ficar afastados do aparelho. As ações presenciadas envolveram situações em que os jovens fotografaram resposta de atividade dos colegas, slides apresentados pela professora e das anotações na lousa. Também presenciamos o celular como um instrumento de pesquisa, ouvir música com fones de ouvido e para troca de mensagens durante as aulas. A tecnologia foi um elemento que atravessou as aulas em momentos como potencializador para os interesses do ensino de História e em outras como interesse a experiência escolar dos jovens.

No dia 28 de agosto, na turma do 3°B ocorreu uma demonstração interessante de uma aluna ao se expressar depois da realização de uma avaliação. Ela comentou ter estudado muito para a prova, mas no momento em que se deparou com as opções de respostas de múltipla escolha, ficou nervosa devido as proximidades das alternativas. Relatou também que preferia realizar uma prova na qual pudesse dissertar sobre as questões. Podemos identificar o interesse e mesmo a disposição da aluna em ser ativa quanto a sua aprendizagem e os resultados dos seus estudos. Outra situação que podemos destacar nesta mesma direção aconteceu na turma do 2°C, no dia 18 de junho, com a interrogação de um aluno sobre os conteúdos que iriam cair no PSS e a conclusão de que muitos deles ainda não haviam sido trabalhados.

A leitura foi outro elemento pouco aceito entre os alunos durante as aulas, as atividades que envolviam essa ação eram realizadas por uma pequena minoria dos estudantes em cada

turma. Desenvolver o gosto pela interpretação foi um dos maiores desafios que a professora de História enfrentou enquanto estávamos inseridos em suas aulas.

Relacionado aos conteúdos da disciplina de História, a interação dos alunos ocorreu com maior frequência no contexto de temas mais recentes cuja os quais podiam identificar vestígios ainda remanescentes no presente. Na aula do dia 10 de agosto, na turma do 3° C a discussão foi sobre o Brasil na Era Vargas, dos quais os jovens fizeram menções a quadros de Getúlio e o programa “A Voz do Brasil” os quais haviam tido contato. Outra atividade que despertou interesse foi a realização de um projeto interdisciplinar em três fases espalhadas pelo ano letivo. A última das fases envolvia uma saída de campo, a primeira foi uma pesquisa e apresentação na turma e a segunda era a produção de um trabalho escrito. O tema do projeto envolveu as pinturas rupestres e foi planejado para a turma do 1°D, os objetivos a serem atingidos até a realização da saída de campo foram bem aceitos pelos alunos. Alguns elementos marcaram essa atividade como os debates em grupo, a seleção de materiais pelos próprios alunos e o objetivo final uma visita extraescolar saindo da escola. Nesta situação evidenciou-se a abertura para a participação dos estudantes na sala de aula não como simples consumidores de conhecimento, mas na condição de produtores interessados em um objetivo futuro.

Os jovens parecem em muitos momentos deslocados dentro da sala de aula, manifestaram expressões apáticas e de cansaço quanto ao tempo que necessitavam estar ali. Nas conversas, os alunos relataram encontrar dificuldades para se concentrar, compreender e realizar as atividades da sala de aula, mencionaram também a constante pressão relacionada a conseguir a nota média e a realização dos exames de admissão para o Ensino Superior. Da perspectiva dos alunos, o espaço no qual estão aprendendo história é marcado por um ambiente de cobranças as quais transcendem muito o “apreender História” e tocam as dificuldades em ser jovem.

O vestuário e a música, são pontos presentes em ser jovens nas juventudes atuais, e durante as aulas que sondamos não passou inerte. Repetidas vezes presenciamos os alunos escutando música nos fones de ouvido sob os capuzes do moletom, isto desperta a pergunta porque a música é mais interessante do que a aula de História? Ou mesmo; qual a razão para insistir na utilização de acessórios de vestuário, como o boné, quando isso foi proibido no interior da sala de aula?

Foi perceptível que os alunos tinham suas próprias formas de se organizar e ocupar a escola conforme seus interesses e isso muitas vezes tensionava as suas manifestações no espaço da sala de aula. Os conteúdos de história não passaram isentos aos comentários orientados pelo contato dos estudantes com o espaço das mídias virtuais, em destaque o Youtube, Facebook,

Instagram e Twitter. Os jogos virtuais também foram citados principalmente em temas envolvendo guerras, dos quais o destaque foi o Free Fire28. Novelas e séries foram lembradas como formas pelas quais os jovens acessam imagens de passado presentes ao seu tempo e com as quais muitas vezes orientam suas opiniões.

Em momentos anteriores pontuamos como a cidade de Piraí do Sul está fortemente ligada a religiosidade, seja pelo histórico de fundação, pelos dados apresentados no IBGE ou elementos de culto existentes no espaço do colégio. Com relação aos sujeitos não percebemos uma manifestação direta de expressão religiosa seja no uso de objetos, conversas ou mesmo em costumes e práticas diárias, como as orações.

A escola além de preparação das gerações de estudantes do século XXI, passou a ser um ambiente no qual a vida jovem ocorre. O ensino de História integra as experiências na constituição desta fase da vida socialmente chamada juventude, mas nem por isso significa que detém uma posição privilegiada quanto a mobilização de passado no trânsito dos jovens ao construírem suas juventudes.

Nossas sondagens na escola culminaram em questões básicas, mas que se apresentaram de difícil compreensão na inserção de uma aula de História, assim vale procurar na literatura bases para que possamos compreender: O que é a Juventude? Quem são os jovens do século XXI? E a questão que mais nos interessa, quais são as características das culturas juvenis?