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O termo weblog foi cunhado pela primeira vez em 1997, pelo norte-americano Jorn Barger, que criou o nome para descrever o processo de registro na internet (BLOOD, 2000). Assim que surgiram, os weblogs não se diferenciavam muito de um

site comum na web. No início de 1999, Peter Merholz decidiu mudar a pronúncia do

termo weblog para “we blog” (nós blogamos), criando ao mesmo tempo a palavra (blog), o verbo (blogar) e o sujeito (blogueiro). O formato mais tradicional se estruturaria agora em conteúdos breves (a arte de produzir posts curtos); atualizado continuamente, uma ou até várias vezes ao dia; apresentado numa ordem cronológica inversa (no topo do site, nota mais recente, com dia, data e hora); e com a presença de muita hipertextualidade (CONSONI apud MALINI, 2008, p. 48).

No mesmo ano, a Pitas11 lançou o primeiro serviço dinâmico para a construção de blogs, e, em seguida, a Pyra12 lançou o Blogger. Esses sistemas proporcionaram uma maior facilidade na publicação e manutenção dos sites, que não mais exigiam conhecimentos técnicos e, por isso, passaram a ser rapidamente adotados e apropriados para os mais diversos usos.

Diante das facilidades técnicas de uso, muitas pessoas adotaram a ferramenta para compartilhar suas experiências diárias, passando a utilizar os blogs como um diário pessoal. Devido a essas primeiras apropriações, a popularização dos blogs ocorreu com os diários pessoais (LEMOS, 2003; ROCHA, 2003). A ideia inicial é que eles seriam utilizados como espaços de expressão pessoal, publicação de relatos, experiências e pensamentos do autor. Ainda hoje, a caracterização do blog como diário pessoal é apontada por muitos autores como o mais popular uso da ferramenta. Porém, as definições evoluíram devido às diversas apropriações dadas ao longo do tempo. Surgem diversos gêneros, estilos e objetivos na blogosfera. Com isso, definir o que vem a ser um blog tornou-se algo complexo e polêmico. Por isso, esta dissertação procurou apresentar as definições e os conceitos que estão sendo adotados na atualidade.

Amaral, Recuero e Montardo (2009) apresentam três definições para blog: estrutural, que compreende os blogs como uma ferramenta de publicação; funcional, que entende os blogs como meio de comunicação; e artefato cultural, sendo o blog um espaço de manifestação cultural.

A definição caracterizada como estrutural baseia-se na estrutura da publicação resultante do uso dos blogs. Ela caracteriza um blog segundo a disposição do texto em ordem cronológica reversa, a data no topo de cada postagem, frequência de publicações etc. Essa definição leva em consideração dois aspectos relevantes, que são: a frequência de publicação e os elementos que compõem os blogs. Hoje se leva mais em conta o

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Disponível em: <http://www.pitas.com>.

aspecto funcional dos blogs, a partir das ferramentas que impulsionam a interação. Porém, essas ações somente se tornam possíveis em decorrência do formato específico dos blogs.

O conceito funcional entende os weblogs a partir de sua função primária como

meio de comunicação. Amaral, Recuero e Montardo (2009) defendem que as ferramentas de comentários possuem um forte caráter social e conversacional. Assim, essa definição leva em conta o aspecto relacional na sociedade. Qualquer pessoa que já tenha habilidade com a técnica pode compartilhar textos, ideias e opiniões, contribuindo para a construção de um espaço coletivo na rede. A possibilidade de interação presente nessas arenas virtuais amplia os espaços públicos de discussão, de participação e de deliberação, além de ajudar a fomentar uma cultura colaborativa e associativa entre as pessoas. Uma terceira definição conceitual sobre os blogs vem compreendê-los como artefatos culturais, baseando-se numa visão antropológica e etnográfica (RECUERO, 2003a).

Porém, independentemente dessas três definições, o que de fato prevalece é que os blogs constituem importantes suportes para a comunicação mediada por computador. Eles permitem um ambiente que propicia a conversação e a sociabilização entre os sujeitos. A própria Blood (2002) destaca essa função comunicativa dos blogs, compreendendo-os como espaços de sociabilidade.

O sucesso dessa ferramenta pode ser atribuído à proximidade que ela oferece entre editor e leitor, gerando assim uma enorme interatividade entre os atores envolvidos. Oliveira (2002, 2003) destaca que a partir da criação da interface Blogger, em 1999, houve um progressivo aumento no número de pessoas que passaram a apresentar e modelar as suas próprias identidades no ciberespaço. A facilidade oferecida pelas ferramentas de postagem de blogs fez com que rapidamente diversos atores sociais do mundo inteiro postassem suas vidas em forma de textos.

No contexto atual, os blogs vêm se configurando como espaços sociais plurais, e até democráticos, para expressão individual, interação e produção de informação. Eles permitem que as pessoas expressem opiniões, construam textos e proporcionem um

“espaço pessoal protegido” (GUMBRECHT, 2004). Além disso, tornaram-se um lócus

da emergência de uma importante forma de jornalismo individual, capaz de representar outra perspectiva a respeitos dos assuntos noticiados.

A utilização dos blogs favoreceu também a quebra do monopólio da produção de conteúdos das mídias tradicionais. Portanto, criou uma mudança no fluxo tradicional de

produção e consumo de informações, levando à produção de novas configurações no âmbito da Comunicação. Nesse contexto, o produtor intelectual passa a ser dono do seu próprio meio de produção e divulgação e essa autonomia faz com que o espaço midiático seja fragmentado, inibindo concentrações e monopolizações (KUCINSKI, 2005). Como defende Lemos (2009), é possível observar a liberação do polo de emissão. Assim, um leitor pode vir a se tornar um produtor de informação e conteúdos. No entanto, nesse universo dialógico, exigem-se do participante novas habilidades discursivas, além da familiaridade com a tecnologia, para que ele possa produzir conteúdos e distribuí-los. Portanto, o novo cenário discursivo requer um refinamento de nossa cognição, instigando-nos a repensar as articulações entre cognição, cultura e tecnologia. Essa mudança potencializa práticas de comunicação – como participação, aprendizado de linguagens e interfaces e sociabilização.

Braga (2007, p. 260) considera os blogs como serviços de utilidade pública. Ela

entende que “o sucesso de um ambiente temático na internet que oportuniza espaço para

a discussão [...] parece apontar para uma demanda social reprimida preexistente, que se manifesta na recorrente definição do blog como serviço de utilidade pública”.

Desse modo, não há como negar que os blogs podem contribuir para o construto da cidadania e estimular a participação cívica. Porém, não se trata essencialmente de um espaço público, porque eles possuem um proprietário ou um grupo de proprietários que atualiza, gerencia e faz a moderação sobre o que e quem pode participar. Nesse sentido, os blogs se configuram como espaços híbridos, privados na sua constituição, mas com características de uma arena pública, que oferece condições para que vários atores participem, colaborem, emitam opiniões sobre os temas em discussão. É também um universo fragmentado, em que indivíduos com os mesmos interesses e afinidades se encontram para expor ideias, interagir e trocar conhecimentos imateriais.

Os recursos operacionais disponibilizados permitem modificações na forma de intervir, comunicar e participar. Frente a essas novas configurações, multiplicaram-se os espaços de informação e discussão, ocasionando uma ampliação do espaço público. A própria arquitetura favorece a criação de uma rede de interação que, além de leitores, agrega também outros blogs, constituindo uma grande comunidade virtual, a qual interage por meio de textos e imagens. Dessa forma, os blogs representam hoje um amplo espaço social que possibilita a emergência de novas vozes que se fazem ouvir no espaço público. Sejam individuais ou coletivos, sejam temáticos ou apenas diários íntimos, esses espaços estão se enraizando em diversos segmentos. No entanto, para esta

pesquisa em particular, interessa apenas aprofundar o olhar sobre os blogs com ênfase política.

Primo (2008) propôs uma tipificação dos blogs para que seja possível classificá- los em grandes grupos. Essa tipologia foi pensada a partir do conjunto de elementos que observam blogs quanto a seu gênero, temática, processo produtivo etc. A discussão proposta pelo autor partiu da tipologia de Krishnamurthy (2002 apud HERRING et al., 2004), que avalia duas dimensões: pessoal X temático, individual X comunidade (FIGURA 1).

Figura 1 – Tipos de blogs13

No quadrante I, ficam os blogs voltados ao intrapessoal, em que o autor escreve para ele mesmo, configurando-se assuntos de seu interesse. O quadrante II também se destina às questões do pessoal, mas, nesse caso, outros assuntos que envolvem um grupo podem também fazer parte das publicações. No quadrante III, a coletividade torna-se a preocupação preponderante. Já o último quadrante está voltado para blogs que possuem conteúdo colaborativo. Os quadrantes III e IV tendem a receber um número maior de visitantes e de comentários (CONSONI, 2010). A tipificação proposta

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Krishnamurthy (2002 apud HERRING et al., 2004). Quadrante I Diários Online Quadrante II Super Grupal Quadrante III Coluna Quadrante IV Conteúdo Colaborativo Criação

Pessoal

Individual

Comunidade

Temático

por Krishnamurthy não consegue absorver a diversidade de estilos e objetivos da blogosfera na contemporaneidade. Diante dessa dificuldade, Primo (2008) propõe uma nova matriz para a tipificação dos blogs.

Figura 2 – Matriz para tipificação de blogs14

Nesse modelo, os blogs são divididos em dois grandes grupos: individual e coletivo. Os blogs individuais podem ser subdivididos em pessoais e profissionais. Um

blog coletivo pode ser grupal ou organizacional. A criação de um blog pessoal é simples

e depende apenas da vontade em criá-lo, não ficando condicionada à avaliação de terceiros, como em um blog coletivo.

No blog profissional, geralmente deve existir uma estratégia predeterminada ligada aos interesses do grupo ou da pessoa que o mantém. Assume-se um compromisso com a audiência, em que os leitores passam a reclamar por atualizações e a discutir as postagens. O conteúdo e a periodicidade de um blog profissional estão atrelados a um objetivo comercial ou até mesmo para criar uma reputação em um determinado ramo, visando ganhos futuros, como patrocinadores e anunciantes.

Na matriz proposta por Primo (2008), existe uma linha que compreende as interações formalizadas e as cotidianas. Quando ela fica mais próxima do centro da

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tabela, está se referindo às interações cotidianas; já quando se desloca para as extremidades, surgem as formalizadas. No lado esquerdo da tabela, está a linha que compreende a reflexão e o relato. Dessa forma, se um blog se posicionar para o centro, ele será de relato. No lado direito da tabela, há referência a quem ele se destina. Acima da matriz, estão os blogs para dentro, os intrapessoais, e para baixo estão os de fora, ou seja, os interpessoais. Os aspectos mais relevantes dessa matriz são as possibilidades de interações por meio dos blogs. Dessa forma, percebe-se que os blogs que apresentam altos índices de reflexão e que tratam de assuntos de interesses coletivos, possivelmente, apresentarão altos níveis de interação social.